"Asura", Violet encarava com descontentamento, seu tom de voz revelando leve desgosto.
Ao abrir o portão para a saída de Violet, Asura se aproximou com um sorriso no rosto. "Oi, Violet, quanto tempo."
Instintivamente, Violet deu um passo para trás, buscando evitar a aproximação da mulher. "O que você quer aqui?" indagou Violet.
"Por que mais eu estaria aqui? Vai ter uma festa, e por acaso eu conheço a família dos aniversariantes." Asura respondeu à pergunta. "E então, você pode me ajudar a encontrar a Lilith?"
Violet permaneceu parada, encarando Asura por um tempo antes de responder. Perguntas rondavam sua mente enquanto Asura aguardava pela resposta.
Por que Asura estava ali? O que ela queria? Por que vir até Violet em vez de ir diretamente ao castelo? Será que ela conhece Yse e, se sim, quando isso aconteceu? Essas e várias outras perguntas passavam pela mente de Violet.
'Ela é perigosa, é melhor eu não deixar ela se aproximar dele', pensou Violet. Seus olhos brilharam, e uma intenção assassina começou a emanar de seu corpo. Círculos mágicos surgiram em sua mão, com runas de diferentes cores girando ao redor.
"E então?" Asura observou o que Violet estava fazendo, com um sorriso em seu rosto. "Quer fazer isso mesmo?"
Violet foi despertada de seu estupor pela voz fria de Asura. Quando olhou para a mulher, todo traço amigável havia desaparecido, e uma espada oriental semelhante a uma katana estava em sua mão.
Percebendo o que estava prestes a fazer, Violet reprimiu sua intenção, desfazendo os círculos mágicos. Não valia a pena iniciar uma briga naquele momento.
Ela encarou o guarda, que havia se encolhido em choque diante da intenção assassina liberada por ambas.
"Leve-a até Lilith. Se alguém perguntar, diga que é uma conhecida minha", ordenou Violet ao guarda, que acordou do choque, acenando com a cabeça.
"Obrigado. Sabia que podia contar com você." Todo o ar ameaçador que envolvia Asura desapareceu como se nunca tivesse existido. Ela virou-se para o guarda. "Vamos."
"S-Sim", gaguejou o pobre guarda em resposta, iniciando rapidamente o caminho em direção ao castelo.
Antes de partir, asura parou e sussurrou para violet. "Parece que perder o braço não foi suficiente desde a última vez né?"
Violet ouviu, sua expressão ficou séria ao relembrar seu último encontro com Asura. Naquele dia, um pequeno conflito entre as duas escalou de maneira desproporcional, resultando na perda do braço de Violet na luta, mas Asura também não saiu ilesa.
O problema era a dimensão peculiar onde Asura vivia. O tempo lá passava assustadoramente rápido, com a escala de tempo do reino demoníaco sendo 50 vezes mais lenta que a dimensão de Asura só em comparação.
Isso permitiu que ela se curasse e se fortalecesse ainda mais rapidamente, do ponto de vista das outras pessoas.
Violet balançou a cabeça e observou o portão por onde Asura já havia saído. Decidiu prosseguir com seus planos por enquanto.
Seu objetivo era conversar com Yse antes do início do evento, sabendo que teria poucas chances de ter uma conversa particular com ele após o início.
Fechando os olhos, concentrou-se em uma pequena magia de localização para encontrá-lo. Não demorou muito para localizá-lo e começar a se dirigir ao lugar onde ele estava.
No castelo, dentro do escritório da imperatriz, quatro pessoas estavam reunidas enquanto uma delas explicava o que havia acontecido no portão da mansão onde os convidados se encontravam.
"Está bem, pode ir agora." Com a voz fria, Lilith, sentada em sua cadeira, proferiu enquanto ouvia o relato do guarda.
O guarda curvou-se e deixou a sala apressadamente.
Quando ele partiu, Lilith encarou a mulher no centro da sala, observando curiosamente ao redor. Estantes repletas de livros e pergaminhos adornavam as paredes, e na parede atrás de onde Lilith estava sentada, havia um quadro dela pintado à mão.
A mulher diante dela era relativamente alta, medindo 1,85. Seus cabelos longos e azuis preso em um rabo de cavalo desciam até suas coxas esculpidas.
Sua pele era imaculadamente branca, sem nenhuma imperfeição, e seus olhos refletiam a cor azul da água. Seios grandes e firmes, uma bunda empinada e pernas bem definidas indicavam um corpo bem treinado.
