[Mansão Zhu]
Houve uma batida na porta que fez a caneta parar de se mover. Dominic arregalou os olhos e observou um homem de terno entrar no escritório. O homem fez uma reverência assim que fechou a porta atrás de si e, em seguida, caminhou em direção à mesa de Dominic.
"Mestre, a Senhorita Shen está aqui," o homem anunciou quietamente. "Ela disse que quer vê-lo."
"A esta hora?" Dominic perguntou incrédulo. Em seguida, ele checou seu relógio de pulso. Já havia passado da hora do jantar. "O que ela quer?" ele perguntou.
O homem comprimiu os lábios em uma linha fina. Ele parecia irritado com a intrusão repentina. "Ela disse que era importante."
"Eu não preciso que ela me relate nada novamente, uma vez que eu e a amiga dela estamos nos separando," Dominic falou com as sobrancelhas arqueadas. Será que algo aconteceu? Ele pensou. "Certo. Deixe-a entrar."
"Sim, senhor."
O homem fez como lhe foi pedido e imediatamente deixou o cômodo. Enquanto isso, Dominic se levantou da cadeira giratória atrás da mesa. Ele caminhou alguns passos até a mesa, onde uma garrafa de uísque e um copo vazio o esperavam. Enquanto esperava pela amiga de sua esposa, Dominic se serviu de um copo de uísque.
'Eu soube que ela visitou a Heaven esta tarde,' ele se lembrou do relatório que recebeu de um de seus homens mais cedo naquela tarde. ''Eu acho que isso é sobre o divórcio.'
Embora Dominic e Heaven estivessem em processo de divórcio, ele ainda colocou alguns guardas ao redor dela por questões de segurança. Não que ela estivesse em perigo, mas era melhor ter certeza.
Dominic se inclinou contra a mesa e endireitou as costas, apoiando a mão em seu abdômen, ainda segurando o copo de uísque. Ele ouviu a porta se abrir e se fechar, então sentiu alguém atrás dele.
"Como vai, Mestre Zhu?" Paula cumprimentou. Sua voz soava alegre enquanto ela fazia uma leve reverência e sorria, mesmo que as costas de Dominic estivessem viradas para ela. "Eu vim aqui porque soube do que aconteceu."
"Do que aconteceu?" Dominic repetiu com ênfase e então olhou por cima do ombro.
"Sim." Paula respirou fundo, forçando um sorriso brilhante no rosto. "Senhor Zhu, sei que tenho muitas coisas pelas quais agradecer. Se não fosse pelo senhor, eu acho que nunca teria um avanço na minha carreira —"
"Senhorita Shen, você não precisa me agradecer por ajudar a única amiga da minha esposa." Dominic virou-se lentamente e olhou para a pessoa que estava alguns passos à sua frente. "Por que você está aqui?" ele perguntou de forma direta.
"Eu queria agradecer, Senhor Zhu," Paula disse sem hesitar.
"Por?"
"Heaven me contou sobre o divórcio e ela está muito feliz com isso. Sei que você foi de grande ajuda para mim, mas a Heaven é minha querida amiga. Nos últimos cinco anos, nunca a vi tão feliz," Paula enfeitou. Ela então colocou sua mão esquerda no ombro direito, baixando os olhos como se tentasse esconder a vergonha em nome da amiga. "Eu posso parecer egoísta, mas esta é a primeira vez que vejo minha amiga sorrir novamente."
Paula suspirou profundamente e depois levantou a cabeça. "O Senhor Zhu e a Heaven são importantes para mim. Sei que passar por um divórcio é difícil, mas fico feliz que vocês dois não sofrerão mais." Uma lágrima surgiu no canto de seus olhos, mas um sorriso genuíno enfeitou seus lábios.
Se Heaven estivesse assistindo a Paula naquele momento, com certeza aplaudiria sua atuação digna de uma ovação de pé. Não só Paula conseguiu desempenhar o papel de uma amiga martirizada, mas ela também transmitiu a mensagem que queria que Dominic ouvisse.
Este divórcio fez de Heaven a pessoa mais feliz do mundo.
O rosto de Dominic escureceu enquanto sua mandíbula se apertava. ''Não é que eu não soubesse que este divórcio a faria feliz,' ele disse a si mesmo, mas ouvi-lo de outra pessoa ainda assim não era agradável.
"Heaven disse que quer ficar comigo assim que assinar os papéis do divórcio." Paula aproveitou seu ímpeto, quebrando o breve silêncio que caíra sobre eles. "Se você quiser saber sobre o bem-estar dela, não me importo de lhe contar tudo. É o mínimo que posso fazer por toda a ajuda que você me deu."
"Não precisa," disse Dominic. Ele acenou com a mão de forma displicente, mantendo seu comportamento inalterado. Seus olhos, no entanto, ostentavam uma camada adicional de frieza que faria qualquer homem adulto estremecer de medo. "Eu não preciso ouvir nada sobre ela depois que ela assinar o papel do divórcio. Você pode ir agora, Senhorita Shen."
Paula mordeu o lábio inferior enquanto fazia uma reverência respeitosa. "Eu tentarei visitar novamente para brincar com o jovem mestre."
*****
Enquanto isso, no hospital onde Heaven estava internada, ela se remexia inquieta na cama, incapaz de voltar a dormir.
"Droga!" Ela de repente xingou, então se sentou abruptamente com uma expressão carrancuda no rosto. "Eu estive dormindo o dia todo e agora não consigo dormir."
Quando Paula Shen partiu, Heaven adormeceu pouco tempo depois. Seu sono foi longo e profundo, acordando apenas na hora do jantar. Depois do jantar, ela dormiu novamente, só para acordar no meio da noite. Agora, ela não conseguia voltar a dormir, como se seu corpo lhe dissesse que já era o suficiente.
"Eu não me lembro de ter dormido tão profundamente." Heaven desabou de volta na cama; quase recuperou suas forças. "Droga. Para ser honesta, eu não quero mais dormir. Estou com medo de acordar e aquele cara estar aqui com os papéis do divórcio em mãos."
Heaven se moveu ligeiramente, recostando-se na cama para uma posição mais confortável. "Consegui ganhar tempo porque desmaiei, mas tenho certeza de que não consigo mais me dar esse luxo."
Embora ela já tivesse concordado em assinar os papéis do divórcio, essa decisão foi com o coração pesado. Se pudesse, impediria o divórcio de acontecer. Mas, se ela não conseguisse pensar em uma maneira nesta noite, preferiria dar a Dominic o que ele queria e ser justa com ele pelo menos uma vez.
"Eu sei o motivo da minha relutância em assinar os papéis," ela murmurou, colocando a mão sobre o peito. "No entanto, não tenho nenhum apego pessoal ao Senhor Esposo e ao Bebê Filho. Então, por que… meu coração está tão pesado?"
Seus olhos se amaciaram enquanto comprimia os lábios em uma linha fina. Em sua vida anterior, dar adeus era quase uma ocorrência diária. Esses adeuses eram ainda piores do que um divórcio porque o destino daquelas pessoas era um lugar para onde ela nunca poderia ir, a menos que desse seu último suspiro.
Ela deveria estar acostumada a dizer adeus. Ela já era boa nisso. Mas por que, mesmo com tantos anos de experiência, seu coração se sentia tão pesado que quase lhe tirava o fôlego?
"Heaven, se você os odeia tanto, por que não quer deixá-los ir?" ela se perguntava, fazendo uma pergunta que nem a própria Heaven original poderia responder. "Estou começando a não gostar do meu novo eu."