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O Segredo da Neve

🇧🇷lukukio
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Synopsis
Às vésperas de mais um natal em um pequeno e distante país europeus, os irmãos Kaia e Rune, se veem no meio de situações estranhas e até magicas, revendo um passado esquecido, agora enquanto tentam revelar os segredos do passado e viver uma vida tranquila eles terão também que entender de onde vem essas estranhas magias. Acompanhe-os através de uma aventura magica e gélida neste final de ano incomum.

Table of contents

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Chapter 1 - Natal Passado

Era uma vez, há muito tempo atrás — contava, uma jovem loira, de mechas azuis, com uma voz tenra — uma bela e jovem mulher, conheceu um misterioso e audaz garoto... juntos, eles enfrentaram, perigos, tempestades e perdas... mas o amor do casal pareceu nunca diminuir.

A jovem, dona da voz, estava sentada em uma confortável cadeira, de costas para prateleiras em uma grande sala, cercada por crianças. Ela fingia ler um livro de capa simples marrom, onde se lia em holandês, "Branca de Neve", enquanto os pequenos a ouviam atentamente, contar a história da vida de um casa, talvez um pouco exagerada.

— ... "Foi então, que um grande lobo apareceu, com um uivo tão forte, capaz de fazer a terra tremer..." — A estória seguia, enquanto a neve começava a cair, tranquilamente na larga janela da biblioteca — ... " O vilão parecia derrotado, e o casal, agora se preparava para novas aventuras, quando numa noite, bateram a porta da casa... "

Como se ensaiado, deram três batidas na porta, de madeira escura da sala, que logo se abriu e fez com que várias das crianças corressem felizes em sua direção, prontas para abraçarem seus pais e mães. A sala rapidamente se esvaziou, depois que a jovem garota, prometeu terminar a história da próxima vez, até que ela foi deixada sozinha, com o sol, já quase se pondo, atrás de uma montanha com pinheiros cobertos de neve e ao seu pé, era possível enxergar várias cabanas de aparência aconchegante.

— Haaaa... Parece que hoje ele se atrasou — ela suspirou enquanto guardava alguns livros, deixados espalhados pelo chão.

Seu celular tocou uma melodia suave de sinos, e ela se apressou a atendê-lo, o tirando do bolso de uma jaqueta que ela deixara sobre a cadeira. Sem olhar para a tela, ela atendeu a ligação e levou o aparelho a orelha, tirando uma mecha azulada do caminho e perguntando — ... Irmão? Aló? Ainda vai demorar muito?

— Oi, Kaia, me desculpe, já estou chegando... está tudo bem? A bibliotecaria ainda está aÍ?

— ... Ah, sim, tudo bem..., na verdade, eu já ia ajudá-la a fechar o lugar...

— Ótimo, devo chegar em 5 minutos, mas não fique ao vento certo? Vou desligar, até já...

— Até...

O telefone ficou mudo, e a neve ainda caia tranquilamente pela janela, quando uma bela moça, no começo de seus 30, ruiva vestindo uma roupa social, justa e óculos grossos, surgiu pela porta de antes, empurrando um carrinho de livros e uma expressão séria em seu rosto. Ela olhou em volta, estacionou o carrinho ao lado da janela e se virou para a garota, assim ficando as duas a encarar a pequena cidade europeia pela janela.

— Pronta para fechar?

— Ah, sim, senhorita Megan, meu irmão já está vindo me buscar.

— Que bom — ela sussurrou, segurando um leve sorriso — ... Já faz algum tempo que você, vem aqui, ler para as crianças...

— Sim, eu gosto de contar estórias para elas, e é uma boa forma de passar o tempo — a garota respondeu, meio indiferente.

A bibliotecária trancou a porta da sala, ao saírem para o hall, enquanto Kaia fechava as persianas com uma mão, segurando sua jaqueta com a outra.

— ... Percebi que não sei muito sobre vocês... Moram sozinhos?

— Hmm... Não, nos mudamos para cá com nossa mãe ano passado... mas ela trabalha muito.

As bochechas do pequeno rosto de Megan começaram a rosear, enquanto sua respiração começava a aparecer — então vocês cuidam uns dos outros né... me desculpe perguntar, eu acabei ouvindo sua conversa ao telefone, era uma outra língua que você falava né? De onde vocês vieram?

— Ah... tudo bem, era português, viemos do Brasil.

Antes que a conversa pudesse continuar, as duas já estavam do lado de fora da biblioteca, trancando a porta dupla de madeira, bem desenhada, e uma moto parava ao lado da calçada, já coberta de neve. O jovem de cabelos negros com raízes loiras, tirava o capacete, mostrando um olhar firme e cuidadoso na direção das duas moças.