Ela vestia um moletom azul que, embora fosse maior do que seu tamanho, não escondia o tamanho de seus seios e cobria metade de sua bunda.
Sua calça esportiva justa realçava suas pernas bem treinadas e nos pés ela calçava uma bota preta de cano baixo com tecido branco bordado na área ao redor do calcanhar.
Essa era Asura.
Então, qual é o propósito da sua visita?" Lilith indagou após fixar seu olhar em Asura por alguns instantes.
"Direta como sempre," Asura respondeu em tom divertido, desviando o olhar da sala para focar na mulher à sua frente.
"Eu sou uma pessoa ocupada, como você pode perceber, e tenho filhos para criar," Lilith disse com um olhar neutro e cansado.
Asura encarou Lilith e comentou, "Relaxe, não vim causar problemas."
"Hmm," Lilith suspirou ao ouvir a resposta, "não parece o caso pelo que acabei de ouvir, sem contar o problema que você causou duzentos anos atrás, que está causando incômodos até hoje."
Asura estreitou os olhos com as palavras que ouviu, "Nós já conversamos sobre isso," disse, mas seu tom agora não era amigável, era frio.
"Sim, e de que adiantou? Você fez um contrato de alma com meu filho que não pode ser desfeito, e agora ele se tornou uma bomba-relógio que ninguém sabe quando vai explodir por causa do seu poder" Lilith perdeu completamente a compostura e elevou sua voz.
O clima na sala ficava cada vez mais tenso enquanto as duas mulheres se encaravam, quando um grito de surpresa foi ouvido do lado delas.
"O QUÊ? Está falando que o contrato que aquele pirralho tem é com ela?" Merlim se surpreendeu com a informação recém-descoberta.
Devido a interferência da pergunta de merlim, o clima na sala se acalmou um pouco, Merlim atualmente estava em choque com a descoberta.
Vendo a reação do homem Asura e Lilith suspiraram e começaram a explicar a situação.
Os demônios possuem um método de realizar acordos com outras espécies por meio de contratos, nos quais concedem desejos, ajuda, etc., à pessoa que os convocou.
Esses contratos têm como objetivo principal aumentar a força do demônio na maioria das vezes.
Os demônios ajudam a pessoa e, em troca, recebem algo valioso para o contratante. Quanto maior o rank do demônio, maior é o preço, que pode variar desde dinheiro até a alma do ser. É uma troca equivalente: faça um pedido e algo de valor semelhante será cobrado no futuro.
No entanto, existe um tipo de contrato que apenas demônios da realeza podem conceder, envolvendo diretamente as almas de ambos os envolvidos, em vez de ser apenas a do contratante.
Quando Asura ainda era humana, passou por um infortúnio causado por sua própria raça. Devido a isso, desenvolveu apatia e ressentimento pelos humanos, dedicando-se ao estudo de maldições e à arte da espada para buscar vingança. Ela se tornou suficientemente forte para eliminar aqueles que a maltrataram.
O ódio que ela desenvolveu pelos humanos, devido ao sofrimento que enfrentou, a corroeu a ponto de começar a matar simplesmente por ressentimento contra sua própria espécie.
Um dia, devido ao genocídio que estava causando no território do pai de Yse, os arcanjos foram enviados para dar fim a ela.
Ela fugiu, lutou, fugiu novamente, e em um dia quase foi capturada. Contudo, o arcanjo que a pegou hesitou em matá-la por algum motivo. Ela decidiu ignorar o que ele estava fazendo e escapou.
Os danos que ela sofreu eram enormes, e ela estava à beira da morte, mas ainda assim lutou. Não queria morrer, especialmente após todo o sofrimento que lhe impuseram.
A fuga a levou ao limite, e por um acaso do destino, alguém lhe ofereceu um pergaminho que poderia invocar um demônio de alto nível.
Devido ao desespero e à falta de opções melhores na época, ela comprou o pergaminho. Seu conhecimento sobre demônios, anjos e outras raças foi adquirido ao longo do caminho que escolheu seguir.
Ao realizar a invocação, ela esperava que um ser assustador emergisse do círculo mágico no chão, mas, surpreendentemente, o que apareceu foi um simples adolescente. Contudo, esse adolescente emanava uma sensação sinistra.
Este era Yse, com seus 16 anos de existência, um demônio incrivelmente jovem,. Ele estranhou a súbita mudança de cenário; uma hora ele estava tendo aulas sobre magia e no outro apareceu em um quarto acabado, a beira do desmoronamento.
