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Chapter 8 - Chantagem

Emma levantou e depois de cuidar da casa, acordou Caio e lhe deu banho. Após o alimentar chamou um taxi e foi para o banco. A atendente a recebeu bem, sabendo dos planos e disse que o banco precisava de três dias após ela assinar o contrato para enviar o dinheiro para sua conta. Ela assinou e saindo de lá, foi ver o salão que ela alugara para a festa. Havia contratado também um ator para se fantasiar de homem aranha. Achou que os preparativos estavam de acordo com o que ela pedira e foi para a fábrica no seu carro novo.

Sentou no seu lugar após ir até a sala de Richard. Ele ainda não havia chegado, o que a fez imaginar que a noite dele devia ter sido longa. Deu de ombros e atendeu as ligações. Estranhando que já dera a hora de almoço e Richard nem havia sequer ligado, pois ele sempre fazia questão de almoçarem juntos. Ele também não chegou após o almoço e ela teve que reagendar seus compromissos. Tentou ligar para ele, mas só caia na caixa postal. Foi até a creche para entregar os convites e voltou a sua sala para se preparar para sair.

Quase no fim de seu expediente, atendeu seu último telefonema do dia. Era Richard.

"Emma! O que houve? Porque deixou seu celular desligado? Estou tentando falar com você desde ontem."

Emma olhou seu celular. Tudo normal e nenhuma ligação perdida.

"Não tem ligação perdida e o celular está ligado."

"Emma... Tem alguns detalhes de minha vida que não contei a você ainda. Tive que fazer uma viagem de emergência e como sabe, dentro do avião não se pode fazer ligações. Mas quando voltar, explicarei tudo para você. Só... Confie em mim e me espere. Pode fazer isso?" Richard disse imaginando que Emma podia ser o motivo pelo qual Andrey o estava mantendo a distância. Ficou obvio que ele a conhecia antes do dia anterior.

"Você tem compromissos na fábrica..."

"Você já foi gerente. Sabe como lidar com essas pessoas. Confio em você para tomar todas as decisões por mim."

"Quanto tempo?"

Ouve uma respiração forte do outro lado.

"Acho que pelo menos um mês..."

"Vai perder a festa de aniversário de Caio." Ela disse se sentindo triste. Caio havia se apegado a ele durante aqueles meses, pois ele sempre ia o visitar na creche e ela iria o apresentar ao seu filho como seu namorado. Estava gostando muito dele. Mais do que deveria.

"Oh! E quando vai ser?"

"Depois de amanhã..."

"Eu lamento muito não estar presente nessa data tão importante..."

"Eu sei."

"Vou compensar ele depois que voltar. Vou levar vocês dois a Disney. Prometo."

"Não precisa..."

"Mas eu quero." Ele deu uma pausa do outro lado. "Emma... Eu amo você."

Emma quase chorou de alegria. Não se lembrava de alguém já lhe ter dito. Pelo menos não alguém que ela correspondesse.

"Também." Ela disse e olhou o relógio na parede da sua sala. Estava na hora de ir buscar Caio na creche. "Onde você está?"

"No Egito. É uma longa história que eu contarei assim que voltar."

"Preciso ir agora."

"Compre outro celular para você. Tenho fortes motivos para acreditar que esse aí está clonado."

Emma franziu a testa.

"Vou comprar..." Ela disse pensando que não tinha nem os mínimos dólares necessários para comprar outro celular. Mas podia dar o seu em troca de outro usado.

"Assim que comprar me ligue." Ele disse e desligou.

Emma assentiu com a cabeça, esquecida de que ele não poderia ver sua reação e foi pegar Caio. Foi em seu novo carro e pensou em como conseguira viver sem um até ali. Era muito prático. A fabrica era perto de sua casa, mas não havia mais nada por perto.

