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Chapter 4 - O Figurante Perfeito

E o que falar de Frederike Cartman?

Ele havia sido a pessoa menos brilhante de todo o mundo, com uma vida que não poderia ser chamada de mais do que "vazia".

Não era medíocre, ao contrário, era incapaz.

Sua história começou ao ser abandonado em um orfanato quando bebê, sem sequer haver uma carta dizendo seu nome, apenas a marca da bacia, que era "Cartman", uma empresa de produtos de plástico que faliu após a má qualidade de seus produtos ser comprovada.

O menino foi chamado pelas freiras do lugar de "Frederike", e Cartman tornou-se seu sobrenome por não pensarem em nada melhor, além de que, ele não chamou a atenção de ninguém mesmo quando era um bebê.

Frederike não dava muito trabalho, era um bebê que dormia a noite toda sem que as freiras precissem se preocupar, dando paz para a encarregará de cuidar dele, irmã Madalena.

Madalena era uma mulher de altura mediana, temente a Deus, e tinha dedicado sua vida a servi-lo naquele orfanato, pois acreditava que ajudar aquelas crianças era um dever que ela nasceu para cumprir.

Ela acreditava que, se pudesse fazer o bem aquelas crianças enquanto novas, elas pelo menos poderiam ter uma infância boa para se lembrar, mesmo na falta de um pai e de uma mãe, ela os criaria como se fossem seus filhos de sangue, dando o amor e carinho que mereciam.

Mas... De alguma forma... A empatia dela para com Frederike era diferente, um bebê indefeso, de pequenos cabelos negros e olhos igualmente negros, ela muitas vezes esqueceu de dar comida para ele no horário, o deixou exposto ao sol mais do que deveria, esqueceu o menino dentro do tanque de banho...

Era como se ela estivesse tentando matá-lo, mas, não era ela.

Ela não entendia a razão, mas Frederike parecia sumir de sua memória em fracos momentos, e por ele não conseguia nutrir nenhum sentimento, nenhuma empatia, ao ponto de não se sentir culpada por nenhum de seus deslizes, o que fez seu espírito começar a ficar angustiado.

O Orfanato era um local grande, possuindo ao todo quarenta e dois quartos.

Dois para o número de vinte freiras responsáveis, um para o padre responsável, e o resto para acomodar sesenta e duas crianças, das jovens as quase adultas.

O pátio tinha o tamanho de uma quadra de futsal, aberto por cima enquanto era rodeado pelos quartos e o grande refeitório ao fundo, além de dois banheiros do outro lado — o direito — para meninos e meninas.

O ano era 1939, a guerra trouxe para essas crianças amanheceres e anoiteceres mais sombrios do que antes, o Orfanato ficava na Polônia que começou a ser invadida tanto pelos soviéticos quanto pelos nazistas, e o orfanato, que ficava longe das cidades, não revelava as crianças que logo a guerra chegaria naquela região.

O que haveria de ser dito, afinal?

Aquelas crianças não tinham pais e nem mães, o padre responsável não poderia pensar em fugir para qualquer lado a essa altura da história.

O orfanato ficava atrás de uma montanha, construído ao longe das cidades pensando na criação das crianças ali.

Ao redor, só haviam florestas e uma estrada distanciada em três quilômetros, a única forma de encontrá-lo facilmente seria vendo de cima, que qualquer um dos exércitos poderia com a invenção dos aviões.

Restava apenas orar para que não caíssem nas mãos de nenhum dos dois, pois o Padre sabia como eram tratados os fiéis pelos soviéticos pelas notícias que recebia pelo rádio, assim como sabia como eram monstruosos os do exército alemão, que se identificassem esse lugar como uma base inimiga, não teriam piedade ao bombardear o lugar.

Restava orar e acreditar, até que o fim desta guerra viesse.

O Padre agradeceu por já estarem no inverno, pelo menos, e acreditava que nenhuma tropa viria por aquele lado tão cedo.

