- Esse é o nome de uma empresa? – Felipe questionou, logo após também ver o cartão de visitas sobre a clareira.
- Creio que seja sim.
Tudo o que eu sabia sobre a RamersTech era que ela era uma empresa de tecnologia inovadora que operava antes do desaparecimento da humanidade. No auge de seu sucesso, a empresa era conhecida por sua excelência em pesquisa, desenvolvimento e produção de dispositivos eletrônicos avançados, que impulsionavam a sociedade em direção a um futuro cada vez mais conectado e automatizado.
- Mas qual o sentido de isto estar aqui? – Liz perguntou. Isso era um mistério tanto para ela quanto para nós.
- Talvez essa seja a próxima pista – disse ao grupo.
Os dois me olharam simultaneamente com um olhar de confusão.
- Não acho que essa seja uma pista. Não tem muitas informações contidas aqui nesse cartão – ela confirmou, com suas palavras fazendo total sentido.
Na frente do cartão, um logotipo distintivo da RamersTech estava impresso em alto relevo, revelando um design futurista e elegante. O logotipo apresentava linhas suaves e curvas, representando a fusão harmoniosa de tecnologia e arte. Era uma representação estilizada de circuitos eletrônicos e sinais digitais, simbolizando a expertise tecnológica da empresa. Sua cor predominante era um gradiente entre o verde escuro para a cor preta.
As informações de contato estavam exibidas de forma clara e legível no verso do cartão. O nome da empresa, RamersTech, é impresso em letras maiúsculas, logo acima do título Tecnologia. Abaixo, estavam os detalhes de contato, incluindo endereço de escritório, número de telefone e endereço de e-mail. Todos escritos com uma tonalidade acinzentada.
Embora o cartão estivesse manchado pela umidade e tenha algumas bordas dobradas, ele ainda emanava uma sensação de sofisticação e profissionalismo.
- Mas, talvez devêssemos ir para esse endereço?
- Totalmente improvável Dan, essa brincadeira não deveria passar dos limites da floresta – Felipe disse, respondendo-me.
Liz, com o cartão em mãos, começou a caminhar de volta em direção a trilha.
- Acho melhor voltarmos logo. – Liz sugeriu – Talvez o objetivo seria levar isso de volta para o acampamento.
Eu e Felipe concordamos com um aceno de cabeça e nos juntamos a Liz enquanto voltávamos pelo caminho que percorremos. Embora a principal preocupação fosse esse assunto sobre o cartão dessa empresa, eu também estava inquieto com relação ao tempo. Havia sido estabelecido um prazo de duas horas para a conclusão da busca, e eu tinha a sensação de que já havia se passado mais de uma hora. Sob a densa cobertura das árvores, era difícil ter uma noção precisa do tempo, tornando desafiador acompanhar a passagem dos minutos. Além disso, eu ainda não estava completamente acostumado a determinar as horas pela posição do sol. Ter um relógio seria extremamente útil em momentos como esse, facilitando o acompanhamento do tempo de forma mais precisa.
Após alguns minutos, chegamos finalmente de volta ao acampamento. Ao nos aproximarmos, avistamos diversas pessoas aproveitando o ambiente. Alguns estavam sentados nas mesas de piquenique, desfrutando de momentos descontraídos, enquanto outros se dedicavam a jogos de cartas. Um pequeno grupo desfrutava de uma refeição animada, envolvidos em conversas animadas enquanto se deliciavam com a comida. A atmosfera do acampamento era acolhedora e cheia de energia, proporcionando um contraste agradável em relação à serenidade da floresta que tínhamos acabado de deixar para trás.
Liz acelerou o passo assim que avistou Matias próximo a uma das mesas de piquenique, concentrado em um mapa espalhado sobre a superfície. Deixando a gente para trás, ela levantou o cartão de visitas que estava em sua mão e gritou:
- Ótimo tesouro Matias!
Liz parecia irritada.
- Calma Liz, obviamente esse não é o tesouro. É apenas algo para simbolizar que vocês concluíram a busca.
Logo eu e Felipe também chegamos próximos a eles.
- Então qual seria o tesouro? – questionei Matias.
- Bom, além de vocês mais dois grupos saíram. Mas vocês foram o primeiro grupo a retornar, então tecnicamente vocês venceram! – Matias começou – A noite, durante o jantar, eu revelo o prêmio para vocês, vamos apenas aproveitar essa tarde!
Eu e Felipe concordamos com a decisão, embora Liz não parecesse muito satisfeita em ter que esperar. Ela balançou a cabeça em concordância e se dirigiu a uma das mesas onde um grupo estava jogando cartas.
Enquanto observava Liz se afastar, lembrei-me das minhas dores de cabeça. Surpreendentemente, elas tinham desaparecido desde que saímos do acampamento, provavelmente devido ao efeito do medicamento que tomei.
