E ai putada, estou voltando.
E ainda não me mudei… eu odeio minha vida.
[Ilia Amitola]
Meu estômago se amarra em um nó de nervosismo e culpa.
A desonra de tentar matar o humano sem uma justificativa decente, a traição da qual faço parte, mentindo não apenas para os faunus de Menagerie, mas principalmente para a grande líder Khan, me deixa de estômago revirado. Afinal, ela não sabe nada sobre a falsidade da acusação ou sequer que conduzimos um ataque contra a nave do humano.
O ataque fracassado resultou na fratura exposta no meu braço esquerdo, que agora estava tratada e enfaixada, mas esse plano remendado, tentando virar a opinião pública contra o humano, é mais frágil que meu membro imobilizado.
Os irmãos Albain sabiam que a grande líder não se rebaixaria a táticas covardes como essa. Por isso, me pediram para ficar em silêncio e deixar aquele literal e figurativo rato do Milhouse Pettigrew atuar como vítima.
"O senhor poderia se apresentar, por favor." Disse a anciã tartaruga, atuando como advogada do Arc.
Um velho senhor com orelhas de coiote estava sentado na cadeira para testemunhar, ele encara a senhora Brasa com um olhar confuso, como se não tivesse entendido o propósito da pergunta.
"Eu sei quem você é, mas nem todos os jovens te conhecem, Ben." Disse a advogada, suspirando cansada.
Dando de ombros, o velho senhor começou sua apresentação.
"Me chamo Ben Kenobi, vivo em Menagerie há muito tempo." Disse o velho, com um tom entediado, completamente desinteressado na situação. "Enquanto meus joelhos e coluna aguentaram, trabalhei como caçador e pescador para o povo desta ilha. Depois, passei anos ensinando essas funções a várias gerações de jovens para continuar a alimentar a população, até que finalmente me aposentei quando fiquei cego."
Satisfeita com a declaração de sua testemunha, Kouka deu um sorriso sereno e continuou a perguntar:
"Cego?" Ela questionou em um tom forçado de choque. "Mas está claro para todos os presentes que o senhor é capaz de enxergar."
Mesmo com atuação forçada, Kouka estava conseguindo a atenção de todos os presentes. Antes, os espectadores conversavam entre si, ignorando o que acontecia quando não era a vez de Sienna falar. Outros diziam que era perda de tempo e que deviam expulsar o humano da ilha ou até mesmo executá-lo.
Mas agora todos prestavam atenção em silêncio.
"Sim, eu era cego até uns dias atrás." Respondeu Ben, em um tom cansado e irritado. Ele parecia entender o que estava acontecendo, apesar de achar desnecessário. "Até esse moleque chegar aqui e me curou."
"Protesto!" Exclama Sienna, indignada. "Como não sabemos se esse era o plano do humano desde o começo? Cair nas boas graças da população só para depois tirar vantagem."
Os espectadores voltaram a murmurar entre si, alguns concordando com o questionamento da líder da White Fang.
PANG! PANG!
O som do martelo de madeira do chieftain silenciou a todos. Mantendo sua postura neutra, ele se virou para Sienna e perguntou:
"Você está dizendo que Jaune Arc curou doentes e feridos, para que ele depois pudesse espancar um grupo de caçadores e… roubar 'carne de caça'?"
O tom desacreditado de Gira fez Sienna perceber o absurdo de seu protesto.
"E se ele estiver usando a população para testar esses remédios?" Questionou Sienna, apontando o dedo para Jaune. "Algum dos faunus tratados aqui presentes sabe da procedência do que lhes foi dado?"
Tendo silêncio como resposta, a líder da White Fang sorriu vitoriosa armada com seu novo argumento.
"Então o humano usou faunus doentes como cobaias para suas drogas?" Questionou Sienna, em um tom ultrajado, se viroupara a audiência. "Quão mais nosso povo deve sofrer nas mãos de nossos algozes para que possamos viver em paz."
Os espectadores começaram a vaiar e gritar ofensas na direção de Jaune, mas o humano se manteve firme em silencio e aquele sorriso idiota na cara, como se não tivesse feito nada de errado.
"Porque ele fez nada de errado…" Sussurrei baixo, me sentindo pior.
PANG! PANG!
Mais uma vez o martelo silenciou os espectadores.
"Isso são sérias acusações, Khan." Inferiu Ghira em um tom sério.
