'Ele é só uma criança, e mesmo assim…' O velho observou o garoto assentindo ao que ele dizia, embora invés de ver um sorriso no garoto, lá havia apenas um rosto estoico. 'O que eles fizeram para deixar uma criança assim?'
Olhando para o velho, seu rosto estava fechado numa carranca e seus punhos estavam cerrados. Não entendendo suas ações, apenas segui sem dizer nada.
E assim a viagem continuou por um tempo, ambos no silêncio agradável do caminho. Eu apenas aproveitei para olhar ao redor enquanto caminhávamos, era uma visão muito única. Tendi vários prédios com placas de madeira e símbolos estranhos em minha visão.
Eu não sabia para que servia cada prédio, mas isso não obstruiu o pensamento de que aqueles lugares eram muito belos. Era frustrante pensar que isso estava tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe.
Em mais alguns momentos caminhando o velho parou, estávamos na frente de uma casa um pouco mais simples que os prédios anteriores, mas isso não a fazia menos bela em comparação. Seu charme estava focado em outro lugar, em sua entrada, ali havendo um belo jardim com os mais diversos tipos de flores e plantas.
E embora eu tenha dito que era mais simples que os prédios, a casa em si não era tão simples. Dois andares, paredes construídas com tábuas de madeira, uma porta com entalhes esculpidos na mesma e algumas janelas que também tinham vasos de flores.
Sem mais delongas, o velho puxou um molho de chaves, escolheu uma delas e a colocou na fechadura da porta. Girando a chave na fechadura ela se abre, e seguindo o velho entro imediatamente.
Dentro da casa finalmente consigo ver sua complexidade, dentro e fora as paredes possuem a mesma coloração, um castanho-claro, o chão liso e firme com uma coloração cinza puxada para ciano. Existe uma coisa grande pendurada no meio da casa com algumas coisas brilhantes no meio e nas pontas que ilumina um monte.
Tive uma sensação de epifania ao entrar lá, tudo era tão bonito que dava a sensação de que quebraria ao mínimo toque. Mas me tirando do torpor estava o velho me encarando com um sorriso no rosto.
"Bonito né, gastei bastante dinheiro pra construir esse lugar. Com exceção do jardim, que eu mesmo construí e cuidei, o resto foi feito pelas pessoas mais habilidosas que conheço. E olha, você não sabe o quão é difícil fazer algo até que você começa a colocar–
*Estrondo
Cortando abruptamente a fala do velho foi o meu estômago, que parecia algum tipo de monstro, ou será que eram 100 trovões fazendo barulho ao mesmo tempo? Só sei que foi muito barulhento.
Risos*
"Vou fazer o jantar antes que um certo alguém morra de fome. O banheiro fica lá em cima, vá e tome um banho, está precisando. Depois te levo uma muda de roupas."
Sem dizer nada, eu subi para o andar superior, e o velho pareceu não se preocupar com isso também. Eu cheguei no lugar que parecia o que ele chamou de banheiro, eu não fazia ideia do que fazer lá, mas eu não tinha nenhum problema com isso.
"Banheiro hein."
O lugar era um quarto pequeno e quadrado, com algum tipo de balde grande de madeira no meio, não parecia haver muito segredo, eu fiz o que meus instintos diziam para fazer...
Por fim eu acabei pelado dentro desse balde de madeira, a água estava quente e a cada momento que meu corpo passava ali dentro eu me sentia mais leve, não bastando isso um leve cheiro doce pairava no ar. Criando a melhor sensação para causar sono que eu já senti.
Só após passar tempo suficiente, ao ponto de não sentir mais a sensação de ficar mais leve que saí de lá. Foi uma mudança abrupta na temperatura, quase me joguei de volta para a banheira, mas felizmente ouvi um barulho que me fez perder esse pensamento.
*Toc-toc
Só podia ser o velho batendo na porta, fui em direção a ela e quando ia tocar na maçaneta da porta ouvi a voz do velho.
"Vou deixar suas roupas aqui no chão, o jantar ainda vai demorar um pouco, então você pode aproveitar pra conhecer a casa. Por favor, só não entre no quarto ao final do corredor, ali fica meu escritório e não é lugar de criança."
