Noah acordou em um quarto escuro e sombrio. O ar estava impregnado com o cheiro de poeira e um leve odor metálico. Seus olhos se abriram lentamente, revelando um teto de concreto fissurado. Noah entra em um estado de confusão, fragmentos de memória passam por sua mente de forma embaralhada e confusa, não sabendo onde está, ou do porquê ele está neste lugar, ele se levanta com dificuldade.
Os músculos de Noah estavam completamente atrofiados, parecia que ele estava há muito tempo deitado, o'que o deixou ainda mais confuso, mas sem ter como descobrir o'que estava acontecendo, ele começa a se esforçar para conseguir sair da cama e poder explorar o local ao seu redor
Uma onda de frustração e desespero percorreu seu corpo. Como ele chegou a esse ponto? Lembranças fragmentadas de uma explosão, uma visão estonteante de uma nuvem de radiação de forma tão densa que até chovia.
Noah estava totalmente paralisado, reavendo suas memórias, percebeu a situação do mundo e que ele havia acabado. Um medo grande, muito maior do que qualquer medo que ele já teve, Noah começou a andar rapidamente ignorando a dor e a queimação da perna atrofiada, seus braços desnutridos tentando se segurar em qualquer coisa possível, ainda assim Noah não parava de andar e tropeçar.
Noah olhou ao redor dos cômodos do que parecia um bunker, tudo estava abandonado, sons de gotas ressoando por todo o bunker formando uma sinfonia demonstrando um lugar vazio.
Lara, a sua irmã, não estava em lugar nenhum, durante seus flashes de memórias passadas Noah se lembra que ela estava com ele durante este desastre, e agora ele acordou em um lugar deserto, a única coisa que ele pode pensar foi a sua irmã o arrastando até este bunker e por algum motivo acabou desaparecida.
Não só ela, ninguém estava nem perto de ser avistado e pelas condições deste abrigo, Noah percebeu que ele não é usado já faz um tempo.
Mesmo completamente angustiado pelo desaparecimento da irmã, Noah ainda pensou em seus pais, eles não eram muito próximos, o relacionamento deles com o Noah e a Lara era meio frio, eles tinham pouco contato, mas ainda eram seus pais e ele não sabia nada sobre eles, oque o preocupava também.
Noah continua a sua caminhada descobrindo coisas de certa forma muito úteis para sua sobrevivência neste mundo, o fazendo ficar muito mais aliviado em uma situação tão desesperadora.
Mas ainda assim Noah continuava bem paranoico e preocupado com tudo ao seu redor, ele sentia que alguma coisa estava muito estranha.
Mas enfim, sem poder fazer muita coisa, ele simplesmente seguiu o seu fazer e listou tudo que ele tinha encontrado. Noah achou uma bomba de água funcional que estava aparentemente conectada a um bolsão d'água subterrâneo, uma sala cheia de livros de diversos assuntos, alguns poucos medicamentos espalhados pelos quartos.
E Quando Noah estava saindo do último quarto, uma dor muito forte em sua perna o fez cair no chão de forma brusca, não o feriu gravemente, mas alguns hematomas foram adquiridos, com muita dificuldade ele estava prestes a se levantar quando ele viu uma ponta do que parecia algum material de papel.
Noah pegou este objeto enquanto fazia um movimento para se erguer, apoiando as mãos no chão e as forçando um pouco para dar espaço para apoiar as pernas no chão e se levantar.
A vontade de Noah era simplesmente ficar no chão de tanta dor que estava sendo infligida a ele, mas no final consegue se levantar e se apoiar em uma cama.
"Parece que meu corpo não está mais aguentando... Preciso procurar
comida quando meu corpo se estabilizar um pouco "
Logo Noah olha o conteúdo do objeto em sua mão, e era um calendário com algumas folhas pregadas nele, parecia meio antigo e desgastado, tinha algumas anotações e vários rabiscos nas datas marcando alguma coisa, mas ainda estava inteiro.
No momento em que Noah observou mais atentamente as datas e as informações contidas nelas, ele ficou espantado... a pessoa que usava este calendário marcava as datas e suas anotações específicas das mesmas, provavelmente para não perder o senso de tempo embaixo da terra.