- Ah, lembrei que deixei algumas roupas jogadas dentro do carro. Preciso arrumá-las – comentei, me virando para Felipe.
- Está tudo bem, você pode ir lá resolver isso – respondeu Felipe tranquilamente.
Deixei Felipe onde estava e segui em direção à minha barraca. Ao chegar lá, encontrei as chaves do carro jogadas em cima dos cobertores e peguei-as. Dirigi-me até a parte frontal do acampamento, destravei o carro e abri a porta traseira. Ao olhar para os bancos de trás, deparei-me com um amontoado das minhas roupas, exatamente como as tinha deixado jogadas ali no dia anterior. Decidi aproveitar a oportunidade e comecei a dobrá-las ali mesmo, organizando-as de maneira mais arrumada.
Após terminar de dobrar minhas roupas, peguei o monte cuidadosamente e o levei de volta para a minha barraca. Abri o zíper dela e entrei, encontrando meu espaço pessoal e razoavelmente organizado para acomodar as roupas devidamente. Coloquei-as em uma pilha arrumada ao lado da minha mochila, garantindo que estivessem prontas para o uso posterior.
Satisfeito com a organização, dei uma rápida olhada ao redor da barraca para verificar se tudo estava no lugar. Minha cama improvisada estava arrumada e confortável, e meus pertences pessoais estavam cuidadosamente organizados nos bolsos da barraca.
Rapidamente pude ouvir passos sobre a grama, vindo em direção a minha barraca.
- Como foi sua busca? – Dante vinha em minha direção.
- Foi tudo bem – respondi a ele. – Onde você estava?
- Pescando.
- Pegou algo?
- Nada.
- Ah.
Dante deu uma leve risada com esse nosso recente diálogo.
Ao sair da barraca, percebi uma sutil mudança no clima que pairava sobre o acampamento. A atmosfera de alegria e felicidade que antes preenchia o ar parecia ter dado lugar a um sentimento de desconforto. As pessoas ao redor não exibiam mais os sorrisos e as conversas animadas de antes. Em vez disso, seus rostos mostravam traços de preocupação e suas expressões transmitiam uma sensação de indisposição.
Havia algo no ar que indicava que algo não estava bem. O entusiasmo contagiante do acampamento havia sido substituído por uma atmosfera mais tensa e silenciosa. Era como se uma nuvem de apreensão pairasse sobre o acampamento, afetando o humor e a energia de todos ao redor.
Curioso com a mudança de ânimo das pessoas ao redor, fiz a pergunta que pairava em minha mente.
- O que aconteceu com todo mundo? – perguntei, buscando entender o motivo por trás dessa súbita transformação.
Dante, com uma expressão preocupada, respondeu:
- Eu não sei ao certo. Quando voltei para cá, todos já estavam assim, desanimados e abatidos.
Observando Dante de perto, percebi que ele parecia um pouco cansado. Decidi abordar a questão diretamente.
- E você, Dante? Está se sentindo bem? – perguntei, demonstrando minha preocupação.
Dante coçou a cabeça levemente, refletindo antes de responder.
- Estou mais ou menos. Sinto algumas dores de cabeça, mas no geral estou bem – admitiu, revelando o desconforto que estava enfrentando.
- Parece que não estamos sozinhos nisso. Eu também tive algumas dores, mas elas melhoraram depois que tomei alguns remédios – respondi. – Se eu e você estamos com os mesmos sintomas, então...
Dante pareceu surpreso com a revelação e logo expressou sua preocupação.
- Será que todos estão se sentindo assim? - questionou, demonstrando sua inquietação com a possibilidade de todos estarem passando pelos mesmos sintomas.
Olhei ao redor, observando as pessoas que antes estavam animadas e agora pareciam desanimadas. A ideia de que todos estavam enfrentando algum tipo de mal-estar me preocupava.
- Não sei ao certo, mas a mudança repentina de ânimo e os sintomas que estamos experimentando parecem indicar que algo não está bem com todos aqui – comentei, ecoando os pensamentos de Dante.
A incerteza pairava no ar enquanto tentávamos entender o que poderia estar afetando o acampamento de maneira tão generalizada. Era evidente que algo estava acontecendo, mas precisávamos descobrir a causa para encontrar uma solução.
- Só há uma maneira de descobrir – Dante declarou determinado, iniciando uma caminhada em uma direção específica. – Vamos perguntar.
Concordei com ele e o segui prontamente. Não precisamos ir muito longe. Caminhamos em direção ao centro do acampamento, passando por algumas pessoas no caminho. Seus semblantes realmente refletiam o desconforto que estavam sentindo. Muitas delas tossiam incessantemente, revelando que algo estava realmente afetando a saúde de todos no local.
