Com seus braços erguidos e protegendo seu rosto, Alexander se mantinha firme no chão, segurando e não permitindo que toda aquela tremenda ventania, gerada pelo descontrole do garoto, o carregasse para longe.
Observando que a cada segundo que se passava, e mais ele gritava. Sua energia aumentava e crescia mostrando não haver limites. O solo da região começava a rachar e a abrir fendas gigantes. As árvores, rochas, e até as montanhas haviam cedido e agora flutuavam ao redor, dançando conforme o vento naquele momento.
Seus gritos eram profundos e ríspido. Alto o suficiente para que todos no planeta pudessem ouvir, mesmo que fosse apenas o necessário para perceberem. Era como se ao soltar tudo por sua boca, aumentasse mais a liberação de sua energia e poder, mas causava descontrole geral.
Alexander nem tentava se aproximar, sabia que uma hora ou outra o garoto iria desabar após liberar e aumentar tanto a sua energia. Era apenas questão de tempo para que isso acontecesse. Por outro lado, ele também rezava para que isso acontecesse antes de tudo ser levado pelos ares e não sobrar nada do local.
...
Tentando abrir seus olhos, Harry sentia o forte vento frio tocar seu corpo, fazendo com que o mesmo estremecesse. Sua cabeça e seus olhos tinham que ficar virados para baixo, o vento e a poeira extrema o impedia de olhar para frente.
Ele apenas andava sem rumo por todo aquele lugar coberto de areia, nada podia ver e nem ouvir. Nem o tempo que lá estava já não sabia mais. Podia ser horas, dias, ou meses.
Constantemente ele ouvia uma voz, mas não sabia se era real ou não, e acreditava não ser, mas torcia para que fosse. Continuando caminhando contra a forte ventania e toda a tempestade de areia, seus passos estavam mais difíceis, e seu corpo está sendo levado para trás a cada segundo.
Apenas continuando, ele mordia bem seus dentes, enquanto segurava com força a alça de sua mochila. Seus cabelos dançavam de forma descontrolada, enquanto sua roupa faltava sair de seu corpo.
— Harry?
Parava ao ouvir aquela voz novamente, se mantendo firme no chão, como uma grande muralha. Erguendo sua cabeça e colocando suas mãos na frente de seus olhos, ele finalmente os abre e olha ao seu redor, procurando ela, procurando pela voz.
Andando com mais dificuldade, ele ainda mantinha suas mãos protegendo seus olhos, enquanto olhava com eles semiabertos. Tudo o que ele podia ver era areia, nada além de areia e sua tempestade.
Com suas pernas falhando e não respondendo mais a seus comandos, ele lutava e tentava continuar. Não podia parar alí, não queria parar agora, ele tinha que encontrá-la.
Caindo aos poucos no chão, logo ele ficava de joelhos na areia enquanto cai para frente. Com sua cabeça de lado, Harry mantinha seus olhos semiabertos e finalmente começava a ver alguém se aproximando.
— Saya??
Apenas chamava por ela, afinal, ele estava de volta ao Reino dos mortos por ela. Observando ela se afastar, ele se levanta rapidamente mas com dificuldade, e passa a correr atrás dela.
Correndo com tudo o que ainda tinha de energia, enquanto a tempestade tentava o empurrar para trás e o derrubar novamente. Gritava por seu nome, enquanto estendia sua mão para ela, logo a sua frente.
Seus olhos lacrimejavam, enquanto do fundo de sua garganta, ele gritava por seu nome, falando que estava alí por ela. Tropeçando enquanto corria, Harry volta a estar de cara na areia, com todo seu corpo rendido a aquele lugar.
Deixando sua cabeça cair na areia, Harry desmaia e a pessoa segue em frente. Enquanto permanecia inconsciente, ele chamava por ela, várias e várias vezes. Por horas ele ficou ali, jogado e sem consciência, suas energias estavam completamente esgotadas, tudo o que fez antes de chegar no Reino, o consumiu por completo. Ninguém imaginaria que agora o Reino dos mortos estaria assim, tomado pela areia e tempestades.
— Ora, ora. Parece que o destino me trouxe uma boa companhia — Falava uma voz grossa e profunda, enquanto se aproximava mais de Harry.
Por alguns segundos, ele conseguiu ver que havia algo, ou alguém se aproximando. Porém, sua visão turva não consegue mais processar o que estava acontecendo. De momentos em momentos, ele desmaiava e depois acordava, enquanto era carregado por aquela pessoa, ou aquele ser.
Todo o caminho, ele tentava resistir e se manter consciente, mas a falta de energia e todo o cansaço gerado graças aos últimos eventos antes de ir ao reino, Harry não conseguia se manter lúcido.
Chegando até a entrada de uma caverna, a pessoa para e observa a montanha que cercava e escondia seu esconderijo. Olhando para trás, seus olhos passeavam pelo local aos redores e abria um sorriso, ao surgir lembranças do passado.
