No quintal da frente da casa.-Meu melhor amigo?-Só posso defini-lo como "gente fina", acho que é assim que os jovens dizem hoje. Há, há, há.Disse o velho sentado em sua cadeira, contando para as crianças suas histórias.-Vó, me conta mais sobre seu amigo.-É! -Fale também daquela história em que vocês enfrentaram um monstro ancestral que queria abrir os portões.Seus dois netinhos olhavam para o senhor, e o vovô só podia rir e se confortar em sua fiel cadeira.-Pois muito bem... Prestem atenção, pois eu só irei contá-la uma vez.-Tudo começou em 1960...
______________________________
Eu e meu amigo costumávamos correr pelas cidades à procura de aventuras, mas confesso que na maioria das vezes nos envolvíamos em confusão.O garçom do bar tropeçou e caiu com garrafas de bebida.-Ora suas pestinhas! Se eu pegar vocês aqui correndo pelo bar e dizendo "Seu Mariano é um pirata escondido", irei puni-los corretamente!!Nós aprontamos muito pela cidade, mas quem mais sofria em nossas mãos era o Sr. Mariano; ele tinha um tapa-olho no rosto por causa de um ferimento de guerra, mas como nós não tínhamos ideia disso naquela época, aprontamos muito com ele.Nós tínhamos fama de sermos os mais baderneiros na nossa região e tínhamos orgulho disso, mas sabíamos que fazíamos isso para preencher o vazio em nossas vidas. A gente tinha crescido nas ruas, e nós dois éramos a família; só podíamos confiar apenas em nós mesmos.As ruas duras e nevadas nos forçaram a nos abraçar e dormir juntos sobre panos velhos e restos de papelão para sobreviver todas as noites, sem contar a falta de comida e água, que era nosso principal objetivo todos os dias para sobreviver, mas mesmo assim, agradecíamos por ainda estarmos vivos e por ter um ou outro como amigo. Há, claro, sem contar os mendigos adultos que eram mais perigosos do que qualquer monstro.Um mendigo deu um pão para cada um dos dois meninos.-Tomem, para vocês.Os dois.-Obrigado.-Obrigado, senhor.Bom… Nem todosMas quando havia alguns momentos em que não precisávamos correr para sobreviver, podíamos nos divertir, e olha… A diversão não era o que faltava, principalmente quando eu e meu amigo criávamos coisas com os restos de materiais que encontrávamos nos lixões.-Ei! Pirotécnico, me passa a chave de fenda.-Para já, Maquinário.Eu e meu amigo não tínhamos nomes, então nos apelidamos um ao outro; ele me chamava de Pirotécnico e eu o chamava de Maquinário.Eu e Maquinário fazíamos coisas que muitos adultos nem entendiam o que eram, mas no final, antes que eles pudessem entender, essas coisas explodiam repentinamente.Sim… Por que vocês acham que ele me apelidou de Pirotécnico?Pois bem… O tempo foi passando e os dias encurtando, até percebermos que já tínhamos 15 anos (idade essa forjada nos documentos por nós mesmos).Tínhamos adotado nomes novos, mais realistas para a sociedade, mas entre nós, continuávamos a nos chamar pelos apelidos.Durante nossas vidas, tivemos desentendimentos, brigas e até lutas, mas resolvíamos quase que instantaneamente nossas desavenças, e terminávamos o dia explodindo algo que acabava nos causando problemas.Eu e Maquinário trabalhávamos (eu como engraxate e ele como carvoeiro). Eu era o engraxate mais conhecido das redondezas, chegando a engraxar mais de 40 sapatos nos melhores dias.Mas um dia, fomos pegos de surpresa pela notícia de que o Sr. Mariano havia falecido. Fomos para seu enterro. Apesar de sempre termos aprontado com ele e, algumas vezes, roubado comida dele, ele nunca fez mal a nós ou nos denunciou. Às vezes, até nos dava comida e roupas que seus falecidos filhos não usavam.Como esperado, choramos muito no seu enterro. Com sua morte, os parentes ainda vivos se tornaram os donos do seu bar, o que nos entristeceu muito, pois vimos o bar do Sr. Mariano, que ele cuidava tão bem (como se fosse um tesouro), se deteriorar com o tempo.O tempo voou e já tínhamos 20 anos. Não tínhamos bem uma casa, por isso, com o dinheiro que tínhamos juntado, fomos morar em um apartamento bem barato. Era desconfortável, mas era nossa casa por enquanto.Mas tudo mudou quando recebemos uma carta.Um mensageiro veio bater em nossa porta.-Aqui moram os senhores Marco e Ricardo!Marco (Maquinista):-Sim.Ricardo (Pirotécnico):-Sim, somos nós.O mensageiro nos entregou a carta e nos informou que era do falecido Sr. Mariano. Ele foi pago para nos entregar essa carta quando o Sr. Mariano morreu.O mensageiro partiu sem olhar para trás e sem responder a nenhuma de nossas perguntas. Nós apenas o observamos se afastar, até que ele sumisse de nossas vistas. Quando o mensageiro se foi, nós entramos em casa, decidimos abrir a carta e o que vimos foi surpreendente.______________________________
-Crianças!! Hora de ir embora.A mãe interrompeu, chamando.As duas crianças.-O quê!?-Ah, mãe! Por quê? Estava ficando tão emocionante.A mãe.-Desculpe, filhos, mas já está na hora de irmos. E você, pequeno, seus pais também já estão indo.Sem mais argumentos, ambas as crianças tiveram que partir.A mãe olhou para o Sr. Ricardo.-Muito obrigada por cuidar das crianças. Espero que não tenham dado muito trabalho.O Sr. Ricardo.-Sem problemas, é bom ver jovens interessados na história de vida deste velho aqui.A mãe saiu com as duas crianças.-Tchau, vô!-Até mais, vovô!O Sr. Ricardo se inclinou em sua cadeira e olhou para a foto de seu amigo.-É, Maquinário, parece que nos encontraremos novamente… Muito em breve…Mas sua atenção foi bruscamente desviada quando viu o "cetro do chamado" brilhar.-Ele está de volta, não é?Pirotécnico falava, sentindo a presença da figura atrás dele.-Sim.-Ele vai retornar.….…...----------------------------------------------------------------------------------------------------------------