Entrou toda sem jeito na loja de celulares. O vendedor veio animado a atender. Não importava que estivesse segurando uma criança de quatro anos pela mão. Ele imaginou que se ela fosse solteira, não devia faltar pretendentes para serem o pai da criança. Ele estava entre esses candidatos. Se aproximou e bagunçou o cabelo do menino, certo que o caminho para o coração de uma mãe é sempre o filho. Ele percebeu que o menino não se parecia com ela, podia até ser filho de outra pessoa, o que seria muito óbvio, pois ela parecia ter uns dezesseis anos.

"Eu preciso trocar esse celular." Ela disse tirando seu celular da bolsa e o entregando a ele.

"Entendo...Quer escolher um modelo?" Ele disse apontando para os novos modelos.

"Não tem usado? Não tenho dinheiro."

Ele a fitou apiedado.

"Vou buscar." Ele disse e a deixou sozinha por um momento na loja. Ela não saiu do lugar. Ele trouxe uma caixa e colocou em cima do balcão de vidro. "Pode escolher."

Ela se aproximou e pegou o primeiro que viu e o estendeu a ele.

"Pode fazer a configuração para mim? Quero o mesmo número, mas sem nenhum outro aparelho conectado a ele."

O rapaz ia dizer que isso não era função dele, pois chegara outro cliente na loja. Mas decidiu a ajudar ela e em poucos minutos o desativou de outros aparelhos e a entregou.

Ela pegou e saindo da loja, ligou para Richard colocando o celular no bluetooth do carro e disse que já havia comprado outro celular. Ele ficou contente e conversaram até ela chegar em casa. Caio também quis falar com ele e isso não deixou muito tempo para eles. O celular descarregou assim que ela parou na garagem. Ela entrou em casa com a testa franzida. Podia sentir que algo de ruim estava para acontecer. Mas não queria pensar nisso e se distraiu com Caio contando sobre o seu dia. Depois, ela preparou um jantar para os dois e foram dormir.

Chegou o dia do aniversário de Caio. Emma gostara de resolver os assuntos da fábrica. Estava pensando em estudar administração. Era boa nisso. Ela colocou a fantasia de homem aranha em Caio, que ficou todo contente e o levou para o salão de festas.

Ela não imaginava que a felicidade de Caio seria tão grande quando encontrou todos os amiguinhos da creche, além do próprio homem aranha no salão. Os pais das crianças vieram a parabenizar pela festa e deram presentes para Caio. Eles cantaram parabéns e depois estouraram todos os balões, fazendo ruido e rindo. A felicidade das crianças era contagiante. Emma ficou satisfeita e realizada. Seu filho merecia ser feliz daquela forma. Todo ano faria um empréstimo para fazer ele feliz daquela forma.

A festa teve fim e Emma levou Caio para a casa e deu banho nele com ele dormindo. Estava exausto. Ela vestiu o pijama nele e o beijou na testa. Depois desceu as escadas, pensando em um vinho que ela comprara na última compra do supermercado e viu uma bicicleta azul na sala. Ela se aproximou e pegou o cartão que vinha junto.

"Que seja bom enquanto dure."

Andrey

Ela pegou a bicicleta e a levou até a caçamba de lixo e a jogou lá dentro. Olhou para os lados, mas não havia ninguém. Voltou para casa e abriu seu vinho e o tomou na sala ouvindo Freddie Mercury enquanto seu celular carregava. Dormiu ali mesmo.

No dia seguinte era domingo. Ela levou Caio para o parquinho aberto na praça do bairro. Não havia outras crianças e ela deixou Caio brincando e sentou. Ligou para Richard e eles conversaram por um bom tempo. Ela escutava mais do que falava, mas era importante para ela ouvir a voz dele. Era como se ele estivesse do seu lado.

"O que Caio achou de meu presente?"

Emma ficou muda de surpresa.

"Ele me disse que queria muito uma bicicleta e eu já havia comprado. Pedi para meu motorista deixar em sua casa depois da festa. Espero que ele esteja aproveitando para dar umas voltas nela agora."

