Chereads / Os Proprietários do Luar (Capa Temporária) / Chapter 5 - Capítulo 4: Resolvendo um problema causando problemas

Chapter 5 - Capítulo 4: Resolvendo um problema causando problemas

Levou um dia e duas noites para a comitiva da Chanceler Chuan chegar à Cidade das Esferas, território da memorável seita Junming. Ela é muito conhecida por se localizar em uma enorme cratera cujo dizem ser causada por uma mítica batalha entre imortais.

De cima é como se a cidade fosse uma tigela colossal cheia de vidas lutando pela própria sobrevivência para não serem devorados pela asnice do líder medíocre que possuíam. 

Chuan Li tomou a frente orientando.

– Se separem em três grupos: um vai pelo norte, outro pelo leste, os demais vão pelo centro da cidade comigo. Recolham o máximo de informações possíveis.

– Sim, Chanceler! – o s cultivadores concordaram em uníssono e se dividiram como foi ordenado.

Ainda que fosse grande, era uma cidade redonda então uma hora ou outra deviam se encontrar.

Onde quer que perguntassem haviam pessoas que não sabiam de nada e outras que diziam não saber de nada mas se afastaram, trancavam-se dentro das casas, suplicavam para que não perguntasse mais nada.

Passou-se horas visitando casas, estabelecimentos comerciais, abordando pessoas nas ruas, Chuan Li pareceu irritada e incomodada a cada resposta negativa, não precisava ser um especialista para chegar a uma conclusão.

– Essas pessoas, elas estão com medo. Quanto mais fundo vamos, mais problemas aparecem.

Um cultivador que a acompanhava pediu para falar.

– Devíamos encontrar os outros, talvez eles tiveram mais sorte.

Chuan Li assentiu, não tinham outra opção senão ir atrás dos demais cultivadores.

Do outro lado, Chuan Bei já havia chegado a Cidade das Esferas. Escondia atrás de um sorriso simples e falso o nojo pelo cheiro consistente de fritura vindo das bancas de comida espalhadas pelo caminho. Ele também tomou como estratégia inicial perguntar a população, as reações não eram diferentes.

Estava quase desistindo quando avistou um garotinho com roupa e rosto sujos de poeira sentado no chão brincando com pedras, a mãe dele estava logo ao lado lavando roupas com todo o vigor e secando o suor da testa com a manga de trapos encardida. Chuan Bei confirmou pensando: São pobres.

Bastou olhar para o lado, convenientemente estava lá uma banca com diversos brinquedos, dela ele comprou um pequeno dragão chinês de papel colorido, segurava cuidadosamente pelos palitos de sustento a levá-lo para o menino.

Chuan Bei se abaixou próximo ao garoto e ofereceu o brinquedo.

– Você quer?

O garoto soltou as pedras e fixou os olhos brilhantes no dragão artesanal, ele assentiu frenético. Chuan Bei falou sua condição antes que o garoto estendesse as mãos rechonchudas.

– Primeiro me diga, você viu alguém com uma flor bonita por aí?

A mãe do garoto, que antes estava distraída com o trabalho, notou a tentativa de Chuan Bei de subornar seu filho, ela carregou a bacia de roupas em um braço e agarrou o menino com o outro. 

– Sim! – respondeu o garoto mas a mãe disse por cima. – Não! Não vimos nada, por favor vá embora!

– Eu vim para ajudar, pense melhor. – tentou Chuan Bei.

A mãe recusou insistente enquanto entrava na casa humilde.

– Não precisamos de ajuda, não queremos nada seu, vá embora. – e la fechou a porta na cara de Chuan Bei que acompanhava.

Chuan Bei não se surpreendeu, estava psicologicamente preparado para pessoas orgulhosas ou assustadas demais para se envolver. Ele virou as costas já pensando para onde iria, antes que dasse o primeiro passo adiante escutou algo ranger seguido da voz do menino.

– Gege[1].

O garoto estava pendurado na janela muito interessado no brinquedo. Chuan Bei se virou com um sorriso gentil no rosto.

– Estou te ouvindo.

