Ainda na terça-feira, Theodore já esperava Gabriel no portão da escola. Ficar sentado na sala de aula o deixara angustiado, enquanto que no pátio podia, ao menos, admirar o pôr-do-sol alaranjado. Contudo era um tanto quanto estranho ficar parado ali com alguns estudantes passando por si o olhando e acenando timidamente.
O ômega olhava em sua volta verificando que não havia nenhuma outra pessoa além dele mesmo por ali, só para ter a certeza de que o aceno para si. E somente então retribuía tão timidamente, arrancando sorrisinhos das pessoas que seguiam seus caminhos.
Estariam rindo dele ou rindo para ele?
Theodore não sabia.
— Boa sorte no concurso, Theodore! — Ousara dizer um rapaz que Theodore reconhecera ser da classe de Lilian, acenando espalhafatosamente para o ômega. — O primeiro ano conta contigo!
O garoto acenava mesmo correndo pela rua, deixando os demais olhando curiosos para o loiro. Reprimira a vontade de encolher os ombros. Não havia se sentido empoderado quando conversara com Sadie mais cedo? Não estava participando do concurso da escola, com o intuito de ajudar o primeiro ano? Se parecesse tão patético só de receber um incentivo de um colega, como poderia trazer a vitória para eles?
Não ousaria.
Theodore erguia a mão e acenava de volta, abrindo um belo e charmoso sorriso.
Baixos gritinhos eufóricos, que foram custosamente contidos pelas garotas, deram margem para que Theodore se tornasse o centro das atenções naquele momento. E para a surpresa do ômega, não fora uma menina que se aproximara dele, e sim um outro garoto. Um garoto alto com o uniforme do time de futebol da escola.
— Eaí, Theodore! Meu irmão é da sala que você está representando. Ele fala bastante de você.
O ômega piscara aturdido com a repentina aparição daquele garoto bonito. Era alto de cabelos loiro acastanhado. Lembrava-se de um menino na sala de Lilian que tinha cabelos daquela cor, fora o mesmo que encontrara no ginásio no domingo. Seria ele o irmão daquele jogador?
— Espero que sejam coisas boas.
O garoto ria divertido assentindo com a cabeça, jogando a mochila sobre o ombro.
— Ele é vice representante de turma, e sempre reclama que a representante tem ideias malucas. Mas parece que dessa vez ela acertou em te recrutar para o concurso.
Oh, certo... Lilian e seus planos estavam ganhando fama pela escola. Apesar de Theodore nunca ter visto algum plano dela dar errado. Um grande mérito da garota.
— Também fiquei surpreso quando ela me convidou, mas admito que é bem divertido.
— É legal perceber sermos capazes de fazer algo que nunca tentamos antes, não é?
Theodore arregalava os olhos sutilmente para aquele garoto. Ele fitava o horizonte parecendo se inspirar nos céus para lhe dizer aquela frase. Até seu coração batera acelerado concordando com aquilo.
Era imensamente prazeroso descobrir ser bom em algo. Apesar de Theodore não ter feito nada de mais até então. Mudou um pouco o seu visual, e se sentia diferente por conta disso. Era tão prazeroso encontrar esse novo eu, que Theodore queria desvendar a si próprio cada vez mais.
Um sorriso fofo surgia em seus lábios, e junto do cheiro característico de ômega, o jogador de futebol o encarava levemente ruborizado.
— É muito legal mesmo. Sou muito grato pela turma do seu irmão em proporcionar essa experiência para alguém como eu.
— Já tinha ouvido alguns rumores a seu respeito, mas nunca imaginei que você seria tão gente boa.
Ah, pobre Theodore. Seu coração acelerou empolgado mais uma vez.
Estaria ele fazendo mais um amigo?
Ah, que alegria! Um amigo! E ele parecia ser tão bacana, fácil de conversar. Queria muitos amigos, Theodore ansiava cada vez mais ter uma vida estudantil como os filmes que tanto adorava. Amigos que compartilhassem qualquer situação. Amigos de verdade.
Finalmente Theodore poderia fazer amigos, além de Nico e Gabriel, naquela escola.
A felicidade estava estampada em seus olhos azulados. Sua alegria tão genuína fazia o jogador de futebol soltar uma risada alta divertida ao estender a mão em sua direção.
— Sou Lucas, é um prazer te conhecer melhor, Theodore.
O ômega segurara a mão do jogador a apertando levemente em cumprimento.
— Digo o mesmo.
A aura entre aqueles dois era tão gostosa repleta de felicidade, que somente se rompera quando o jogador de futebol sentira uma presença pesada e aterrorizante vindo atrás de Theodore. Olhando sobre o ombro, Lucas era o mais novo alvo do olhar frio de Gabriel que havia recém chegado.
Um arrepio passara pela espinha de Lucas, sentindo seus instintos implorarem para irem embora. No entanto, suas pernas congelaram no lugar.
— Theo!
