Após o fim de seus turnos, Vastor e Thorman voltaram para seus quartos. Vastor esperou até estarem sozinhos para expressar sua alegria.
"Thorman, velho amigo, eu nunca imaginei que você tinha isso em você. Ajudar sua aluna assim. Tecnicamente, isso é contra as regras." A falsa indignação de Vastor não enganaria um homem surdo.
"Não fiz nada disso. Eu apenas usei os feitiços que considerei melhores para a situação em questão. Se ela acabou me copiando, como isso é minha culpa? Você vai me denunciar?" Era uma pergunta retórica, Thorman e Vastor eram velhos amigos.
"Você está brincando? Sua aluna acabou salvando a minha. O mínimo que eu poderia fazer é te dar aquela garrafa de Chama Azul envelhecida de 50 anos que você sempre olha toda vez que entra no meu escritório. Estou feliz por você ter relaxado, pelo menos."
*****
Em um labirinto subterrâneo, a vários quilômetros de distância do castelo, outro tipo de conversa estava acontecendo. Depois de passar pelo ninho, Scarlett enfrentou a Mãe da Ninhada.
Era a criatura responsável pela taxa anormal de nascimento dos Clackers. Cada um deles era um de seus filhos. Seu abdômen era de uma aranha gigante, com oito patas longas, mas no lugar da cabeça, havia uma figura humana.
Era como se alguém tivesse prendido um humano, começando pelas coxas, no corpo da aranha. Mas era um humano sem características distintas, sua pele quitinosa era cinza e suas mãos tinham dedos anormalmente longos terminando em garras afiadíssimas.
Sua cabeça tinha oito olhos e uma longa fenda onde deveria ser a boca, permitindo que falasse.
["Olha, estou cansado de brincar de esconde-esconde. Eu só vim aqui porque sei que você é inteligente o suficiente para me entender, e porque odeio destruição desnecessária."] Scarlett estava bastante irritada pelos repetidos ataques que sofrera ao longo do caminho.
Eles não tiveram nenhum efeito além de desperdiçar o tempo de Scarlett.
["O que você quer, grande governante?"] A voz da Mãe era baixa e rouca, cada palavra soava mais tossida do que falada. No entanto, conseguiu rir, zombando do título do Escorpicore.
["Pare de botar tantos ovos. Seus filhos são uma praga para a floresta, você já invadiu os territórios alheios. Eu não vou repetir isso uma segunda vez."]
A Mãe da Ninhada riu novamente.
["É mesmo? Então eu te desafio, ó governante. A floresta precisa de uma nova mão guia…"]
Scarlett zombou, já ouvira aquele discurso inúmeras vezes, seja de humanos ou bestas mágicas.
["Tudo bem. Desafio aceito."] A conversa foi encerrada, para aborrecimento da Mãe.
Violando todas as regras do desafio, a Mãe da Ninhada atacou sem aviso, fazendo os Clackers totalmente desenvolvidos que guardavam a sala do trono, cada um do tamanho de um touro, se coordenarem com seu ataque.
O rugido do Escorpicore atingiu em duas ondas. A primeira foi uma rajada de frio, transformando o ninho subterrâneo em um deserto gelado. A segunda foi um grito ultrassônico que fez as novas esculturas de gelo se despedaçarem em inúmeros pedaços.
["Oh! Eu ganhei. Grande surpresa! Vida longa a mim."] Triste por não ter nenhuma testemunha de sua esmagadora vitória, Scarlett chamou Linjos.
"O problema dos Clackers está resolvido. Com a Mãe da Ninhada morta, os sobreviventes se esconderão até que outra surja. Vamos esperar que a próxima rainha tenha mais cérebro do que músculos."
"Obrigado por resolver o problema tão rapidamente." Linjos respondeu. "O que você quer em troca?"
'Eu gosto desse humano.' Scarlett pensou. 'Sempre dizendo por favor e obrigado em vez de me tratar como uma ferramenta, como seus antecessores fizeram. Vou garantir que ele mantenha sua posição.'
"Digamos apenas que você me deve uma. Qual é a taxa de sobrevivência de seus filhotes?"
"Melhor do que nos anos anteriores, cerca de 50% dos grupos passaram o primeiro dia. Hora de aumentarmos as dificuldades." Linjos disse.
***
Na caverna, o grupo de Lith estava terminando o café da manhã e planejando o resto do dia. Todos haviam apreciado bastante Visen criando um banheiro na caverna auxiliar.
Embora durante o exame simulado cada ação deveria ser um esforço em equipe, nem todas elas poderiam ser executadas adequadamente na frente dos outros.
Com tantas bocas para alimentar, o estoque de Lith não duraria mais de três dias.
Usar magia queimava muitas calorias. Isso esgotava tanto o corpo quanto a mente.
"Graças aos deuses você acabou no meu grupo." Belia disse mastigando o último pedaço de carne dos ossos. "Depois de jejuar por um dia inteiro, eu teria me rendido ou comido Visen."
Todo mundo na mesa riu, menos Lith.
"Por que tão carrancudo, colega? E sério, por que você carrega tanta comida consigo?" Visen perguntou. "Não que eu esteja reclamando!"
Lith encarou por um longo momento, antes de fechar os olhos e respirar fundo.
'Não somos "colegas", seu sortudo.'
"Em ordem, não carrancudo, invejoso. Porque claramente nenhum de vocês já passou fome. E a segunda resposta está ligada à primeira. Quando você sofre com a fome tanto quanto eu, você não se sente seguro a menos que você tenha comida com você o tempo todo."
