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Chapter 2 - Capítulo II A Cidade de Levnic

Legisa ergueu-se da cama. Seu olhar caiu sobre a sua bolsa na poltrona e ela avistou a peça de metal em cima da seda vermelha.

Legisa era uma mulher de cabelos loiros, olhos azuis e uma pele côr de mel. Para ela, sua maior beleza estava em sua mente, enquanto que outros a via em seu rosto. Foi da mesma classe de estudos arcano em que Kiranara se formou. Eram amigas há muito tempo e Legisa sempre foi mais interessada em artefatos mágicos. Já Kiranara era mais afeiçoada à magia principalmente se fosse proibida. Ambas se tornaram amigas depois de terem trabalhadas juntas em um projeto. Agora, porém, Kiranara estava a serviço do Conselho da Cidade. Ela, por sua vez, estava trabalhando em algumas escavações ou em explorações de locais com promessas de ítens interessantes. Parecia uma caçadora de tesouros.

Levantou da cama e se arrumou, se alimentou sem pressa e pegou sua bolsa. Antes de sair verificou todos os itens e para finalizar pegou sua capa no armário. Ela morava na mesma torre que Kiranara com cômodos individuais. Ela preferia assim e Kiranara, sua amiga, igualmente. Ambas gostavam de privacidade embora uma vez ou outra passavam a noite juntas estudando sobre um artefato, ou sobre uma descoberta arcana ou apenas para ter uma conversa e comentaram sobre coisas do cotidiano ou de suas mais recentes experiências em suas carreiras.

Depois de formadas cada uma seguiu sua própria profissão, ou, ao menos, Lagisa o fez. Kiranara nunca deixou claro sobre qual profissão seguir. Tudo o que ela fazia era estudar, rever feitiços e rituais. Conquanto que Lagisa sempre estava a um passo de descobrir um novo local para escavações. A garota, agora quase uma mulher por completo, respeitava as decisões e nunca perguntava demais a sua amiga sobre o seus planos para o futuro ou se já havia começado a se interessar pelos assuntos amorosos. Isso, claro, deixou Kiranara muito a vontade motivo pelo qual ela gostou de Lagisa logo que a conheceu. Era engraçado como ela era tão simples a uma primeira vista. Algo que Lagisa compreendeu que não passava de uma mera faxada, uma mera ilusão. De simples, Kiranara não tinha nada. Suas realizações, em sua maioria, tornavam segredos nos quais ela pouco fez para divulgar. Claro, ela conversava com Lagisa sobre alguns de seus feitos, mas, em suma, em alguns assuntos, ela era reservada até mesmo para sua amiga.

Lagisa aprendeu a respeitar isso. Foi além e aprendeu com isso. Não tinha muitos amigos e quase nenhum dos acadêmicos a interessava ao ponto de começar algo amoroso. Para ela, como sempre dizia a Kiranara, sua paixão estava nas escavações, na busca por artefatos, suas histórias e pelo conhecimento adquirido a cada novo estudo de uma descoberta arqueológica.

Em troca de sua personalidade nada irritante, Kiranara compreendia sua paixão. A ajudava com ideias quando ela se encontrava perdida em meio a tantas informações e tão poucas respostas sobre. Na verdade, Lagisa sempre admitiu que Kiranara sempre foi mais inteligente, mais racional, menos emotiva e mais séria. Havia algo em Kiranara que a destacava das outras pessoas. Ela parecia não se importar com as pessoas, ao menos, nunca demonstrou isso para com Lagisa. Em contrapartida, já testemunhou Kiranara discutir com os demais da Academia sobre estudos e teorias. Alguns dos mestres apoiava sua linha de raciocínio. Outros a via como uma pessoa muito difícil de lidar. No entanto, era o jeito dela e como Lagisa sempre a respeitou viu isso como algo que ela teria que resolver com o tempo embora nunca negou apoio a amiga quando ela precisasse.

