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Chapter 11 - Como seguir em frente?

Rosa não conseguiu contar para ninguém. Apenas ela e o irmão sabia o que tinha acontecido. E não teve coragem de contar para ninguém, não porque temia que Jonas divulgasse o vídeo, mas porque sabia que ninguém podia lhe ajudar. Os dias se passaram num total falta de sentido. Para ela a dor que se instalou dentro do seu coração não tinha cura. Apenas a morte poderia libertá-la de tamanho tormento.

Ela não viu mais Jonas, nem seu pai. Durante alguns dias, viu apenas a mãe. E por pouco tempo. Quanto estava sozinha sentava a beira do lago, olhando do outro lado uma ribanceira alta. Pensava que a queda daquela altura seria fatal. Ninguém sobreviveria se caísse de lá. Não, desse jeito não. Talvez uma corda pendurada no caibro da casa, um salto e o pescoço quebraria, seria mais rápido. Porém, pensava que não devia morrer e levar consigo toda aquela dor.

Seus dias eram carregados de pensamentos negativos. De pensamentos suicidas. Não conversou mais com o sol, nem com a lua. Isso não fazia mais sentido. Seu sonho de ser Rosa se despedaçou quando seu irmão lhe estuprou. Jonas não invadiu, não violou apenas o corpo dela. Ele destroçou sua alma. Aqueles minutos de prazer que ele teve ao estupra-la tirou de Rosa todo o desejo de viver. E, infelizmente, isso era compreensível.

Mais uma tarde à beira do lago, agora Rosa estava na ribanceira, de onde qualquer pessoa que caísse ou pulasse morreria. Tentou pular. Tentou novamente. E de novo não conseguiu. Olhou de lá a rodovia que já estava quase pronta. O bar de seu pai estava distante.

- Maldito lugar de indecências, pensou.

Lá embaixo, o lago estava cheio e os pássaros sobrevoavam a água turva com o entardecer. No entanto, nada daquilo fazia mais sentido. Antes ela amava ver aquela imagem. O lago sempre foi seu lugar favorito. Agora, ela só queria morrer, mesmo que fosse lugar onde mais encontrava sentido para viver, não importava. O sentido da vida lhe havia sido arrancado.

Rosa não era mais a mesma depois do estupro. E quem seria? 

Jonas. Ele ainda era o mesmo. Parecia que nada tinha acontecido na sua vida, não aparentava nenhum remorso. Andava de mãos dadas com sua namorada. Larissa não sabia de nada, por isso estranhou a mudança de Rosa para com ela e o namorado. Mas ele atribuía essa mudança da irmã à vinda da mãe dela e o fato de ambas estarem morando juntas. 

Guto e Julia já estavam voltando ao que eram, embora percebesse que o marido não quisesse nada com a outra, Júlia mantinha-se em alerta. Os olhos dele brilhavam toda vez que Raimunda aparecia, e isso era sinal de que não estava tudo acabado. 

A técnica em enfermagem não estava nada interessada na vida de ninguém, empenhava-se de verdade para recomeçar a vida. E de maneira honesta, como costumava dizer. Estava agora fazendo amizade com pessoas de bem. Todos seguiam suas vidas, seus interesses.

E foi influenciada por essas pessoas de bem, que Gorete conseguiu levá-la para igreja. Uma surpresa, toda a família de Rosa sempre foi de ovelhas sem pastor. E agora Raimunda estava laçada pelo encanto da amiga e as palavras de conforto do pastor Dornelles. 

Ninguém se dava conta de que Rosa estava à beira do abismo, prestes a pular. 

Olhava o lago. Sua alma estava destroçada. Completaria 18 anos no dia seguinte, uma idade que sempre esperou com muita ansiedade, momento em que seria dona de si. Agora ela não se importava mais com o aniversário. Sua alma estava partida e ela jamais recuperaria aquilo que lhe foi tomado, pelo seu próprio irmão. 

Tentou novamente. Não pulou. Nunca foi de ter atitudes, exceto quando se tratava de Dornelles. Do sexo com ele. 

Até isso ela não tinha mais. Não quis mais saber do pastor e muito menos dos pecados que cometiam. Por uma semana, ele a procurou, quis conversar, saber o que estava acontecendo. Jurou até deixar a mulher e ficar com Rosa. Mas ela não via significado em nada disso. Pelo contrário, sentiria-se culpada em tomar o marido da amiga de sua mãe. 

Na verdade, ela nunca viveria com Dornelles, o que rolou entre eles foi carnal. Uma maneira que ela encontrava de sentir-se no controle de algo. Se fosse para casar preferia o moço responsável pela obra da rodovia, que tinha se aproximado dela com muita gentileza. É sempre assim, sempre que o diabo manda um demônio, Deus manda um anjo. E João era naquele instante o anjo de Rosa. 

Impressionante, do nada ele apareceu e começou a se aproximar dela. Dizia-lhe coisas bonitas. Conversavam. Riam. Ele era um escape para ela daquela escuridão que em que ela se afogava.

De repente, o sorriso dele veio em sua cabeça. E então ela decidiu que ainda valia a pena viver. 

A noite já estava chegando. Rosa embrulhou sua dor como sempre fez, colocou no fundo mais obscuro de sua alma e foi para casa receber a mãe que estava voltando da igreja. 

Impressionante como o lago não parecia ter um significado. Sempre que olhava para as águas turvas do lago, Rosa via somente a dor do seu corpo misturada com os cacos de sua alma descendo naquelas águas.

Ninguém nunca saberia como ela estava se sentindo. Salvo as meninas e mulheres que sofreram abusos sexuais de seus pais e irmãos. Elas poderiam entender. Talvez dissesse como se vive com essa ferida que sangra e afoga a alma. 

Se pelo menos Rosa conhecesse uma dessas meninas ou mulheres, conversariam. E falariam de suas dores, do quanto a sociedade é omissa... e diriam ao mundo que arrancar da mulher sua dignidade é assassinato, pois ela morre naquele mesmo instante e fica no mundo um fantasma, vagando sem rumo. 

Lavou o rosto na água do lago e viu quando ele se aproximou. Ele era a única pessoa que ainda conseguia lhe arrancar uma faísca de alegria. Como supunha, era João. Ela o abraçou chorando sem nada dizer. Ele apenas acolheu-a em seus braços.

Ela sentiu-se protegida e o beijou. 

O beijo misturou-se às suas lágrimas. Chorava por estar viva. Sentia-se acolhida na gentileza dele. E o instante que demorou aquele abraço e beijo foi eterno para ela. E ele decidiu não perguntar porque ela chorava.

Ela se sentiu mal depois do abraço e pediu que ele fosse embora. Ele obedeceu, não era evasivo e entendia que ela não estava bem. 

Quando ele se foi, Rosa ouviu que alguém tinha chegado em sua casa. E então ela foi para os braços de sua mãe, o único lugar que se sentia segura. 

No dia seguinte completaria 18 anos. Mas iria festejar por estar viva. E de novo em sua cabeça veio que ela não era a única a ser vítima da própria família. Se pelo menos ela conhecesse uma dessas outras vítimas, pensou, voltando para casa. 

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