Dois meses... Dois meses de perda, meu professor favorito, mais uma perda que eu tinha que carregar nos ombros, um sufoco que me carrega a alma. Mas! Eu aprendi a ser forte e a saber lidar com as situações mesmo que isso às vezes me faça ir longe. Até agora tenho feito boas escolhas, pretendo continuar assim.Olhei ao meu redor, eu ainda andava a arrumar as novas instalações e às vezes parecia que faltava mais alguma coisa. Ainda me lembro quando a professora Weasley me apresentou ao Deek e à sala das necessidades que se tornou um porto seguro em meus pensamentos.Olhei para a poção que estava a ser preparada sozinha, e recolhi alguns Dictamo para acrescentar. Respirei fundo e me recompus para poder finalizar o que resultou.Este mundo era incrível, Leon tinha razão quando dizia que eu iria aprender muita coisa, não me poderia esquecer de mandar uma carta para a minha mãe, já não falo com ela à um mês, me admira é ela não estar a entrar em contacto, desde o que aconteceu.O ministério me fez tantas preguntas e algumas eu não soube o que dizer, especialmente, porque jurei à professora Weasley que não comunicaria com ninguém sobre repositório, poucas pessoas sabem especialmente professores que estiveram lá naquele dia. Contudo, pouco deram detalhes ao director Black.A notícia se espalhou como um relâmpago, olhei para a última carta da minha mãe que estava sob a minha escrevaninha, porém ao lado estava uma carta indesejada, um aviso uma advertência ou até mesmo uma ameaça. Finalmente acabei de a preparar, satisfeita arrumei no armário de reservas, olhei para o relógio de cuco que marcava o ponto da minha partida para as próximas aulas.Ultimamente tenho procurado consolo nas coisas simples da vida, especialmente ajudar os elfos domésticos na cozinha, ontem cheguei a comer com eles o que passou a ser uma coisa muito divertida e hoje por falta de apetite nem tive vontade de me dirigir ao refeitório. Minha amiga Adelaide Oakes uma das primeiras pessoas que tive contacto e fiz uma boa amizade assim como Poppy Sweeting que conheci melhor depois.- Senhorita, Deek acabou de arrumar algumas secções da nova sala.Eu olhei para o homem de orelhas de duende e uma expressão desgastada.- Obrigada, Deek sua ajuda é muito valiosa. *Lhe sorri, transmitindo a minha gratidão.* - Vamos comer alguma coisa? Ainda tenho algum tempo antes da próxima aula. *Falei enquanto começava a andar até ao andar de baixo.*Porém sentindo que o elfo tinha ficado parado no sitio a onde estava.- Deek?Deek hesitou por um momento, como se ponderasse a oferta. Depois, respondeu com um tom baixo, mas sincero:- Oh, a senhorita é muito bondosa em convidar Deek, mas... Deek não gostaria de atrapalhar ou tomar mais do tempo da senhorita. A senhorita já tem tanto com que se preocupar... *Ele baixou os olhos, esfregando as mãos nervosamente.*Eu me aproximei dele, inclinando-me ligeiramente para olhar diretamente em seus olhos cansados.- Deek, a sua ajuda tem sido essencial para que eu me sinta em casa aqui. Você merece uma pausa tanto quanto eu. Além disso, sua companhia é muito agradável. *Sorri com sinceridade, esperando que ele entendesse o quanto eu valorizava seu apoio.*Deek ergueu o olhar lentamente, os olhos grandes e expressivos mostrando um misto de surpresa e gratidão.- Deek agradece as palavras gentis da senhorita. Talvez... Talvez Deek possa acompanhá-la, então. É muito raro que alguém convide Deek para uma refeição. *Ele esboçou um pequeno sorriso, tímido, mas verdadeiro.