Dentro de um pequeno apartamento desorganizado, com o chão coberto por velhas caixas de papelão vazias e antigas fitas de embrulho esquecidas, uma figura estava sentada em uma das caixas, perto da janela. O silêncio ao redor contrastava com a notícia que passava em seu telefone.
"Foi confirmado que o tão aguardado cometa 'Kotha' passará pelas proximidades do nosso planeta por volta das 3:00 da tarde de hoje. Este evento é único, pois, segundo os astrônomos, o cometa só voltará a aparecer daqui a 3.500.000 anos. É, sem dúvida, um dia memorável. Não acha, professor?"
"Sim, Susan, sem sombra de dúvidas, hoje será um dia inesquecível para todos nós!"
Uma voz masculina, carregada de expectativa e ansiedade, ecoou no pequeno apartamento: "Uma chance única na vida! Ainda bem que me preparei antecipadamente. Desta vez!"
...
A milhares de quilômetros dali, em uma escola estadual, uma discussão acalorada entre um aluno e seu professor ocupava uma sala de aula.
"Professor, sei que os dados muitas vezes são precisos, mas sempre existe a possibilidade de erro!"
" Jonas, já te disse mil vezes, os dados estão corretos. Não há como haver falha!"
"É? Pois eu discordo!"
" Muito bem, Jonas. Então me mostre o que está errado nos dados. Mas lembre-se: se for algo irrelevante, você e toda a turma vão passar um mês escrevendo redações sobre cometas!"
"O quê? Como assim?"
" Sem problemas!"
Jonas, confiante, caminhou até o projetor.
Enquanto isso, em outra parte da sala, dois colegas conversavam.
"De novo fomos envolvidos..."
"Por que isso sempre acontece?"
"Vai saber. Talvez porque nunca impedimos."
"É provável... Hum, falando nisso, você sabia que o Diego brigou nos fundos da escola?"
"Sério?"
"Sim!"
"Por quê?"
"Pelo jeito foi por ca-"
"Shiii! O Diego está olhando para você!"
"Por que não me avisou antes?"
"Desculpa! Só percebi agora!"
"Ei!!"
"Vocês estavam falando de mim, não estavam?"
"Não! Não!"
"Jura? Porque tenho certeza de que ouvi meu nome."
"Foi engano!"
"Sim, engano!"
"Engano, é?..."
Nesse momento, a voz do professor voltou a chamar a atenção dos alunos.
"Diego, deixe eles em paz!"
Diego revirou os olhos e resmungou:
"Tsk, que se dane. Estou indo embora. Não vou aprender nada aqui de qualquer jeito!"
"Ei, Diego, ainda estamos em aula!"
"Eu já disse que não vou apre— Ué, por que a porta não abre?"
"O quê?"
"A porta! Não abre!"
"Como assim?"
"ELA NÃO ABRE!"
"Não precisa gritar, eu te ouvi! Deixa eu ver."
"Hah! Como se você conseguiria abrir se eu não consegui."
"Só tem um jeito de saber!"
A colega tentou abrir a porta, mas logo percebeu que, embora não estivesse trancada, ela simplesmente não se mexia.
"Isso é estranho... A porta não está trancada, mas também não abre. Está emperrada?"
"Não! Eu saí para o banheiro agora há pouco e não tive problema algum!"
De repente, um grito cortou o ar.
"O PROFESSOR SUMIU!!"
"O QUÊ?"
"ELE ESTAVA AQUI AGORA MESMO! AGORA NÃO ESTÁ MAIS!"
Antes que pudessem processar a situação, as luzes da sala se apagaram. Não só as luzes, mas todos os aparelhos eletrônicos pararam de funcionar de uma só vez. O pânico se instalou na sala, apenas para ser momentaneamente abafado quando, dois minutos depois, os aparelhos voltaram a funcionar.
O projetor ligou novamente, e a porta, que antes não abria, se abriu. Mas ninguém ousou sair da sala.
E por um bom motivo.
Do lado de fora, pendurado na parede, estava o gentil e amado professor, mas agora ele era irreconhecível. Seus braços estavam retorcidos em ângulos impossíveis. Seu rosto, dilacerado. Do torso para baixo, ele estava completamente exposto, suas costelas, espinha e órgãos caídos no chão, formando uma poça de sangue que escorria lentamente em direção à sala.
O som de vômitos e choro ecoou pela sala, mas logo foi abafado por uma voz robótica que emanava dos aparelhos eletrônicos.
{ O TUTORIAL ESTÁ COMEÇANDO }
{ MISSÃO PRINCIPAL: FUJA DA ESCOLA ANTES QUE O DIRETOR TE ENCONTRE }
[Recompensa: Despertar de Classe]
[Punição: Morte]
Mensagens semelhantes espalharam-se rapidamente pelo mundo.
Mas poucos deram a devida atenção.
...
Nos corredores, gritos, choros e até risadas enlouquecidas preenchiam o ambiente. Em meio ao caos, na ala médica, um adolescente de cabelos negros e olhos castanhos olhava para a porta aberta, pronto para sair.