A condição do meu pai não melhorou nem piorou, mas a situação em que eu estava me deixava com raiva. Meu pai havia lutado na linha de frente por anos e duvido que as pessoas que ele salvou sequer se lembrem do nome dele. Por todos os anos que ele trabalhou como aventureiro protegendo as pessoas, agora que ele era quem precisava de ajuda, não havia ninguém ao lado dele. Apenas eu e minha mãe. Parecia que os humanos não se incomodavam em recompensar aqueles que praticavam boas ações em suas vidas. Esse pensamento só me deixava com mais raiva e me ajudava a focar ainda mais.
Meu objetivo agora era passar no exame de Cavaleiro de Avrion e hoje era esse dia.
A vila estava mais animada do que o habitual devido à chegada dos cavaleiros da Academia Avrion. Era uma ocasião muito rara que acontecia apenas uma vez por ano, e eles tratavam o evento como se fosse um festival. Decorações enfeitavam as ruas e as mulheres se vestiam com suas melhores roupas, na esperança de chamar a atenção de um dos cavaleiros.
Eu estava esperando na praça do vilarejo. Havia muitas pessoas com seus filhos, praticando com suas espadas para o evento que se aproximava, na esperança de que seus filhos triunfassem. Vi Gary sozinho, mas ainda não havia nenhum sinal de Amy.
De repente, um som de aplausos pôde ser ouvido vindo da direção sul da vila.
"Eles chegaram," eu disse sorrindo.
Três homens haviam entrado na cidade. Cada um estava montado em seu próprio cavalo, com seus corpos musculosos e imponentes, acenando para os aldeões enquanto passavam. Em cada cavalo, um cobertor exibia o brasão da Academia Avrion, seguido por uma carruagem que também ostentava o brasão.
Estes três homens seriam os responsáveis por decidir o meu destino. Eu podia sentir meus dedos formigando de emoção.
Os cavaleiros desceram de seus cavalos e caminharam em direção à tribuna de madeira no centro da vila, que era comumente usada para anúncios.
Os três eram um grupo um tanto quanto heterogêneo, para dizer o mínimo. No centro estava o mais alto dos três. Um homem de cabelos pretos, rosto talhado e corpo musculoso, com um sorriso caloroso. Ele me lembrava meu pai.
Ao lado dele à esquerda estava um homem gordo e baixo, com uma barba que alcançava a cintura. Segurava um machado em frente ao peito como se fosse seu amante.
Por fim, o último homem à direita: cabelo loiro encaracolado e olhos azuis. Alguns poderiam confundi-lo com uma menina, caso olhassem apenas para seu rosto. Sua armadura também se destacava em relação aos demais. Embora todos tivessem peças impressionantes de equipamentos, a armadura dele tinha um brilho especial. A maioria das pessoas teria que vender suas terras e filhos para comprar equipamentos como aquele.
O homem no centro caminhou até a frente e começou seu discurso.
"Eu sou o Cavaleiro Winford da academia Avrion, e vim aqui hoje com meu colega Cavaleiro Bernardo e colega Cavaleiro Delbert." Ele gritou com voz calma.
Os dois Cavaleiros se curvaram perante a multidão quando seus nomes foram mencionados, e algumas meninas gritaram quando o Cavaleiro Delbert foi mencionado. O homem no centro continuou a falar.
"Estamos aqui hoje para testar se algum de vocês, jovens, têm o necessário para se tornarem cavaleiros e ostentar nosso brasão com orgulho."
O homem desembainhou sua espada e a enfiou no chão abaixo dele.
"Que o teste comece"
A multidão aplaudiu em resposta.
Rapidamente, um grupo de pessoas saiu da carruagem atrás deles, cada uma segurando tábuas de madeira nas mãos. Eles colocaram mãos à obra e começaram a montar uma plataforma no centro da praça da aldeia.
Trinta minutos depois, a plataforma estava pronta. No centro da plataforma, havia um boneco que me era familiar. Era o mesmo tipo de boneco que meu pai havia me dado para treinar.
O Cavaleiro Bernardo foi até o centro do palco ainda carregando o machado em sua mão.
"As regras são simples: vocês devem derrotar o boneco em combate, o uso de magia é proibido, mas vocês podem usar qualquer arma de sua escolha." Ele gritou.
"Alguém gostaria de tentar primeiro?" ele disse com um sorriso tênue no rosto.
Muitas crianças levantaram a mão, achando que a tarefa era muito fácil. O que um boneco poderia fazer? Se eu não tivesse lutado contra o boneco antes, provavelmente teria feito o mesmo.
O primeiro concorrente subiu ao palco, um jovem garoto com uma estrutura atlética para sua idade, segurando uma espada comum que podia ser comprada em qualquer ferreiro local.
Bernardo foi até o boneco e simplesmente disse "nível 1". O boneco foi cercado por uma luz roxa conforme era ativado.
O garoto avançou imediatamente assim que o teste começou, atacando o corpo do boneco com um bom golpe. Os pais do garoto na multidão sorriam, já acreditando que o filho havia passado. Nos momentos seguintes, seus queixos caíram no chão.
O boneco moveu rapidamente seu escudo para bloquear o ataque. Em resposta, acertou o garoto no rosto com sua espada de madeira. Sangue voou da boca do garoto enquanto seu corpo caía no chão.
A multidão barulhenta ficou em silêncio.
Os instrutores haviam se revezado avaliando os candidatos. Cada um terminava em fracasso após fracasso, e nesse ponto, ninguém passaria na avaliação.
Me aproximei da plataforma, pois minha vez estava chegando. Pude ouvir o Cavaleiro Winfred e o Cavaleiro Delbert conversando. Meus sentidos e foco haviam melhorado após tomar o cristal, e parecia que os dois estavam falando bem ao meu lado.
"Eu disse que vir a esta aldeia seria uma perda de tempo," Delbert reclamou.
"Devemos cumprir nosso dever conforme os anciãos nos pediram", respondeu Winfred.
"Um cavaleiro deve ser nobre, não alguma espécie de plebeu de uma aldeia amaldiçoada"
Winfred suspirou.
"A terra está em apuros, e devemos encontrar o garoto da profecia. Já reunimos quatro, mas quem sabe se o garoto está entre eles?"
"Você acredita nessas loucuras,"
Disse Delbert com a mão no rosto enquanto outro competidor fracassava.
Winfred permaneceu em silêncio diante da pergunta.
Enquanto os dois conversavam, algo surpreendente aconteceu. Um concorrente finalmente passou no teste.
Levantei os olhos para ver o garoto cuja mão estava sendo levantada por Barnardo. Era um rosto que eu conhecia muito bem.
Gary foi a primeira pessoa a passar no teste.