Logo Noah segura com mais firmeza o objeto em sua mão com medo e pensamentos intrusivos do que poderia ter acontecido, com um grande pesar no coração e um medo incompreensível ele começa a ler
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**2031 dia 7 de abril (dia do desastre)
*Geradores, ok
*Água, ok
*Comida, ok
*Dia das explosões
*solo inutilizado para a produção
*Abrigo localizado na parte centro oeste do Brasil
*10 anos de suprimentos para umas 5 pessoas, ok
2031 dia 10 de abril ( abrigo seguro,)**
*Novos habitantes, 10 pessoas, uma delas parece estar muito ferida
* mudança no cálculo de suprimentos
*Abrigo em pleno funcionamento
*cansaço acumulado pelo stress e medo pela situação
*Aviso no rádio sobre as ondas de radiação atingindo o Brasil e algumas localizações de bases militares
*tentativa de cultivo número um
2031 dia 7 de maio (primeiro mês)
* primeira tentativa de cultivo foi um fracasso
* mais sobreviventes
*Não consigo mais administrar o racionamento de comida, estou com medo do que vai acontecer
* o ferido na primeira leva de sobreviventes se estabilizou ( está em coma)
* segunda tentativa de plantio
* com sorte este bunker está conectado a uma reserva subterrânea de água com uma bomba, não precisamos racionalizar a água por um tempo
2031 dia 15 de junho
*Falha na segunda tentativa do plantios, por algum motivo as plantas estão morrendo logo no começo, estamos fazendo algo de errado?
*Diminuição muito grotesca em nossa reserva de comida
*A paisagem local está completamente destruída (árvores, terras parecem ter definhando ) uma grande e pesada nuvem cobria o lugar, e de longe um lago que antes era potável agora está até visivelmente mortífero com todos os peixes do lago boiando
*Rejeitamos um grande grupo de pessoas, não tínhamos mais como aumentar a quantidade de pessoas aqui dentro...
*Enviamos pessoas em busca de alimentos
2031 dia 2 de julho
*Os grupos enviados para a busca de comida estão desaparecidos já faz um tempo... algo parece suspeito
* o grupo que nós excluimos parece voltar agora como nossa salvação ... mas tem algo que não está certo
* Fizemos um acordo com essas pessoas... eu nao queria mas as pessoas do abrigo que já estavam completamente desesperadas, eles me obrigaram
2031 dia 19 de julho
*Tudo virou de cabeça para baixo... eu estou exausto, praticamente não tenho mais vida, isso é trabalho escravo... tudo isso pela merda da comida que eles monopolizaram
*a menina que veio com o irmão em coma parece bem talentosa em várias áreas. Uma verdadeira prodígio, mas por conta disso ela é uma das que mais trabalham entre nós, e por sorte conseguimos manter ela conosco... se não nem gosto de pensar no que poderia ter acontecido
*o irmão... está bem, mas por conta do esforço da irmã, já que diversas vezes os nossos superiores ameaçaram tirar os suprimentos médicos do jovem
*Eles querem nos tirar da qui... coisas estranhas andam acontecendo recentemente mas eles se recusaram a levar o garoto
2031 dia 22 de julho
*Vamos sair hoje, espero que quem quer que seja o sujeito que ache essas anotações... por favor nos salve
*a menina se rendeu... parece que já que ela não podia ficar ela pelo menos ia dar mais um tempo de vida para o irmão, e pediu para não tocarem nele e não retirarem os aparelhos médicos*
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... Um silêncio denso e estranho percorre todo o local em que Noah estava... pingos de água ecoando de tempos em tempos dentro do bunker formando uma sinfonia.
Noah não podia deixar de ficar paralisado com todas as informações contidas dentro destas anotações, uma onda de sentimentos extremos entrava em sua mente de forma invasiva o fazendo congelar completamente.
Noah não conseguia mais pensar direito, era muita coisa de uma vez, sua irmã, o bunker e o acordo, ele nunca imaginou situações como essas acontecendo na realidade.
Noah foi muito afetado pelas anotações. Quando ele começou a assimilar tudo o clima começou a pesar... aos poucos os sentimentos antes de confusão, medo, desespero, fraqueza, tristeza que ele sentiu enquanto lia de novo e de novo, vão mudando.
O local silencioso, completamente envolvido na monótona sinfonia de gotas, é alterado, libertando todas as emoções comprimidas de Noah.
Todas as angústias de quando ele acordou, a dor, preocupação, raiva, medo, fraqueza, desespero. De forma lenta, mas constante, todos esses sentimentos se unem em uma explosão desenfreada de raiva, autoflagelação e gritos, Noah quebra o silêncio da sala com um ranger de dentes fervoroso, grunhidos se transformam em gritos e berros ensurdecedores, lágrimas saem de seus olhos fervorosamente extraindo toda a falta de vontade que residia nele.