— Pronta? Podemos ir Kaia? — disse ele, estendendo um capacete cor de rosa para ela.

— Tudo certo, senhorita Megan?

— Ãh... ah... s-sim, claro, até a próxima — ela respondeu, escondendo o rosto avermelhado com um cachecol preto.

Assim que Kaia subiu na moto, com o capacete rosa e sem viseira, o jovem acenou para Megan e colocou seu capacete, dando partida na moto, silenciosa, deu meia volta e começou a seguir a rua, em direção ao centro da cidade, onde acontecia uma feira de inverno. Os irmãos percorreram a estrada por mais de um minuto em silêncio, com uma leve neve caindo sobre eles, enquanto o sol terminava de se por, entre os pinheiros da montanha que cerca a pequena cidade. Luzes quentes começavam a se acender no topo dos postes de design inglês e pequenos enfeites de natal, como guirlandas e pinhas, se destacavam do vulto embaçado pela velocidade em que se moviam. O centro da cidade já estava visível, com suas barracas coloridas e multidão agasalhada, quando o jovem na direção falou.

— Aquela era a sua chefe?

— Megan? Bem, não exatamente, é um trabalho voluntario afinal, mas porque o interesse — ela o interrogou, gritando contra o vento.

— Ela só... pareceu legal — ele respondeu, meio encabulado, mas sem tirar os olhos da estrada.

Antes que pudessem continuar a conversa, sobre a bela e interessante bibliotecária, que fazia o papel de chefa, a moto já ia parando e o jovem começa a manobra para estacioná-la ao lado da praça central. Um belo parque em formato retangular, com uma pequena fonte em frente a uma igreja de pedra gótica no centro, cercados por alguns pinheiros e com quatro caminhos de pedra se estendendo para os cantos. Barracas coloridas, se erguiam pela grama coberta de neve, algumas vendendo comidas tipicas e sazonais e outras, produtos artesanais, como coelhos de tricô e doces de canela, as pessoas, na maioria casais jovens, se reuniam em volta da fonte congelada, ou de barris em chamas, próximos às paredes da capela.

— Então irmão, o que viemos fazer aqui mesmo?

— Ué, não era você quem queria comprar um presente pra mãe, enquanto aproveitava para curtir um pouco a feira de natal?

— Eh? É sério? Podemos mesmo? — ela perguntou, animada quase saltitando, com os cabelos esvoaçando por cima da gola do casaco.

— Mas é claro, ano passado não pudemos aproveitar as festas, mas agora, as coisas estão mais calmas, e nossa mãe vai finalmente descansar de verdade em algum tempo, então por que não preparamos uma surpresa para ela?

A garota sorriu, com brilho quase tão forte quanto o de uma estrela e saiu correndo em direção à barraca de doces mais próxima, enquanto o jovem irmão mais velho, caminhava atrás dela, com as mãos no bolso da jaqueta escura e um expressão de satisfeito no rosto. Uma pequena banda começava a tocar músicas natalinas enquanto a nevasca parecia não desistir, mas seguia suave pela noite que já tomara o céu da cidade.

— Ei, irmão, olha isso, que fofo... será que a mãe gostaria desses bonecos? — disse ela, apontando para um conjunto feito de tricô de um boneco de "neve", vestido de papai noel, ao lado dois coelhinhos e uma árvore-de-natal, também feita por tricô.

— Tenho certeza que ela vai adorar, quer levar todos?

— Podemos?

— Claro. Amigo, vamos levar esses aqui, e aqueles tamancos verdes também... ah e esse gorro também.

— Vai ficar tudo noventa euros — o senhor da barraca respondeu alegre, embrulhando os presentes.

Os dois irmãos se afastaram da barraca com uma sacola cheia e já iam em direção a uma outra, cheia de doces, quando uma bela e jovem garota, de cabelos curtos pretos, corpo atlético e uma roupa esportiva grossa por de baixo de um casaco felpudo, se aproximou chamando e acenando.

— Eiiiiii, Ruuunneeeee...

O irmão se virou, sem se alterar, como se já esperasse por algo parecido e acenou de volta com um sorriso, enquanto a irmã permanecia quieta próxima a ele, comendo um marzipã rosa. A moça se aproximou com os braços abertos e o abraçou sem exitar.

— Como é bom encontrá-lo aqui, Rune — ela falou, com o vento frio batendo em seu rosto

— Ei Anne, digo o mesmo...

