Ao levantar a cabeça para o alto, Linn viu a sombra de Mizu que a cobria vindo de trás. Ao virar-se para vê-lo, recebeu um carismático sorriso, o qual a convidava para lutar a seu lado.
— Levante-se logo, não tenho todo o tempo do mundo.
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— Arf!
A pequena garota correu o mais rápido que podia. Mesmo cansada, correu por todo o extenso país e chegou ao outro lado dele. Não havia quase nada no lugar onde tinha chegado. Apenas um grande gramado e um destacado prédio dominavam aquele lugar.
"Eu corri. Fiz isso para que pudesse me livrar de toda aquela dor. Vi minha mãe sofrer por muitos dias e meses, porém um dia tudo mudou. Eu ainda não podia entender exatamente como era o mundo, mas eu queria vivê-lo em liberdade."
Ainda pequena, a garota de pouco mais de dois anos se apressou para correr em direção ao prédio que dominava aquela área.
Entrando sem hesitar, caminhou em passos longos pelo andar principal do prédio, o qual estava totalmente ocupado por diversas pessoas. Todos estavam vestidos com jalecos e roupas médicas. Ao verem a garota entrar, deram total atenção de olhares a ela.
— O que uma criança do seu tamanho está fazendo em um lugar como esse?
Um dos homens de jaleco apressou seus passos para que chegasse próximo a pequena menina.
— Ei, está me ouvindo?
Gesticulando com as mãos, finalmente chamou a atenção da pequena garota, a qual não tinha lhe percebido até aquele momento. Percebendo a presença do homem ao seu lado, a pequena Linn se afastou rapidamente, mantendo uma distância segura dele.
Apenas ao ver o olhar distante da garota a sua frente, ele percebeu que algo estava errado.
— Você está bem, garotinha?
— …
Agindo de forma cuidadosa, foi respondido com silêncio e indiferença pela garota que nem mesmo tinha mudado sua expressão após sua pergunta.
Apesar da reação confusa da garota, o homem que usava jaleco branco em seu corpo e touca de pano na cabeça percebeu algo ainda mais profundo sobre a reação confusa da garota.
— Sua audição está prejudicada. — Ele comentou para que todos ao seu redor o ouvissem.
Pensando durante alguns instantes, decidiu agir de forma diferente.
Saindo do lugar onde estava, caminhou em passos confiantes para uma das mesas ao canto dos compartimentos separados por paredes pequenas de madeira fina da cor branca.
Durante todo seu percurso, não havia deixado de ser observado pela pequena garota, a qual não falou ou se moveu, apenas o acompanhou com seu olhar inseguro.
— Tudo bem! Isso é para você.
Saindo de trás da parede, ele segurava em suas mãos um pequeno urso, o qual usava um óculos de lentes sem grau.
Caminhando em direção a garota com o urso em seus braços, o estendeu em direção a ela, a qual aceitou rapidamente, desviando seu olhar inseguro por alguns instantes.
— Você não parece machucada, porém é perceptível que algo está errado.
Aproximando sua mão direita da cabeça da garota, foi surpreendido por uma nova reação dela, a qual desviou seu corpo de forma brusca. Em seus olhos, lágrimas escorreram, evidenciando sua natureza de criança.
— Pequena, o que fizeram a você?
Chorando, a pequena garota encarou os olhos assustados do homem à sua frente. Ele não podia entender o que estava acontecendo, porém tentava se esforçar para que não a deixasse desconfortável.
"Naquele momento, a pequena Linn estava parcialmente surda. Trabalhando junto da lógica, não havia soluções, porém o simpático senhor de jaleco decidiu que cuidaria de mim e me ajudaria a ficar melhor."
— Vamos cuidar dela. O que acham?
Agachado à frente da pequena garota, ele virou seu corpo para que pudesse falar com os homens que o ouviam atenciosamente. Todos os que estavam parados observando a situação negaram imediatamente, se afastando do homem e da garota. Logo, todos voltaram a andar pelo corredor, se dispersando do olhar decepcionado do homem de jaleco.
— Pois é! — Suspirou profundamente — Acho que farei isso sozinho, princesa.
Tornando a olhar nos olhos da garota, sorriu mostrando todos os dentes.
Ela, que o via sorrir de forma sincera, decidiu retribuir da mesma forma, sorrindo de volta com todos os dentes amostra.
"Demoraram alguns anos para me acostumar a receber carinho, porém o tempo foi bom comigo."
