Chereads / Life and Death: Lendas de Olímpia / Chapter 38 - Na Luz do Luar

Chapter 38 - Na Luz do Luar

Lorelai

Faz um bom tempo desde que eu tive destaque no grupo. É meio irônico eu usar a palavra "tempo" não acha? Logo eu que literalmente tenho controle sobre ele. Os dias tem estado corridos ultimamente, teve o ataque, a descoberta dos eternos, a gravidez da Toga e agora o Brasil. Se existe alguma dádiva que faça o tempo retroceder eu quero aprender ela agora!

Pâmela e eu não nos falamos a um tempo, desde aquela treta no shopping com o Zakk, acho que ficamos muito ocupadas com tudo. Acho que o Brasil vai ser mais tranquilo, talvez eu chame ela pra sair, pegar uma praia ou algo assim. Eu ainda não desisti de dar uns pegas nela!

Brincadeiras a parte, eu sinto que eu e ela não nos conhecemos tão bem assim. Na verdade, a maioria de nós não se conhece tão bem. A amizade entre todos nós é algo bem natural, nos conhecemos a pouco tempo mas passamos por cada coisa juntos. Acho que no final a nossa aproximação seria inevitável.

Mas bem, eu já me perdi demais nos meus pensamentos. Devem estar se perguntando o que eu tô fazendo agora né? Resumindo, eu tô indo treinar, do meu jeito é claro.

Aqui é o meu lugar preferido no Kurumin, é uma cachoeira que cai em uma caverna tomada pela natureza, tem vinhas e plantas agarradas nas paredes, tem árvores crescendo lá embaixo, o lago no fundo tem vitórias-régias com flores coloridas boiando nele e é um paraíso pros axolotes que vivem aqui, eu amo esses carinhas! Ainda bem que lugares assim existem, paraísos escondidos onde criaturas ameaçadas não correm o risco de serem extintas.

Esse lugar é ainda mais lindo à noite, a luz da lua ilumina o pequeno lago, o único som é o do vento balançando as folhas das árvores e a cachoeira caindo, é um lugar pacífico e tranquilo. Ótimo pra treinar.

Tiro a minha mochila e a deixo no chão, ninguém vem aqui a noite, então não tem problema deixar aqui enquanto eu treino lá embaixo. Comecei a me despir, guardando as roupas na bolsa, vesti um short leve e caminhei até a borda da caverna.

Respirei fundo enquanto ouvia o som calmante da água caindo, fechei os olhos. Só podia sentir o ar frio e úmido batendo em minha pele. Apenas deixei meu corpo cair em direção ao buraco. Esse momento passa quase em câmera lenta pra mim, eu quase podia ver as gotas d' água caindo lentamente perto de mim. Respirei fundo antes de atingir o lago.

Acho que os axolotes se assustaram com a minha presença, os bichinhos nadam pra longe de mim. Acabo rindo mentalmente vendo-os nadando com os rabinhos entre as pernas.

Nadei um pouco pra relaxar, sentindo meus músculos relaxarem enquanto a água leva embora as minhas preocupações. Só sai quando fiquei satisfeita.

Fui até a mochila que deixei aqui embaixo e peguei uma toalha. Agora eu percebi uma coisa... Meu corpo ficou bem definido de uns dias pra cá. Não tô enorme igual a Toga mas mesmo assim, meu físico é de invejar. Dá até pra ver um tanquinho começando a se formar. Até o final dessa aventura a maioria de nós vai ficar em boa forma.

Tirei o sarashi que guardei na mesma mochila e comecei a cobrir meu peitoral nú com eles, eu até gosto da sensação de liberdade quando meus seios estão soltos, mas deixar eles balançando por aí atrapalha o treino. Cobri as mãos e os pés também pra evitar que eu acabe me ferindo.

Depois disso, me encostei em uma árvore próxima e entrei em posição de meditação. Limpei minha mente e respirei fundo. Posso sentir a sensação do Kamui à minha volta, mesmo sem tê-lo ativado. Aquela sensação empoderada de ser o único ser que domina o poder mais destrutivo do mundo: o tempo. A sensação é inebriante, eu me sinto invencível!

Abri meus olhos após essa breve reflexão, foi isso que o professor nos ensinou. "Vocês são fortes quando estão separados e invencíveis quando estão juntos." Eu tenho que focar minha mente nisso, eu sou forte, eu sou forte, eu sou forte...

Nessa hora acabo lembrando da dádiva que o professor havia me ensinado a alguns dias atrás.

Concentro o poder na minha mão. Senti a energia da minha aura se alastrar por todo o meu corpo e se concentrar somente na mão esquerda. O professor nos explicou que as dádivas são como o motor de um carro, nossas auras são como gasolina e quem libera a centelha somos nós. Dar partida no motor só depende de nós, devemos estar no total controle o tempo todo, agora que eu já tenho a gasolina, só falta acender a centelha.

