"Percebe-se que você não reconhece esse lugar... Essa é a sua casa... Ou o que sobrou dela."
"..."
Eu não podia acreditar, o lugar em que vivi minha vida inteira não existia mais. Eu não me sentia triste por isso, pelo contrário, não era apegado nem um pouco aqui e é ótimo não sentir mais aquele cheiro. Mas isso ainda é inacreditável, como algo pode desaparecer assim?
"Senhor, como isso aconteceu?"
"Eu não faço ideia, há algumas horas ouvi as pessoas falando que o lixão havia sido obliterado e assim vim correndo."
"Você veio correndo... Por quê?"
*Suspiro
"Eu sempre estive de olho em vocês, quero dizer, o único motivo para eu fazer negócios com os seus pais é apenas por vocês dois. Senão fosse assim, eu nem me daria ao trabalho de fazer isso."
"..."
Mais uma vez eu fico em silêncio, isso ainda não faz muito sentido. 'Ele estava de olho na gente? Isso é muito estranho, mas não posso me dar ao luxo de pensar nisso agora, tenho algo mais importante em mente.'
"Velho, onde está o meu irmão?"
"Eu não sei bem como te responder isso, foi muito difícil te encontrar nessa área tão grande. E como se fosse para dificultar, você estava embaixo de uma pilha de cinzas. Se ele estiver vivo, vai ser um milagre por si só, e digo mais, se o acharmos..."
Mesmo percebendo a pequena mudança na forma em que o garoto o chamava, ele ainda respondeu da melhor forma possível.
"... Não é possível. Ele tem que estar aqui, não tem como ele ter morrido!"
"Não me entenda errado, eu não disse que ele estava morto. Eu apenas disse que você foi o primeiro que encontrei"
"Isso significa que ele continua vivo, né?!"
"Não tome conclusões precipitadas, só porque você está bem, não quer dizer que ele também possa estar."
"Isso não importa velho! Se existir a chance, eu farei o possível e impossível pra encontrar ele!"
Com isso dito, eu rapidamente me levantei, meu corpo estranhamente não parecia sequer estar dolorido. Mas isso passou despercebido por mim, que logo em seguida corri para as pilhas de cinzas mais perto para procurar por meu irmão.
O velho ficou apenas alguns segundos parado no lugar, pois logo veio me ajudar sem pensar muito na situação pela sua expressão inexpressiva. E assim passamos o resto daquele dia...
***
Já era noite, e mesmo assim ainda estávamos procurando, não podia parar agora. Não importava quanto tempo levasse, o meu irmão importava mais que isso, ele era tudo que eu tinha, é a única coisa que importa nesse mundo.
Isso era o que eu pensava naquele momento, até que uma mão rudemente segurou meus ombros, me parando abruptamente.
Virando minha cabeça para trás, vi o velho. Ele tinha um rosto sério, mas dava para notar em seus olhos sua dor em dizer suas próximas palavras.
"É melhor pararmos por hoje, já procuramos bastante e já está a noite. É perigoso."
"Mas—
"Está tudo bem, podemos continuar amanhã se você quiser. Só estou dizendo que você deveria descansar por agora."
Me cortando abruptamente estava o velho me olhando nos olhos, sem me dar chance novamente ele me soltou e se virou, deu alguns passos e olhou de volta para mim. Abrindo a boca para dizer algo, ele parou por um momento e sorriu, só depois ele disse o que queria.
"Não fique aí, vamos. Vou preparar um belo jantar."
Uma vez atrás da outra, esse velho facilmente consegue o que quer. Mesmo tendo noção disso, eu não tinha o que dizer, ele estava totalmente certo. Desde descansar até comer, por isso eu relutantemente assenti e segui atrás dele.
Em poucos minutos chegamos a uma distância em que já era possível ver o portão da cidade, apenas agora a cidade era visível, pois obviamente o lixão ficava longe da cidade.
Eu já suspeitava antes, mas esse velho parecia realmente ser um cidadão dessa cidade. Não era algo ruim em si, mas era suspeito que alguém desse tipo, ajudava a gente por tanto tempo...
Finalmente, chegando diante do portão da cidade, consegui ver a magnitude de sua muralha. Nunca vi algo tão grande antes, até aquele lugar que passei na noite passada era muito menor em comparação.
O velho seguiu na frente e falou com algumas pessoas vestindo umas roupas estranhas. Eu fiquei para trás apenas observando a distância, depois de um tempo esperando percebi que as roupas deles eram bem legais, na verdade, elas brilham mesmo agora que já está tão escuro. É como se a própria lua fosse colocada em suas roupas.
Momentaneamente eles se viraram na minha direção enquanto conversavam com o velho, o velho também se virou e começou a gesticular alguma coisa, como eu não sabia o que ele estava fazendo eu apenas me aproximei.
Chegando perto o suficiente, o velho colocou seu braço em meu ombro e repentinamente falou coisas estranhas novamente.
"Esse é meu neto, ele vivia em uma pobre aldeia distante. Porém, ela foi atacada e destruída por bandidos, por isso ele está nesse estado lastimável."
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo, ele é meu avô? Se isso é verdade, então o que ele disse faz um pouco mais sentido agora. Eu não havia percebido, mas o rosto dos homens mostrava que eles não estavam convencidos.
"Uhm, qual é o seu nome garoto?"
"Então—
"Cale-se, estou falando com o garoto."
O velho foi cortado antes de falar qualquer coisa, e os homens me deram a voz de fala.
"Eu não sei, meus pais devem ter me dado algum nome. Mas eu não queria ter nada vindo deles e por isso não tenho nenhum, na verdade, já nem me lembro qual era."
"Vocês veem, os pais dele eram muito negligentes.
Os homens olharam para o velho e para mim, depois trocaram olhares entre si e assentiram. Um deles, olhando seriamente para o velho, abre a boca e avisa.
"Você ainda não me convenceu totalmente, mas como estamos de bom humor com algo que aconteceu hoje, vocês podem passar. Estaremos de olhos bem abertos em vocês."
"Agradeço."
O velho baixou a cabeça um pouco em agradecimento e depois um barulho alto ressoou.
*Rangido
Era apenas o portão sendo aberto, rapidamente o velho entrou e eu segui por trás. Em questão de alguns passos finalmente eu puder ver como era dentro da cidade. Entretanto, eu não estava exatamente feliz, eu me sentia vazio, ver a cidade era um sonho do meu irmão e meu, era desanimador ver isso sem ele.
"Não se preocupe, ele virá também. Por enquanto apenas aproveite."
Como se estivesse lendo minha mente, o velho comentou. Eu não sabia se era o certo a se fazer, mas pelo menos aquilo me deixou um pouco mais feliz.
"Sim!"
'Ele é só uma criança, e mesmo assim…' O velho observou o garoto assentindo ao que ele dizia, embora invés de ver um sorriso no garoto, lá havia apenas um rosto estoico. 'O que eles fizeram para deixar uma criança assim?'
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