*Começamos a descer juntos em direção ao espaço a onde eu chamava de minha cozinha provisória, e o som reconfortante do relógio de cuco nos seguiu até o corredor. Enquanto caminhávamos, aproveitei o momento para compartilhar um pouco dos pensamentos que me afligiam.- Sabe, Deek, às vezes parece que há tantas responsabilidades em meus ombros que não consigo encontrar espaço para respirar. Mas quando estou aqui na sala, com sua ajuda ou mesmo apenas cuidado das coisas, sinto que estou recarregando as forças. *Meu tom era reflexivo, quase um desabafo.*Deek olhou para mim de lado, seu passo pequeno e apressado acompanhando o meu.- A senhorita tem carregado muito peso ultimamente. Deek entende... Quando o mestre anterior de Deek não tratava os outros bem, Deek sentia o mesmo. Mas Deek aprendeu que um pouco de bondade e paciência consigo mesmo pode ajudar. A senhorita é muito forte, mas até os mais fortes precisam descansar, não acha?As palavras simples e sinceras do elfo tocaram meu coração. Era fácil esquecer que mesmo aqueles que nos ajudavam também carregavam suas próprias histórias e cicatrizes. Contudo tinha mais algo que me andava a incomodar alguns dias.Sonhos que me tem envolvido e deixado as minhas noites em claro, não querendo preocupar Deek ou quem fosse com isso.Depois de comer algo e desfrutar da companhia do Deek, me dirige na direção da sala "Defesa Contra as Artes das Trevas", pensando nos sonhos que tive, sendo que num deles.[Flashback]Eu era uma criança a brincar com outra, parecia uma versão masculina de mim. Ambos se provocavam e ao mesmo tempo trocavam um momento entre eles, era tão bonito em se ver, um homem cujo ambas as crianças chamaram de pai apareceu no mesmo instante e os chamou para dentro.[Fim Flashback]Fui tirada dos meus pensamentos com a voz doce de Poppy, olhei para trás encontrando-a acenar para mim- Lívia! *Chamou Poppy, acenando energicamente enquanto se aproximava com um sorriso caloroso no rosto. Seu tom era animado, mas carregava a suavidade que sempre fazia Lívia se sentir à vontade.* - Pensei que talvez tu tivesses te perdido no caminho para a aula.- Perdida em pensamentos, talvez... *Respondi com uma risada fraca, ajustando a alça do meu livro.* - Como vai, Poppy? Parece animada hoje.- Ah, bem... sabe como é, sempre encontro alguma coisa que me deixa animada! *Seus olhos brilhavam com entusiasmo.* - Hoje de manhã, descobri que a coruja da torre leste tem um ninho de filhotes! São tão pequeninos, Lívia, tu devias vê-los.Eu ri levemente, sentindo a leveza que sua presença trazia. Poppy tinha esse talento especial para encontrar beleza nas coisas mais simples e partilhar isso de forma contagiante.- Deve ser encantador... *Transmiti o meu melhor sorriso, sentindo a empolgação de minha amiga.*- Ah é verdade, acho que a Adelaide já te tenha contado, mas chegou um novo aluno ontem.- Um aluno novo? *Perguntei, surpresa, enquanto caminhávamos pelo corredor que levava à sala de aula. Olhei para Poppy, cujos olhos brilhavam com aquele entusiasmo característico de quem adorava compartilhar novidades.*- Sim! *Ela respondeu, puxando levemente minha manga como se quisesse enfatizar a empolgação.* - Chegou ontem à noite. Adelaide e eu ouvimos falar dele na sala comunal. Parece que veio de uma escola diferente, mas ninguém sabe exatamente de onde. Ele ainda não falou muito com ninguém.Eu fiquei intrigada com essa informação e um pressagio surgiu me arrepiando como algo estivesse prestes acontecer e a sair fora do meu controlo, o que era estranho, eu raramente era destas coisas.- E já se sabe de que casa para onde foi? *Perguntei, tentando disfarçar a curiosidade crescente sobre o novo aluno.