— Eh... Irmão, quem é ela? — a garota perguntou, surgindo pelo canto.

— Ah, certo, eu não as apresentei... Anne, esta é Kaia, minha irmã e Kaia, essa é Annelise, minha colega de trabalho, na cafeteria.

— Oh, então é você a kleine zus — ela se exaltou, falando com um forte sotaque.

O clima se seguiu confortável por mais um tempo, embora o frio da noite fosse forte, e a garota agora passara a maior parte do tempo quieta enquanto os outros dois pareciam conversar sem parar. Até o som do relógio na torre da igreja soar, forçando Kaia a lembrar o irmão, de que deveriam voltar para casa logo.

— Ei... Irmão — ela disse, puxando a manga da jaqueta — Irmão. Temos que ir...

Mas ele não pareceu perceber, nem a voz, ou a ação de sua irmã, até que — irmão Rune, temos que ir!

Anne se assustou, com o quão alto e agudo a voz da garota pode chegar, mas pareceu se surpreender mais com o horário no relógio, dizendo que já estava atrasada e precisava ir, ela se levantou do banco aonde sentaram pelos últimos quinze minutos. Limpou a neve dos ombros e cabelos, se curvou antes que o jovem Rune pudesse se levantar e o beijou na bochecha, enquanto limpava também a neve de seus ombros. Rune, apenas a retribuiu com um abraço apertado e a deixou ir enquanto se virava para sua irmã, que começava parecer um tomate, de tão vermelho que seu rosto estava.

— Huhuhu — ele riu, meio contido — você já tem dezesseis anos, Kaia, e ainda se envergonha com essas coisas... huhuhu, quando é que você vai crescer ein?

— Ei, não fui eu quem perdeu a hora ficando de namorico, e por falar nisso, é melhor irmos logo, você sabe como a mãe se preocupa quando não chegamos antes dela.

Ela se recompôs e começou a liderar o caminho, ainda com o rosto bem rosado, talvez pelos ventos frios. A neve agora começava a aumentar, o sol já se porá por completo a um bom tempo, eram sete da noite, a feira continuava a todo vapor. Mas os dois irmãos se moviam em direção à rua, onde estacionaram, quando o vento soprou forte, os cercando de neve. A música e os cochichos sumiram, de repente estavam em um vazio branco, o vento parou e uma sensação estranha tomou o corpo de Rune, que correu a segurar a mão de sua irmã, que havia parado poucos metros a sua frente. Logo o branco se desfez e uma brisa quente os envolveu, bagunçando a mente deles, e então eles perceberam, o ambiente ao redor mudou, não estavam mais em uma praça nevada no meio da Europa ocidental, estavam de volta a São Paulo, Brasil, no quintal da antiga casa. A grama úmida parecia real e a brisa quente desconfortável do verão seria insuportável, se ainda estivessem com seus casacos.

— Ir... Irmão, o que aconteceu?

— Está tudo bem, Kaia... mas é melhor entrarmos.

Pegando a mão de sua irmã e de a puxando em direção à casa, onde uma vez moraram, ambos deixaram a noite quente para trás ao passarem pela porta de metal, aparentemente nova e começaram a ouvir o som do ventilador ligado no máximo. A televisão iluminava a sala escura com sua tela sem sinal, apenas ruido branco, a garota correu apertar o interruptor, quase caindo surpresa no chão, ao reparar nos reflexos do grande espelho preso na parede.

— Ir... Irmão — ela gaguejou se virando para ele.

— ...

Rune parecia congelado, de frente para o espelho, onde via no seu reflexo uma versão mais jovem de si, enquanto Kaia, aparentemente, via uma dela. Depois de alguns segundos, ele se virou para ela e a encarou rapidamente, mas via apenas sua irmã de dezesseis anos. Antes que pudesse falar algo, um som forte e grave os assustou e tirou a atenção de ambos do espelho, era um velho relógio de parede, marcando oito horas, logo a baixo dele, um calendário, do mês de dezembro, retirou uma expressão de entendimento do rosto de Rune e Kaia. Mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, estavam de volta no meio de uma leve nevasca, parados de pé, em frente a moto azul-marinho de Rune.

Os irmãos passaram alguns minutos em silêncio, na moto, rodando pela estrada, muito bem iluminada, em meio a neve branca, até que, a visão da casa deles no horizonte, afastada das outras, os fez relaxar um pouco e começarem a conversar sobre a estranha e vivida visão que tiveram.

— Ei... Kaia, tudo certo, com você?

— Eu... Não sei, não sei o que sentir... eu não entendo, o que foi aquilo?