A cena ao redor apenas aumentou nossa preocupação e senso de urgência em encontrar respostas. Seguíamos adiante, até encontrarmos Matias carregando algumas caixas para uma das mesas de piquenique.
- Matias, o que está havendo? – Dante perguntou a ele, indo direto ao ponto que queríamos.
- Olá Dante. Eu não sei, o pessoal só ficou ruim – Matias respondeu – De uma hora para a outra muitas pessoas começaram a ficar com dores de cabeça, febre, tontura...
Dante e eu nos entreolhamos.
- E como você está? – perguntei a Matias, tentando descobrir se sua saúde estava como a de todo mundo.
- Honestamente, eu também comecei a ficar meio mal. Algumas dores de cabeça e tontura – assim que conclui sua frase ele se virou para a caixa que havia colocado acima da mesa e a abriu. Retirando dali de dentro uma caixa de analgésicos. – Mas nada que alguns remédios não resolvam. Se puderem me ajudar a distribuir essas caixas seria perfeito.
Eu e Dante nos entreolhamos novamente, preocupados com toda essa situação, mas apenas assentimos em ajudá-lo e pegamos algumas caixas.
Fui em direção a várias pessoas distribuindo os analgésicos. Mas sempre, antes de entrar para alguém, eu sempre perguntava qual era os sintomas que estava sentindo, e eram sempre os mesmos sintomas: dores de cabeça, febres e tonturas.
Essa constatação só aumentou minha preocupação, pois indicava que todos estavam enfrentando os mesmos sintomas. Era evidente que havia uma condição de saúde comum afetando o acampamento. As expressões de desconforto e as respostas unânimes corroboravam a gravidade da situação.
Enquanto continuava a distribuir os analgésicos, tentei transmitir uma mensagem de tranquilidade e encorajamento a cada pessoa. Expressei a importância de descansar, manter-se hidratado e tomar os medicamentos conforme as instruções. No entanto, era necessário ir além do alívio sintomático e descobrir a causa raiz desse mal-estar generalizado.
Com isso em mente, decidi iniciar uma espécie de levantamento informal entre os acampados. Conversava com cada pessoa, fazendo perguntas sobre suas atividades recentes, locais visitados na floresta e qualquer evento ou circunstância que pudesse estar relacionado aos sintomas. Minha intenção era identificar um padrão que nos ajudasse a entender o que estava acontecendo.
Enquanto escutava as histórias e relatos das pessoas, uma série de possibilidades começou a se formar em minha mente. Poderia ser uma infecção transmitida por algum inseto? Ou talvez algo relacionado à água do lago que todos costumavam frequentar? Outra hipótese era a presença de algum tipo de planta ou substância tóxica na região. As conjecturas se entrelaçavam, mas eu sabia que precisava reunir mais informações para confirmar ou descartar cada uma delas.
Exausto, senti as dores de cabeça retornando à medida que o cansaço se instalava em meu corpo. Haviam se passado várias horas desde que comecei a distribuir os medicamentos e a interagir com tantas pessoas em busca de conforto e respostas.
Com passos lentos, me dirigi até uma caixa que continha os medicamentos, buscando alívio para minha própria dor. Encontrei Matias e Dante ao lado da mesa onde a caixa estava posicionada. Ao observá-los, percebi que estavam ainda mais abatidos do que antes, seus semblantes carregados de exaustão e desconforto.
Tudo ao nosso redor parecia envolto em uma névoa de incerteza e frustração. Apesar de todos os esforços em ajudar e procurar soluções, a causa do mal-estar que afetava o acampamento ainda permanecia desconhecida.
Enquanto eu pegava alguns comprimidos para aliviar a dor, troquei um olhar cansado com Matias e Dante.
- Esses são para você? – Dante me questionou.
- Sim – afirmei. – Parece que as dores voltaram...
- Os remédios não estão ajudando ninguém... – Matias parecia bastante tenso com a situação.
À medida que o tempo passava, era visível que a condição das pessoas ao redor estava se deteriorando. O mal-estar que antes se manifestava de maneira moderada agora se intensificava, tornando-se mais pronunciado e incômodo. Os rostos estavam pálidos e cansados, expressando uma mistura de desconforto ainda maior.
Onde antes havia tosses ocasionais, agora se ouviam acessos mais frequentes e intensos. Os gemidos de dor e os suspiros exaustos ecoavam pelo acampamento, denunciando a crescente gravidade dos sintomas. A febre, outrora controlável, parecia ganhar força, deixando as pessoas ainda mais debilitadas.
As conversas tornaram-se escassas, substituídas pelo silêncio pesado que pairava no ar. Os sorrisos desapareceram, substituídos por olhares preocupados e carregados de apreensão. Era evidente que a situação estava se agravando além do que poderíamos compreender.