*Poppy sorriu de forma travessa, a expressão iluminando seu rosto, como se estivesse prestes a compartilhar algo fascinante.- Ah, é claro! *Ela fez uma pausa dramática, como se quisesse aumentar a tensão.* - Ele foi para Gryffindor. *Ela disse com um brilho nos olhos.*- Hmm, interessante! *Exclamei, achando a reação de Poppy engraçada.*Ela se aproximou um pouco mais de mim e sussurrou em meu ouvido como quisesse compartilhar um segredo.- Pelo o que dizem ele é muito bonito, e estará na nossa turma.- Parece que vou deixar de ser aluna nova no 5º ano. *Ri, sentindo um misto de alivio. Aquela atenção toda que o pessoal dava por eu ser nova, às vezes me sufocava.*Nós rimos mutuamente, eu gostava tanto destes momentos entre meus amigos e eu era muito confortante, claro que tinha os momentos menos bons, mas qual é amizade que não os tem? Olhei à volta encontrando Ominis a conversar com Sebastian. Sebastian parecia mais descontraído hoje.Nós chegamos perto deles.- Bom dia rapazes, tudo bem? *Sorri, tentando esconder um pouco o nervosismo, especialmente por Sebastian estar ali, com aquele silêncio que sempre me fazia sentir desconfortável.*Poppy assim como eu os cumprimentou. Já fazia quase dois meses que este tinha começado a ignorar as minhas cartas ou até mesmo as minhas tentativas de iniciar uma conversa.[Dois meses antes]Estava andar pelos corredores, tinha recebido a carta dele a me pedir para o encontrar na sala secreta, eu ainda andava um pouco avalada com a perda do professor Fig, mas também sabia o quanto Sebastian precisava de mim.Ominis estava para deixar de falar com Sebastian, mas consegui o convencer a não o fazer, eu tinha admiração por essa amizade que os dois tinham, e nem eu mesma iria me afastar, estimava muito amizade que tínhamos construído desde que cheguei a Hogwarts, não foi fácil confiar em Sebastian, mas ele me deixava intrigada alguns momentos.Creio que o momento que mais senti conexão ou melhor empatia pela sua situação e o facto dele me ter ajudado na biblioteca.Eu me aproximei do relógio, olhei para os lados tentando ver se alguém estaria por perto e tendo um sinal positivo abri com a ponta da minha varinha a porta secreta por trás dos ponteiros. Passei pelas grades de ferro e ali estava ele, sentado, com os olhos fixos em algum ponto distante, como se estivesse imerso em seus próprios pensamentos, perdido em algum lugar onde nada mais existia além do que o afligia.O ambiente da sala secreta estava ainda mais sombrio do que de costume, e a única luz vinha da chamas dos candeeiros de fogo, lançando sombras largas nas paredes.- Sebastian? *Chamei baixinho, hesitando por um momento ao me aproximar dele. Eu precisava de o tirar daquele momento solitário, mas também não sabia o que mais fazer.*Ele ergueu a cabeça lentamente, os olhos cansados e profundos como se carregasse o peso do mundo em seu olhar. A expressão no rosto dele era fechada, mas havia algo mais ali, algo que me fez sentir um frio no peito. Ele estava quebrado, de uma forma que eu nunca tinha visto antes.- Recebi a tua coruja. *Continuei* - O que aconteceu? *Estreitei os lábios e levantei de ligeiro a sobrancelha.*Sebastian deu um longo suspiro.- O Ominis falou com Anne, ela disse que eu deveria de pagar pelo o que eu fiz com nosso tio. *Ele falou com um olhar distante como ainda tivesse de avaliar essa situação.* - Porém ela não me vai entregar. E disse que a culpa que vou carregar até à morte já é o suficiente.Eu podia ver a tristeza a se formar em sua face, meus olhos se encheram de empatia.- Sinto muito, mas pelo menos poderás ter a chance de seguir em frente agora. *Tentei mostrar o lado positivo da situação.