"Não tenho medo de fazer as perguntas difíceis." Acrescentou a grande lider, cruzando os braços em sinal de superioridade.
"Também não tem medo de fazer perguntas idiotas." Disse o senhor idoso sentado na banca de testemunhas. "E antes que você me interrompa, deixa só eu falar que o moleque tomou os remédios na nossa frente para provar que eles eram seguros."
Todos presentes silenciaram, pegos de surpresa pela resposta.
"Escuta aqui o Siera-."
"Sienna!" Exclamou a líder, irritada, cortando o idoso.
"Velho demais para me importar." Respondeu Ben, dando de ombros. "Sei que quando algo é bom demais para ser verdade, só pode ser merda que vai foder a gente no cu."
PANG! PANG!
"Senhor Kenobi!" Reclama o Chieftain, chamando a atenção da testemunha. "Tem crianças no recinto."
O velho faunus coiote suspirou cansado, mas continuou a história sem reclamar.
"Mas esse garoto é apenas um miolo mole de coração de ouro." Afirma Ben, apontando para Jaune. "Ele no máximo deve ser um filhinho de papai rico que quer ajudar. Isso só faz dele um babaca com boa intenção, não um criminoso."
Murmúrios se fizeram presentes mais uma vez pela sala. Desta vez, os espectadores estavam divididos: alguns achavam que o humano era inocente, outros ainda o julgavam culpado.
"E como você explica os caçadores que ele atacou?" Diz Sienna, se levantando, indignada. "Independente de suas intenções, isso não justifica ele ter espancado e deixado para morrer os pobres caçadores, sem contar as famílias que vão passar fome por ele ter roubado a caça deles."
Ante a última declaração de Sienna, Ben sorriu.
"Por isso que estou aqui." Disse o velho, em um tom frio e ameaçador. "Porque tudo que ouvi daquele moleque Pettigrew foi mentira."
Todos os faunus suspiraram surpresos com a declaração, mas rapidamente se silenciaram para ouvir o que ele tinha a dizer.
"Dois cervos e três javalis? No deserto? E em um dia de caça?" perguntou Kenobi com um tom de deboche. "Essa mentira teria sido mais crível se tivessem dito que encontraram roedores, lagartos, cobras e pássaros. Sem falar na quantidade de carne que ele disse terem conseguido. Nem mesmo os melhores grupos de caçadores que vi em toda a minha vida chegariam a 135 kg (300 pounds) de caça em um dia, muito menos 270 kg (600 pounds)."
Suando frio, Sienna se levantou para tentar protestar contra o velho.
"E como podemos ter certeza se o senhor está falando a verdade e não o Milhouse?" questionou Sienna, com um pouco de incerteza na voz.
A última declaração de Sienna foi fraca e carregava pouco peso, mas ainda assim, fez com que alguém entre os espectadores se levantasse para responder.
"Pode parar por aí." Respondeu um homem de pele morena e penas brancas nos braços. "Esse velho rabugento pode ser um boca-suja, cachaceiro, mal-humorado, mas ele nunca esteve errado quando o assunto era caça ou pesca."
"Isso mesmo!" Disse outro faunus, levantando-se. "Tudo que sei foi ele que me ensinou. Nunca mentiu sobre como conseguir o sustento para minha família. Se o humano é culpado ou não, não importa. O velho Ben não vai ser difamado desse jeito."
Mais e mais faunus começaram a se levantar em defesa de Ben Kenobi, que gargalhava de forma debochada para Sienna.
"Não, não, não…" murmurei, desesperada. "Era para o humano ser banido da ilha, não para Sienna ser humilhada."
A população inteira se virou contra Sienna, acusando-a de difamação contra alguém que dedicou sua vida a ajudar os habitantes de Menagerie a alimentar suas famílias.
PANG! PANG!
"ORDEM! ORDEM!" o Chieftain gritava, tentando recuperar o controle, mas as pessoas estavam furiosas.
Uma turba estava se formando, e o risco de um linchamento parecia iminente.
Pelos deuses, se Sienna for linchada… penso enquanto meu estômago se torce em dor e culpa. Tento falar algo, mas o estresse e o nervosismo me deixam muda.
Mas, no meio do caos, foi o humano quem trouxe a ordem.
FIIIEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEM!
O som de uma corneta estridente ecoou dentro da sala. Os faunus se silenciaram, agachando com as mãos nas orelhas. Olhando para a direção do som, vimos Jaune com uma corneta em mãos, sorrindo como uma criança com brinquedo novo.
