Octávio fixou os olhos na Aranha Trevo Glacial, observando cada movimento com cautela e precisão. A criatura era imponente, com um corpo adaptado ao ambiente gélido ao redor, tornando-a quase invisível na paisagem. Seus oito membros esguios terminavam em pontas afiadas, como lâminas de cristal. Seu corpo, coberto por uma carapaça translúcida e esbranquiçada tinha havia um pequeno padrão natural que lembrava um trevo de quatro folhas, que irradia uma leve luminosidade azulada.
Enquanto estudava superficialmente sua fisiologia, Octávio percebeu dois aspectos que poderiam ser cruciais: primeiro, que as pontas afiadas dos membros poderiam ser usadas para perfurar com força letal; segundo, que o padrão de trevo no corpo da aranha parecia pulsar ligeiramente, como um coração. Essa observação rápida, porém detalhada, foi essencial para decidir seu próximo movimento. Ele sabia que, em uma luta contra uma criatura desconhecida como aquela, toda informação era essencial.
A Aranha Trevo Glacial, furiosa com os movimentos anteriores de Octávio, avançou com uma rapidez impressionante, quase como se tivesse deslizado pelo Neve. Em um piscar de olhos, ela surgiu à sua frente, erguendo uma de suas patas afiadas como uma lança mortal. A ponta reluzente cortou o ar com um som ameaçador, vindo em direção ao peito de Octávio.
Sentindo o perigo iminente, Octávio instintivamente ergueu sua lâmina, posicionando-a entre seu corpo e a pata perfurante da Aranha Trevo Glacial. O impacto foi violento; a força do golpe reverberou pelo braço de Octávio, quase o fazendo perder o equilíbrio. A ponta afiada da pata da aranha encontrou resistência na lâmina, produzindo um som agudo de chifre contra cristal. Por um breve momento, ambos ficaram imóveis, medindo forças. Octávio podia ver de perto os olhos multifacetados da criatura, brilhando com uma fúria gelada. Com um esforço concentrado, ele empurrou a pata da aranha para o lado, desviando o ataque e criando uma abertura para contra-atacar, girando o corpo com agilidade, com a lâmina firmemente em sua mão. Ele desferiu um corte horizontal em direção ao flanco da aranha, mirando nas articulações das patas, que pareciam mais frágeis do que o resto de seu corpo cristalino.
O ataque foi rápido e preciso. A lâmina encontrou resistência, mas o impacto fez com que a criatura recuasse alguns passos, soltando um som gélido, quase como o estalar de gelo quebrando ao vento.
Observando atentamente o local onde sua lâmina havia atingido, Octávio contraiu as sobrancelhas. Não havia sangue, nem ferida visível — apenas uma pequena rachadura na superfície cristalina da criatura.
Aquilo era frustrante e inquietante ao mesmo tempo. Ele sabia que sua lâmina era forte o suficiente para atravessar couro ou até mesmo algumas escamas espessas, mas contra a estrutura da Aranha Trevo Glacial, parecia ter causado pouco mais que um arranhão.
"E pensar que a pele dessa criatura é mais resistente que a de um Tarragante!" pensou Octávio, com uma mistura de surpresa e apreensão, enquanto ajustava sua posição. Ele rapidamente recuou um passo, trazendo a lâmina para frente e assumindo uma postura defensiva, com os joelhos levemente flexionados e o peso distribuído de forma a permitir uma reação rápida.
A Aranha Trevo Glacial não perdeu tempo. Suas patas afiadas batiam no gelo com força, produzindo sons secos e ameaçadores enquanto ela avançava novamente, seus olhos multifacetados refletindo a imagem de Octávio.
Octávio sabia que não podia continuar apenas reagindo. Precisava encontrar um ponto vulnerável, algo que pudesse usar a seu favor. Seu olhar voltou a se fixar no padrão em forma de trevo pulsando no centro do corpo da aranha. Seria sua única chance?
Respirando fundo, Octávio estreitou os olhos, mantendo a lâmina firme. Ele aguardou o próximo movimento da criatura, pronto para se defender e contra-atacar, enquanto sua mente trabalhava em uma estratégia que pudesse virar o jogo a seu favor.
A Aranha Trevo Glacial avançou novamente, dessa vez com ainda mais ferocidade. Suas patas afiadas cortavam o ar como lâminas, desferindo ataques rápidos e precisos, forçando Octávio a recuar e a usar a lâmina constantemente para bloquear os golpes. O impacto de cada defesa reverberava em seus braços, deixando-os mais pesados a cada movimento.