*Porém creio que minhas palavras não o atingiram, seu olhar ainda se refletia na dor e no cansaço das noites possíveis não dormidas e uma dor ainda mais profunda.- Eu acho que perdi a minha irmã completamente. Ela... *Ele engasgou nas palavras como elas fossem sufocantes, contudo, seu orgulho não o deixou bacilar.* - Ela não me quer ver.Meu coração se afundou com suas palavras, eu sabia que quanto Anne como Ominis estavam magoados com Sebastian, eu ainda não entendia a cem porcento como as coisas saíram tão do controlo, apenas eu e o Ominis sabíamos uma coisa. Aquele livro teve mais influencia em Sebastian do que geralmente reagiria sobre as situações.Eu dei mais um passo em sua direção, me olhar fixo no garoto à minha frente, instintivamente conduzi minha mão à parte de trás de seu pescoço e o puxei para que repousasse a cabeça em meu ombro, senti ele a ficar tenso possivelmente com meu gesto repentino, mas não me importei.- Está tudo bem em chorar às vezes, Sebastian. *Tentei-lhe passar coragem.* - No final isso só te torna forte.Sebastian permaneceu imóvel por um instante, como se lutasse internamente contra a vulnerabilidade que se recusava a aceitar. Mas, lentamente, o peso de tudo o que carregava o quebrou. Ele suspirou profundamente, um som cheio de cansaço, e finalmente permitiu que a cabeça repousasse em meu ombro e me abraçando forte.- N-não a posso culpar... *Murmurou, a voz baixa, quase inaudível.* - N-não poderia culpar nenhum de vocês se desistirem de mim. *Ele hesitou, como se tivesse medo de continuar.* - Vocês acreditaram em mim, e eu decepcionei todo o mundo.Suas palavras me atingiram como um feitiço doloroso. Sebastian sempre teve essa bravura tão intensa, quase imprudente, mas agora ele estava completamente despido dessa fachada, minhas lágrimas se misturam com as dele como a dor dele fosse a minha o que não era o caso. Ou possivelmente era o facto da ultima perda estar a circular num momento que não era para estar.- Não digas isso. *Apertei de leve seu ombro, tentando trazer firmeza à minha voz, mas não pude esconder a tristeza que sentia ao ouvir aquilo.* - Tu cometes-te erros, Sebastian, erros graves, mas isso não significa que tudo está perdido. A Anne só precisa de tempo, um dia ela vai ser capaz de te perdoar.Ele levantou a cabeça de ligeiro e me encarou, meus olhos cristalinos brilhavam derivado às lágrimas assim como os olhos verdes escuros do sonserino, nós estávamos num momento vulnerável que nenhum dos dois sabia como lidar direito.- Espero que tenhas razão. *Disse Sebastian, depois de um novo suspiro.* - Não posso mudar o passado, *Ele limpou minhas lágrimas com um gesto gentil mesmo que sua expressão estivesse refletida a dor e seriedade.* - Mas posso tentar reparar as minhas ações. Devo tudo a ti e ao Ominis.Eu ri fraco.- Realmente não foi fácil, mas acredito em ti, Seb. *Chamei pela alcunha que este um dia pediu para o tratar, era raro eu o chamar assim derivado aos olhares que rondavam o castelo. Não queria chamar atenção.*Especialmente não poderia fazer uma ação como estaria a fazer naquele momento, mesmo que fosse um amigo querido para mim, contudo eu queria mostrar ao Sebastian que estava lá para ele, acontecesse o que acontecesse.- Tive um pressentimento de quando nos conhecemos, mesmo que eu estivesse relutante no começo.Ele esboçou um sorriso tão fraco como a minha pequena risada. Eu limpei as lágrimas dele com a ponta da manga da minha camisa.- Parece que faz muito tempo. *Ele fez uma pausa.* - Obrigada. *As palavras eram simples, mas havia um peso genuíno nelas.