Crescida, a pequena garota aderiu para sua aparência o óculos sem grau que antes era de seu pequeno ursinho, o qual guardava junto a sua cama em seu novo quarto. Junto ao óculos, sua nova aparência recebeu um novo penteado feito pelo homem de jaleco e usado diariamente por ela.
"Quando eu cresci, fui aceita para estagiar no prédio de pesquisas. Desse dia em diante, busquei junto daquele que me ajudou uma cura para mim."
Deitada sobre uma mesa branca em uma das salas de testes do prédio de pesquisas, Linn recebeu uma aplicação de vacina, a qual tinha sido testada antes em outras pessoas.
— Você acha que isso pode dar certo?
— Você parece meio sem esperança que isso funcione, não atrapalhe o bom clima.
— Digo isso por conta da morte daquele homem. Nele foi testado exatamente essa mesma injeção.
Os dois homens de jaleco conversavam enquanto aplicavam com total cuidado a injeção sobre a crescida Linn, que já era uma adolescente completa.
Sem esboçar dor, Linn recebeu a injeção de forma completa. Sem levantar imediatamente ou dizer qualquer palavra, manteve sua expressão de forma neutra.
— Agora poupe-nos de suas palavras negativas. Quando apenas eu podia ouvi-las era tranquilo, porém agora não podemos contaminá-la com sua negatividade
O homem que cuidava de Linn sorriu de forma empolgada durante sua fala irônica, a qual foi ouvida em alto e bom som pela garota que permanecia deitada sobre a mesa branca.
Se levantando imediatamente da mesa, Linn sorriu enquanto corria para abraçar aquele que tinha lhe ajudado até aquele momento.
— Obrigado!
— Não chore garota, eu não gosto de te ver chorar.
— Me chame de Linn.
Logo, os dois caíram em lágrimas enquanto se mantiveram abraçados por um longo tempo.
"Depois de muito tempo, encontramos a cura para meu problema e desde aquele momento, voltei a escutar o mundo da forma como ele é."
• • • • •
— Porque você me ajudou, Mizu?
— Me diga, Linn. Você acha que tenho algum motivo para te deixar morrer aqui? Não somos inimigos, estamos lutando pelo mesmo objetivo. Na verdade, ele é nosso inimigo em comum.
Conversando juntos em um dos extremos do extenso campo de grama, Linn e Mizu trocaram cumprimentos e sorrisos de alívio. Eles finalmente estavam novamente em paz e agora tinham que juntar suas forças para lutar contra um novo inimigo. Esse era o homem que foi apontado por Mizu.
Aquecido em ódio, o homem de olhos sem brilho levantou do chão e empunhou novamente sua espada para lutar. Junto dele, seu líder se aproximou para o campo de batalha. Era o início de uma luta dois contra dois.
— Você já tinha lutado assim antes, Linn?
— Não, na verdade até poucos meses atrás eu ainda estava aprendendo a falar.
— Como assim "aprendendo a falar"?
— É literalmente isso que você ouviu!
Discutindo entre si, Mizu e Linn se mantiveram com expressões sérias enquanto encaravam os homens que estavam à sua frente.
— Linn — Mizu chamou a atenção da garota, lançando imediatamente o cristal branco em sua direção.
Agarrando o cristal lançando de forma inesperada, Linn perdeu sua postura séria, rindo de sua química surpreendente com Mizu.
— Você precisa de uma arma, não é?
— Necessidade é a palavra exata.
— Tudo bem, pegue uma espada. Hoje é por minha conta.
Linn indicou com seus olhos o local onde Mizu deveria ir. Imediatamente, ele correu em direção a pequena cabana que exibia as afiadas espadas em sua fachada. Pegando qualquer uma delas sem muita atenção, se apressou para voltar para sua posição inicial de batalha.
Naquele ponto, a luta já tinha se iniciado. Linn lutava contra dois homens, porém tinha seu foco em se defender daquele que usava a espada.
— Aguenta firme, Linn!
Mizu correu por todo o campo para impedir que Linn lutasse sozinha. Se lançando com um pulo para o meio da luta, afastou os dois homens de perto da garota.
Afastados uns dos outros, todos começaram a pensar na sua luta antes que qualquer nova ação fosse tomada.
— E aí Linn, como vamos dividir isso?
— Lute contra o que tem o escudo, acredito que seja mais lógico.
— Tudo bem, então farei assim!
Após ouvir cuidadosamente as palavras de Linn, Mizu imediatamente correu em direção do homem que segurava o cristal da defesa. Aquele homem era o líder da operação de busca ao invasor do país dos grandes muros que tinha perseguido Mizu em sua chegada ao país.