Eu observava com consternação o rosto de cada pessoa que cruzava o meu caminho. O impacto do desconforto era palpável em seus semblantes, nos olhares cheios de angústia.
Já estávamos nessa situação a algumas horas. O sol já estava se pondo e em breve, precisaríamos descansar.
Enquanto me movimentava pelo acampamento, ajudando e oferecendo os medicamentos, sentia as dores de cabeça se intensificando gradualmente. A exaustão começava a pesar em meus ombros, e minha energia parecia diminuir a cada momento que passava.
Cada passo era uma luta, e minha visão ficava turva por momentos breves. Sentia-me tonto e desorientado, como se o mundo ao meu redor estivesse distante e embaçado. As dores no corpo começavam a se manifestar, agravando a sensação de mal-estar que me consumia.
A febre crescia dentro de mim, aquecendo meu corpo e deixando-me com calafrios. Meu rosto ficava pálido, minha pele úmida de suor. Cada vez mais, a doença parecia dominar meu organismo, minando minhas forças e me deixando frágil.
Tentei resistir, forçando-me a continuar em meio àquela situação desafiadora. Mas cada vez mais, minha condição se deteriorava, reduzindo minha capacidade de agir. A dor se tornava insuportável, quase debilitante, roubando minha energia e clareza mental.
Enquanto via o estado das outras pessoas piorar, percebia que também estava sucumbindo aos sintomas. A minha própria luta contra a doença se tornava mais difícil a cada instante. Sabia que precisava encontrar uma solução, um alívio para o sofrimento que me consumia.
Com cada batida acelerada do meu coração e cada arrepio que percorria meu corpo, eu me via mergulhado em um estado de fraqueza crescente. Meu próprio corpo se tornava um inimigo, uma prisão da qual eu não conseguia escapar.
Apesar de todos os esforços para ajudar os outros, estava cada vez mais claro que eu também precisava de ajuda. Meu estado piorava rapidamente, e a incerteza do que estava acontecendo só aumentava minha angústia.
Enquanto eu lutava para manter-me de pé, um cenário terrível se desenrolava ao meu redor. Pessoas começaram a desmaiar, caindo no chão como marionetes sem controle. Gritos ecoavam pelo acampamento, misturados com gemidos de agonia.
Um ar de desespero tomou conta do ambiente, e o pânico se espalhou rapidamente. Vi uma pessoa tossindo violentamente, expelindo sangue com cada esforço. Outra se contorcia no chão, agarrando-se ao próprio estômago com uma expressão de tormento.
- Meu Deus, o que está acontecendo? – exclamei, horrorizado, enquanto olhava para Dante e Matias, que estavam ao meu lado.
- Isso é terrível! As pessoas estão ficando cada vez piores, não importa o que façamos! - Matias respondeu, com a voz carregada de angústia.
Enquanto eu tentava processar o caos ao meu redor, vi outros sintomas graves se manifestando. Pessoas cambaleavam, incapazes de se manterem em pé, seus corpos trêmulos e frágeis. Alguns seguravam suas cabeças, gritando de dor. Outros vomitavam incessantemente, seus rostos contorcidos em agonia.
Nossas vozes se misturaram aos gritos desesperados das pessoas ao nosso redor. A situação era caótica e aterrorizante. A cada instante, mais pessoas caíam no chão, a doença se espalhando como um veneno letal.
Com o coração apertado, eu me juntei a Dante e Matias em uma corrida frenética para tentar ajudar quem ainda pudesse ser salvo. Cada passo era uma batalha contra minha própria fraqueza, mas não podíamos desistir. Estávamos determinados a encontrar uma solução, mesmo que parecesse impossível.
Eu me esforcei ao máximo para continuar ajudando, apesar do meu próprio estado debilitado. A cada passo vacilante, meu corpo parecia mais pesado, a visão embaçada e as pernas trêmulas. Minha respiração se tornou superficial e as tonturas me envolveram como uma névoa densa.
Enquanto eu tentava manter-me em pé, meu corpo não aguentou mais. Minhas pernas cederam sob meu peso exausto, e eu caí de joelhos no chão, lutando para manter a consciência. O som ao meu redor se tornou abafado, distante, enquanto minha visão escurecia gradualmente.
O cansaço avassalador me consumiu, arrastando-me para a escuridão do desmaio. Minha mente se desligou, incapaz de enfrentar a terrível realidade que nos cercava. No último instante de consciência, ouvi vozes preocupadas ecoando ao longe, misturadas aos gritos desesperados dos que ainda lutavam contra a doença.
E então, o silêncio e a inconsciência me envolveram completamente, levando-me para longe daquele pesadelo sombrio que havia se instalado no acampamento.