* - Não tenho ideia do que esteja por vir, mas sou grato pela tua amizade.Nós nos olhamos por um tempo, um olhar intenso no silêncio que nos rodava, o barulho do farfalhar das chamas de cima, nos acordando de um mundo que nós desconhecíamos, como nada ao nosso redor existisse. Sebastian soltou minha cintura e ficamos um pouco sem jeito.Mas o olhar de Sebastian mudou para um ainda mais sério um que eu desconhecia, uma expressão de afastamento, eu o olhei confusa e sem aviso ele começou a se dirigir à entrada, antes de ele sair pela porta que se abria à sua frente. O garoto olhou de ligeiro para trás.- Estou feliz por estares em Hogwarts.E com isso saiu, me deixando perdida em pensamentos e confusão, mas uma coisa eu sabia, ele estaria mais aliviado depois de nossa conversa e isso me deixava satisfeita.[Tempos atuais]Sebastian manteve seu olhar em Ominis enquanto este falava, mas era evidente que apenas parte de sua atenção estava ali. Ele evitava cruzar os olhos comigo, e isso ainda me incomodava. Não era do feitio de Sebastian se esquivar, mas desde aquele dia na sala secreta, ele parecia carregar um muro invisível entre nós.Ominis foi o primeiro a perceber minha presença. Ele se virou na minha direção com um leve sorriso, sempre educado, mas havia algo diferente em seu tom, como se quisesse evitar uma conversa mais longa naquele momento.- Lívia, bom dia. *Sua voz soava gentil como sempre, mas seus olhos buscaram Sebastian de relance.* - Preparada para a aula?- Bom dia, Ominis. Claro, pronta como sempre. *Tentei manter meu tom leve, mas meus olhos traíram minha tentativa de neutralidade, pousando em Sebastian por um momento.* - E vocês?Sebastian finalmente olhou para mim, mas foi apenas um olhar curto, sem o calor de antes. Ele deu um leve aceno de cabeça.- Estamos prontos, sim. *Ele respondeu de forma direta, mantendo-se mais distante do que eu gostaria.*Eu bati as mãos uma na outra fingindo não me importar com as ações de Sebastian.- Ok, rapazes nos vemos na aula. *Falei puxando o braço de Poppy comigo.*Poppy, sempre perceptiva, inclinou-se para sussurrar ao meu ouvido enquanto caminhávamos para a sala de aula.- Ele está diferente com contigo, não está?Eu a olhei rapidamente, sem saber exatamente como responder. Por mais que a atitude de Sebastian me magoasse, não queria trazer mais atenção a isso.- Talvez seja só impressão minha, mas... sim, está um pouco estranho. *Admiti, mantendo minha voz baixa.*Poppy franziu o cenho, claramente desconfortável por me ver nessa situação, ela mudou o assunto.- E ainda tens tido aqueles sonhos?Eu suspirei mordendo o lábio inferior de leve.- Podemos não falar disso não aqui.Poppy acenou compreensiva ou pelo menos tentou. Eu precisava alivar a tensão do momento.- Bem e aquele ninho que me tinhas falado. Tinhas dito Falcãos, corvos... *Fingi uma falsa advinhação para a provocar.*Poppy ficou com uma expressão de indignação e bufou, o que me fez rir.- É coruja. *Ela me olhou desconfiada enquanto me corrigi.* - Para de me zoar.- D-desculpa, mas é impossível. *Com a mão na barriga, tentei conter a riso.* - Ficas muito fofa quando ficas assim amiga.Poppy fingiu uma risada sem graça.