"Obrigada, meu jovem." disse a velha anciã tartaruga, dando tapinhas no braço do humano. "Olha só que vergonha, faunus supostamente civilizados se comportando como animais selvagens. E quem foi que os acalmou e colocou ordem? Um humano."
Todos os presentes olharam para baixo, completamente envergonhados de seu comportamento.
"Isso é para ser um julgamento, nossa tentativa de chegar à verdade ou, pelo menos a um consenso do que aconteceu." continuou Kouka, em tom de reprovação. "Mas vocês vieram aqui em busca de sangue e vingança. Se o comportamento aqui hoje é o normal para vocês, eu tenho apenas medo e vergonha do futuro dos faunus."
Um silêncio sepulcral se instaurou no local. Vergonha e arrependimento pairavam no ar. Mesmo com todos se sentindo mal, eu me sentia pior ainda. Finalmente, não me aguentando, engulo seco e levanto a mão para falar.
"Por favor." falei em voz alta, chamando a atenção de todos. "Eu gostaria de falar algo, se possível."
[Sienna Khan]
Tinha começado tudo tão bem. Parecia certo que o humano seria condenado e expulso da ilha antes que ele pudesse causar mais estragos. Mas os testemunhos apresentaram mais buracos na acusação do que um queijo suíço, e para piorar, a opinião dos espectadores ficou a favor dele e contra mim.
Quando o humano acalmou os faunus e Kouka deu seu sermão, achei que tudo estava perdido. Até Ilia ter levantado a mão.
'Com certeza ela tem alguma informação para virar o jogo a nosso favor.' Pensei enquanto observava a garota ruiva se sentar ao lado de Ghira para testemunhar.
"Senhorita Amitola." disse o Chieftain, dirigindo-se à agente da White Fang. "Você precisa entender que seu depoimento pode ser inválido por você ser uma agente da White Fang."
Ilia respirou fundo e, olhando nos olhos do humano, falou.
"Isso não vai ser problema." A voz dela saiu alta e firme para todos ouvirem. "Porque estou aqui para dizer que Jaune Arc é inocente."
"O quê?!" exclamei confusa.
Todos os presentes começaram a cochichar, surpresos que uma agente da White Fang estivesse defendendo um humano que os atacou.
"Sei que ele é inocente, porque faço parte do grupo que planejou essa falsa acusação."
Do canto do meu olho percebi sombras correndo para fora da sala, mas nem pensei em segui-las porque Ilia tinha toda a minha atenção.
"Durante a noite, eu e outros membros da White Fang tentamos invadir a aeronave do humano pousada perto de um oásis no deserto." mencionou Ilia em um tom choroso. "Mas fomos detidos pelo robô vermelho que guardava a nave." Disse Ilia, levantando o braço enfaixado para todos verem. "Foi assim que eu e os outros ficamos feridos. Nenhuma das pessoas que alegaram ter sido atacadas pelo humano era caçador. Somos todos agentes da White Fang."
Vaias e gritos de indignação começaram a vir dos espectadores, revoltados com as ações da White Fang.
"Não pode ser…" murmurei, chocada. "Como eles podem ter feito tudo isso depois que pedi para não se meterem com o humano?"
PANG! PANG!
"Ordem!" exigiu o Chieftain. "Isso explica os faunus feridos, mas por que vocês mentiram sobre a causa e por que tentaram invadir a aeronave do senhor Arc?"
"Fui convencida por Fennec Albain. Ele disse que a grande líder Khan precisava de aliados nas sombras. Que, se eu levasse o grupo até o local desejado, Jaune Arc seria expulso da ilha e nunca mais voltaria. Quando chegamos ao local e o robô vermelho nos deteve, Fennec alterou o plano para jogar a culpa dos feridos em cima de Jaune Arc."
O povo voltou a vaiar, mas foi silenciado mais uma vez pelo martelo de Ghira, que se virou para mim.
"Quer dizer que isso tudo não passa de um plano da White Fang para expulsar da ilha um humano que não faz nada além de matar grimms, curar doentes e alimentar crianças famintas?"
O tom indignado de Ghira deixava clara sua fúria. Doía-me o ego admitir, mesmo que em silêncio, que o humano era inocente. Mantendo minha cabeça abaixada, Ilia continuou a falar.