Logo que saiu porta a fora o Sol da manhã a recebeu com um toque suave. Sempre gostou do Sol da manhã. Também gostava do frio daquela hora, aproveitava ele o máximo que podia, pois logo estaria um calor intenso dentro da caverna que visitaria hoje. Entrou numa rua e passou por algumas lojas. Havia uma entre elas que a fez se lembrar que estava precisando de algumas ferramenta. Adentrou e perguntou ao lojista se teria alguns pincéis, espátula, cordas e um martelo. Ficou satisfeita quando encontrou o que precisava. Ficou ainda mais satisfeita quando o valor a ser pago pelos itens não lhe custou uma fortuna. O vendendor, como um bom vendedor, lhe deu um ótimo desconto, um pincel como cortesia e um atendimento mais que magistral. Por sua vez, a garota lhe prometeu que voltaria sempre que uma ou outra ferramenta fosse necessária. Também prometeu que voltaria com itens nos quais os ele poderia adquirir por um preço justo, garantindo-lhe que poderia revender facilmente pelo dobro do preço.

O homem a acompanhou até a porta e se despediu dela com um aperto de mãos.

— Foi um prazer senhorita Lagisa. Por favor, volte mais vezes.

— Obrigado pela atenção senhor Varlez. Voltarei conforme prometido. Espero que o quanto antes e com itens de seu interesse.

Logo que saiu da loja notou uns dos acadêmicos passar do outro lado da rua. Eram quatro no total. O uniforme de mago a fez se lembrar de quando fazia o mesmo com alguns dos seus colegas ao ir para a Academia juntos. Ela só passou a ir com Kiranara no segundo ano de Academia. Aquele momento nostálgico a fez sorrir.

Logo que chegou na entrada da caverna notou que havia um grupo se preparando para explorar a caverna. Lagisa não se importava de compartilhar o seu espaço de trabalho, desde que a avisasse com antecedência sobre a vinda e o horário. Ela não ficou irritada ao observar que entre eles havia uma mulher com o típico cabelo trançado de cor verde. Lavsa a reconheceu de longe e, como de costume, desde o tempo da Academia, se expressou de uma forma que não deixava Lagisa bem:

— Ora se não temos aqui a melhor caçadora de tesouros de todo o reino! Chegou no momento certo da nossa entrada. Infelizmente, não poderemos ir juntas.

Lagisa não se importou com nada do que ouviu. Entretanto, fez questão de responder:

— Quanto mais rápido iniciar sua expedição, mais rápido poderei iniciar a minha. Cada um de nós pega um caminho e seguimos sem olhar para trás.

A mulher riu de sua estupidez. Lagisa não se importou novamente.

— Vamos dar início a descida pessoal. Temos um horário a cumprir.

Quando Lavsa tomou a dianteira e seguiu caverna adentro, Lagisa tirou seus olhos dela e pegou outro caminho.

— Pode passar o tempo que for que algumas pessoas nunca mudam.

— Concordo.

Veio uma voz de cima.

Imediatamente, devido ao susto, a mulher olhou para cima e viu um homem sentado. Ele a recebeu com um sorriso.

— Quem é você?

— Me chamo Holden. Sou um acadêmico recém formado e estou em busca de alguns artefatos. E você seria...?

Lagisa o encarou. Era um homem negro, de olhos côr de safira, com cabelo dreads. Suas vestimentas condiziam com o que havia dito.

— Sou Lagisa, uma acadêmica formada. Meu trabalho está relacionado à busca por artefatos e estudo de ítens mágicos.

Ele se lançou e caiu próximo a ela. Ainda com um sorriso lhe ofereceu a mão para um aperto:

— É um prazer conhecê-la.

Lagisa segurou sua mão:

— O prazer é todo meu.

Depois de ter feito a amarração ela conferiu para ver se estava tudo certo. Colocou as luvas de couro reforçado, acendeu a lanterna de cristal mágico e a pendurou no cinto. Holden fez o mesmo.

— A pior parte é descer. — ele arriscou uma nova conversa.

— Na verdade, a pior parte é sempre subir todo o caminho de volta. — Lagisa discordou.

A descida não foi tão ruim para Holden. Para a Lagisa não tinha nada do que reclamar. Ela descia naquela caverna quase todos os dias. Em meio a descida um silêncio predominou. Lagisa estava concentrada. Holden igualmente, mas logo quebrou o silêncio:

— Existe artefatos mágicos nesse lugar?

