No pesadelo, a aparição assumiu uma forma distorcida e grotesca. Sua pele era uma mistura de tons sombrios, como se fosse tecida a partir das próprias sombras. Olhos vazios emanavam uma luminescência sinistra, revelando um vazio insondável. Garras afiadas estendiam-se de mãos desfiguradas, enquanto uma boca contorcida em um sorriso macabro emitia um murmúrio ininteligível.
Athena, ao lado de sua irmã, enfrentava o monstro com coragem, mas a escuridão que o envolvia parecia sussurrar segredos de desespero. Em um momento aterrador, o monstro atacou, suas garras dilacerando a figura da sua irmã. O som angustiante da morte ecoou, enquanto o rosto da irmã se contorcia em agonia.
Athena despertou com um sobressalto, o coração batendo descompassadamente. O suor escorria por sua testa, e por um breve instante, a linha entre o pesadelo e a realidade parecia nebulosa. O seu quarto estava silencioso, exceto pelos murmúrios distantes do castelo.
Ela respirou fundo, tentando dissipar as imagens aterrorizantes que ainda ecoavam em sua mente. A realidade se restabeleceu, mas a sensação de perda persistiu como uma sombra no fundo de seus pensamentos.
Athena cerrava os punhos com fúria contida, seus olhos gélidos refletindo a tormenta interior. "— Esse pesadelo... uma repetição cruel de perdas que se recusa a desaparecer! Por que tenho que reviver a morte de minha irmã incessantemente?" Sua voz, carregava raiva e dor.
Enquanto as palavras escapavam de seus lábios, pensamentos tumultuados invadiam sua mente. A sensação das garras do monstro, o som agonizante da irmã, tudo se entrelaçava em uma espiral de angústia. Em um gesto impetuoso, ela lançou uma adaga imaginária na direção do pesadelo persistente, como se pudesse cortar os grilhões de sua mente.
"— Basta!" sussurrou Athena consigo mesma, buscando dissipar as sombras que a assombravam.
No calor da raiva, Athena se ergueu com determinação. Vestiu o uniforme da Ordem, delineando sua silhueta com um design que refletia sua força interior. Amarrou os cabelos num rabo de cavalo firme, simbolizando a resolução que emanava dela naquele momento tumultuado. Saindo de seu quarto com passos decididos, dirigiu-se ao campo de treinamento, onde desferiu golpes e movimentos vigorosos, canalizando toda a sua raiva na dança intensa da luta. Cada golpe era um grito silencioso contra os fantasmas que assombravam sua mente, transformando a dor em força, a angústia em determinação.
Com a espada empunhada com maestria, ela desferia cortes precisos e rápidos. Golpes ascendentes cortavam o ar, enquanto estocadas certeiras eram executadas com uma destreza que denotava anos de treinamento.
Seus passos eram ágeis, movendo-se com agilidade pelo campo de treinamento. O som metálico das lâminas colidindo ecoava, mesclado ao murmúrio do vento. Cada movimento refletia não apenas a perícia técnica, mas também a intensidade emocional que ela canalizava em cada golpe.
Kaélan, o cavaleiro de cabelos vermelhos, emergiu da penumbra do campo de treinamento. Seus olhos vermelhos refletiam uma intensidade similar à chama que ardia em seu interior. Vestindo apenas o uniforme da Ordem, ele emanava uma presença imponente, um guerreiro com os desafios que a vida e a batalha lhe impunham.
Silenciosamente, ele observou Athena.
"— Você está se esforçando muito aí, Athena. Treinando para compensar alguma coisa?"
Athena, com a espada firmemente empunhada, responde. "— Não preciso compensar nada. A diferença entre nós é que eu treino para me tornar mais forte, não para alimentar meu ego."
Kaélan, sorrindo de maneira desafiadora, retruca:
"— E eu treino para ser o melhor, não para afogar minhas mágoas na lâmina de uma espada. Mas claro, cada um lida com suas fraquezas à sua maneira."
Athena, cerrando os dentes, rebate: "— Não me faça perder tempo com suas palavras vazias. Prefiro gastar minha energia em algo que realmente importa."