O nome do padre era Edward, com a idade passando dos trinta e dois anos.

***

O Padre soube dos recentes problemas de Madalena, e trouxe-a para conversar com ele a sós em uma tarde de inverno, quando as crianças estavam entretidas brincando na neve lá fora, sendo vigiadas pelas outras freiras para se machucarem seriamente ou se distanciarem mais do que deveriam.

Frederike estava em meio a elas, mas não brincava, ao invés disso, se sentava em um balanço e observava o céu cinzento pelo dia inteiro, quase sem piscar.

Seus olhos negros engoliam a luz, ao ponto de suas pupilas se perderem dentro de suas íris.

O semblante do menino parecia inexpressivo, puramente melancólico como o inverno.

— Você vê, padre? Ele não parece humano...ele...ele é algo que eu não consigo explicar... —

— Madalena, uma criança incomum não deixará de ser uma criança, você precisa pensar mais no que diz. —

— Padre! Eu não estou louca! Ele...ele é estranho... é como se ele não estivesse ali... mesmo estando ali... é como se a presença dele fosse mais silenciosa que...o silêncio, como se ele nunca estivesse lá, ele...ele me dá calafrios, me esqueço que ele está junto a mim de vez em quando, mesmo que eu esteja segurando sua mão e o levando comigo, faz quatro anos desde que ele apareceu e ainda não deu sequer uma palavra... O que faremos com ele? — O tom de Madalena parecia angustiado e pesado, como se ela estivesse enfrentando uma batalha mental intensa.

Seu espírito parecia perturbado, em seus olhos havia uma profunda tristeza que ela não sabia explicar. Aquela criança era como um delírio, e ela parecia estar começando a perceber que não poderia curá-lo.

Da janela, Madalena e Edward observaram Frederike e as outras crianças, tendo boa visão do andar de cima do orfanato, enxergando a frente montanhas e troncos de árvores com folhas caídas e troncos ainda persistentes, as folhas dos pinheiros pesadas com a neve branca sobre elas, enquanto o chão grisalho era pisado por crianças animadas.

Edward encarou Frederike por um momento e suspirou, olhando para Madalena e respondendo-a com sinceridade:

— Sabe, você não é a única a ter essas reclamações quanto a estranheza de Frederike. A irmã Maria e a Irmã Eleonor também me disseram o mesmo, e um caso especial foi o que me chamou a atenção... —

— Fala do caso da irmã Anninka? —

— Sim, você se lembra exatamente como ela estava assustada? —

— Lembro... aquilo foi um dos dias mais agitados que tivemos por aqui, quando Frederike "sumiu". —

— Sim, ela ficou responsável por ele naquele dia, e bastou que ela se afetasse um pouco e o menino havia sumido, procuramos por todo lugar do orfanato por duas horas inteiras e não o encontramos por lugar algum, até que... —

Edward parou, esperando que Madalena completa-se a fala.

— Ele estava sentado no mesmo lugar, sequer parecia ter se movido... Como se ele fosse um fantasma, ou um objeto que não notamos que estava ali antes, ele estava lá. —

Madalena tremeu as mãos, pensando no ocorrido.

— Frederike é uma incógnita que provavelmente não vamos resolver, mas, de que importa, não é? —

— Padre, não acha estranho? —

Madalena olhou para Edward, ela tentava manter a calma, mas toda vez que lembrava dos eventos que viveu nos últimos três anos, os olhos de Frederike não paravam de chegar a sua mente como assombrações.

E, algumas das memórias dele também haviam sumido.

— Madalena, ele é uma criança, igual a todas as outras aqui, o nosso dever é cuidar delas até que possam sair daqui por conta própria e viverem no mundo. Não foi o que todos nós juramos, cuidar dessas crianças? —

Edward sorriu, pensando em acalmar Madalena com suas palavras. Talvez seu discurso não fosse o mais original, nem pensava em como explicar muitas das vezes que também esqueceu de Frederike, ainda sim, ele era uma criança... E ele havia prometido cuidar de todas as que estavam abaixo do teto desse orfanato, sem exceções.

