Marcy pensou que ela e Nora deveriam ter pelo menos algo em comum. Se nada mais, com base no cabelo brilhante e na pele impecável de Nora, as duas podem conversar sobre cabelos e maquiagem, e a roupa de Nora também era de marca.
"Eu não preciso de nada.", Marcy disse. "Mas você é bem-vinda para entrar se não tiver mais nada para fazer. Podemos conversar."
"Claro!", Nora exclamou animada e entrou no quarto.
Marcy deu uma mordida no sanduíche e observou Nora.
"Você sabe por que meus pais me chamaram para voltar de repente?"
Essa era a pergunta que estava consumindo Marcy por dentro desde que recebeu a ligação de sua mãe. Marcy não perguntou aos pais a explicação porque sabia que, se eles quisessem que ela soubesse, eles diriam a ela. Sempre foi assim.
Nora olhou para Marcy com a boca meio aberta, obviamente surpreendida com essa pergunta. "Você deveria perguntar ao Alfa Edward e à Luna Layla."
Antes que Marcy pudesse fazer outra pergunta, Nora mudou de assunto. "Amanhã é a sua festa de boas-vindas. O convite foi enviado para quase todos os membros da alcateia de dezoito a trinta anos. Seus pais pensam muito bem de você para ter uma multidão tão grande. É para anunciar a todos que você está de volta e para que você faça amigos. Todos nós te conhecemos porque você é a filha do Alfa, e você provavelmente se esqueceu de nós. Haverá mais de duascentas pessoas…"
Marcy era grata pelos pais, mas tudo parecia forçado, e isso a lembrava de como as coisas costumavam ser antes de ela partir para a Europa.
A infância de Marcy foi preenchida com uma agenda rigorosa de aulas, treinamentos e passeios planejados com um grupo selecionado de pessoas.
Depois de dez anos longe de casa, Marcy esqueceu o ambiente que suportou quando criança. Naquela época, ela pensava que era normal e aceitava isso, mas depois de vivenciar a liberdade, tudo estava voltando em fragmentos dolorosos que a sufocavam.
...
No dia seguinte…
A festa de boas-vindas de Marcy começou às seis da tarde.
Nora e Marcy se vestiram e se ajudaram com cabelo e maquiagem.
As duas estavam elegantemente atrasadas, chegando às seis e vinte e trocaram sorrisos de aprovação quando viram que seus estilos impecáveis as colocavam acima dos outros, assim como as filhas do Alfa e do Beta deveriam ser.
Marcy observou o enorme salão no primeiro andar que se abria para o jardim através de duas portas francesas de vidro. Ela se lembrou de que aqui os convidados se reuniam para os aniversários quando ela era criança.
Nora estava sempre perto de Marcy e se certificava de apresentar todos que se aproximavam delas.
Marcy se sentia como a realeza, e não de uma maneira boa. Ela estava de pé, apertando mãos com um sorriso falso no rosto. Depois da vigésima pessoa (ou por aí), Marcy parou de tentar lembrar seus nomes.
Objetivamente, a festa estava bem organizada. A música era animada e a área de dança estava lotada, a comida era saborosa e abundante, e havia uma grande variedade de bebidas. O clima estava bom, as pessoas eram amigáveis e todas tentavam causar uma boa impressão em Marcy.
Marcy pensou que, depois que as formalidades iniciais acabassem, ela poderia relaxar e aproveitar.
Foi pouco depois das oito horas, quando o lobo de Marcy agitou-se enquanto o sedutor aroma de trevo doce invadia seus olfatos.
'Companheiro...', falou seu lobo dentro da mente de Marcy, e suas entranhas estremeceram.
Os lobos não falam a menos que seja para avisar a outra metade humana que o companheiro está por perto. Ela sonhava com esse momento há muito tempo e agora chegou!
O vigésimo primeiro aniversário de Marcy foi há quatro meses e ela perdeu a esperança de que encontraria seu companheiro. Isso foi totalmente inesperado.
Marcy ficou sobrecarregada com a necessidade de seguir seus sentidos e ceder à atração invisível para encontrá-lo.
"Para onde você está indo?", Nora perguntou quando viu Marcy caminhando para longe.
"No banheiro.", Marcy mentiu.
"Eu vou com você."
"Não precisa. Voltarei em um minuto.", Marcy disse e desapareceu na multidão antes que Nora pudesse responder.
Assim que Marcy pisou no terraço que levava ao jardim, seus olhos azuis se encontraram com uns castanhos hipnotizantes e ela estava no paraíso.
'Voltar para casa não foi uma coisa ruim, afinal...', pensou Marcy. Se ela soubesse que seu companheiro estava aqui, ela teria voltado três anos atrás.
Eles caminharam em direção um ao outro como possuídos, e ele pegou a mão dela sem dizer uma palavra. Ambos estremeceram com as deliciosas faíscas que pinicavam a pele ao contato, e seus lobos se agitaram de alegria.
O deus grego de cabelos castanhos tomou a frente e Marcy obedeceu, seguindo-o para mais fundo no jardim, buscando privacidade.
Marcy sorriu tola enquanto observava suas costas largas. Ele era alto e musculoso e tudo o que ela imaginou que seu parceiro seria.
Quando estavam à beira do jardim, escondidos da multidão pelos grandes arbustos de hortênsias, ele parou e virou-se para encarar Marcy.
