Chase caminhava com cuidado pela floresta, a cada passo, ele podia sentir a sensação do espírito desconhecido só aumentava. Por mais que ele precisasse tomar cuidado, sua cabeça estava em outro lugar. Em Alexis, mais precisamente e na conversa que tiveram mais cedo.
Os dois deitavam-se na cama ofegantes após o dia que passaram juntos e mesmo não estando mais sobre seu controle, Chase não conseguia tirar os olhos do dele, aqueles olhos lilases o olhando com uma serenidade atípica do menor, ele não podia negar que sentia falta dessa calmaria.
-Sabe... acho que eu absorvi energia suficiente.-Alexis disse em meio à respiração ofegante.
-Energia?
-É, sou metade incubu lembra? Absorvo energia sexual durante o ato.
-Ah é, você usa ela pra sobreviver né?-Chase viu os olhos do menor ficarem distantes, mais que isso, os viu se encherem de agonia e, mesmo sem entender, Chase queria confortá-lo.-Ei, o que foi?-Alexis balançou sua cabeça, como se afastasse os pensamentos passando em sua mente e então voltou a fitá-lo.
-Na verdade eu não preciso da energia pra sobreviver, um incubu de sangue puro precisaria mas eu sou metade humano também, o problema é que...-Alexis sentiu as lágrimas virem com força e precisou desviar o olhar antes de continuar.-O problema é que se um meio incubu não absorver energia sexual o suficiente até os dezoito anos nós... Morremos...
-O que!?-Chase teve que se levantar para encará-lo, as lágrimas agora caiam de seus pequenos olhos.
-É por isso que não existem tantos de mim, quem iria querer condenar uma criança à morte certa?
-Mas você absorveu o bastante não é!? Você vai sobreviver não vai!?-Chase estava tomado pelo desespero, logo agora que eles começaram a se dar bem...
-Eu vou, mas quando eu fizer dezoito minha transformação vai estar completa, eu vou perder a minha parte humana e me tornar um incubu completo, e me disseram que a transformação é dolorosa.
-E quando é que você faz aniversário?
-Amanhã...
-Então à meia-noite de hoje você...-Alexis apenas acena com a cabeça, suas lágrimas só aumentaram e ele abraçou o próprio corpo.
-Eu tô com medo Chase...
-Eu... Eu vou estar aqui com você, não vou sair desse quarto tá bom?-Chase se deita ao seu lado e trás para perto em um abraço.
-Promete?
-Prometo.
Naquele momento Chase tinha um só objetivo, ele ficaria ao lado Alexis quando a transformação ocorresse ou ele iria cravar sua espada no próprio peito por descumprir sua promessa. Ele tinha um plano, derrotar quem quer que tivesse invadido a ilha e voltar para Alexis o mais rápido possível.
Foi aí que Chase sentiu, aquela sensação estava cada vez mais forte, o espírito inimigo se aproximava cada vez mais e em uma velocidade assustadora.
Chase invocou o espírito azul à sua frente como um reflexo, a espada do espírito defendeu o golpe veloz do espírito de Gallien.
-Sensei?
-Mesmo sendo muito mais lento você conseguiu aparar o golpe do meu eterno, muito bem.
-"Eterno"? É esse o nome dessa coisa? E por que o meu é tão diferente do seu?-O eterno de Gallien tinha uma forma, já o seu era apenas uma silhueta humana segurando uma katana feita da mesma energia
-Os eternos são a manifestação física da aura das pessoas, e é através deles que os semideuses podem usar as dádivas eternas, seu eterno ainda é fraco, mas quando ficar mais forte vai ter uma forma igual ao meu e poderá até transformar o próprio corpo no eterno pra que não precise se separar dele.-Chase assistiu Gallien sair de dentro do espírito.-É o que chamamos de forma eterna.
-Então aquela dádiva que eu usei contra o Jörmungandr não é a única.
-Não mesmo, as dádivas eternas são as mais poderosas de todas.
-Foi você que derrubou aquelas árvores?
-Eu mesmo, eu sabia que você viria assim que sentisse a presença do meu eterno.
-Professor, seja lá o que você quer comigo vai ter que esperar até amanhã, eu tenho que voltar pra casa.
Chase fez seu eterno voltar ao seu corpo e já dava as costas para começar a descer a montanha mas foi surpreendido pelo eterno de Gallien bloqueando sua passagem.
-Você não vai a lugar nenhum, esse treino não pode esperar.
-Se é só um treino então podemos treinar amanhã, eu tenho que voltar ao Alexis ele precisa de mim e não resta muito tempo.-Faltava uma hora para a meia-noite.
-Então é por isso que quer tanto evitar o treino? Quer ficar com seu "amigo"?
-Você não entende, isso é algo importante, não tenho tempo a perder, tira o seu eterno do caminho.
-Que tal fazermos o seguinte, o treino vai ser descer a montanha com o meu eterno atacando você, o objetivo é só chegar em casa usando suas dádivas e o seu eterno.
-Tanto faz, eu só quero chegar em casa o mais rápido possível.
-Tudo bem então, vamos começar. Só mais uma coisa, enquanto seu eterno estiver fora do seu corpo apenas ele poderá usar dádivas, enquanto você fica vulnerável.
Gallien diz antes de entrar na forma eterna e saltar para longe da vista de Chase que não esperou um segundo sequer para sair em disparada em direção ao pé da montanha.
Ele havia subido até bem próximo do cume da montanha e o caminho para baixo era longo, se ele quisesse cumprir sua promessa deveria ir o mais rápido possível e não parar nem por um segundo, ele só se esqueceu que Gallien estaria atrapalhando sua descida.