Emma desligou o celular e pegou Caio, que reclamou e até chorou, pela mão. Seus pensamentos estavam pululando de ódio enquanto arrastava Caio aos prantos. Andrey! A enganara, aquele maldito! Até quando as coisas ruins de seu passado iriam a atormentar? Chegou na caçamba e agradeceu aos céus por não ser dia da colheita de lixo e tirou a bicicleta de lá de dentro e a entregou para Caio, que sorriu e quis saber quem tinha escondido sua bicicleta ali. Ela disse que foi Richard e respirou aliviada quando ele subiu nela. Passou o resto do dia o ensinando a pedalar. Preparou um sanduiche para o jantar e foi dormir exausta.

No dia seguinte foi trabalhar normalmente e a semana correu tudo bem. Na sexta feira, começaram as cobranças pelas dividas que ela acumulou. Ligou para o banco, mas a moça que a atendeu se fez de desentendida e ela decidiu trocar seu horário de almoço para ir até o banco pessoalmente. Não viu a moça que havia a atendido e nem o rapaz que a fez assinar o contrato. Foi até o gerente e mostrou sua cópia do contrato. Ele pegou e franziu a testa.

"Senhora... Esse contrato não pertence a esse banco. Nem sei se pertence a algum. E esse valor que lhe cobraram de mensalidade é inviável. Nenhum banco faria um negócio como esse. Se fizer as contas, estão até cobrando menos pelo valor prometido. Acho que a senhora caiu em um golpe."

"Tenho a mensagem no aplicativo desse banco." Emma respondeu cortante e tirou o celular da bolsa.

Procurou desesperadamente pela conversa, mas não estava mais lá. Não estava no registro. Clonada! Andrey! Mas porquê? Ela concluiu rápida e sentiu seu rosto arder. "Era bom demais para ser verdade." "Que seja bom enquanto dure". Ela devia ter desconfiado. Olhou indiferente para o gerente.

"Posso hipotecar a casa para conseguir esse valor?"

"Não acredito que seja possível. Nós só pagamos sessenta por cento do valor do imóvel para empréstimos e a senhora... Seu salário não seria suficiente para arcar com o restante da dívida e ainda pagar o banco. Infelizmente não posso ajudar você."

"O que sabe sobre meu salário?

O homem apontou para a camisa de uniforme dela. Tinha o nome e a função.

"A antiga secretária dessa empresa já fez negócios conosco."

"E porque não quer fazer negócio comigo?"

"Porque a quantia que posso te oferecer não é nem um quarto da dívida que fez."

Emma se levantou e saiu. Foi até a corretora que lhe vendeu a casa. Como ela não tinha feito nenhuma melhora, usou o dinheiro que seria para a reforma para comprar livros e pagar três meses adiantados da faculdade e a pintura nova da casa estava toda rabiscada por causa de Caio, ela oferecia apenas setenta mil dólares de imediato. Emma teve que aceitar. Não podia ficar com aqueles cobradores indo atrás dela em seu trabalho. Saiu dali e já procurou um lugar para alugar. Não podia pagar o aluguel de uma casa, então escolheu uma pensão mais próxima da fábrica, mesmo assim era distante o suficiente para que ela precisasse ir de carro, que ela havia pensado em devolver na agencia e acabou indo até lá. Só o carro havia sido cinquenta mil. Se ela conseguisse esse dinheiro, talvez nem precisasse sair de sua casa. Mas eles se recusaram a aceitar o carro de volta, mostrando a ela o contrato. Ela foi em outra agencia e eles queriam pagar metade do valor. Emma não aceitou. Já havia sacrificado o conforto de seu filho, o colocando em um quarto pequeno que dividiria com ela. Pagou um depósito para guardar seus móveis e a maioria dos brinquedos de Caio.

No sábado, foram atormentados a noite pelo som de gemidos em um quarto, o homem batendo na esposa em outro. Emma olhou para os olhos aflitos de Caio sentindo culpa. O que valia um momento de prazer para o inferno nos outros dias?

Richard ligou, mas ela decidiu que não contaria a ele ainda. Sentia que o que ele foi resolver era de muita importância e não quis o preocupar ainda mais, jogando seus problemas em cima dele.