Ao olhar a mulher diante dele, percebeu o estado deplorável em que ela se encontrava. Coberta por cortes por todo o corpo, sangue e sujeira marcavam sua pele. A única coisa intacta eram seus olhos azuis cristalinos. Ao seu lado, uma espada oriental com a lâmina quebrada.
Não demorou muito para que Yse compreendesse o que havia ocorrido: ele foi invocado. No entanto, a pergunta persistia – como? Ele não fazia contratos, exceto quando realizado com o propósito de estudo. Ninguém deveria possuir o círculo de invocação específico dele.
Cada demônio possui um padrão de runas que, se escritas de maneira específica, evocam o demônio em questão. Mas o padrão de Yse era estritamente destinado à pesquisa, para compreender mais sobre sua própria espécie.
Ele observou a jovem ajoelhada diante dele, uma visão que evocava tristeza. Parecia que um simples toque poderia levá-la à morte, no entanto, seus olhos azuis brilhavam de maneira deslumbrante. Curioso sobre o que ela pediria, Yse decidiu agir conforme a situação.
"O que você deseja?" Yse fez a primeira pergunta com uma expressão neutra e um tom de voz frio.
Asura congelou; a voz do rapaz era calma, mas arrepiante. Mesmo estudando sobre demônios, vê-los na realidade era assustador.
Nas histórias que Asura havia lido e ouvido, os demonios com aspecto humanoide eram exclusivamente os poderoso que ocupavam o topo de sua hierarquia, e os mais perigosos e menos confiaveis. Ela não sabia que tipo de ser havia evocado.
Entretanto, o jovem à sua frente, apesar de irradiar uma aura terrível, era incrivelmente cativante, incitando-a confiar nele de corpo e alma, enquanto seu corpo reagia de maneira estranha. Mal sabia ela que a aparência de Yse era atribuída ao seu lado incubus, que naturalmente atraía o lado feminino.
Ela refletiu sobre o que pedir. Queria viver, mas sem poder, sua sobrevivência seria limitada, especialmente após tudo que fez.
Após ponderar por um tempo, começou a expressar seus desejos. "Eu quero viver e ter o poder de me proteger contra qualquer ameaça", ela disse, pausando antes de fazer seu último pedido: "E não quero mais ser humana." As palavras finais foram quase sussurradas, revelando o desdém em suas intenções, mas Yse, com seus sentidos sobre-humanos, ouviu claramente.
O sorriso de Yse cresceu de maneira assustadora ao ouvir os pedidos da garota. A raiva, a sede de sangue, a vingança e o desprezo por sua própria espécie que ela emanava a tornavam mais um demônio do que qualquer outra coisa. Ela era perfeita.
"Hum, você pede muitos favores sem ter como retribuir," disse Yse em tom frio.
Ao ouvir suas palavras, Asura sentiu seu corpo gelar, o medo tomando conta de suas ações. Ela sabia que não tinha nada para oferecer em troca, nada além de si mesma.
Recordando algo que lera em um livro há muito tempo, ela lembrava que existia um contrato demoníaco que vinculava as almas de ambos os seres.
O livro, no entanto, não mencionava que quase nenhum demônio poderia realizar esse tipo de contrato. Para sua sorte, um deles estava diante dela.
Era assustador. Ela não sabia o que aconteceria com sua alma, mas não tinha muitas opções no momento.
"A-alma," ela tentou falar, mas sua voz relutava em sair. Determinada a conseguir o que queria, forçou-se a dizer as próximas palavras. "Eu quero oferecer um contrato de alma."
Os olhos de Yse se arregalaram com o que a garota havia dito. Ela estava disposta a se oferecer apenas para continuar vivendo. A curiosidade sobre ela já havia despertado seu interesse, e ele queria saber até onde ela iria com isso.
Apesar do medo, raiva, ódio e desespero, ela não desistiu. Sua determinação era forte, mas algo estava faltando, uma peça que ele logo percebeu.
O sorriso assustador de Yse desapareceu, sendo substituído por um carinhoso. Ele se aproximou dela, ajoelhando-se em frente a ela, ficando cara a cara. O rosto de Asura ficou vermelho como um tomate.
"Haru", pronunciou ele, e uma raposa de pelos vermelhos sangue apareceu na sala. Um brilho envolveu a raposa, transformando-a em uma mulher com orelhas e nove caldas.