— .... Você está certo, Padre. Ele é uma criança, e mesmo com esse aperto em meu coração, ele nunca me fez nenhum mal, não há razão para nutrir qualquer sentimento negativo quando ele sempre se apegou a mim. —

Madalena e o Padre novamente olharam para fora, observando a janela enquanto seus corações se acalmaram.

A vista das crianças brincando era bela, o suficiente para acalmar seus corações até então perturbados.

Um momento e olharam de volta para Frederike, que do balanço havia sumido.

Os olhos do Padre e de Madalena se arregalaram, elea tinham tirado os olhos dele por apenas alguns minutos...

Onde ele poderia estar agora?

Madalena virou-se e suspirou pesadamente, seus olhos arregalaram e seu semblante escureceu.

Edward, que estava ao lado dela, poderia ter se virado antes, mas ele observou a expressão de Madalena tremer enquanto seu olhar foi se guiando a direção que ela olhava.

Um calafrio percorreu toda sua espinha e observou uma cadeira logo perto da porta, e nela...

Frederike estava sentado, olhando para Madalena e Edward com os olhos negros sem luz de sempre, sem dizer uma única palavra.

Edward engoliu seco, assim como engoliu suas palavras ditas anteriormente.

***

Quem é Frederike Cartman?

— Essa pergunta posso eu mesmo responder. —

Ei! Não atrapalhe minha narração! Eu tenho narrado três capítulos até aqui, não interrompa!

— Cale a boca, eu mesmo farei isso. —

FREDEEERIKEEEEEE!

Ignorando nossa narradora excêntrica, é minha vez de falar.

Eu não tenho uma história a ser contada, este é o primeiro ponto.

Pode-se dizer que eu não faço parte disso que você leu até aqui, ou mesmo tenho um papel importante, nem sou um protagonista a ser elogiado por sua motivação e passado, não sou sequer um antagonista principal ou um secundário, muito menos sou um dauteragonista, sou apenas uma casca inumana disfarçada de humana — inexpressivo, mas insignificante.

Estive por todos os lugares, onipresente, sem valor como a poeira que se bate das sandálias antes de entrar em uma casa, menos interessante que os gritos das cigarras nas árvores da floresta, mas sem dúvidas menos existente que as ilusões de alcoólatra desiludido do amor.

O que pensar?

Quando sou criança, meus olhos não refletem a luz que vem do sol, nem minha pele pode sentir a calmaria dos ventos do outono, ou amar a brisa gélida do inverno.

Quando sou adolescente, os hormônios desta idade tendem a se aflorar, como flores a desabrochar em um jardim, mas definitivamente...as flores do meu morreram no inverno passado.

Eu sou pacifico, meu rosto não será lembrado dois minutos depois que veja, pois meu rosto não é obra de arte e nem colírio para os olhos, é na verdade um semblante inexpressivo cujo nem o maior dos artistas gostaria de pintar, ao invés disso, as fotografias adorariam muito mais o cenário que eu estava presente do que a mim mesmo, esquecendo de me fotografar.

Por que o reflexo no espelho esqueceu de mim?

Minha vida é ser um figurante, um espectador, aquele que assiste a todos e não se envolve, aquele sem história para contar no fim, ou...pelo menos...era o que eu pensava.

Posso voltar a narrar agora!?

Pode.

***

Pois bem! Frederike Cartman viveu sua vida naquele orfanato, e até o fim da guerra permaneceram em um território intocado.

O país havia sido manchado de sangue e a história que seria contada nas próximas décadas não era menos do que triste, deprimente e distópica, com vítimas que viram o inferno diante delas — e o diabo de bigode inconfundível.

Frederike Cartman conheceu uma garota chamada Hannah, com quem ele — pela primeira vez — experimentou uma sensação que não fosse a inexistência.