Kaélan, dando um passo à frente, provoca:
"—Talvez você precise de um desafio real para testar sua tão aclamada força. Quem sabe assim você pare de se perder em sua própria sombra."
Athena, erguendo a espada com intensidade, responde com sarcasmo: "— Desafio? Se é isso que você quer, então venha. Vamos ver se sua língua afiada é tão eficaz quanto sua espada."
Os dois cavaleiros começaram a dança da luta, movendo-se em uma coreografia de ataques e defesas afiadas. Athena, com sua aura branca irradiante, cortava o ar com sua espada, enquanto Kaélan, envolto em uma aura roxa intensa, respondia com movimentos igualmente ágeis.
Athena desferiu um golpe ascendente, buscando romper a defesa de Kaélan, mas ele se esquivou com destreza, contra-atacando com uma série de estocadas rápidas. Cada movimento era uma expressão de sua rivalidade, uma competição feroz entre dois dos melhores cavaleiros da Ordem.
A aura branca de Athena brilhava com intensidade, refletindo sua determinação e foco. Em um momento de concentração, ela canalizou sua energia, desferindo um golpe carregado com a luz ofuscante de sua aura. Kaélan, por sua vez, dissipou a investida com sua aura roxa, criando uma colisão de energias que reverberou pelo campo de treinamento.
Kaélan, sorrindo de maneira provocativa, lançou-se para a frente, aproveitando a abertura momentânea. No entanto, Athena, com agilidade surpreendente, se esquivou e contra-atacou com um movimento giratório, sua espada cortando o espaço com graça mortal.
A batalha continuou, uma interação fluida de força e habilidade. Enquanto as lâminas se chocavam, as auras brancas e roxas entrelaçavam-se em uma dança visualmente deslumbrante. Cada cavaleiro buscava sobrepujar o outro, não apenas fisicamente, mas também com a intensidade de suas auras refletindo suas emoções em conflito.
A dança frenética da luta continuou, e no calor do confronto, Kaélan, com sua aura roxa pulsante, encontrou uma abertura. Com um movimento ágil, ele desarmou Athena, fazendo sua espada voar para longe. Em um movimento surpreendente, ele a derrubou no chão com um golpe executado com os pés, deixando-a momentaneamente desequilibrada.
Athena, agora no chão, tentou se recuperar, mas Kaélan, ágil como sempre, ficou por cima dela, segurando sua espada com firmeza. A aura roxa dele parecia envolvê-la, enquanto a lâmina da espada de Kaélan brilhava perigosamente ao lado da cabeça de Athena.
Kaélan, com um sorriso de triunfo, provocou:
"—Você tem que admitir, Athena, hoje a vitória é minha. Talvez precise reavaliar sua definição de força."
Athena, respirando ofegante, olhou para cima com uma expressão de frustração, mas também com uma chama em seus olhos. Ela reconheceu a derrota momentânea, mas a chama de sua aura branca ainda não estava apagada.
"Isso não significa nada. Uma batalha não define um guerreiro." respondeu.
Kaélan se levantou com estilo e estendeu a mão de forma descontraída para ajudar Athena a se levantar. Enquanto ela aceitava a ajuda e se punha de pé, ele lançou um olhar curioso.
Kaélan, com um sorriso malicioso: "E aí, Athena, o que acha que faz um guerreiro de verdade? Só os golpes certeiros, a habilidade com a espada, ou tem algo mais nessa mistura toda?"
Athena, ajustando sua posição com seriedade: "Acredito que a força é um ponto de partida. Um guerreiro verdadeiro se revela na capacidade de enfrentar adversidades, levantar-se após derrotas e aprender com os desafios. Envolve encarar tanto os inimigos externos quanto os conflitos internos."
Kaélan concordou, meio pensativo: "Então, tá falando que a derrota é tipo uma parada de crescimento. Entendi."
Athena, novamente na ativa, olhou para ele com firmeza: "Independentemente do resultado, o verdadeiro mérito está em como nos recuperamos e persistimos na batalha, mesmo quando as circunstâncias são adversas."