- Muito engraçadinha.Tentei abafar minha empolgação, contudo persenti que estava a ser observada, o que me fez endireitar a minha postura, eu precisava manter meu equilíbrio, porém eu não estava a fazer nada de errado, mas sabia que todos os movimentos que eu daria seriam transmitidos.Respirei fundo sabendo que não teria eles a me vigiarem nas aulas, só de me lembrar das vezes que tive que confundir a cabeça dessa gente para que não me seguissem quando tinha alguma missão ou algo a mais, me dava calafrios.Entrei na sala tentando ignorar o burburinho que dominava o ambiente. Garotas de várias casas cochichavam animadas, trocando olhares furtivos na direção do canto da sala. Eu não precisava olhar para saber que era sobre o novo aluno. A novidade parecia um ímã para a atenção de todos, especialmente quando se tratava de alguém de Gryffindor.Soltei um suspiro, ajustando o peso dos livros em meus braços e procurando meu lugar habitual. Era sempre o mesmo canto discreto, perto da janela a onde me dava uma visão clara sobre o ambiente à minha volta, e também longe da agitação e das vozes altas. Para mim, isso era apenas mais um dia normal de aulas.Poppy que estava a meu lado, os olhos brilhando com uma curiosidade que era impossível conter. Ela me cutucou de leve no braço.- Lívia, olha só. Ele está bem ali. *Sussurrou com empolgação, inclinando-se ligeiramente para mim.*- Quem? O novo aluno? *Perguntei distraída, folheando meu livro à procura do marcador da última aula. Ainda tinha algumas matérias em artes das trevas que eu ainda andava a praticar.*Ela assentiu com energia, o cabelo castanho balançando com o movimento.- Sim! E olha só quantas garotas estão ao redor dele. Parece que virou uma atração. *Poppy lançou um olhar rápido para o canto agitado da sala, claramente se divertindo com a situação.* - Vai, dá uma olhada!Resisti à tentação de seguir seu olhar. Em vez disso, balancei a cabeça com um sorriso leve.- Tu sabes que não ligo para essas coisas. Se ele está cercado de gente, bom para ele. Prefiro evitar tumultos. *Respondi com naturalidade, virando a página do livro que estava à minha frente.*Poppy revirou os olhos, mas sua expressão ainda era calorosa.- Tu és impossível às vezes. *Disse ela com uma risada suave.* - Mas tudo bem, acho que é por isso que gosto tanto de ti.Eu a olhei com um sorriso de gratidão.- Obrigada, aprecio tua consideração. *Agradeci com um gesto nobre.*Tinha certos hábitos que eu ainda não tinha perdido e isso às vezes era um perigo para esconder o meu segredo, mas era mais forte que eu "como eu ia desacostumar com um hábito de infância?", muitas das vezes fazia-me essa pergunta.- É mas ele parece comum. *Falou Poppy, como avisão não fosse toda boa.*- O que? *Perguntei curiosa.* - Perdes-te o interesse?A vi a revirar os olhos e aquela excitação de antes a sumir.- Nada disso, mas ele parece do tipo convencido. *Ela cruzou os braços, mas com um olhar calmo*Então, com suas palavras, meus olhos pousaram no canto onde estava o novo aluno. Ele era alto, com cabelo castanho bagunçado que parecia cair no lugar certo sem esforço. Seu sorriso era educado, mas tinha um ar animado, como se estivesse a gostar da atenção que levará. Mesmo de longe, era possível perceber um brilho no olhar dele, algo que o fazia parecer... familiar.Familiar demais para meu gosto.Quando nossos olhos se encontraram, algo dentro de mim congelou. Por um momento, tudo ao meu redor pareceu se desvanecer. Não era possível. O rosto dele... era como olhar para um reflexo distorcido de mim mesma. Não idêntico, claro, mas havia semelhanças gritantes, como se alguém tivesse moldado um irmão que eu nunca soube que existia.A sala girou à minha volta, os sons começaram a desaparecer, e tudo se tornou em nevoeiro. Sentia-me a cair, como se o mundo estivesse a desmoronar, até que um braço forte me envolveu, segurando-me antes que o chão me tocasse. O cheiro de eucalipto e terra invadiu as minhas narinas, e a voz familiar de Sebastian soou no meu ouvido, frágil e abafada.- Lívia... *Ele sussurrou, a preocupação evidente na sua voz*Mas eu já não consegui ouvir mais.