Eu até perguntaria o que significa escritório, mas não estava tão interessado, então de trás da porta eu respondi de forma curta.
"Certo."
Ouvi seus passos se distanciando depois disso, abri a porta e peguei as roupas. Por algum motivo eu poderia ter ficado emocionado ao ver roupas tão novas e em bom estado, mas agora eu não sentia nada.
Elas eram bem simples, uma bermuda de cor preta que ia até um pouco depois dos joelhos e uma camiseta com mangas longas de cor branca.
Rapidamente coloquei a muda de roupas e passei levemente a palma da mão sobre a roupa no meu pequeno corpo. Foi uma sensação bem suave.
Em seguida sigo a explorar a casa, começando pelo segundo andar. Existem dois quartos nesse andar, cada um decorado de forma diferente do outro. O primeiro que vi é decorado de forma muito simples, tendo apenas uma cama, um carpete cinza redondo e algo grande de madeira na parede.
A caixa de madeira tinha duas portas, também de madeira, e parecia umas duas vezes maior que eu. Embora eu estivesse curioso sobre o que se tratava aquilo, eu me virei e fui em direção ao próximo quarto.
Passei pelo corredor antes de avistar o próximo quarto, colocando a mão na porta e rapidamente empurrando para frente, meus olhos desfrutam da cor azul. Era um quarto totalmente colorido em azul, desde o teto composto num azul mais forte e escuro até as paredes numa coloração mais clara.
No quarto havia duas camas que estavam estranhamente arrumadas e havia também um pequeno móvel no vão entre as duas camas.
O chão no andar superior era de tábuas de madeira escura, diferente do térreo que era algum tipo de pedra polida. E no quarto não era diferente, chão de tábuas de madeira escura, porém, com um tapete grande redondo e laranja cobrindo-o. Parecia tão macio quanto as camas.
"Garoto! O jantar está pronto!"
Repentinamente ouvi a voz do velho, parecia finalmente ser o momento de descer. Sem pensar duas vezes, sai do quarto e desci as escadas. Foi indo em direção à cozinha que me dei conta do incrível cheiro que flutuava no ar.
Era uma mistura de aromas extremamente encantadores, instantaneamente engoli saliva pensando na origem de tal cheiro e segui em frente.
Não demorou mais do que alguns passos para que a mesa pudesse ser vista. Inicialmente não acreditei no que meus olhos viam.
A mesa estava quase transbordando de diferentes tipos de pratos. Era uma visão que nunca tive antes, nem em sonhos eu poderia imaginar que era assim que as outras pessoas comiam.
Foi desolador, memórias recentes de fome e dor surgiam em minha mente. Era muito injusto, não pedimos para nascer nesse mundo, muito menos daquela forma.
***
Vendo o garoto chegar na cozinha e ficando surpreso com a quantidade de comida, no rosto do velho começava a se estampar um sorriso. Porém, isso não durou muito quando ele viu o rosto do garoto indo de surpresa para uma carranca.
O rosto do garoto havia se fechado, e estava envolto em uma leve sensação de tristeza. O velho entendeu quase que instantaneamente o motivo de suas preocupações.
"Garoto, não fique assim. Veja de forma positiva, o que antes você não teve, vai ter agora. Então vamos tirar o atrasado."
"Eu entendo o que você diz, velho."
Se sentando timidamente a mesa ao ouvir a palavras do velho, ambos percebem que um novo problema. O garoto mal alcançava a altura da mesa enquanto estava sentado.
"..."
"..."
Um silêncio constrangedor surgiu, entretanto, foi embora tão rápido quanto veio, pois o velho tomou a iniciativa de falar primeiro.
"Me de um minuto, vou pegar algo para te levantar um pouco."
"Uhm."
***
Saindo rapidamente, o velho some indo em direção às escadas para o primeiro andar. Quando se vê novamente alguns minutos depois, ele está carregando uma pequena quantidade de livros.
Levantando a cadeira um pouco, ele coloca os livros embaixo de mim. Provavelmente agora a altura deve ser suficiente...
Mas agora não é possível alcançar o lugar para sentar, ficou alto demais. Vendo aquilo, o velho inesperadamente pegou o garoto por baixo das axilas e o levantou até o lugar. Podendo assim finalmente se iniciar o jantar…
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