Enquanto Octávio segurava o ataque direto, a Aranha Trevo Glacial mudou abruptamente de estratégia. Em um movimento ágil e inesperado, ela lançou seu corpo na direção do ombro de Octávio, suas grandes presas venenosas brilhando com um tom azulado ameaçador sob a luz do gelo.
O ataque foi rápido demais para ser completamente evitado, quase pegando Octávio de surpresa. Porém, no último instante, ele instintivamente rolou para o lado, sentindo o ar cortante das presas passar perigosamente próximo de sua pele. Ao se recompor, ele já estava de joelhos, mantendo a lâmina erguida em posição defensiva.
Octávio respirava ofegante, o coração batendo acelerado. As presas da criatura agora eram uma nova ameaça, e ele não queria nem imaginar o que aconteceria se aquele veneno entrasse em seu corpo. Suas chances de sobreviver seriam menos que mínimas e, ele sabia disso.
Levantando-se do chão, Octávio avançou rapidamente contra a criatura. A Aranha Trevo Glacial reagiu instantaneamente, tentando interceptá-lo com suas afiadas patas. Apesar de receber alguns ferimentos superficiais — cortes finos e dolorosos em seus braços e laterais — ele continuou a investida.
Chegando bem à frente da criatura, Octávio fez um movimento rápido com o pulso, desferindo um golpe que parecia mirar diretamente no rosto da aranha. Instintivamente, ela ergueu suas patas dianteiras como escudo, preparando-se para bloquear o ataque. No entanto, o esperado golpe nunca veio.
O movimento foi uma distração. Enquanto a criatura focava no falso ataque, Octávio aproveitou a abertura para se aproximar ainda mais. Com um giro ágil do corpo, ele desviou das patas erguidas e desferiu um ataque decisivo, mirando o padrão em forma de trevo pulsante no centro do corpo da aranha.
A lâmina encontrou o alvo com precisão. Um som estridente ecoou quando o golpe atingiu o cristal pulsante, e uma rachadura começou a se formar a partir do impacto. A Aranha Trevo Glacial soltou um grito estridente, recuando em espasmos enquanto seu corpo inteiro tremia, como se o golpe tivesse atingido um ponto vital.
Octávio não perdeu tempo. Ele sabia que tinha pouco tempo antes que a criatura se recuperasse. Firmando a espada em suas mãos, preparou-se para desferir o próximo golpe, decidido a acabar com a batalha antes que as forças da criatura voltassem por completo.
A luta contra a Aranha Trevo Glacial estava longe de terminar. Quando Octávio se aproximou para desferir um golpe final, a criatura soltou um guincho gélido que ecoou pela paisagem, ressoando como o estalar de gelo profundo em uma tempestade de inverno.
Ao som do guincho, o padrão em forma de trevo no centro do corpo da aranha brilhou intensamente com uma luz fria, espalhando um brilho espectral que envolveu todo o seu corpo. Octávio sentiu um calafrio percorrer sua espinha, uma sensação de mau presságio que o impulsionou a tentar acelerar seu ataque, desesperado para finalizar a criatura antes que fosse tarde demais.
Ele ergueu sua lâmina e investiu com toda a força, mas antes que a espada pudesse colidir contra a criatura, a luz que envolvia seu corpo desapareceu. No entanto, ela não havia sumido sem propósito. O corpo cristalino da aranha agora estava coberto por uma armadura de gelo translúcido e espesso, que refletia a luz ao redor como um escudo impenetrável.
O ataque de Octávio encontrou a nova camada de gelo e foi repelido com um som surdo, sem causar qualquer dano visível. Ele recuou, ofegante, percebendo que o confronto havia se tornado ainda mais difícil.
A Aranha Trevo Glacial, agora protegida por sua armadura, encarou Octávio com seus olhos multifacetados brilhando de forma ameaçadora. Ela bateu suas patas contra o chão gelado, quando as patas golpearam o solo gelado com força, pequenas rachaduras começaram a se espalhar ao redor da criatura, como uma teia que se expandia em direção a Octávio. O som do gelo estalando parecia anunciar uma ofensiva ainda mais feroz.
Octávio rapidamente saltou para fora do caminho das rachaduras que se espalhavam pela Neve, mantendo-se em constante movimento para evitar ser pego desprevenido. Contudo, ao reposicionar-se, ele ficou exposto por um breve momento — tempo suficiente para a Aranha Trevo Glacial aproveitar a oportunidade.
Com um movimento poderoso e preciso, a criatura usou suas patas para agarrar e arremessar um tronco de árvore congelado que estava próximo. O pesado objeto cortou o ar com um som agudo, vindo diretamente na direção de Octávio.