Ela aproveitou um momento para admirar suas feições e notar alguns detalhes em silêncio, e ele fez o mesmo.
Não havia necessidade de falar. Seus olhares apaixonados e sorrisos combinados diziam tudo.
Marcy admirava como o cabelo dele ficava dourado sob os raios do sol poente. Seus lábios cheios levantados em meio sorriso pediam um beijo, e ela podia ver uma tatuagem escondida sob a camisa branca dele, já que a parte de cima estava desabotoada. Será um beija-flor? Marcy estava ansiosa para tirar a camisa dele e ver a extensão daquela obra de arte que enfeitava seu corpo musculoso.
Marcy se elogiou por preservar seu v-card. Esse deus grego certamente ficará extasiado quando souber que ela é virgem, só dele, e ela mal podia esperar que ele a reivindicasse possessivamente. Essa é a maneira dos lobisomens.
Não que ela estivesse se guardando para o casamento, mas Marcy sabia que, se seus pais descobrissem que ela estava corrompida, ela estaria em maus lençóis. Por isso, sempre que Marcy saía com caras, ela se certificava de que eles estavam cientes de que não haveria penetração vaginal. Prazeres orais eram aceitáveis e, se o cara fosse bom, ela concordaria com sexo anal, mas seu ponto mais íntimo estava reservado para alguém digno. E este deus grego diante dela era digno.
Ele observou com admiração os cabelos loiros perfeitamente retos de Marcy, divididos de lado, que emolduravam seu rosto requintado. Seus olhos azul-claros, quase cinzentos... nariz reto... lábios cheios... pele impecável. Tudo em Marcy era delicado e maravilhoso.
Antes que ele pudesse dizer algo, Marcy agarrou a gola da camisa dele e puxou-o para um beijo.
O coração de Marcy batia descontroladamente enquanto eletricidade vertiginosa percorria seu corpo enquanto os sabores dele se espalhavam por ela e suas mãos grandes em suas costas eram perfeitas.
Não era seu primeiro beijo, e suas línguas mal se tocaram, no entanto, Marcy estava tonta e animada.
"Eu sou Marcy…", ela disse enquanto recuperava o fôlego.
"George", ele respondeu com um sorriso que a fez estremecer.
"Meu pai é o Alfa Edward e minha mãe…"
"Eu sei", ele a interrompeu com uma voz rouca que a fez querer arrancar as roupas dele e se jogar nele ali mesmo, entre os arbustos de hortênsias.
Ela sorriu como uma idiota enquanto passava as mãos sobre o peito firme dele. A irritante camisa branca estava no caminho, mas ela reprimiu seus impulsos para despi-lo porque podia ouvir a música e as pessoas conversando. Alguém poderia vir e vê-los.
George empurrou a mecha do cabelo de Marcy atrás da orelha, e ela tinha certeza de que nunca tinha experienciado nada mais sedutor na vida, ainda.
"Me conte algo sobre você.", Marcy exigiu sonhadora.
Ele deu de ombros. "Sou um zé ninguém."
Ela não entendeu. "Você é da Matilha da Lua Vermelha, certo?" Ela podia sentir a ligação mental formigando, dizendo a ela que pertenciam à mesma alcateia. "A festa começou há duas horas, como só notei você agora?"
"Eu estava limpando os campos de treinamento. Meu turno terminou às oito horas. Depois disso, eu vim para cá…"
Marcy piscou enquanto tentava processar suas palavras e seu sorriso vacilou.
Limpeza? Um Ômega. Um ninguém.
Por que a Deusa da Lua a uniria a um Ômega? Se ele fosse um guerreiro, ou um batedor, ou qualquer coisa, seria melhor que isso. Ômegas são os membros menos qualificados da alcateia.
Como pode a princesa ser destinada a um Ômega?
Marcy inalou com dificuldade e deu um passo atrás.
E as próximas saíram de sua boca palavras que ela nunca pensou que diria, "Eu, Marcy Redmayne, rejeito você…"
O coração dela doía e seu lobo uivava em protesto. Ela podia ver a angústia velando as lindas feições de George, mas sabia que tinha que ser feito.
Ela estava com tanta dor ao gaguejar, que não percebeu se alguém notou sua saída da festa, ou se George aceitou sua rejeição.
George.
Esse é o nome que ficará dolorosamente gravado em seu coração para sempre.
Marcy estava se aproximando da porta do quarto quando esbarrou em alguém.
"Desculpe…", Marcy murmurou para a garota que agora estava sentada no chão, vestindo roupas que eram muito velhas para a festa, de qualquer forma.
Marcy estava com muita dor para pensar na menina cuja cabeça estava abaixada, seu cabelo cor de cobre descuidado cobria o rosto enquanto ela se levantava e corria pelo corredor.
Marcy forçou as pernas a se moverem porque não queria que ninguém a visse nesse estado, principalmente seus pais, e esperava que a pessoa a quem esbarrou não fosse importante.
O lobo de Marcy recuou para o fundo de sua mente, lambendo suas feridas e se recusando a reconhecer Marcy. Marcy podia sentir a dor do lobo que só ampliava sua própria.
Sem seu lobo, Marcy não conseguia se transformar em lobo, mas logo ela descobriria que isso é o menor de seus problemas.
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