Theodore não soltara a mão de Lucas quando virou-se para trás e encontrara Gabriel lhe dirigindo um sorriso amável. O ômega, só de vê-lo tão belo usando o uniforme de treino, liberou mais do seu cheiro em pura empolgação de ver aquele alfa.
— Gabriel! Hoje você demorou.
— Recebi uma mensagem do Milles pedindo pra gente levar alguma coisa para eles comerem, e tava separando uma grana...
Os olhos amendoados de Gabriel foram para as mãos dos dois híbridos que ainda estavam encostadas. Furtivamente o alfa rosnara, fazendo Lucas desfazer o toque e acenar nervoso para Theodore.
— Conversamos melhor outro dia, Theodore. Foi daora te conhecer.
Theodore acenava para o mais novo amigo e sorria largamente.
— Certo, até mais!
Finalmente sozinhos, Gabriel fora ao lado de Theodore olhando sua mão direita. Era aquela que estava, agora, com o cheiro de outro alfa. Respirando fundo antes de ter a atenção do loiro novamente em si, Gabriel fora para o lado esquerdo de Theodore o puxando pelo pulso.
— Vamos, se não vai ficar muito tarde.
— Ah... Sim, certo. O que devemos levar mesmo?
— Provavelmente algo leve, não?
Os dois rapazes subiram a rua em direção a loja de conveniência, onde compraram cabelo de anjo e alguns vegetais para fazer uma sopa. Eles conversavam normalmente, apesar de Theodore ainda ter guardado em sua mente o ocorrido de Thunder.
Queria perguntar.
Mas ao mesmo tempo, temia a resposta.
Além disso tinha a situação de Sadie... Pelos céus, como conseguia sorrir para Gabriel quando sua cabeça parecia entrar em erupção de tanta coisa que o preocupava?
Até que ponto deveria dar tanta atenção para coisas como aquelas? Não seria melhor ignorar? Ou apenas observar até tudo se resolver por conta própria? Talvez não precisasse se esforçar tanto quanto imaginava.
Perdido nos próprios pensamentos, Theodore despertava dos mesmos quando sentira algo quente segurar a sua mão esquerda. Olhando para ela, corava em notar que Gabriel havia entrelaçado seus dedos.
— Já que não tem ninguém na rua, está tudo bem em andarmos assim até a casa do capitão, não é?
Theodore olhara em volta concordando com o alfa.
— Acho que sim.
— Finalmente posso segurar sua mão desse jeito. — Suspirava Gabriel, arrancando olhares curiosos do loiro. — O treino foi muito intenso hoje sem o capitão e sem o Milles. Me senti sozinho.
Coçando a nuca, Theodore baixara os olhos receoso ao questionar.
— Alguém comentou alguma coisa da história?
— Me perguntaram o que eu achava. Foi bem como você previu, eles ficaram receosos que você aparecesse por lá.
Não ficara surpreso em saber daquilo. Theodore sempre imaginara que quanto mais se expusesse enquanto ômega na escola, maiores seriam os receios de outros garotos. Só esperava que isso não o afastasse do time de vez, pois aí ficaria sozinho boa parte do dia.
Ir para a escola e voltar para casa sem poder conversar com Nico e Gabriel. Só poderia ir assistir as partidas das arquibancadas, sem poder preparar o almoço nutritivo para os dois.
Seria afastado deles. Poderiam se ver só nos finais de semana... E olhe lá! Provavelmente Theodore se sentiria solitário como nunca se sentira antes.
— Vai ficar tudo bem, não é? — Murmurava o rapaz erguendo a cabeça ao se aproximar da casa de muro baixo. — Um passo de cada vez.
— Ei! — Gabriel parara de andar repentinamente, ainda segurando a mão de Theodore. — Estou com você. Pode confiar em mim.
— Eu confio.
As bochechas de Theodore ganharam um tom rosado adorável, e Gabriel não se aguentara em aproximar-se do ômega para beijar suas bochechas. Um beijo simples e rápido, mas que fazia um coração enlouquecer dentro do peito.
Aquele ômega olhava apaixonado para aquele alfa. Apertava seus dedos aos de Gabriel, tentando conter a euforia. Queria pular em seus braços. Queria sentir seus beijos e carinhos. Queria ficar cada vez mais perto de Gabriel.
Eram tantos desejos, que seu cheiro o denunciava prontamente para o ficante.
Gabriel, por sua vez, diminuíra a distância entre eles para poder beijar Theodore. Acariciou suas bochechas com as pontas dos dedos, e aproveitara a calmaria daquele entardecer para ter o primeiro beijo do dia.
Oh sim, os meninos mal tiveram tempo juntos naquela terça-feira. Talvez fosse por esse motivo que o alfa parecesse tão impaciente em ficar sozinho com o seu ômega. Mas tivera de se conter, pois ainda havia uma coisa para fazerem.
Visitar o capitão e, talvez, impedir que a terceira guerra mundial acontecesse.