-Vocês ouviram os rumores?
-Aquele que a senhorita Arabella envenenou a filha do barão Richtoffen?
-Sim. Pelo que eu ouvi, a senhorita Richtoffen caiu em coma após beber chá com nossa senhorita.
-Isso é horrível, não pensei que ela poderia chegar tão longe por ciúmes.
-Não me espanta, afinal ela sempre foi cruel conosco.
As serventes continuaram conversando sobre os eventos recentes sem perceberem que antagonista dos rumores as estavam ouvindo.
"Como eu temia, os rumores de que eu envenenei Maria se espalharam por toda a capital." Arabella pensou cabisbaixa.
-O que pensam que estão fazendo? –Gritou a Senhora Davis para as serventes. –Em lugar de estarem trabalhando, estão dizendo coisas absurdas sobre sua senhorita?
Espantadas as serventes se viram em direção a voz, ao perceberem que a senhora Davis e Arabella estavam observando-as, paralisaram de medo. O único que puderam pensar era: "Estamos mortas."
-Se-senhorita, nós estávamos apenas...
-Saiam. –Disse Arabella levantando a mão para interrompê-la.
-Aah! Sim senhorita. –Exclamou a servente surpresa.
Depois de uma reverência, as serventes saíram rapidamente com os rostos pálidos de medo.
-Senhorita, realmente não irá castigá-las? Elas lhe estavam insultando.
Arabella suspirou e olhou pela janela. "Realmente posso castigá-las por pensar assim? Afinal, minha reputação de mulher malvada provém das minhas próprias ações.", pensou. –Esqueça nana, se eu for castigar a todos que falam mal de mim, já não teremos empregados nesta casa.
Com uma expressão de tristeza, o único que a senhora Davis pôde pronunciar foi um fraco "Senhorita".
A senhora Davis servia a duquesa Lancaster desde que era jovem, quando a sua senhorita se casou, decidiu acompanhá-la para o ducado. Depois que a duquesa faleceu ela se tornou a babá de sua filha e passou a cuidá-la como se fosse sua. Ela sabia que apesar dos rumores sobre Arabella não serem infundados, sua senhorita não era cruel e fria como diziam e isso a deixava muito triste.
"Por que minha senhorita tem que sofrer tanto?"
-Nana não fique triste, você sabe que não me importo com esse tipo de coisa.
-Senhorita.
-Vamos para meus aposentos, quero ler este livro enquanto tomo chá.
-Senhorita, realmente te agradam as novelas românticas. –Disse a senhora Davis sorrindo.
-Nana, não zombe de mim. –Gritou Arabella com o rosto corado.
A senhora Davis não pode evitar sorrir com sua reação. "Como uma senhorita tão adorável pode ser conhecida como vilã?", pensou.
Após chegarem ao quarto, Arabella sentou-se à mesa e começou a ler o livro desfrutando de seu chá. Lhe encanta ler livros de romance. A aventura de superar os obstáculos e as diferenças, criar vínculos com outras pessoas e encontrar o amor, ela admira as histórias e ao mesmo tempo as invejas, desejando um dia vivenciar algo assim.
"O Lorde Aqua é realmente o melhor. Ele é tão doce e gentil, sempre protegendo e mimando a heroína. Uma pena que seja somente o segundo protagonista masculino, é tão injusto."
-Espero que o príncipe Ashad seja como ele quando nos casarmos. –Disse Arabella com um sorriso.
-Desculpe, disse algo, senhorita? –Perguntou a senhora Davis que estava bordando em um sofá próximo.
-A não, somente estava pensando alto.
-Quer que eu traga alguns biscoitos para acompanhar o chá, senhorita?
-Seria ótimo.

Assim que a senhora Davis sai para buscar os biscoitos, Arabella coloca o livro sobre a mesa e se recosta na cadeira pensando em seu relacionamento com o príncipe herdeiro.
"O príncipe Ashad tem estado cada vez mais distante. Quando nos comprometemos na infância ele era tão gentil, foi o primeiro a me mostrar amabilidade." Arabella sorriu com tristeza. "Mas desde que Maria apareceu ele me ignora e age com frieza, talvez ele já não me queria?"