O garoto olhou para trás rapidamente, ele sussurrou.

– Tinha uma flor bonita com um senhor, ele deu para o tio que gritava na rua e ele caiu.

Era uma criança muito jovem para ter uma pronúncia perfeita, mas pensando bem, Chuan Bei ligou os pontos. O nome Lótus Efêmera era dado pelo destino das pessoas que tentavam tomar seu poder, a morte. Aqueles que não possuíam um núcleo dourado preparado para receber o poder da Lotús Efêmera morriam imediatamente sem exceção. 

– Você só viu isso? – disse Chuan Bei tentando arrancar mais detalhes.

O garoto assentiu dizendo.

– Mamãe não me deixou ver mais.

–  Você é muito corajoso, obrigado. – agradeceu Chuan Bei entregando o pequeno dragão de papel ao garoto.

O garoto respondeu orgulhoso enquanto brincava com o dragão.

– Eu sou! Mas eu sou muito pequeno. Queria alguém pra cuidar da mamãe até eu crescer.

Chuan Bei sorriu, era bonito ver a preocupação de uma criança tão jovem com um parente, se o garoto continuasse nesse caminho com certeza iria orgulhar muito a mãe. 

– Esconda bem o presente, não deixe ninguém ver. – se apressou Chuan Bei.

O garoto assentiu e guardou o dragão de papel dentro das roupas amarrotadas, Chuan Bei seguiu caminho pulando pelos telhados com passos tão leves quanto uma pluma. O garoto deu uma última olhada no seu bem-feitor, estava tão impressionado que desejou ser como ele algum dia.

Chuan Bei era um homem viajado, quando haviam entregas distantes de sua loja ele mesmo levava a mercadoria. 

Em várias de suas viagens passou pela Cidade das Esferas e ao pensar em "tio que grita" lembrou de um velho homem que costumava fazer anúncios para os comerciantes em troca de dinheiro, gritava irritantemente até alcançar a meta de vendas estipuladas por seus contratantes, muitas vezes as pessoas compravam as mercadorias para ganhar seu silêncio de volta. Era uma bela estratégia, valia a pena para os comerciantes escutarem ele gritando como um louco para ganharem bastante dinheiro.

Havia mais um problema, Chuan Bei não sabia o nome dele e certamente ninguém ia dizer. Teve uma ideia tão estúpida mas que outra opção tinha?

Chuan Bei desceu em uma rua bem movimentada, se infiltrou no meio das pessoas que iam e vinham, respirou fundo e começou a gritar, cantar propositadamente desafinado, abordar as pessoas do jeito mais irritante possível, queria ser a cópia perfeita daquele senhor.

As pessoas olhavam para ele horrorizadas, se afastaram o máximo possível, taparam suas orelhas não aguentando tanta poluição sonora, houve aqueles que até reclamaram.

– E essa agora?

– A paz se foi, ele reencarnou!

– Que diabos, ele se foi e deixou seu sangue?

– Maldito Ru Nuo, malditos sejam os seus genes.

– Cale a boca, procure algo útil pra fazer!

Com sua audição tão afiada quanto uma lâmina polida, Chuan Bei escutou todas aquelas reclamações misturadas no meio dos murmúrios e absorveu uma por uma, enfim tinha duas coisas que queria: o nome do senhor e o ódio do povo. 

Chuan Bei parou de repente e perguntou em voz alta.

– Eu vou parar se me disserem onde está Ru Nuo.

As pessoas se calaram ignorando aquela pergunta e apertaram o passo, de forma alguma querem se meter nesse assunto. 

Quando Chuan Bei estava prestes a começar outro escândalo, uma mulher que já sofria de enxaqueca sussurrou para ele.

– Por favor, pare, eu te digo. Ru Nuo está morto. Jogaram o corpo dele no poço e agora não podemos beber a água de lá.

Chuan Bei cumprimentou a mulher a agradecendo, antes que perguntasse sobre o poço um dos grupos de cultivadores que notaram o alvoroço o abordaram à distância.

– Você!

°

°

°

[1] Gege significa irmão mais velho.