Octávio tentou usar sua espada como escudo no último momento, mas o impacto foi brutal demais. O tronco arremessado pela Aranha Trevo Glacial colidiu com força contra seu corpo, despedaçando-se e lançando-o violentamente contra uma árvore congelada. O impacto derrubou a árvore sobre ele, envolvendo-o em uma confusão de gelo e madeira partida.
A dor e o frio entorpeciam seus sentidos, e a visão de Octávio estava turva enquanto ele se esforçava para se levantar. O som de passos pesados ecoava pela Neve, marcando a aproximação da criatura. A Aranha Trevo Glacial parecia mais lenta agora, seus movimentos antes ágeis substituídos por uma marcha deliberada e imponente. Sua armadura gélida havia claramente aumentado sua força e defesa, mas ao custo de sua velocidade.
Octávio, com dificuldade, conseguiu se colocar de pé, sua respiração pesada e o sangue escorrendo pela lateral de sua cabeça. Ainda desorientado, seus olhos buscaram freneticamente sua lâmina. Ele a encontrou, caída a poucos metros, semi-enterrada na neve.
Ele deu um passo hesitante na direção da espada, mas ao tentar agarrar o cabo, apenas uma de suas mãos respondeu ao comando. Confuso, tentou mover o outro braço, mas ele permanecia imóvel. Sua visão começou a se estabilizar, e o horror da situação finalmente se revelou: um pedaço do tronco estava cravado em seu braço inerte.
O choque o fez recuar por um momento, enquanto um frio agonizante começava a subir pela extensão do braço. Ele percebeu que a ausência de dor aguda não era um alívio, mas sim o efeito do resfriamento causado pela madeira congelada, que estava lentamente entorpecendo seus sentidos corporais.
Os passos da Aranha Trevo Glacial eram altos e ressoavam como o esmagar de gelo quebrado sob um peso imenso. Octávio sentiu cada som ecoar em seus ouvidos, um aviso claro de que a criatura estava a poucos passos de distância. Ele não precisou olhar para trás para confirmar; o frio crescente e a presença esmagadora atrás de si eram suficientes para saber que ela estava ali.
Respirando com dificuldade e cerrando os dentes em esforço, Octávio estendeu sua única mão funcional até a espada enterrada na neve. O peso da lâmina parecia triplicado por conta do cansaço que dominava seu corpo. A fadiga ameaçava dobrar seus joelhos, mas ele se obrigou a se manter firme.
Com um aperto resoluto no cabo da espada e reunindo as forças que ainda lhe restavam nas pernas, Octávio ergueu a lâmina e estabilizou seu corpo, erguendo-se completamente a tempo de encarar a criatura. A Aranha Trevo Glacial estava agora diante dele, seu enorme corpo coberto pela armadura translúcida que refletia a luz fraca ao redor.
Os olhos multifacetados da criatura o fitavam com algo que, na mente de Octávio, parecia quase uma zombaria. A aranha parecia ciente de sua vantagem, como se estivesse se deleitando com os esforços desesperados de Octávio para se manter de pé.
A Aranha Trevo Glacial ergueu uma de suas enormes patas, movendo-a lentamente, quase como se estivesse provocando Octávio, testando sua resistência e determinação. Então, em um movimento repentino, ela desferiu um ataque esmagador, sua pata descendo com uma força brutal.
Octávio, já debilitado, sentiu o perigo antes do impacto. Ele reuniu o que restava de suas forças e jogou seu corpo para o lado, desviando do golpe por um triz. O impacto da pata da aranha contra o chão foi tão intenso que fez pedaços de gelo e neve voarem em todas as direções. Uma fissura se abriu no chão, marcando o ponto de impacto e mostrando a força aterradora da criatura.
Ao se recuperar do desvio, Octávio ofegava, sentindo o peso do cansaço aumentar. Ele sabia que não podia permitir mais erros. Cada movimento errado o deixava ainda mais perto do limite.
Erguendo a espada com sua mão funcional, ele manteve os olhos fixos na criatura. "Uma brecha", pensou, seus olhos focando no local onde antes ficava o padrão de trevo. Ele em um momento explosivo aproveitou a abertura do ataque fracassado da criatura e desferiu um golpe conta ela, mas do mesmo jeito que antes a armadura a protegeu.
A Aranha Trevo Glacial girou seu corpo maciço com uma lentidão calculada, os olhos brilhando com uma fúria que parecia crescer a cada instante. Com um movimento brusco, ela agitou suas patas contra o chão, e o impacto reverberou como um trovão gelado.