Concentrei minha mente e só pensei no nome da dádiva:

"Dádiva do Trovão: Relâmpago Cortante!"

Assim como a gasolina explode no motor, a energia na minha mão se torna eletricidade, se alastrando na forma de raios pelo ar. Esse sentimento é incrível! É como se eu estivesse segurando uma tempestade de raios na palma da minha mão! O poder dessa dádiva é devastador, eu posso sentir.

Quando menos esperava, senti uma dor formigar pelo meu braço, isso acabou tirando a minha concentração. A eletricidade se desativou em um pequeno estouro com a minha falta de concentração.

Tentei outra vez e a mesma coisa aconteceu, acho que a eletricidade acabou machucando o resto do meu braço, mas essa agora. Como eu posso evitar que o meu braço seja arregaçado pela eletricidade? Talvez se eu dividir a corrente elétrica pelo meu corpo? Seguro meu braço com a outra mão, a corrente se alastra pelo meu corpo rapidamente. Pude manter o relâmpago por muito mais tempo, mas mesmo assim ainda dá pra sentir a dor, e depois de uns cinco segundos ela se torna insuportável.

Estava prestes a treinar mais quando um rugido chama minha atenção. Fico alerta naquele mesmo momento, posso ver olhos felinos me fitando na escuridão, tem um grande felino à espreita. Me preparei mentalmente pro ataque, não estava com medo, mas a expectativa de um ataque surpresa me deixava apreensiva. Eu sei o que está acontecendo aqui, isso é um teste, tem um Deus querendo me testar.

Ativo o relâmpago enquanto observo uma pantera negra caminhar das sombras até a luz da lua. Tem algo diferente nela, um ar meio... divino?

Seu olho esquerdo tem uma marca parecida com a de um raio o cortando, mas não é uma cicatriz, é quase uma tatuagem, uma que tem um brilho azul intenso. A sensação de estar sendo caçada por um predador perigoso é arrepiante, o bicho caminha em círculos lentamente, ficando atento a cada mínimo movimento meu, me analisando, procurando uma fraqueza e uma brecha pra atacar. Me sinto paralisada, quase sem controle algum sobre meu próprio corpo, mas não é medo, é uma antecipação que me assola enquanto espero pelo avanço.

De repente, ele para. O resto do mundo parece parar também, só dá pra ouvir o som do vento balançando as folhas das árvores, nossos olhares fixados uns nos outros. É tudo ou nada agora, sou eu ou ele. Ele avança na minha direção rapidamente. Ativo o Relâmpago Cortante e espero a hora certa. No momento em que ele salta na minha direção com as garras e dentes prontos pra rasgar meu pescoço, o tempo outra vez pareceu correr em câmera lenta. As garras estavam a centímetros de mim, enquanto meu braço viajava em direção ao corpo do animal.

Ele é rápido, mas no final o meu golpe foi mais rápido, atingindo a barriga da pantera em cheio. Seu corpo convulsionando com a corrente elétrica o atravessando, seu corpo é lançado até o outro lado da caverna, acertando a parede.

Respiro pesadamente olhando a palma da minha mão, não fazia ideia que eu era capaz de algo assim. Quando desviei meu olhar para o animal, percebi que não estávamos sozinhos ali, havia uma mulher ajoelhada próxima a pantera ferida, a pele negra como a noite e os dreads longos lhe caindo pelo corpo enfeitados com anéis dourados, não vestida nada no corpo e tive a impressão de ver uma calda em suas costas. Ela virou levemente o rosto em minha direção, mas sem mostrar sua face e quando pisquei, ela e a pantera haviam desaparecido.

É, acho que chega de treino por hoje, aquela com certeza era uma deusa e eu não quero ficar aqui pra descobrir quem ela era. Mas por ter me testado, provavelmente é uma deusa do trovão. A falta de vestimentas dificulta descobrir sua identidade, mas acho que não deve ser difícil encontrar uma que seja relacionada às panteras.

O que me surpreende é o fato de um Deus do trovão está procurando campeões quando cada vez menos pessoas escolhem a escola do trovão.

Devem estar se perguntando o porquê disso, não é? Me diz, quem iria querer fazer parte da escola que é relacionada a Zeus e Thor, os Deuses mais escrotos de suas mitologias? Zeus sendo um adúltero safado e o Thor um esquentadinho violento? Sem falar no Seth que é um baita de um pau no cu também. Acho que o único que se salva é o Raijin, e olha que ele também não é flor que se cheira. Com tantos escrotos em uma única escola as pessoas estão começando a abandoná-la, isso é triste porque são várias dádivas poderosas sendo esquecidas.

Já eu? Eu sei bem que eles são um bando de cuzões, mas quando se trata de poder, não há melhor demonstração do que um relâmpago rasgando o céu e o estrondo poderoso de um trovão ecoando no ar. Quando se é rápido como um relâmpago o seu inimigo nem vê o que o atinge.