"Gostaria de acrescentar também que, enquanto o humano estava mapeando a região do deserto, eu o ataquei e tentei matá-lo." A declaração da jovem trouxe o silêncio mais uma vez. "Em vez de se vingar ou me entregar às autoridades, ele apenas se sentou e conversou comigo… e a minha resposta à misericórdia dele foi ajudar a incriminá-lo."
Tomada por vergonha e remorso, Ilia começou a chorar na bancada.
"Acho que está claro para todos os presentes que Jaune Arc é inocente." declarou Ghira em alto e bom som. "Mas agora tem a questão de-."
CRASH!
A porta explodiu para dentro da sala. Parte dos espectadores caiu no chão com o impacto dos estilhaços da porta, enquanto o restante correu para o outro lado da sala.
"KHAAAAAN!" urrou uma voz furiosa do fundo da sala, ocultada pela nuvem de poeira.
Assim que a nuvem se dissipou, revelou-se a imagem de uma ruiva bárbara furiosa empunhando um machado. Quando nossos olhos se encontraram, os dela, sedentos de sangue se arregalaram, e um sorriso voraz se formou em seu rosto.
"Finalmente." rosnou Audra, investindo na minha direção.
[Image]
Desarmada e sem tempo de sair da frente, fechei os olhos e cruzei os braços na tentativa desesperada de bloquear o golpe.
KLANG!
O som metálico ecoou pela sala, seguido de um estranho silêncio. Quando abri os olhos, notei alguém parado na minha frente.
"O humano?" sussurrei, incrédula.
O homem que passei as últimas horas tentando incriminar e expulsar da ilha estava ali, na minha frente, me defendendo com um escudo azul com borda brateada da minha antiga mestre.
"DE NOVO?" berrou Audra, furiosa. "ESSA RAPARIGA TENTOU TE MATAR E INCRIMINAR! POR QUE VOCÊ A DEFENDE?"
O humano a respondeu a puxando em um abraço apertado, os olhos de Audra se arregalaram, mas rapidamente ela largou o machado e retribuiu o gesto.
"Você é bom demais para essa gente guri." Murmura Audra respirando aliviada.
Enquanto os dois se abraçaram calorosamente, até que Ilia levanta sua voz.
"Sienna não sabia de nada." falou Ilia, do lado de Ghira. "Isso foi tudo um plano dos irmãos Albain."
Audra respira fundo se separando do humano.
"Eu estava preocupada com você, seu miolo mole com coração de ouro." sussurrou Audra.
A cena comoveu todos os presentes.
PANG! PANG!
"Ordem!" clamou Ghira, do púlpito quebrado. "A inocência de Jaune Arc já foi provada para todos os presentes."
Em resposta, o público murmurou em concordância.
"Porém, gostaria de mais detalhes. Por isso, gostaria que Sienna Khan, Ilia Amitola, Audra Taurus e Jaune Arc viessem até minha casa, acompanhados de uma escolta, para esclarecermos tudo."
Todos os chamados confirmaram que iriam cooperar… exceto o humano, que permaneceu em silêncio.
"Você está bem, Arc?" perguntou Ghira, preocupado. "Você não falou nada durante o processo e agora nem me direciona a palavra."
O humano franziu as sobrancelhas. Parecia irritado, mas continuava calado.
"Não o julgo, senhor Arc. Você veio à nossa ilha com nada além de boas intenções, disposto a ajudar nossa população. Em troca, foi tratado como um criminoso por causa de uma acusação tola e mal esclarecida." mencionou Ghira, em um tom cheio de remorso. "Entendo que o senhor nunca mais queira dirigir sua voz a mim, mas por favor não pense mal dos habitantes desta ilha."
"Que drama, hein, Ghira." disse a velha faunus tartaruga, que havia atuado como advogada do humano.
Ela carregava uma xícara com um líquido fumegante dentro.
"Bebe isso aqui, vai soltar sua boca, garoto."
Rapidamente, Jaune pegou o copo das mãos dela. Com muito esforço, conseguiu abrir a boca o suficiente para o líquido entrar. Após alguns segundos, ele bocejou, engoliu e então encarou a senhora Brasa.
"Essa velha louca me deu um doce de caramelo que grudou meu céu da boca com minha língua" comentou Jaune, furioso com a senhora. "Eu não conseguia falar nada!"
Todos viraram, chocados, para a tartaruga, que apenas ria da situação.