A pensão onde alugou um quarto, não havia garagem e ela teve que o deixar na rua. Foi outro erro. No dia seguinte seu carro havia sido roubado. Ela foi até a delegacia e fez o boletim de ocorrência, mas viu nos olhos do delegado que era muito improvável que encontrassem o carro. Segundo ele, roubos de carro naquela região eram comuns e apenas em vinte por cento das vezes conseguiam reaver. Caio começou a reclamar que queria ir no parquinho e Emma olhou em sua carteira. Alguns poucos dólares apenas restaram em sua carteira, depois que ela quitou suas dívidas, mas precisava deles para ir de taxi ao serviço. Mas sua consciência doeu quando viu que não podia deixar Caio trancado no quarto, naquele ambiente sujo, com drogados nos corredores e gemidos incessantes vindo do quarto ao lado e acabou pegando um ônibus e levando Caio no parquinho. O dinheiro que restaria após fazer um lanche com ele, era apenas o da passagem de ônibus para voltarem. Pensou em levar ele para a creche, mas e depois? Não teria dinheiro para voltar. Ela se sentiu frustrada. Porque tinha que passar por aquelas coisas? Depois se lembrou que ninguém a obrigou a fazer aquela festa dispendiosa para Caio. Podia ter feito algo mais simples, de acordo com o que ganhava, em sua casa mesmo. Eles fizeram um lanche e voltaram para a pensão. Ainda estava decidindo o que dizer a Richard quando não aparecesse para o trabalho no próximo dia, quando resolveu que ele precisava saber sim. Talvez, oferecesse para a hospedar em sua casa até que voltasse pois não tinha dinheiro para pagar a semana seguinte da pensão. Ele era um CEO. Não o deixaria mais pobre a hospedar em sua casa até que ela conseguisse alugar um lugar decente para ficar com seu filho. Mas não conseguiu falar com ele. Só caia na caixa postal. Ela jogou o celular inútil na bolsa e foi dormir com Caio. Descobriu no dia seguinte, que além de não ter dinheiro para ir até a fábrica, também não tinha para comprar comida. Caio chorou a manhã inteira de fome. A dona da pensão veio reclamar. Emma disse que ele estava com fome, mas ela disse que não tinha nada a ver com isso e foi embora, avisando que a mandaria embora se o garoto não se calasse. Emma então teve uma ideia. Foi atrás dela.

"Me devolve o dinheiro da semana e eu vou embora com meu filho."

A mulher a fitou por um momento. Não era obrigada a devolver o dinheiro, mas teve compaixão pela criança que precisava comer. Ela não podia os alimentar ou os outros locatários também iriam começar a querer. Então ela devolveu o dinheiro a Emma.

Emma colocou as poucas coisas que havia levado em uma mochila e saiu com Caio. Enquanto seu filho comia seu lanche, ela pensou assustada que o dinheiro que tinha agora, só daria para comer ou colocar um teto sob suas cabeças. Ela fechou os olhos desesperada. Saiu com Caio da lanchonete e sentou em um banco de frente para um parque e Caio deitou em suas pernas e adormeceu. Para o aquecer, ela tirou todas roupas da mochila e jogou em cima dele. Viu quando o carro parou, mas não se interessou e abaixou a cabeça. Até ver os sapatos italianos caros pararem diante dela. Ela ergueu a cabeça e viu os olhos esverdeados a fitar com um sorriso debochado no rosto.

"Pronta para ganhar mais cem mil dólares?"

Emma desviou os olhos. Ela não era uma prostituta, mas não podia deixar seu filho sentir frio e necessidades. Richard iria demorar a voltar e ela nem conseguia ligar para ele. Começou a chorar quando percebeu que não tinha outra saída a não ser se vender. Enxugou suas lágrimas. Pelo menos... Ele não fazia com que ela sentisse dor e era até gostoso demais ficar com ele, mas ela tinha um namorado. Ela não tinha direito de chorar por algo que foi causado por ela mesma. Ela o fitou novamente. Ele não tinha mais o sorriso no rosto.