Ela, diferente das outras crianças, era capaz de se lembrar dele, era capaz de vê-lo como mais do que estranho, e seus cabelos brancos como a neve eram incomuns diante delas.

Hannah tinha olhos brilhantes que não se compararam com nenhum outro, dourados como o Sol, ao ponto de suas pupilas sumirem na Luz.

Ela e Frederike cresceram juntos, diferentes — mas ele nunca a desprezou, assim como ela não deixou de enxergá-lo.

Aos vinte anos, Frederike a pediu em casamento, o que deixou tanto o Padre quanto as freiras em perfeita harmonia, vendo que o menino mais indiferente havia amado pela primeira e única vez.

O sol nascia e iria se pôr, e Frederike e Hannah amavam um ao outro.

Meses se passaram, e o dia do casamento chegou.

Madalena disse a Hannah, enquanto lhe entregava seu buquê:

— Seja feliz, minha filha. São anos que você esperou por isso, está na hora de serem uma só carne. —

Hannah sorriu com alegria genuína, vestida com vestes brancas, costuradas a mão por ela e pelas freiras do orfanato.

Ela estava feliz, e nenhuma sensação poderia ser descrita em seu coração além da felicidade.

O casamento foi em uma cidade próxima, na igreja cujo o padre anteriormente saiu para morar no orfanato.

Edward estava satisfeito, feliz com a chegada do dia que duas de suas amadas crianças ficariam juntas, uma só carne, um só espírito.

Frederike se posicionou no altar, e aguardou a chegada de Hannah.

Mais cinco minutos, e a clássica canção "Pas de Deux" de Tchaikovsky foi o tema de abertura do casamento, cujo os noivos tinham como "A Melhor canção de todos os tempos".

Frederike se manteve olhando para a porta, quando Hannah olhou para ele abaixo do véu do outro lado.

Ela caminhava solitária, enquanto a frente dela, algumas crianças do orfanato jogavam pétalas de rosas.

Enquanto caminhava, ela olhou para os lados e observou sua amiga Jessyca, que sorriu para ela junto de seu namorado Heiko — ao lado dela — sorria junto. Do outro lado Hannah observou irmã Madalena, irmã Anninka, Irmã Maria e todas as outras irmãs posicionadas, sorrindo e orando, cujo em seus olhares diziam "Parabéns", e os olhos de Hannah lacrimejaram.

Por fim, ela olhou para Frederike, cujo os olhos negros escondiam uma alma satisfeita, cujo o sorriso nunca seria nada além de verdadeiro.

Ela se aproximou dele e ficou de pé a sua frente, sorrindo com verdade.

— Você está tão linda quanto no dia que eu te conheci. —

Frederike disse com harmonia no tom.

— E você, tão perfeito quanto todos os dias. —

E recebeu harmonia de volta.

Frederike e Hannah fizeram seus votos, até que a pergunta feita por Edward foi respondida não por um de cada vez, mas pelos dois:

— Vocês aceitam um ao outro como legítimos marido e mulher, para todo o sempre? —

Frederike olhou para Hannah e ela o olhou de volta, eles entrelaçaram as mãos e disseram com a voz em uníssono.

— SIM! —

E então a igreja comemorou, o dia mais feliz da vida do casal havia chegado, o dia do casamento e união, o dia onde dois corações seriam um, o dia onde a vida de dois se tornaria só uma...para então estarem juntos pela eternidade.

* * *

— Pelas minhas contas, fazem oito mil anos que isso deve ter acontecido no meu mundo original. —

Com um terno de casamento e um anel em seu dedo anelar esquerdo, Frederike Cartman sentiu-se preenchido de melancolia e nostalgia, como nunca antes poderia, como nunca antes sentiria.

Ele estava de pé no alto de uma montanha, acompanhado somente de si mesmo, com o olhar mais vazio que poderia oferecer, olhos negros como o céu sem estrelas.