Visen percebeu sua gafe e tentou se desculpar, mas Lith descartou tudo como um acidente, prosseguindo para explicar o que eles poderiam esperar das bestas mágicas. Depois de dar a eles todas as dicas importantes de sua experiência, ainda havia algumas coisas a serem ditas.
"Nunca subestime uma besta mágica. Elas podem estar presas a apenas dois elementos, mas podem usá-los de maneiras que só podemos imaginar. Seu tempo de lançar feitiços é incrivelmente rápido e, para piorar a situação, nosso poder físico não é nada comparado a eles.
"Eles precisam de apenas um golpe para nos incapacitar ou pior. Meu conselho é sempre manter distância e nunca jogar o jogo como eles esperam."
"Isso não significa que já estamos ferrados? Já perdemos nossa maior força." Visen não era muito otimista sobre a situação deles, e nem Belia.
"Perdemos apenas um membro. Nosso objetivo é sobreviver, não derrotar todos eles." Depois do dia anterior, Phloria havia se livrado da maior parte de sua insegurança, tornando-se mais resoluta.
"O principal problema é que, depois de pensar muito, cheguei à conclusão de que nos separar foi um erro. Este é um exercício em grupo, ficar em uma caverna não nos leva a lugar nenhum. Vocês dois poderiam ter nos ajudado muito ontem.
"Não apenas Mirna poderia ter sido salva, mas vocês teriam ganhado experiência de combate. Depois de lutar contra os Clackers, sinto que cresci muito como Cavaleiro Mago. Nenhum de nós realmente entenderá suas próprias habilidades sem colocá-las à prova."
"Concordo." Lith entrou. "Essa é a razão pela qual eu te ensinei como usar a primeira magia no deserto e sobre as bestas mágicas."
'Isso, e porque caso contrário você cairia sem me ensinar nada. Os feitiços do Cavaleiro Mago são algo que preciso replicar o mais rápido possível. Mal posso esperar para ver do que esses dois são capazes.
'Além disso, descobri uma grande lacuna no meu arsenal. Tenho que criar algo contra um enxame de pequenos inimigos.'
'E quanto a um enxame de grandes inimigos?' Solus perguntou.
'Nesse caso, minha única opção é fugir.'
"Além disso, gostaria de propor Phloria como líder do grupo. Para uma unidade inexperiente como a nossa, a defesa é mais importante do que o ataque. O conjunto de habilidades dela nos oferece as melhores opções para deter e reagrupar. Ontem ela realmente enfrentou o desafio."
"É uma maneira estranha de dizer: 'obrigado por salvar minha b*nda'." Ela respondeu.
"Se estamos mantendo um placar, salvei o seu duas vezes. Primeiro do Cingy, depois do Ry. Você ainda está uma b*nda atrás para ter o direito de se gabar." Ele respondeu com um de seus raros sorrisos encantadores.
A coabitação forçada, juntamente com o enfrentamento de tantos perigos juntos, ajudou o grupo a desenvolver camaradagem.
Apesar de todas as dificuldades, Phloria estava começando a gostar da situação.
Foi a primeira vez desde sua chegada à academia que ela estava sendo admirada por sua habilidade em vez de seu título nobre. Seus colegas de equipe não esperavam que ela falhasse para se sentirem melhor consigo mesmos, pelo contrário, eles estavam contando com ela.
Lith, por outro lado, não se comoveu. Para ele, era apenas um revés temporário, algo com que ele tinha que lidar enquanto explorava a situação para recuperar suas habilidades sociais. Ele sabia que, com o tempo, sua atitude de excluído faria mais mal do que bem.
O mundo era grande e desconhecido, ele precisava jogar pelas regras da sociedade e evitar conflitos desnecessários. No grande esquema de seus planos, uma semana era apenas um ensaio.
Ninguém se opôs à proposta de Lith, ele já havia ganhado o respeito deles. Depois de ver Phloria carregando-o mal consciente e ouvindo a história deles, o resto do grupo não precisava de mais provas de sua coragem.
"Antes de sair da caverna, aqui estão minhas ordens. Visen, você vai fazer dupla com o Lith. É melhor equilibrar o ataque e a defesa de cada unidade. Eu cuidarei de Belia. Segundo, troque o que você tem nos anéis de armazenamento mágico pelos seus melhores feitiços de última instância.
"Até agora nada mais funcionou e as coisas pioram muito rápido."
Tendo aprendido com seus erros do passado, Lith já estava preparado. Ele aproveitou esse tempo para passar algo de sua dimensão de bolso para Phloria, deixando-a atordoada.
"Tem algo definitivamente errado com sua cabeça." Ela disse olhando para seu sorriso frio, enquanto ele explicava sua ideia. "Mas está tão errado que é bom."
A caçada matinal correu muito melhor do que no dia anterior. Indo na direção oposta ao ninho dos Clackers, encontraram muito mais animais selvagens. Lith conseguiu disfarçar magia do espírito com magia do ar várias vezes, capturando várias presas.
Phloria se mostrou uma caçadora decente, enquanto Belia e Visen se concentravam em encontrar plantas e frutos comestíveis. Suas habilidades de caça eram nulas e os outros não poderiam desperdiçar preciosos momentos de luz os ensinando.
Eles permaneceram ao ar livre por tanto tempo que após algumas horas Sentar conseguiu avistá-los de cima e relatou sua posição.
["Eu tenho que me apresentar e agir sozinho como um idiota de novo?"]
Cometer erros de propósito não aborrecia o Cron, a menos que acabassem perdendo.
["Não. Novo dia, novas regras. Apenas um de vocês precisa ser visto, os outros podem se esconder e coordenar seus ataques."] Scarlett respondeu.
["Uma luva está fora, vamos começar o segundo round!"]