"Aceito."

Andrey se sentiu mal com tudo aquilo. Ele causara aquilo. Claro que não tirou o livre arbítrio dela, mas a manipulou para que perdesse tudo.

"Entre no carro." Ele disse e abriu a porta de trás.

Emma olhou para Caio dormindo pesado e depois olhou novamente para Andrey. Seu olhar era glacial. Emma o odiava por ele ser a sua salvação por duas vezes. Talvez fosse melhor para Caio que o entregasse em um orfanato para adoção. Lágrimas correram por seu rosto a esse pensamento. Mas era egoísmo seu querer ficar com ele, sem ter condições para isso. Não podia vender seu corpo... Ele não merecia uma mãe assim. Ela balançou a cabeça para Andrey.

Ele franziu a testa e a fitou intrigado.

"Prefere deixar seu filho passar a noite ao relento do que vir comigo?"

"Não vou." Emma disse firme.

Andrey a fitou irado. Era teimosa demais. Mas sabia que ela devia ter pensado em alguma alternativa. Ele sorriu tranquilo.

"Tem certeza? Não farei o convite uma terceira vez."

Emma olhou para o lado o ignorando. Andrey fechou a porta do carro e entrou em seguida no lado do motorista. Emma percebeu que ele demorava para arrancar. Não dava para ver o que ele fazia lá dentro pois o vidro era escuro.

Talvez, se ela tivesse visto que ele ligara para o detetive que estava com o carro parado, a observando do outro lado da rua, ela não faria o que fez assim que ele deu partida.

Emma se levantou e andou até a igreja mais próxima, carregando Caio adormecido e quase não aguentando seu peso, entrou dentro dela.

O pastor estava fechando tudo e a fitou com a testa franzida quando a viu se sentar em uma das cadeiras. Foi até ela.

"Algum problema jovem?"

"Preciso que leve essa criança para um orfanato. Eu não tenho dinheiro para o levar a lugar algum."

"Vai abandonar seu filho?"

"Não é meu filho. O achei no banco da praça."

Ele fitou a criança adormecida. E estendendo os braços, Caio passou para os braços dele sem saber o que estava acontecendo. Emma se levantou. Não podia derramar lágrimas ou ele desconfiaria.

"É um belo menino. E muito bem cuidado... Vou levar ele para o abrigo da igreja. Talvez, algum dos fiéis se interessa em adotar ele... Seria mais fácil se a mãe pudesse dizer que não o quer..."

"Lamento não poder ajudar com isso." Emma disse e se retirou rapidamente.

Nunca mais veria seu bebê. Ficou com ele, o tempo que pôde. Mas agora, não podia mais. Ela sentou de volta no banco em que estava e deixou as lágrimas quentes rolarem por seu rosto. Ficou um tempo longo olhando o vazio. Sem pensamentos. Tinha que ser forte. Ou talvez não. O pastor disse que tinha um abrigo! Porque ela não poderia ficar com seu filho nesse abrigo? Como fora tola! Levantou e foi até a igreja novamente. Estava fechada. Ela devia ter demorado demais. Mas nem tudo estava perdido. Passou a noite ali na escadaria da igreja, esperando que amanhecesse o dia e o pastor voltasse. Confessaria tudo a ele. Ela não dormiu. Não podia fazer isso longe de seu filho.

Para seu desamparo, na manhã seguinte, uma senhora veio abrir a igreja. Emma franziu a testa. Talvez fosse esposa do pastor.

"Posso ajuda-la?" A mulher perguntou educada, enquanto abria a igreja.

"O pastor..."

"Ah querida! Será bem vinda para ser uma de nós, ou mesmo para ouvir a pregação apenas. O pastor, meu marido, foi pego de surpresa. O pastor anterior a ele, recebeu uma proposta para pregar em outro país e ele não é homem de negar uma missão. E o valor que lhe foi oferecido... Bem, é muito bem maior do que um pastor está acostumado a ganhar. Ele passou todos os compromissos para meu marido ainda essa noite, antes de viajar. Imagina que foi até de jato de particular?"