"Gosto muito de você loirinho, mas foi mais vantajoso para nós você ficar calado do que falar besteira." explicou a velha senhora.
"Eu não falo tanta besteira assim, não!" afirmou Jaune, virando-se para o resto da sala. "Não é mesmo, pessoal?"
O silêncio foi a única resposta que o humano recebeu. Nem Ghira nem Audra conseguiam olhar para ele nos olhos naquele momento.
[Ghira Belladonna]
Admito ter achado o assistente digital do senhor Arc deveras caricato quando ele se apresentou. O holograma de um soldado em armadura futurista azul, empunhando um rifle sniper, não era algo comum de se ver.
'Quem diria que Church era o menos excêntrico.' Pensei em silêncio.
{{Escuta aqui, seus maltrapilhos, vagabundos, sem vergonha!}} gritou uma voz com sotaque forte, enquanto assistimos à gravação do ponto de vista do robô segurança vermelho. {{Mais um passo e eu viro esse galpão em um rodeio de chute na bunda! Prometo que vai doer mais que picada de marimbondo na ponta da língua.}}
Estávamos de volta à minha casa, todos sentados em silêncio enquanto assistimos às gravações do grande robô vermelho de segurança de Jaune Arc.
[Hulk Buster Build Halo/40k armor style ]
{Isso é só uma das máquinas fornecidas por Atlas.} Gritou alguém na gravação mais ao fundo. {Usem as mesmas táticas que usamos quando atacamos um comboio, irmãos.}
O que se seguiu foi basicamente uma humilhação dos agentes da White Fang, temperada com ofensas antiquadas e muitos gritos.
{{YEEEEHAAAAAAAA!}} Gritou a voz robótica, como se fosse um velho cowboy em rodeio.
"Jaune querido, você pode acelerar para poupar o pouco de dignidade que Sienna e Ilia ainda têm…" Pediu Kali, olhando para Jaune.
Sem questionar, o humano loiro acelerou, e em poucos minutos fomos capazes de testemunhar como aconteceram todos os ferimentos das 'vítimas'. Algumas caíram de mau jeito, outras foram pisoteadas ao tentar se esgueirar para perto do robô, que pediu desculpas depois de quebrar a perna de um fauno.
"Está claro que o sistema de segurança de Jaune Arc agiu em defesa própria e deu várias oportunidades para os invasores recuarem." Afirmei, sorrindo orgulhoso para o jovem humano.
Jaune olhou para mim, confuso com minha expressão, mas ele sorriu de volta, demonstrando gratidão pelo sentimento.
"Ilia e Sienna!" Exclamei, imprimindo toda a autoridade possível à minha voz. "Desde que Jaune Arc chegou a Menagerie, ele tem agido com as melhores e mais puras intenções, independentemente das minhas suspeitas iniciais, da maneira rude como Audra o tratou no começo ou das tentativas da White Fang de matá-lo e incriminá-lo. Mesmo diante dessas adversidades, ele permaneceu firme, submetendo-se ao nosso julgamento e respeitando nossos costumes, almejando apenas a paz e uma convivência harmoniosa."
As membros da White Fang presentes desviaram o olhar envergonhadas, mas eu sabia que era mais por estarem sendo repreendidas do que pela forma como haviam agido.
"Tenho certeza de que a maioria dos que presenciaram o ocorrido hoje considerará o senhor Arc um tolo ingênuo por ainda interagir com faunos, mesmo após tudo o que ele passou." Continuei falando, mesmo sob o olhar indignado de Jaune diante da aparente ofensa. "Mas eu lhes digo que é justamente esse comportamento que trouxe uma centelha de esperança para a convivência harmoniosa com os humanos, além da possibilidade de mais deles nos visitarem e nos respeitar como seres civilizados."
O silêncio foi a única resposta que obtive das duas. Porém, não adianta nada eu só ficar falando; elas precisam entender por que a atitude de Jaune é a correta.
"Senhor Arc!" Exclamei, chamando a atenção do humano em minha sala. "Você veio à nossa ilha fornecendo alimentos, mapas, remédios, projetos de cidade e planos para tornar nossa ilha em um reino soberano independente."
"O quê?" Questionou Sienna, boquiaberta.
"Gostaria de lhe oferecer reparações apenas pelo valor da minha honra, mas tais recursos são preciosos demais para meu povo para meia medidas ou burocracia padrão."