Foi só quando a terra começou a tremer que ele se lembrou do professor, os tremores eram como os passos de algo grande, ou como se alguém estivesse arremessando algo extremamente pesado, para a infelicidade de Chase, era a segunda opção.
Alguma coisa cobriu o brilho da lua, Chase olhou para cima com horror quando viu uma enorme pedra vindo em sua direção.
-Susanoo!
Chase sentiu o jato de água em seus pés o jogar para cima e ouviu depois o impacto da pedra acertando o chão. Ainda no ar, teve uma ideia.
-Fúria de Poseidon!
Com a água o impulsionando, Chase sobrevoou a floresta como um jato, isso aumentou sua velocidade, ele chegaria na casa em questão de minutos se continuasse nesse ritmo.
Mas é claro que Gallien não facilitaria, Chase teve que desviar no último segundo de uma árvore que havia sido arremessada em sua direção.
-Mas o que?
Chase olhou para baixo e viu Gallien na forma eterna arremessando tudo em que podia colocar as mãos em sua direção, Chase teve que desviar de outra pedra e outras duas árvores arremessadas por ele.
Foi aí que Chase avistou Toga perambulando pela floresta, só havia um problema, ela estava na linha de fogo, uma pedra vinha em sua direção e ele tinha certeza que a orc não seria capaz de desviar a tempo.
-Merda!-Chase segurou o cabo de sua espada invocando seu eterno e a água que cobria seu corpo desapareceu.-Dádiva Eterna: Mordida de Dragão!
O eterno avançou em alta velocidade e com sua espada já pronta, quando Toga percebeu o enorme objeto vindo, a pedra já estava cortada ao meio, a orc observou com espanto o eterno de Chase voltar por onde veio com pressa.
Outra árvore vinha em sua direção mas o eterno ainda estava na metade do caminho, Chase sentiu o poder de outra Dádiva Eterna dentro de si pronta para ser liberada, ele fechou seus olhos e clamou seu nome.
-Dádiva Eterna: Pele de Dragão!
Uma aura azul cobriu seu corpo.
Chase não fazia ideia do que ela fazia, mas sentia que estava seguro, ele só pôde relaxar quando o tronco foi cortado meio ao se aproximar da aura protetora.
Chase mal teve tempo para pensar no que acabara de acontecer, seu eterno havia chegado.
-Fúria de Poseidon!
Chase dispara, dessa vez não havia mais nada para pará-lo.
Enquanto Chase voava pela floresta, Alexis acordou.
-Chase?
O pânico começou a tomá-lo quando percebeu a falta do maior ao seu lado, ele havia prometido... Ele não o abandonaria assim, certo? Alexis podia sentir um pequeno desconforto em seu peito mas nada fora do normal.
O brilho da lua entrando pela janela o acalmou, olhar a lua em um céu estrelado sempre teve esse efeito calmante sobre ele. Porém, nem mesmo a lua pôde parar o que estava por vir, de repente, o desconforto em seu peito se tornou uma pontada, Alexis sentiu a mais forte, mais agoniante e terrível dor que já sentiu em toda a sua vida.
Seu coração era o alvo de toda aquela dor, seu corpo se colapsou no chão, Alexis só pôde se debater e gritar, um grito de puro desespero que saiu de sua boca como um grito de socorro. As lágrimas já começavam a cair e ele só queria que alguém, qualquer um, o livrasse desse sofrimento.
A porta do quarto foi bruscamente aberta e Chase percebeu que tinha chegado tarde.
-Alexis!
Chase tirou a espada da cintura e a jogou de lado, pegou Alexis no colo e o deitou na cama com o maior cuidado possível, ele agarrou-se aos lençóis com força suficiente para rasgá-lo com as unhas.
Os espasmos de seu corpo obrigaram-o a se deitar de bruços, suas asas e cauda apareceram mas estavam completamente diferentes, a cauda cuja a ponta tinha um formato de flecha ganhou a forma de um coração, e as pequenas asas de morcego agora estavam enormes.
A pele do menor começou a mudar de cor, lentamente se tornando violeta e nem seu cabelo também não foi poupado, os fios negros foram lentamente se esbranquiçando, por fim, bem atrás de suas orelhas, nasceram um par de grandes chifres roxos que finalizaram a transformação.
Quando Alexis finalmente parou de gritar, Chase deitou ao seu lado e o abraçou por trás. O menor respirava pesadamente pela dor no peito que agora diminuía cada vez mais, Chase não soltou sua mão nem por um segundo, sua presença ali o confortava naquele momento.
-Chase...-A voz falha do menor chamou seu nome.-Lembra de quando a gente se conheceu?
Ele lembrava de cada detalhe, Chase observava as pétalas rosas do jardim de cerejeiras de Olímpia, ouviu Alexis perguntar seu nome e se apresentar, Chase por sua vez apenas disse seu nome e voltou a observar a paisagem, quase não dando bola para Alexis.
-Você sempre foi tão seco comigo, mas mesmo assim...-Alexis se virou para ele, novas lágrimas agora caiam de seus olhos.-Você foi a primeira pessoa que me viu além do meu corpo, que não me colocou num pedestal como um prêmio a ser conquistado e quer saber?
Chase estava convencido que aquelas não eram mais lágrimas de dor mas sim de felicidade, ele não respondeu, Alexis falou o que Chase já sabia muito bem.
-Eu te amei desde aquele dia, Kaneshiro.