Ela encarou a cena à sua frente. Yse olhava novamente para Asura, encolhida como um gatinho assustado. Ele a olhou nos olhos e fez uma proposta diferente para ela.
Ele levantou a mão, e um pergaminho transparente apareceu flutuando em sua mão.
"Eu não posso te dar o poder que você precisa agora, então ela emprestará o dela."
Conforme Yse falava, palavras eram escritas no pergaminho em sua mão.
"Eu não", Haru tentou reclamar, mas Yse fez um sinal para que ela ficasse em silêncio e continuou.
"Seu corpo já passou do estado de validade." A outra mão de Yse brilhou, e uma katana apareceu em sua mão. "Esse será seu novo corpo e sua arma daqui em diante. Você se tornará um espírito amaldiçoado."
Ele olhou nos olhos de Asura, aguardando alguma pergunta, mas ela apenas acenou com a cabeça para que ele continuasse.
Yse compreendeu a ação. "Este lugar não é mais seguro para você. Você será enviada para uma dimensão distante." Ele falou, mas ainda não tinha acabado.
"Em troca, um contrato de alma será oferecido. Você deve ficar mais forte, o suficiente para que nunca mais a incomodem. Forte o bastante para que possa proteger a si mesma e eliminar aqueles que atravessarem seu caminho.
Quando isso acontecer, você se tornará minha lâmina, a espada que me protege e elimina meus inimigos. Esse poder será seu até o dia em que conquistar o seu próprio e se tornar minha." Yse concluiu, e o brilho da vida havia desaparecido de seus olhos.
Seus olhos agora pareciam buracos negros, absorvendo tudo ao seu redor. Um toque de obsessão e possessividade transparecia neles, mas Asura não percebeu, concentrada em examinar atentamente o contrato.
Ele a surpreendeu; o contrato não tinha tantas desvantagens como ela imaginava, na verdade, parecia perfeito para ela.
"Por quê?" ela perguntou, querendo entender o motivo desse contrato tão justo. Lágrimas escorriam por suas bochechas manchadas de sangue.
Yse sorriu e tocou o rosto dela, começando a acariciar sua bochecha. "Não sei, mas não vou tirar vantagem de você só por conta da sua situação. Troca equivalente, lembra? Por mais que outros demônios fizessem isso, no final, eu não sou eles." Yse se levantou e dirigiu-se a Haru, que assistia tudo de braços cruzados.
"Além disso, por algum motivo, eu gostei de você. Acho que você se daria bem na raça demoníaca." Yse ficou ao lado de Haru, que o encarava de forma acusadora. Yse simplesmente balançou a cabeça e esperou.
Asura não sabia o que sentir naquele momento. Acreditava que ele apenas ignoraria seus pedidos e iria embora, mas, ao contrário do que imaginava, ele não fez isso.
Seus sentimentos estavam complicados agora, mas ela tinha tomado uma decisão. "Eu aceito", respondeu de forma determinada, olhando na direção de Yse.
"Haru, você conhece algum lugar para enviá-la e consegue selá-la na espada depois que eu transformá-la em um demônio?" Yse perguntou na língua demoníaca que apenas ele e Haru entendiam naquele momento.
"Você ofereceu tudo isso sabendo que eu podia fazer tudo isso, não é?" ela respondeu com clara irritação na voz.
Yse colocou a mão sobre a cabeça de Haru e acariciou-a como se fosse uma criança, o que a fez se acalmar. Sorrindo, ele andou até a frente de Asura, ajudando-a a levantar.
"Está pronta? Não tem volta depois disso", ele perguntou preocupado com a garota que mal conhecia. Ele estava animado, com a esperança de que ela se tornasse uma aberração monstruosa, mas no fim, seria dele.
"Sim", Asura respondeu determinada.
Logo, círculos mágicos surgiram por toda a sala, o contrato foi assinado, e as almas deles foram ligadas através de outra magia.
Quando Yse voltou, todo o reino demoniaco estava virado do avesso procurando por ele. Lilith o obrigou a contar tudo que havia acontecido, e assim ele fez.
Lilith ficou tão estressada ao ponto de explodir metade do castelo, principalmente porque alguém havia vazado as runas para invocar seu filho. Ela forçou Merlim a apagar as memórias de todos que ouviram a história, inclusive a dele.
Ninguém deveria saber sobre o contrato de alma, e ela faria de tudo para que isso acontecesse. Ela teve uma longa conversa com a raposa, que ajudou seu filho em toda essa bagunça.