"Humpf?" Bufou Jaune, sem entender o que eu queria dizer.
Pelos deuses, você é mesmo um miolo mole com coração de ouro.
"Qual punição o senhor gostaria de dar para essas duas e os outros agentes da White Fang que atacaram Audra e sua aeronave?"
Sienna e Ilia arregalaram os olhos em espanto, mas não ousaram proferir sequer uma palavra. Audra cruzou os braços e bufou, irritada, com tédio em seu olhar, como se soubesse qual seria a resposta do jovem humano.
"Sienna Khan." Ele disse, chamando a atenção da líder da White Fang. "Você esteve diretamente envolvida no planejamento da invasão da minha nave ou na acusação falsa?"
A líder com orelhas de tigre respirou fundo como se estivesse exausta, mas estufou o peito e olhou nos olhos humanos para responder.
"Não sabia de nada quanto à invasão da sua nave, mas quando meus agentes vieram falando que você tinha agredido caçadores no deserto, nem pensei duas vezes para tirar proveito e coloquei todos os membros da White Fang para espalhar a notícia." Falei, finalmente sentindo remorso dentro de mim. "Parte de mim sabia que a história tinha alguns furos, mas para mim, na hora, não importava. A coisa que eu mais queria era você sair dessa ilha o mais rápido possível."
"Por quê?" Perguntou Jaune, em um tom de curiosidade genuína.
Sienna engoliu seco seu orgulho e vergonha, mas continuou a encarar o jovem humano à sua frente.
"Porque sua fama estava crescendo muito entre os faunos de Menagerie." Ela admitiu com amargura. "Curando, alimentando, e agora o Chieftain me informa que você vai construir cidades e ajudar a criar uma nação soberana para os faunus. Isso é verdade, humano?"
"Sim." Respondeu Jaune sem cerimônias, como se fosse nada demais. "Tipo, o tribunal me atrasou um pouco, mas acho que em uma semana consigo construir a cidade. Já o papo da nação…"
{{Dois meses no máximo.}} Informou Church pela caixa de som do projetor holográfico.
Sienna começou a rir de olhos arregalados em puro choque, uma risada que flertava com a loucura.
"Quer saber por que eu te quero fora da ilha, humano?" questiona Sienna em um tom instável. "Eu te odeio! Você deveria representar tudo que eu odeio e desprezo, mas, ao invés disso, você representa ELE!" grita Sienna, apontando para mim. "Um tolo pacifista que deseja um mundo melhor, que se recusa a tirar a vida, mesmo daqueles que tentaram te matar."
Jaune inclina a cabeça para o lado, confuso. Sienna parecia ofendida pela falta de compreensão do jovem humano.
"É claro que não vou matar você ou Ilia", diz Jaune como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.
"Por quê?" pergunta Sienna, indignada.
"Eu quero a prosperidade para os faunus de Menagerie. Foi por isso que vim aqui. Paz com os humanos também é necessária, por isso não vou fazer nada precipitado."
"Mesmo depois de tudo que você passou? Mesmo depois que a população quase se virou contra você?"
"Sim", responde Jaune mais uma vez, como se fosse óbvio. "Eu não vim para ser popular; eu vim para ajudar. Senhor Belladonna, é tão difícil entender isso?"
Abro um grande e orgulhoso sorriso para o garoto e respondo:
"Ela não entende que paz e prosperidade para os faunus é mais importante que orgulho", comentei, voltando meu olhar de julgamento para Sienna. "E, para isso, violência não deve ser usada como ferramenta nunca."
"M-mas..." Sienna balbucia, tentando questionar, mas é em vão. Ela não consegue encontrar as palavras. "Você será visto como um fraco."
"Não." Responde Jaune em um tom firme. "Afinal, o sonho do oprimido é ser o opressor. É preciso disciplina para não ceder à tentação de vingança e ser forte o bastante para ser gentil. Esse é o melhor caminho para a paz."
Eu e Audra gargalhamos orgulhosamente, enquanto Sienna e Ilia congelam diante da simples, porém universalmente verdadeira, declaração do jovem humano. A causa da White Fang, seja na versão antiga ou nova, sempre foi nobre, mas os meios deturpados e violentos de Sienna acabaram de ser expostos e esfregados em sua cara como uma simples luta por orgulho, e não pela sobrevivência e prosperidade dos faunus, como ela sempre alegava.
