A noite já estava escura quando Lady Elise terminou seu jantar e voltou para seu novo quarto, que ficava em frente ao do Senhor Ian. Mila trouxe um livro infantil para ler para ela as histórias da noite antes de dormir, mas ela já tinha dormido bastante e achou difícil pegar no sono. Depois de quatro a cinco histórias, suas pálpebras começaram a pesar e um longo bocejo escapou de sua boca. Mila notou o bocejo e afagou sua cabeça calorosamente. "Está com sono?"
A menina respondeu com um sussurro "Mhm."
Mila fechou o livro de contos infantis e empurrou a cadeira silenciosamente. "Então, vou apagar a vela, tenha bons sonhos, querida."
A menina assentiu, sentindo-se um pouco nervosa por dormir sozinha em um quarto tão grande, mas imaginou que Mila também tinha seu próprio quarto para aconchegar-se durante a noite. Ela não queria ser um fardo para a bondosa empregada que considerava uma pessoa gentil em seu coração e criou coragem para dormir sozinha pela noite.
Não muito depois de Mila partir, Lady Elise mergulhou na terra dos sonhos e sonhou um sonho agradável por boas três horas, mas na quarta hora, o pesadelo começou.
Em seu sonho, uma mulher de longos cabelos vermelhos que eram semelhantes aos dela prendia o corpo de Lady Elise com seu pescoço envolvendo apertadamente o dela. Ela tinha dificuldade para respirar, seu coração batia tão alto como se fosse sair do seu peito. Ela olhou para cima e as grandes lágrimas que transbordavam dos seus olhos pareciam dolorosas. Por mais que tentasse se desvencilhar da mulher que a estava sufocando, ela não conseguia se mover e só podia colocar a mão sobre a palma em seu pescoço, murmurando um pequeno apelo.
"M- Mãe..." A mulher que ouviu sua voz a encarou com raiva e gritou com todas as suas forças, fazendo seus ouvidos zumbirem por um momento.
"Não me chame assim! Você não é minha filha! Me devolva minha filha! Quem é você?!" Seus olhos azuis miraram o rosto cheio de raiva de sua mãe. Embora o resto de suas feições não estivesse claro devido à escuridão, ela podia ver claramente sua mãe a olhando com desprezo.
Ela rangia os dentes com tanta força que Lady Elise podia ouvir os sons de trituração antes que um xingamento escapasse de seus lábios. "Devolva minha filha, AGORA! Me devolva ela! VOCÊ DEMÔNIO! VOCÊ DEMÔNIO! VOCÊ NOIVA DO DEMÔNIO! ME DEVOLVA MINHA FILHA DE VERDADE!" Seus gritos ecoavam pelo quarto inteiro, trazendo nada além de desespero e choque para a pequena menina.
Quando um trovão alto riscou o céu, Lady Elise acordou do seu pesadelo em lágrimas. Ela segurou o pescoço sentindo as mãos que não estavam lá. Era um sonho, ela se consolou, tentando não se assustar novamente com o trovão que por um segundo iluminou o céu escuro e o tornou escuro novamente. As lágrimas do céu começaram a cair depois do segundo trovão, trazendo barulhos estrondosos de chuva no quarto vazio.
Um calafrio percorreu suas costas, talvez por causa do pesadelo ou do vento que acompanhava a chuva. Ela olhou de volta para o seu aconchegante travesseiro branco com um olhar nervoso. Por mais que quisesse voltar a dormir agora, ela não conseguia, com medo de dormir sozinha e ser atormentada por outro pesadelo. Ela saiu da cama para abrir a porta rangente, esperando encontrar Mila ou Cynthia.
Andando pelo longo corredor, ela refez seus passos até a escada e ouviu o som de um corvo grasnando ao seu lado. Senhor Ian, que estava de pé atrás dela com um olho escarlate curioso que brilhava no escuro, perguntou. "Para onde você vai, filhote?"
Senhor Ian estava no meio de beber seu vinho quando seus aguçados ouvidos captaram um som de passos vindo do quarto ao lado, que não era outro senão os passos de Lady Elise. Curioso, ele seguiu os passos da menina que passaram pelo seu quarto e decidiu segui-la.
A voz por trás dela foi o suficiente para assustá-la, fazendo-a pular do lugar. Lady Elise chamou com um sussurro. "M- Mestre Ian..."
Senhor Ian seguiu o olhar dela e a camada de suor frio em sua testa. Ele se encostou à escada e cruzou os braços. "Você teve um pesadelo?"