— Sim e não. Pode ser que tenha, mas logo alguém o encontra e o leva embora. A bem da verdade não há muito mais o que explorar. Os artefatos de ruínas antigas foram quase todos extraídos. Eu diria que seria muita sorte encontrar algo que valha a pena o esforço de levar conosco até a superfície.

— Estou com uma impressão de que vamos encontrar algo valioso. É a minha primeira vez aqui. Você poderia ser minha guia?

Lagisa não respondeu de imediato. Estava mais interessada em terminar a descida com segurança. Logo que pisou no solo pegou sua lanterna do cinto e a erguer para iluminar a frente. O corredor estava logo a frente.

— Se você precisa de um guia porque não foi junto com a Lavsa em sua expedição?

— E correr o risco de acabar perdido ou pior? Não. Agradeço pela oferta.

— Então se eu não viesse você não entraria?

— Eu viria de qualquer jeito. Mesmo sozinho posso me virar. Me equipei adequadamente para a tarefa.

— Mas com um guia tudo pode ser mais fácil, entendi.

— Exatamente.

Ela virou um trecho do corredor e passou a descer um lance de degraus.

— Só há um problema: não serei a sua guia. Não que eu seja chata em relação a isso. A verdade é que tenho que fazer meu trabalho e ser uma guia não estava nos meus planos.

— Uma decisão correta, é claro. Não precisa ser minha guia. Só peço que me permita te seguir até onde gostaria de ir. Quero alguns artefatos, mas não quero atrapalhar o seu trabalho.

Lagisa vitou-se:

— Não estou brincando. Me seguir não vai lhe trazer garantias de encontrar artefatos mágicos.

— Mas ao menos vai me servir de aprendizado. Tenho uma memória excelente. Não me perco facilmente.

— Você está por sua conta e risco. Se algo acontecer não vou me responsabilizar.

— Estou de acordo. Tomarei todas as preucações possíveis.

Ela se virou e seguiu em frente em silêncio. Ele a seguiu. Desceram mais alguns lances de escadas e ela viu uma ponte de madeira.

— Aquela ponte é uma das entradas antigas da cidade debaixo da cidade atual. Você já deve ter lido em algum lugar sobre a Cidade de Levnic, não?

— De fato! Fiz diversas anotações sobre escritos que estudei na biblioteca da Academia.

— Isso é bom. Mas, para que fique bem claro, estudar sobre não é o mesmo que estar em contato com o local. É um local antigo e está cheio de lugares perigosos. Não toque em nada sem me perguntar antes. Eu conheço o local, você, por outro lado, se for esperto, vai viver o suficiente para conhecer.

Holden calou. Depois dessa explicação ele ficou mais atento onde pisava e mais desconfiado do lugar.

— Farei o meu melhor para não atrasar ou lhe atrapalhar. Peço desculpas pelo fardo que estou fadado a ser enquanto estivermos nessa expedição.

— Você só será um fardo se cometer erros. Erros que pode custar a sua vida.

— Então se eu morrer você simplesmente irá dar continuidade a sua missão?

Lagisa seguiu para a ponte. O silêncio dela foi uma resposta neutra: primeiro porquê ela não tinha nada a ver com ele morrer ou viver. Segundo porquê ela não era uma heroína se ela tivesse que corrigir um erro que ele cometeu por pura estupidez.

— De agora em diante tenha em mente que podemos estar sendo observados por todo ou qualquer tipo que goste de explorar locais em busca de tesouros. O que você tem consigo que possa usar caso precise se defender?

Holden ergueu uma mão brilhante:

— Sou um mago. Tenho conhecimento em magia avançada. Tenho algumas adagas também.

— Você deveria ter trago uma espada.

— Mas você não trouxe uma também. Como vai se defender?

— Com uma adaga ritualística e magia.

Holden sorriu.

— O mesmo que eu? Não pode me julgar pelo meu equipamento, você sabia?

Dessa vez ela sorriu:

— Vamos continuar e tentar retornar antes que anoiteça.