Ele, que tentou ser protagonista, sentiu sua insignificância abaixo dos céus e não sentiu mais nada, lembrando-se de um passado que não haveria como esquecer.

Naquele mesmo dia, Hannah, ao saírem da igreja, foi atingida por um tiro na cabeça em uma troca de tiros entre policiais e bandidos na saída de um banco do outro lado da rua.

Ela caiu nos abraços de Frederike, que sequer pôde ouvir últimas palavras de seus lábios agora manchados de terra.

Ele teve um dia de luto, e, no outro dia...

Frederike se viu no começo do mesmo dia, antes do casamento, e sua esposa estava viva...

Hannah estava lá por ele, e ele por ela, então tudo havia sido um pesadelo?

O mesmo evento se repetiu no dia, Frederike viu sua esoosa ser atingida e sequer teve uma reação apropriada, além de seu semblante cair em tristeza.

Em outro dia, o mesmo se repetiu.

Dessa vez, Frederike não permitiu que ela saísse daquele lado da igreja, mas de outro, mas não houve resultado além da morte de Hannah, que fora atingida por um piano que estava sendo erguido para o andar mais alto de uma casa, as cordas falharam e o piano caiu rapidamente sobre ela, quebrando todos os seus ossos no processo.

Sangue escorreu pelo chão, e Frederike mais uma vez tinha perdido sua esposa.

Ele estava sem reação de novo, além de se ajoelhar no chão e pedir perdão por não salvá-la.

O que fazer?

Frederike repetiu esse dia por cento e cinquenta vezes, até que sua esposa tinha morrido de tantas formas que ele não queria mais tentar.

Ele então pensou em tirar a própria vida, mas ele não poderia deixá-la, esse pensamento estava fora de cogitação.

De diversas maneiras, ele pensou como salvá-la do cruel destino, fosse até mesmo terminando com ela, impedindo que o casamento acontecesse, mas nenhuma opção poderia mudar o que estava pré-escrito.

Hannah Cartman morreria naquele dia, e nada poderia mudar isso.

Frederike, que não tinha mais amanhã, decidiu que a salvaria, custasse sua sanidade ou sua alma...

Ele decidiu que não quebraria mais.

Na tentativa número duzentos e quarenta, Frederike descobriu que sua natureza era mais do que uma mera anomalia diante do mundo, ele também descobriu variáveis de comportamento das pessoas que ele conhecia, além de memórias, desse modo, ele entendeu que esses não eram mais os mesmos que ele conheceu...

Como se estivesse pulando de um mundo para outro a medida que o dia se repetiria, o que significava que, não importa o quanto ele impedisse, uma nova possibilidade de morte seria criada e Hannah acabaria sendo morta.

Ele estava lutando contra a Lei da narrativa dos mundos, tentando mudar um fato fixo na realidade, quando nunca foi seu destino mudar nada disso.

Ele teria que ser espectador para sempre, e isso não iria mudar.

As lágrimas começaram a secar.

— Então que eu lute contra o próprio mundo, e eu não vou parar. Hannah não será morta, eu não vou perdê-la, eu não quebrarei a promessa que fiz naquele altar... Até que eu a salve, eu não me importo de passar mil vezes pelo inferno. —

Dessa vez, Frederike quebrou pedaços daquele universo como fragmentos de vidro.

Frederike notou que havia uma "Força maior", havia alguma coisa criando esses universos, o forçando a uma jaula em espiral eterna, e essa jaula parecia ter possibilidades infinitas de mundo sobre mundos.

Ele pôde notar isso pois ele era o único capaz de saber de um universo anterior, e através que ele chamou "Vantagem do Figurante", ele poderia ter visto cada um dos mundos anteriores, e eles foram apagados após o dia da morte de Hannah, como se tivessem sido projetados para a morte dela em específico.

O que era essa força? Ele não sabia.