Lady Elise olhou para cima ao ouvir suas palavras, Senhor Ian era realmente bom em ler seus pensamentos, a menina observou. Na vez em que estava na carruagem, e quando temia as pessoas novas, ele foi rápido em dar-lhe direção.
Ela abaixou a cabeça enquanto brincava com suas pequenas mãos e respondeu sussurrando. "Sim."
Senhor Ian soltou um longo murmúrio como resposta e pegou a menina em seus braços, levando-a consigo já que andar de noite sem luz por perto era perigoso. "Durma comigo esta noite, mas lembre-se de que essa é a última vez e não ande mais no escuro, é perigoso."
Lady Elise respondeu com um aceno de cabeça. Quando Lady Elise pousou sua cabeça em seu ombro, seus olhos viram o corvo sentado na borda redonda do corrimão da escada. Por que haveria um corvo dentro da casa? Enquanto a menina ponderava o motivo, ela chegou ao quarto de Senhor Ian e entrou sob as cobertas ao lado dele.
Talvez porque ela tivesse dormido ao lado de Senhor Ian por mais de uma semana, ela foi capaz de esquecer seu pesadelo e o barulho da chuva lá fora que cantava alegremente do lado de fora da mansão.
Quando a manhã chegou, Mila estava prestes a lhe desejar bom dia e preparar seu banho matinal para ver que a menina havia desaparecido. Cynthia, que também estava lá, abriu a porta com um estrondo e correu para a cama para confirmar que a menina realmente havia desaparecido. "Austin!" Cynthia chamou seu nome ao ver Austin entrar no quarto com uma mão no bolso.
Ele estava prestes a perguntar o que tinha deixado o rosto de Cynthia pálido, mas a palavra ficou presa na ponta da língua quando seu olhos castanhos viram a cama vazia. Vendo que Lady Elise havia desaparecido da cama, ele exclamou imediatamente. "Onde está a menina?!"
"Eu também não sei! Eu acabei de chegar aqui!" Ela saiu do quarto e apontou para suas instruções específicas para Austin. "Informe a todos para procurar pela menina na mansão, eu vou informar o senhor!"
"Certo!" Austin correu num instante para o salão para encontrar o mordomo da mansão, Maroon e passou a ele a ordem. Por outro lado, Cynthia abriu a porta do quarto de Senhor Ian às pressas e ouviu o Senhor resmungar pelos convidados não convidados que bateram na porta do seu quarto apressadamente. "O que te deu para invadir meu quarto?" Enquanto erguia a parte superior do corpo, seus ouvidos captaram passos apressados embaixo do piso que era muito incomum na Mansão dos White devido à sua aversão a barulho. Franzindo a testa fortemente, ele adicionou com irritação. "-E por que todos estão tão agitados logo cedo? Diga a eles para pararem com tudo agora mesmo."
Cynthia compôs sua respiração, ela não sabia por onde começar e calmamente mudou sua escolha inicial para acalmar o Senhor antes que ele explodisse de raiva. "Meu Senhor, por favor, não se surpreenda. Lady Elise desapareceu do quarto dela. Eu disse a Austin para ordenar o resto dos empregados para procurá-la."
Finalmente entendendo o que aconteceu que fez as pessoas na mansão serem jogadas no caos, Senhor Ian puxou seu cobertor para mostrar a menina que ocupava sua cama a noite inteira enquanto abraçava seus joelhos. Na noite anterior, ela fez seu próprio ninho na cama de Senhor Ian, dormindo como uma bola encolhida que lembrava um gato. "Ela está aqui. Agora vá e mande eles se acalmarem. Eles estão me irritando."
Cynthia piscou algumas vezes, aproximando-se da menina para ver que ela realmente estava dormindo no quarto do homem conhecido por trazer morte. Parecendo muito inocente como um anjo sem asas branco, ela estava tão profundamente adormecida que não notou o que estava acontecendo ao seu redor. Cynthia finalmente sentiu alívio ao vê-la a salvo de qualquer perigo e imediatamente lembrou-se de se desculpar. Ela saiu do quarto com uma reverência formal. "Peço desculpas por perturbar seu descanso, milorde. Com licença."
Cynthia conseguiu manter seu rosto composto, mas no momento em que saiu do quarto, seus olhos se arregalaram e ela correu para o quarto dos empregados, onde apostava que Austin estaria no momento, apressada.
Avistando o homem de cabelos loiros brilhantes, que estava prestes a tirar seu casaco para se transformar em um gato, ela o chamou. "Austin!"
"O que foi?" Austin perguntou surpreso, parando com as mãos no meio do antebraço. "Você a encontrou na mansão? O que o Senhor disse?"