"O abrigo."

"Você quer ir para o abrigo? Mas lá é só para crianças abandonadas. Pode... Trabalhar lá como voluntária se quiser. Lá você pode se alimentar e terá um teto sem ter que pagar nada em dinheiro, só em serviço."

"Onde?"

"Vou anotar o endereço para você." A mulher disse e anotou algo em um papel e depois olhou para Emma pensativa. "Tem dinheiro para o ônibus? É longe para se ir a pé."

"Não." Andressa disse distraída e esquecida que tinha sim algum dinheiro ainda, pois pensava na estranheza do convite ao pastor e a rapidez com que teve que ir embora.

A mulher abriu a bolsa e entregou uma nota de cinco dólares para Emma pegar o ônibus e a entregou junto com o endereço.

"O ônibus passa bem em frente. Vai com Deus me filha."

Emma foi para o ponto de ônibus e ficou esperando o ônibus que a levaria até o endereço indicado no papel. Assim que entrou, entregou o endereço para o motorista que olhou o endereço e seguiu. Parou no ponto para ela e a devolveu o endereço. Ela estava na frente do abrigo. Entrou. Procurou Caio entre as crianças, quando disse que o pastor da igreja havia o levado para aquele lugar. Mas seu menino não estava ali. Ela engoliu em seco. Falou da aparência do pastor para quem ela tinha entregado seu filho. Era o mesmo que havia viajado para outro país sem deixar endereço. Emma começou a chorar desconsoladamente. Isso não podia estar acontecendo. As fiéis tentaram a consolar, dizendo que o pastor era um bom homem e que se tivesse resolvido levar Caio, ele seria bem cuidado e bem criado. Isso não consolou Emma, mas decidiu ficar ali. Não tinha lugar melhor para ir. Ali olhava outras crianças e seus pensamentos não a levavam para Caio. E assim passou um mês ali e se acostumou com a grande tristeza que passou a morar dentro de seu coração. Era como uma amiga intima dela agora.

Emma saiu para colocar o lixo no balde do abrigo e reconheceu o carro de Andrey parado ali. Até que tentou entrar apressada para o abrigo, mas ele foi mais rápido e a cercou.

"Tenho uma oferta para você. Mas não me resta muito tempo mais, então terá que me dá a resposta agora."

Emma cruzou os braços e o fitou.

"Não."

"Você nem ouviu ainda." Ele disse divertido.

"Não sou o que você pensa." Ela disse fria e cortante.

"Que nome você dá para quem vende o próprio corpo?"

Emma sentiu o rosto arder, mas não desviou o olhar e nem respondeu.

"Preciso que se case comigo. Ainda amanhã. Iremos a Las Vegas. Podemos partir agora mesmo..."

Emma riu. Ela riu as gargalhadas pela primeira vez que se lembrava. Era como se todo sorriso que ela reprimiu, saísse agora naquela gargalhada. Andrey gostou de ver aquele sorriso. Nunca tinha visto os dentes perfeitos e brancos dela.

"Você está brincando, não?" Ela perguntou com o olhar divertido quando conseguiu a custo se conter.

"Não. Estou falando sério. Preciso me casar para cumprir uma cláusula do testamento..."

"Não me importo." Ela disse o cortando, mas ainda tinha o olhar divertido.

"Você vai receber um bom dinheiro por isso e..."

"Não. Não sou assim." Ela disse voltando a ficar com olhar frio.

"Richard te deu mais de cem mil dólares, ou você se deitou com ele, apenas pelo emprego?"

Emma deu uma bofetada no rosto de Andrey.

"Não sou assim." Ela repetiu cortante e tentou se desviar dele, mas Andrey continuou a cercando. "Me deixe passar." Ela disse furiosa.

"Não antes de você ouvir o que tem que fazer como minha esposa." Ele disse a fitando irado. "Agora que tenho sua atenção, precisará me dar um filho em menos de cinco anos. Claro que não precisaremos dividir o mesmo teto durante os cinco anos e eu vou arcar com todas as suas despesas e..."