Estava prestes a sair da caverna usando uma dádiva pra voar lá pra cima quando noto uma pequena forma negra no laguinho, é um axolote totalmente negro. O animalzinho parecia olhar pra mim com curiosidade. Ele parece ter algo nas patas, uma esfera negra perfeita, acho que é uma pérola. Acabei me aproximando por curiosidade, o bichinho não parecia ter medo, já que não nadou pra longe quando cheguei perto, pelo contrário, ele parecia estender a pérola em minha direção. Será que o carinha quer me dar um presente?

Segurei a jóia em minhas mãos, causando um pequeno formigamento. É uma jóia maravilhosa, tenho que admitir, e olha que eu não sou do tipo que vê valor em jóias, essas coisas não me chamam a atenção. São só pedrinhas bonitinhas, nada demais.

Porém, como foi um presente, achei melhor guardar. Pôde ficar legal na decoração do meu quarto ou em um colar. Percebi que o axolote continuava me olhando e acabo sorrindo com a fofura dele. Molhei as mãos mais uma vez pra fazer um cafuné no carinha, acho que eu gostei dele.

—Você é uma gracinha, sabia?

Ele parecia se esfregar nas minhas mãos pedindo mais, acabei ficando ali por longos segundos só o agradando.

—Acho que eu vou te dar um nome, que tal... Noturno? Já que você parece ser o único dos seus amigos que ainda tá acordado.—Parece que ele gostou, vou visitar esse lugar mais vezes de agora em diante.

Me despedi do Noturno prometendo que iria voltar e logo sai, usando a Fúria de Thor pra voar até o topo da caverna. Guardei a pérola na mochila e segui meu caminho.

Caminhar pelo Kurumin à noite é meio assustador, só você e a natureza. Os menores sons fazem seu instinto de sobrevivência disparar, ainda mais quando a única fonte de luz iluminando é o brilho da lua. Eu sei que eu sou capaz de matar a maioria das coisas que talvez tentassem me matar, mas é impossível não ter um pouco de receio.

Acabei nem percebendo quando cheguei em um grande lago, a lua fazia um lindo reflexo nas águas escuras. Esse lugar é bastante silencioso, é pacífico, belo. Tão belo que pelo jeito eu não fui a única que quis o admirar, a Pâmela está aqui também, se banhando pacificamente nas águas escuras do lago. O corpo perfeitamente em forma sendo acariciado pelo vento leve que refrescava naquela noite quente, a pele dourada sendo purificada na água límpida, diria que é uma verdadeira ninfa. Uma que se quisesse me seduzir e arrastar pro fundo do lago eu me entregaria de corpo e alma e morreria muuuito feliz.

Me certifiquei de que ela não me notaria e fiquei ali a olhando, eu sei que é errado mas porra... Com todo o respeito do mundo, ela é uma puta de uma gostosa.

Esperei um tempo e quando pareceu que ela finalmente estava prestes a sair da água, decidi que iria finalmente agir.

"Kamui!"

Com a força da minha aura, o mundo à minha volta congela completamente. Me aproximei da árvore onde ela havia deixado suas roupas, peguei um pedaço de papel, escrevi: Olha pra trás ;). Deixei por cima das roupas de uma forma que não seria possível ela não ver e me afastei outra vez.

"E o tempo volta a correr."

Assim que ela vê o bilhete e se vira, paro o tempo mais uma vez. Senti o calor de seu corpo quando cheguei perto. Os lábios dourados dela entreabertos eram muito convidativos, nem me importei com seu corpo nú a minha frente, só me importei com seu rosto angelical. Afastei gentilmente algumas mechas molhadas de seu rosto ainda tomando coragem, só me restam 20 segundos.

Quando finalmente liguei o "foda-se" na minha mente, meu tempo estava quase acabando, tomei seus lábios suavemente, não invadi sua boca, apenas um selinho demorado o suficiente pra que ela fosse capaz de sentir. Meu ar faltou na melhor hora, sabe, aquela hora que você já tá tão entregue ao momento que você esquece do mundo? Quase tive vontade de fumar umas 50 caixas de Marlboro Red pra me vingar dessas merdas desses pulmões inúteis. Brincadeiras a parte, eu decidi sair logo pra não ser descoberta. E me escondi atrás de uma árvore próxima.

Assim que o tempo volta, ela tem um sobressalto, seu rosto cora levemente e ela leva os dedos aos lábios ainda ofegante ainda sentindo a pressão dos meus lábios sob os dela, sorri vendo ela toda envergonhada. Dei as costas pra ela e sai dali, por hoje tá bom, quero conquistar ela aos poucos, mas acho que esse foi um bom começo.

Percebo agora que o Kamui não é só útil em batalha, dá pra fazer muita coisa com ele no cotidiano.

Acho que eu vou me aproveitar mais dele...