— Haaa, então você também viu né. Não sei, mas por alguns minutos, pareceu que tínhamos voltado ao Brasil — Rune continuou, sem tirar os olhos da estrada, enquanto subiam a colina.

— ... — Kaia parou por alguns segundos, parecendo juntar coragem para perguntar — irmão, você... lembra daquela noite? De alguma coisa em específico?

— Você diz do natal, em que nossa mãe, nos tirou as pressas de casa e sem malas direto para o aeroporto? Não, acho que lembro o mesmo que você.

Rune abriu o portão da garagem e guardou sua moto enquanto Kaia, permanecia de braços cruzados, com uma expressão melancólica e pensativa, encarando o chão. O vento soprou forte, junto da neve, quase empurrando a jovem garota alguns passos para frente e a fazendo encarar a casa, bem diferente da que tinham no Brasil, não apenas pela presença da neve, a casa era grande, quase três andares, contar com o sótão. Mas não era como se a casa em que moraram antes fosse pequena, mas se não soubessem que a tinham herdado de um parente distante, eles provavelmente nunca esperariam morar em um lugar tão grande e chique na Europa.

— É melhor entrarmos logo — disse Rune, tirando o capacete rosa da cabeça de sua irmã.

— Hm... Ah, certo, tem razão.

Ele baixou o portão da garagem, enquanto Kaia se adiantou a abrir a porta lateral, que dava a um pequeno lance de escadas direto para a sala de estar, espaçosa, com dois sofás, um grande e outro menor, uma lareira, uma TV e uma grande janela com vista para uma floresta.

A noite, já bem firmada pela escuridão, seguia com uma calma nevasca e forte frio, congelando as bordas da janela, enquanto os irmãos, agora, pareciam aproveitar uma caneca de chocolate quente, cada, sentados no tapete de frente para a lareira. Kaia seguia com um olhar perdido, agora focado nas chamas, enquanto Rune, parecia enrolar para beber a sua caneca, olhando para o relógio a cada cinco segundos. Já passavam das oito da noite, e já tinham tomado seus banhos e separados os presentes para a mãe deles, dos suvenires que compraram para si.

— Ei... Rune — Kaia chamou, tirando sua atenção da lareira e bebendo um longo gole de seu chocolate morno.

— Algum problema maninha? — ele perguntou rapidamente, mudando seu foco todo para ela.

— Você não sente que estamos esquecendo de alguma coisa? Como se alguém estivesse batendo na porta constantemente.

Assim que ela comentou, a conversa deles foi bruscamente interrompida por três batidas espaçadas na porta da pequena casa deles, simples e cheia de ruídos, vindos do ventilador e da TV sem sinal, que eles notaram rapidamente ser a visão de antes.

— De novo — sussurrou Kaia

— Mas por que essa noite — perguntou Rune, se encarando no espelho

E novamente 3 batidas soaram da porta pela casa, mas agora a televisão recuperara o sinal, exibindo uma imagem congelada de um desenho, atraindo a atenção de Rune. Enquanto Kaia parece congelar seu olhar na porta de metal com uma pequena janela com vidro turva, onde agora exibia de forma distorcida um vulto.

Mais três batidas, o desenho agora se movia, com um loop de 4 segundos e o cheiro de frango assado começava a se firmar pelo ar, na TV era possível ver a expressão assustada de um jovem leão, enquanto, na casa, o jovem garoto se aproximava da porta, deixando sua pequena irmã sentada num velho sofá. Os irmãos se encararam por um tempo, cada um sem conseguir se mover do local em que estavam, até que, como se fosse uma névoa, a visão se desfez e ambos estavam, de volta, sentados no tapete felpudo, de frente para a lareira, as luzes semi apagadas. A noite seguia calma, com neve ainda caindo pela janela, quando Rune olhou para o relógio, e nele marcava 9:56, rapidamente ele olhou em volta e um aperto aterrorizante surgiu em seu peito, quando de repente, a campainha tocou, e por alguma razão a sua preocupação se desfez e ele abriu calmamente a porta.

— Ah... Me desculpem a demora crianças — disse a bela moça de expressão cansada e rosto pouco enrugado, que correu a abraçar o jovem adulto e logo em seguida se pôs a afagar o cabelo da garota — quando sai do trabalho já eram quase oito horas, e só na metade do caminho percebi que tinha esquecido as chaves...

— ... Esta tudo bem mãe — disse Rune, com um rosto que foi de surpreso a calmo, bem rápido, e fechou a porta de onde vinha uma brisa fria.