— Espero que você se lembre dessa montanha, graças a você eu fui liberto — sorria, enquanto olhava para Harry — Vamos, vou cuidar de você até que acorde e se recupere, temos bastante coisas para conversar e resolver.
Entrando na caverna, ele andava por longos minutos, totalmente no escuro, sem nenhum traço de luz. Após caminhar por mais de cinco minutos, eles chegam em uma parte que começa a aparecer uma luz, pouca, mas parecia que haviam chegado no objetivo.
Uma pequena fogueira estava acesa, quase se apagando. Chegando próximo a ela, ele pega Harry e o deita no chão, perto do fogo, para aquecer seu corpo frio. Andando pela pequena área, ele colocava suas coisas no chão também, e voltava a ficar próximo de Harry, se sentando acima dele, enquanto observava o pequeno fogo.
Em um canto, havia uma pequena montanha de areia, junto do que parecia ser trapos de vestes. Estendendo suas mãos para a fogueira, ele usava o fogo para aquecer suas mãos, para em seguida tocar seu corpo e o aquecer por completo. Olhando para Harry, ele conseguia sentir que algo estava muito diferente nele, que havia muita dor, tristeza, raiva e culpa, dentro de seu corpo.
Se levantando, ele vai até sua mochila e pega uma pequena bolsa, que continha vários frascos com líquidos. Procurando por algum específico, ele o pega e caminha até Harry. Se aproximando, ele senta de joelhos e ergue a cabeça dele, abrindo sua boca ele faz com que Harry bebesse o líquido.
— Em algumas horas você deve estar melhor — falava ele, enquanto fazia Harry ingerir o líquido inteiro do frasco.
Voltando a deitar ele no chão, a pessoa volta para seu local, e continua se aquecendo na fogueira, como antes. Horas se passam, e quase quatro horas depois Harry finalmente começa a abrir seus olhos.
Com bastante dificuldade, ele os abria vagarosamente. Olhando para o teto, feito inteiramente de pedras, ele via alguns riscos, como marcas. Tentando se levantar, ele fica sentado com muita dificuldade. Olhando para os lados ele via que estava dentro de uma caverna, mas não sabia ou lembrava como havia chegado alí.
Escutando uma respiração atrás de si, lentamente Harry vira seu rosto, agora olhando para uma pessoa, um homem de cabelos brancos com algumas marcas pretas em seu rosto, como símbolos.
Virando seu corpo inteiro, ele o olha e pensa quem poderia ser, mas antes de conseguir perguntar, ele recebe sua resposta.
— Você não me conhece — falava ele, olhando atentamente para a fogueira — Você não teve a oportunidade, eu despertei por completo quando você já não estava mais aqui.
Dúvidas surgiam em sua cabeça. Harry não entendia o que ele afirmava. Despertar? O que isso significava, o que ele tinha a ver com o despertar daquele homem? Muitas dúvidas passavam sem parar em sua mente.
Olhando para a esquerda, bem no canto, Harry via a pequena montanha de areia, junto dos trapos, porém, ele os reconhecia. Abrindo seus olhos em espanto, Harry virava seu rosto para o homem, que mantinha seus olhos na fogueira.
Mesmo não olhando para Harry, ele conseguia saber que o mesmo estava o encarando, e o que fazia. Piscando duas vezes, de forma lenta, como uma dança, ele sobe sua cabeça e finalmente olha para Harry.
— Prazer. Eu sou Rujan, imperador do Reino dos mortos — afirmava, sorrindo e fechando seus olhos.
Um choque toma conta do corpo do garoto, afinal, não fazia sentido o que ele acabava de afirmar. Enquanto olhava para ele, Harry se lembrava de quando havia encontrado com Rujan e de ter destruído ele e seu corpo.
Mas agora havia um homem com cabelos brancos, e que aparentemente tinha o salvado das tempestades do reino, e agora afirmava ser o imperador.
— Isso... não faz sentido, eu matei o Imperador, como você pode ser Rujan? — perguntava, confuso e com a voz trêmula.
O homem continuava o olhando, percebendo as dúvidas em sua cabeça e entendendo que séria difícil para que ele entendesse e aceitasse esse fato. Se levantando, ele anda na direção de Harry e pede para que ele sentasse para que podesse contar tudo.
Sentando no chão, o homem anda pelo local, indo até a pequena montanha de areia. Harry o observava bem, pensando no que ele faria ou estava fazendo, mas tudo em sua cabeça estava bagunçado.
Enchendo sua mão direita com aquela areia, ele levanta seu braço e a deixa cair lentamente. Harry olhava para aquilo e se via perdido, não entendia o que ele estava fazendo, ou o que queria mostrar. Virando-se para trás, ele sorrir para o garoto e se levanta, com um punhado de areia.
— Isso foi o que sobrou do meu irmão, aquele que você matou. Aquele que você pensa ser o imperador.
Sua cabeça fica ainda mais confusa, então ele havia enfrentado e matado a pessoa errada? Toda aquela dor, a dificuldade, tudo o que ele fez foi para derrotar a pessoa errada.