O chão ao redor de Octávio começou a se partir, grandes rachaduras se espalhando em todas as direções como raízes de gelo. Ele sentiu o solo sob seus pés tremendo, ameaçando ceder a qualquer momento. Cada nova fissura parecia mais profunda, e uma camada espessa de gelo cristalizado começava a se formar nas bordas das rachaduras, limitando ainda mais sua área de movimentação.
Octávio arregalou os olhos ao perceber o perigo iminente. "Ela está tentando me encurralar," pensou, observando a aranha, que vinha com as mandíbulas abertas em sua direção, com um movimento desesperado ele consegue se esquivar por muito pouco de suas mandíbulas, mas não sem sequelas, enquanto ele desviava da mandíbula da criatura uma das patas dela atingiu superficialmente sua perna abrindo uma ferida, em um outro momento isso poderia até não ser algo grave, mas aqui onde seu corpo já esta completamente fadigado isso já era uma sentença de morte.
Agora com sua perna ferida sua vantagem em velocidade havia sido perdida, a Aranha Trevo Glacial levantou suas afiadas patas, parecia que ela estava prestes a desferir o golpe final, Octávio olhou para cima, ele viu as pontas afiadas das patas prontas para acabar com sua vida e, entre elas ele viu sua vida, como ela teria sido se tudo isso não tivesse acontecido?, ele ainda estaria na escola?, ele seria popular?, ele teria muitos amigos?.
Pensamentos invadiam sua mente enquanto as patas da aranha lentamente desciam sobre ele, "E como eu pensei, vou morrer sozinho!", "Sozinho!", "Sozinho?", "Eu-Eu não estou sozinho!"
As patas da Aranha Trevo Glacial desceram como martelos, levantando uma avalanche de neve ao redor. Quando a nuvem branca dissipou, a cena que emergiu era de pura determinação. Octávio estava de pé, sua espada sustentando o peso brutal das patas da criatura. Seus olhos estavam fixos e resolutos, enquanto uma pequena, quase etérea chama marrom tremeluzia em seus ombros.
"Foi mal, mas ainda não é minha hora!" ele declarou com um tom firme, sua voz cortando o ar gelado como uma lâmina.
A aranha hesitou, seus olhos multifacetados refletindo confusão e, talvez, um toque de medo. Porém, instantes depois, ela voltou a atacar, desta vez mirando um golpe fatal com uma de suas patas afiadas.
Antes que pudesse terminar o movimento, um guincho de dor ecoou pela Área. A pata da criatura, coberta pela armadura de gelo, foi cortada com um único e certeiro golpe da lâmina de Octávio. O sangue azul escorreu para a neve, contrastando com o branco puro do chão.
"Eu disse, ainda não é minha hora!" Octávio falou novamente, com um brilho nos olhos, enquanto dava mais um passo em direção à criatura.
A Aranha Trevo Glacial tentou formar um escudo com suas patas restantes, mas o esforço foi em vão. Octávio desferiu um ataque poderoso, atravessando a "defesa" da criatura e decepando mais duas de suas patas. O guincho que se seguiu era agudo e desesperado, ecoando como um lamento.
A armadura de gelo, antes sua maior proteção, tornou-se um peso que limitava seus movimentos. Em um frenesi de sobrevivência, a aranha começou a atacar descontroladamente, mas cada golpe era recebido com precisão e devolvido com força. Pata após pata, a criatura foi sendo desmembrada, até que sobrou apenas sua cabeça e o volumoso abdômen, que agora jazia impotente na neve manchada de azul.
Seus olhos, antes tão ameaçadores, agora estavam repletos de desespero enquanto observavam Octávio se aproximar lentamente. A lâmina em sua mão vibrava.
"Olha, eu não sei o que exatamente está acontecendo, nem o porquê disso, mas de alguma forma, isso tem algo a ver com você, e, por isso, obrigado."
Essas foram as últimas palavras que a Aranha Trevo Glacial ouviu antes de Octávio cravar sua espada em sua cabeça, encerrando a batalha.
O silêncio que se seguiu foi pesado, apenas o som do vento cortante preenchendo o vazio deixado pelo confronto. Octávio permaneceu imóvel por alguns segundos, observando o corpo inerte da criatura. Ele respirou fundo, sentindo o peso do que acabara de acontecer. Uma mistura de alívio, cansaço e algo inexplicável preencheu seu peito.
A chama marrom em seus ombros desapareceu tão silenciosamente quanto havia surgido, deixando apenas um jovem exausto, mas vitorioso, em meio à vastidão gélida.
"Luna!"