Atacando sem pensar e de forma inesperada, Mizu causou no homem grande estranheza, da qual não podia se livrar antes de sua luta. Combatendo os ataques do garoto de toda forma que podia, perdeu a oportunidade de pensar em sua luta.
— Que padrão de ataques estranho! — O homem murmurou para Mizu, o qual apenas o ignorou.
Atacando com total intensidade, usou de chutes, socos e ataques com sua espada para afastar seu adversário que apenas se defendia. Não havia tempo para que ele pudesse pensar em um contra ataque ou em sua estratégia de batalha, a qual agora era praticamente inexistente
Mizu nem mesmo estava pensando em qual ataque usaria a seguir, ele apenas lutava com tudo que podia de acordo com sua situação de distância e possibilidade.
— Você vai fazer tudo de qualquer jeito?!
— Está funcionando, não faz sentido mudar minha posição. Principalmente porque eu não preciso virar o jogo desta vez.
Mizu permaneceu atacando enquanto usava de socos e chutes para impedir que o homem à sua frente usasse qualquer ataque ofensivo. Por mais de carregar o cristal da defesa, ele não parecia usá-lo de forma efetiva, recebendo grande parte dos ataques do garoto.
Ganhando vantagem em sua luta, Mizu finalmente pensou em algo diferente de sua luta padrão.
— Uma vez eu ouvi algo do meu mestre. Ele dizia que em uma luta de espada nós usamos a mente e a liberdade de nossa criatividade.
Mudando a rota de corrida de seu corpo, Mizu alternou os ataques, os trocando de ordem. Agora, ele atacava primeiro com sua espada, lançando seus ataques físicos em sequência.
— Eu também disse isso quando cheguei até aqui. Tive que entender minha luta para vencer.
Levantando sua espada com sua mão esquerda, direcionou seu ataque de forma reta em direção da cabeça do homem à sua frente.
— Eu aprendi que ser imprevisível é o grande diferencial.
Lançando sua espada para o alto antes que completasse seu ataque, a segurou usando sua mão direita.
— Adeus.
Terminando seu ataque com um profundo corte cruzado no peito do homem, o matou imediatamente sem dar chance para qualquer reação.
• • • • •
— Isso foi demais!
Alguém batia palmas enquanto observava a luta de Mizu por um enorme telão.
— Isso é maravilhoso, você não concorda?
— Deixe de ser ridículo desta forma.
— Ah, eu venho para te fazer companhia nesse lugar sujo e vazio e mesmo assim sou tratado dessa forma?
— Cale sua boca!
O homem de longo cabelo branco levantou seu tom enquanto conversava com o homem de roupas negras que emanava de si forte terror. Ambos sobrevoavam a cena de Mizu que era transmitida por todos os lugares daquele mundo em que estavam.
Sorrindo, o homem de roupas góticas e aparência amedrontadora levantou seus braços para o alto enquanto rodava sobre a imagem de Mizu projetada no chão.
— Ele é magnífico. Você devia perceber isso também.
— Eu sei disso, eu também tive a oportunidade de vê-lo.
— Mesmo sabendo de tudo isso você ainda prefere me repreender. Está ficando velho em espírito também, Sora?
Lançando fora todo o ar de sua narina de forma repentina, o homem de cabelo branco chamado Sora abaixou sua cabeça em decepção. Enquanto tentava recuperar todo o ar que perdeu a pouco, levantou levemente seus olhos em direção ao homem a sua frente.
— Você diz coisas sem importância e brinca bastante, porém não me diz o que realmente veio fazer nesse lugar.
— Ah, você é sem graça! Nem mesmo me deixou fazer suspense.
Sorrindo de forma amedrontadora, o homem de roupas negras se aproximou lentamente de Sora.
— Eu teria dito sobre o assunto, porém quando cheguei aqui o assunto estava por todas as partes.
— É sobre aquele garoto, não é?
— Não é exatamente sobre ele, é sobre a besta na qual ele protege.
Recuperando todo o ar que tinha perdido, levantou novamente a cabeça, encarando diretamente os olhos totalmente vermelhos do homem à sua frente.
— Está interessado em Luna novamente, não é mesmo Kuroihi?
Aumentado o sorriso de sua boca, o homem de roupas negras chamado Kuroihi afirmou com sua cabeça as palavras de Sora.
— Você está certíssimo, velho amigo.