Um vento leve acariciou o campo de treinamento, fazendo com que as folhas dançassem pelo chão. Athena, enquanto observava Kaélan, notou algo diferente nos olhos dele. Seus cabelos vermelhos balançavam ao ritmo do vento, mas seus olhos estavam fixos em algum ponto distante, como se estivessem imersos em memórias que o vento parecia trazer de volta.
O silêncio entre os movimentos da luta foi quebrado apenas pelo sussurro suave do vento. Athena, normalmente atenta apenas aos movimentos do treino, percebeu a expressão mais profunda nos olhos de Kaélan. Havia algo ali, algo que ele tentava esconder por trás de sua fachada de confiança.
Curiosa, ela quebrou o silêncio, apontando para o horizonte onde os olhos de Kaélan pareciam estar perdidos. "O que você vê lá, Kaélan? Alguma lembrança especial?"
Kaélan, retornando ao presente com um olhar mais fechado, desconversou: "Apenas pensando no que vem por aí. Não vale a pena perder tempo com o passado."
Athena assentiu, respeitando a barreira que ele preferia manter. O vento continuou a sussurrar segredos enquanto os dois cavaleiros se preparavam para o próximo round de treino, cada um com seu próprio fardo de lembranças e experiências.
Então, Kaélan, com um olhar provocador, soltou uma risada. "Athena, admita, você não estava preparada para o poder do grande Kaélan."
Athena, mantendo sua compostura, respondeu com um ar desafiador. "— Poder avassalador ou não, Kaélan, sua vitória de hoje não passa de uma passageira."
Kaélan, inclinando-se levemente, provocou:
"—Oh, então você acha que pode superar isso na próxima vez? Estou ansioso para ver sua tentativa, guerreira destemida."
Athena, mantendo um olhar firme, retrucou:
"— Pode ter certeza de que na próxima batalha terá um desfecho diferente."
Kaélan, com um sorriso confiante, respondeu:
"—Estarei esperando ansiosamente por essa revanche. Até lá, tenha sonhos agitados."
Kaélan, após o breve momento de provocação, deu as costas e se afastou, seus passos ecoando suavemente no campo de treinamento. Athena, por um instante, observou seu caminhar confiante e o lugar distante para o qual ele olhava.
A garota sentiu um impulso irresistível de se aproximar do ponto de vista de Kaélan. Ao chegar lá, ela se deparou com uma vista panorâmica do reino, com suas torres altas e muralhas imponentes. No horizonte, as montanhas e o céu pintavam um cenário majestoso.
Athena, olhando para além da paisagem, ponderou sobre o que poderia estar nas profundezas das memórias de Kaélan. Seus próprios pensamentos se tornaram uma tempestade, refletindo sobre as batalhas internas que cada guerreiro enfrentava.
Decidindo que era hora de deixar a arena de treinamento para trás, Athena tomou um último olhar para o local onde Kaélan estava antes de seguir em frente. Seu coração ainda pulsava com a energia da luta, mas agora era hora de voltar ao equilíbrio.
Ao caminhar pelo caminho de pedra, ela se deparou com a silhueta imponente do castelo ao fundo. O lua lançava seus raios brancos sobre as torres, criando uma atmosfera serena.
No silêncio que envolvia o campo de treinamento, ela respirou profundamente, sentindo o frescor do vento e a promessa de um novo dia. Sua jornada estava longe de acabar, e cada desafio era uma oportunidade para crescer mais forte.
Athena seguiu em direção ao interior do castelo, deixando para trás as marcas da batalha. O campo de treinamento permaneceu em silêncio, guardando as histórias entrelaçadas de guerreiros que buscavam superar não apenas seus oponentes, mas também as sombras que assombravam suas almas.
Enquanto ela se retirava do local, uma última brisa agitou as folhas caídas, como se o vento levasse consigo não apenas os rastros da batalha, mas também as expectativas do que estava por vir. O campo de treinamento, agora vazio, esperaria pacientemente pelo próximo duelo, onde destinos seriam forjados e memórias seriam inscritas nas pedras do tempo.