"Mas você ainda não me respondeu, Arc", comentei, chamando a atenção de Jaune mais uma vez. "O que você vai fazer quanto à punição dos agentes da White Fang que lhe causaram tanta dor de cabeça? Misericórdia é sempre bom, mas você precisa mostrar firmeza ante aqueles que agem como criminosos. Isso é básico para uma sociedade saudável."
O jovem humano fechou os olhos, refletindo por alguns minutos em silêncio. Audra encarava as membras da White Fang em minha casa como se quisesse arrancar suas cabeças… algo que não duvido que ela fizesse se lhe fosse permitido.
"Já sei", disse Jaune, estalando os dedos. "Uma ação de caridade da White Fang, liderada pessoalmente por Sienna Khan, para ajudar algum orfanato na cidade de Vale."
"O quê?" questionaram todos os presentes, incluindo eu.
"E a mensagem vai ser que a White Fang deseja a paz e prosperidade entre faunus e humanos."
Todos ficaram em silêncio, chocados com o pedido do jovem. O silêncio e a tensão eram palpáveis no ar.
"Ei, Church!" exclama Jaune, virando-se para o projetor holográfico, com o homem de armadura se manifestando. "Busca pra mim um orfanato em Vale que esteja precisando de ajuda com doações e mão de obra."
{{A maioria dos orfanatos precisa disso, consegue ser mais específico?}} questiona o pequeno soldado azul.
"Um orfanato que tenha um número bom de humanos e faunus."
{{Já encontrei e já mandei para você informações sobre e formas de contato.}}
"Obrigado", comenta Jaune, puxando seu Scroll. "Vou fazer uma lista de coisas que quero que vocês façam lá, mas qualquer coisa extra é bem-vinda", diz ele, enquanto lê sobre o orfanato em seu Scroll. "E não se preocupem em gastar dinheiro. Vou dar suprimentos tanto para a viagem para Vale quanto para o trabalho no orfanato."
"Por que você está fazendo isso?" pergunta Sienna, ainda chocada.
Jaune se levanta e encara Sienna com um rosto sério.
"Estou te dando uma chance para você provar ao mundo que a White Fang não é uma organização terrorista", disse Jaune, num tom mais sério. "Prove que eles estão errados sobre vocês. Prove que vocês querem paz e prosperidade para os faunus."
As orelhas de tigre-de-bengala se encolhem na cabeça de Sienna, lágrimas brotam de seus olhos. Ela mesma parecia não entender por que estava triste. A verdade simples é que Jaune Arc tinha quebrado seu orgulho, mostrando um caminho melhor.
"E quanto a mim?" questiona a jovem ruiva sardenta. "O que você vai fazer comigo?"
Jaune vira-se para Ilia e a encara, confuso, com uma sobrancelha arqueada.
"Tipo... o que passei é tipo pra toda a White Fang, sabe? Incluindo você", explica Jaune, ainda sem entender o porquê da pergunta.
Em silêncio, Ilia pega sua máscara de Grimm com chifres de camaleão. Com desgosto no olhar, ela quebra a máscara em sua mão. Todos encaramos a jovem, surpresos com sua ação.
"Por favor, senhor Arc", súplica Ilia. "Mesmo eu tendo errado tanto, o senhor não vai mudar seus planos para ajudar meu povo. Não posso ficar aqui agindo como se as minhas ações não tivessem quase destruído a chance de progresso para o povo de Menagerie."
"Eeeeeeh… o que você tá querendo dizer, Ilia?" perguntou o jovem humano se sentido desconfortável.
A camaleoa faunus se ajoelha, sem cortar contato visual com o humano, e declara em um tom formal como se estivesse em uma cerimônia sagrada:
"Eu, Ilia Armitola, juro me tornar serva de Jaune Arc. Ofereço minha força e minha lealdade Não porque fui forçada, mas porque acredito que ele pode me ajudar a me tornar alguém melhor. Lutarei ao lado dele, obedecerei suas ordens e farei o que for necessário para corrigir meus erros."
…
Jaune se agacha, olhando nos olhos de Ilia, e responde:
"Nem fudendo, sua biscate louca!"
E ai gurizada?
Isso mesmo eu voltei, com Arc de menagerie chegando ao seu fim, próximo capítulo vamos ter alguns time skips e a mudança na infraestrutura em vários pontos da ilha graças a nova equipe criada por Jaune.
Criada no sentido criado pelo seu 'Semblance', só para deixar claro.