"Não."

"Não me deixou terminar."

Emma passou por ele e dessa vez ele deixou.

"E também poderia ficar com Caio." – Ele disse enquanto Emma caminhava para o abrigo.

Emma parou e se voltou e o fitou com olhar surpreso.

"Ah! Agora você se interessou?"

"Sabe onde ele está?"

"Claro! Passei esse mês inteiro brigando na justiça para conseguir o adotar. Ele está comigo. Em Chicago para ser mais exato."

"Você o roubou!"

"Não. Você o abandonou. Sou rico o bastante para inúmeras pessoas atestar que você o entregou a mim. Você é uma vadia. Sua palavra não tem valor algum no tribunal."

Emma ficou pensativa por um tempo, sabia que não tinha condições financeiras para brigar com ele na justiça. Era um caso perdido. Ela pensou e depois olhou em seus olhos.

"Não." Emma disse e voltou para entrar no abrigo.

"Você é ainda pior do que imaginei." Andrey disse e começou a caminhar para o carro. Era sua última cartada. Desistiria dela afinal. Deixaria Richard voltar, mas Caio não merecia viver num ambiente de prostituição. Ele agora era legalmente seu pai e já até gostava dele, como se fosse seu próprio sangue.

"Me deixe ver ele." Andrey parou ao ouvir a voz dela e se voltou.

"Vai aceitar a minha proposta?"

"Não. Mas passo uma noite com você para que me deixe ver ele uma única vez."

Andrey riu.

"E ainda diz que não é uma vadia?" Ele disse e entrou no carro.

Emma se colocou na frente. Não se importava com sua vida se não pudesse ver que seu filho estava feliz e bem cuidado. Não conhecia Andrey e o pouco que sabia sobre ele, não gostava.

Andrey parou o carro e sorriu debochado enquanto abria o vidro para falar com ela

"Mudou de ideia?"

"Porque eu?"

Andrey nunca havia se perguntado isso, por isso franziu a testa e desceu do carro se aproximando de Emma e encarando seus olhos frios e indiferentes.

"Não sei, Emma. Se tornou uma obsessão e não sei do que mais sou capaz para ter você..."

"Pode me ter. Se me deixar ver Caio. Mais que isso não. Tenho namorado."

"Lamento Emma, mas nunca mais vai ver ele se não entrar comigo naquele carro e aceitar ser minha esposa."

"Richard." Emma disse ameaçadora.

Andrey riu.

"Ele não foi capaz de proteger nem a própria filha dele e você ainda acha que ele pode fazer algo contra mim? Acredite Emma. Ele não pode sair de onde está nesse momento para ajudar você e quando ele chegar aqui, já estarei longe com Caio. O enviarei para outro país essa noite ainda. E vou me casar com outra. Porque tem tanta aversão a mim? Seus gemidos de prazer eram falsos quando... Nós estávamos fazendo negócios?" Ele esperava ver a vermelhidão no rosto de Emma, mas ela estava pensativa quando se voltou para ele.

"Filha?"

"Ele não te contou?"

Emma ficou com o olhar perdido e Andrey começou a caminhar de volta para o carro.

"Você tem afasia e eu estou cansado e impaciente. Deixarei que pense sobre minha oferta essa noite e amanhã cedo, estarei aqui para sua resposta.... Mas Caio viaja hoje." Ele disse e entrou no carro e arrancou.

Daquela vez Emma não tentou o deter. Richard sabia da vida dela. Ela não era tola e sabia que ele não se envolveria com ela antes de investigar tudo que pudesse sobre ela. Não era justo que ele tivesse escondido dela que era pai. Talvez naquele momento, estava ocupado demais com a mãe da filha dele, para estranhar sua ausência na fábrica. Ela estava irada. Nem conseguiu dormir a noite. E antes mesmo que o dia terminasse de amanhecer, ela colocou seus pertences em uma mochila e foi para o outro lado da rua esperar por Andrey. Aceitaria a chantagem dele. Não tinha mais nada a perder.