Mas, ele notou que essa força parecia não ter poder sobre ele...

A medida que Frederike foi adestrando em outros mundos, ele notou que uma série de inimigos diferentes foram aparecendo, Hannah tinha apenas um rosto, mas sua cultura, o mundo que estavam, foi mudando ao ponto dele estar em uma época moderna, outras vezes pós apocalíptica, outras vezes em um mundo medieval, e o único ponto fixo era que Hannah faleceria, mas chegou em um nível de aleatoriedade que poderiam demorar meses, dias ou anos, mas sempre era aos vinte anos de idade dela, no dia do casamento deles, de alguma forma.

Frederike foi acertado várias vezes em cada uma dessas possibilidades, seus braços cortados, suas pernas arrancadas, seus olhos, suas unhas, seus pés, seus tendões usados de fio dental por monstros, suas veias rasgadas por lâminas ou flechas, seu corpo ser queimado vivo ou lançado em um tanque de ácido...

Ele esteve vagando por cada um desses mundos, mas foi capaz de controlar a própria vida para sempre renascer no próximo mundo.

Ele não era capaz de parar.

— Bom, amanhã é o aniversário de vinte anos dela. —

Frederike, sobre a montanha, olhou para o mundo com olhos pretos e semblante cansado, não enxergando que cor tinha este vazio no horizonte.

— Oito mil anos...eu já passei das mais de duzentas mil tentativas, mas não é hora de desistir. —

Zombando da própria fraqueza, Frederike caminhou na direção oposta do penhasco.

Ele passou pela floresta e voltou a uma pequena vila de um mundo medieval desta vez, com o elemento "magia" tendo sido adicionado.

Frederike caminhou mais um pouco e observou Hannah, que nesta vida se chamava "Johanna", vir até ele e perguntar irritada:

— Frederike! Onde você tinha ido? Te procurei tanto! —

— Hah, eu apenas fui espairecer um momento. —

Um sorriso fraco surgiu aos lábios de Frederike.

— Me avise quando for sair assim, seu bobo! Tome, eu fiz chocolate quente para você! —

Johanna tinha roupas grossas de peles de animais, o inverno havia caído e o casamento da filha do líder da vila com Frederike estava marcado, Johanna seria entregue ao rapaz que ajudou tanto o líder da vila no outono e agora no inverno.

— Como se sente? —

— .... Nervosa, eu...eu sei que eu amo você, mas as vezes penso que eu não te mereço. —

— Ei, não diga isso. Eu amo você, e sempre vou amar você, por isso não precisa se preocupar com merecimento, nenhuma outra mereceria o meu amor, só você. —

Johanna sorriu e sentiu Frederike tocar uma de suas mãos no rosto dela, ela tocou a mão dele como uma de suas mãos e em seguida caminhou junto dele para dentro da pequena casa de seus pais.

* * *

"Eu definitivamente não vou parar. Coloquei isso em minha cabeça desde a primeira vez que isso aconteceu. Estive no inferno, e sempre vou estar no inferno até que eu salve a mulher que eu amo, eu não vou escolher outra, não vou seguir em frente, não vou parar, não vou desistir, não vou retroceder na minha palavra..

Toda vez que digo a ela, a morte vem instantaneamente e a toma de mim, seja quem for, há alguma coisa, fora daqui, além daqui, que como um marionetista controla os seres desse mundo, mas parece que eu sou um dos bonecos que quebrou as suas cordas...

Eu não preciso ser reconhecido, não quero ser um herói da justiça, nem quero ser um protagonista excêntrico, muito menos quero ser um antagonista principal de qualquer coisa... Hannah, eu só quero ser aquele que você ama.

Este sou eu, Frederike Cartman, e Inimigo, seja lá o que você for, saiba que eu estou indo acabar com você, para que Hannah esteja finalmente liberta dos seus jogos infames de azar.

Um mero figurante, Frederike Cartman, irá em busca da sua Sensação do Paraíso."