Ela se espantou com os próprios pensamentos e balançou freneticamente a cabeça. "Não, ele está somente confuso." pensou.
Surpresa ao ouvir uma discussão fora de seu quarto, ela sai de seus pensamentos.
-Vocês não podem fazer isso.
-Por favor senhora, saia da frente da porta ou não teremos escolha a não ser tirá-la à força.
-Não importa, vocês não podem fazer isso. Minha senhorita é inocente.
-Se isso é verdade ela não terá motivos para não nos acompanhar, agora saia da frente.
-Se quiser passar terá que me matar primeiro.
"Essa não é a voz da nana?". Assustada, Arabella se levanta apressada e caminha rapidamente para a porta. Ao abri-la se surpreende ao ver sua babá na frente da porta com os braços abertos impedindo a entrada dos guardas imperiais.
-Posso saber por que os guardas imperiais estão causando tanto alvoroço na frente de meus aposentos, capitão Willians?
-Senhorita Arabella estamos aqui para levá-la ao Palácio.
-Do que se trata tudo isso. –Perguntou Arabella confusa.
-A senhorita está sendo acusada pelo envenenamento da senhorita Richtoffen.
-O que? Que absurdo é esse? –Gritou Arabella. –Eu não a envenenei.
-Não importa o que nos diga, estamos aqui somente para cumprir a ordem do príncipe herdeiro de levá-la. –Disse o capitão.
A senhora Davis que havia estado todo esse tempo na frente da sua senhorita lhe protegendo, interrompeu: -O príncipe Ashad ordenou arrastar a senhorita Arabella? Sua própria prometida? Isso é um absurdo. Não permitirei que a levem.
-Senhora se não nos permitir passar também será levada e julgada como cúmplice.
Arabella caminhou até adiante de sua babá e segurou suas mãos: -Está tudo bem nana, é apenas um mal-entendido. –Ela sorri suavemente. –Quando eu me explicar para príncipe Ashad tudo se resolverá.
"Minha pobre menina, como pode ser tão ingênua?" Pensou a senhora Davis dedicando-lhe um olhar tristonho.
Os guardas imperiais perderam a paciência e se aproximaram, pegando Arabella pelo braço e puxando-a pelo corredor.
-Como se atrevem a me tocar, não sabem quem sou? Posso muito bem caminhar sozinha. –Exclamou Arabella.
Com os olhos cheios de ira, Arabella se soltou do agarre dos guardas e pôs-se a caminhar. Surpreendidos, os guardas se entreolharam e então a seguiram desde de trás, atraindo os olhares dos serventes.
-Como pode ser tão confiante depois de ser acusada de assassinato?
-Parece que ela não tem vergonha do que fez.
-Espero que ela pague por seu crime.
-Bem que ela merece depois de tudo que nos fez.
Ao ouvir os sussurros dos serventes ela lhes dirigiu um olhar penetrante calando-os imediatamente e se virou para a senhora Davis.
-Nana avise meu pai... não, avise a Margareth sobre a situação.
-Sim senhorita, não se preocupe.
"Será inútil buscar auxílio com meu pai, ele provavelmente não acreditará em mim e permitirá que eu seja condenada para poupar tempo e esforço." Pensou Arabella com um sorriso amargo ao se lembrar da indiferença de seu pai.
Ao chegar na frente da mansão Arabella olhou para trás melancólica e suspirou.
"Passei toda minha vida nesta mansão, mas por que nunca senti que era meu lar? Se eu não voltar, alguém sentirá minha falta?"
-Deixe de enrolar e ande logo. –Disse um guarda empurrando-a.
-Como se atreve a ser tão grosseiro? Eu sou a princesa herdeira, tenha mais respeito. –Gritou Arabella furiosa.
-Princesa herdeira? –Perguntou o guarda rindo de suas palavras. –Sua alteza, jamais se casaria com uma mulher tão perversa como você.
-Seu...
Antes que pudesse responder, o guarda a empurrou para dentro da carruagem e lhe disse em um tom sarcástico: -Se não acredita, espere para ouvir da boca de sua alteza.
Sentada no chão da carruagem, Arabella só pode dedicar um olhar de surpresa para o guarda antes que ele fechasse a porta.