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Chapter 2 - Capítulo 2: Mad Hatter

O cano da arma ainda estava fumegante quando me dei conta da situação, a minha frente estava o que eu chamei de Mad Hatter, uma espécie de espírito guardião, aparentemente é da mesma espécie da criatura que me atacou, o que ele chamou de Fable, o que eles são ou que querem ainda é um mistério pra mim, mas se esse poder me foi oferecido então eu o usarei ao meu favor.

Falando na criatura, a bala a havia acertado em cheio na cabeça, um tiro à queima roupa. O corpo dela havia caído a metros de mim, se a bala não a matou, o impacto com certeza havia. Quando voltei minha atenção para ela, acabei me surpreendendo, ela ainda estava se levantando.

—Hatter!

Comandei meu Fable, que se deslocou rapidamente entre mim e o monstro e disparou as cinco balas restantes, aquilo recuou a cada tiro, com o tambor da arma vazio constatei com horror que a criatura ainda estava de pé e com sede de sangue, mesmo com o corpo cheio de buracos de bala. Essa coisa é imortal por acaso?

O Hatter abriu o tambor e rapidamente recarregou bala por bala, a arma estava pronta e apontada outra vez, o monstro rugiu, provavelmente estava cansada de levar tiros, sua cauda balançou violentamente e dela foi lançado uma espécie de projétil na direção do Hatter que se esquivou no último segundo mas acabou sendo atingido de raspão no braço.

Senti uma dor estranha em meu braço e ao conferir percebi um corte no mesmo lugar que o Mad Hatter foi ferido, entendi, pelo jeito todo dano causado ao Fable também é causado no usuário, se for isso, a usuária dessa coisa deve estar cheia de ferimentos de bala, mas como diabos ela não morreu?

As asas da criatura bateram e ela avançou na minha direção em uma velocidade assustadora, descarreguei a munição do Hatter sem pensar duas vezes e mesmo assim a criatura não parou, estava a metros de distância das suas garras, mesmo que o Hatter carregasse agora não conseguiríamos disparar uma única bala antes dela nos rasgar em pedaços, então decidi me defender ao invés de atacar, os braços do Hatter se cruzaram a frente de seu peito antes das garras o atingirem, senti a dor dos cortes nos meus próprios braços mas aguentei sem fraquejar.

O único problema é que as bocas tanto a de cima quanto a da barriga ainda estavam soltas, ela esticou o pescoço e abriu a boca, mostrando todas as três fileiras de dentes em seu interior, mas no fundo eu sabia que o Hatter ainda tinha uma carta na manga, na ponta do sapato social do mesmo, uma lâmina saltou pra fora, lâmina essa que o comandei a cravar na perna da criatura.

O monstro rugiu de dor, mas ainda não havia nos soltado, então comandei Hatter a esfaqueá-la entre as pernas, dessa vez a criatura nos soltou e cambaleou pra trás soltando o mais alto rugido de dor até então, sem dar tempo a ela, Hatter carregou uma única bala e disparou contra a cabeça da criatura.

Ela estava no chão outra vez, mas tinha certeza que ainda não era o suficiente então comandei Hatter e o mesmo carregou sua arma rapidamente e atirou mais três vezes na cabeça da criatura.

Me afastei ainda olhando pra ela, eu não seria pego de surpresa outra vez, e como antes, ela se levantava lentamente, não fazia ideia do que eu precisava fazer pra matar ela, mas minhas ideias pra mantê-la afastada estavam se esgotando, ela fez menção de avançar outra vez mas uma voz familiar chamou nossa atenção:

—Chester!—Era a voz da minha mãe...

Escutei outro rugido, dessa vez não da criatura, mas de algo atrás de mim, ouvi alguma coisa vindo em minha direção e então vejo um animal correndo na direção da criatura, parecia um tigre, mas ela tinha o pelo roxo e suas listras eram rosa, o tigre correu alguns metros antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça, aparecendo logo depois atrás dela e cravando as presas no pescoço dela.

—Ela é bastante resistente, tome cuidado.—Ela veio logo depois, minha mãe, a mulher que teve dificuldades em criar um filho sozinho, estuda pelo dia e trabalhava a noite toda pra ter apenas 4 ou 5 cinco horas de sono, que trabalhou incessantemente até se tornar CEO de uma empresa multimilionária, agora se mostrava outra usuária de Fable, como nunca percebi antes? A mão na cintura e a pose despreocupada mostrava que ela tinha muito mais experiência que eu.—Aí vem ela, se defende Luke!

A criatura lutava pra se livrar do Chester, até que decidiu usar sua cauda e empala-lo, mas o mesmo desapareceu e reapareceu ao lado da minha mãe, a criatura rugiu e saiu voando outra vez, só que ela não queria nos atacar, estava fugindo.

—Hatter!

Meu Fable apontou a arma na direção da criatura e estava pronto para derrubá-la, mas minha mãe comandou Chester que apareceu em cima do braço do Hatter, que não teve outra escolha senão abaixar a arma.

—Deixe ela ir, se voltar estaremos prontos.

A luz da lua iluminava sua pele morena cobre, o olhar de seus olhos verdes me deixavam mais calmo então decidi obedecer.

Mas eu ainda tinha muitas perguntas.

—Eu entendo que deve estar confuso, mas vamos cuidar desses ferimentos primeiro, depois vou responder qualquer pergunta que você tiver.

—Tudo bem. Esses cortes estão doendo de qualquer forma.

Comandei Hatter e o mesmo desapareceu em pleno ar, ela fez o mesmo com o Chester e seguimos pra dentro de casa.

Depois de lavar as feridas e fazer as enrolar com alguns esparadrapos nós nos sentamos frente a frente na mesa, a energia da casa havia voltado, então podíamos olhar pro rosto um do outro, mas o silêncio prevalecia. Até que decidi quebrá-lo.

—Pode, por favor, me explicar o que tá acontecendo aqui?—Ela deu um suspiro de derrota antes de me olhar nos olhos e começar a explicar.

—O Mad Hatter já deve ter te explicado algumas coisas, esses espíritos são chamados de Fables, eles são demônios que só aparecem para aqueles que não aceitam as responsabilidades da vida adulta, cada um deles tem uma forma e poderes diferentes, isso dependendo do usuário, mas sempre tomam a forma de algum personagem da nossa infância, alguns são mais fortes e rápidos, outros conseguem usar uma magia antiga que só os Fables conhecem, mas todos respeitam as mesmas regras: Humanos comuns não podem ver, ouvir ou tocar os Fables, e os Fables não podem atacar humanos mesmo se ordenados, assim apenas quem os conhecem podem saber de sua existência.

—E você descobriu isso tudo por conta própria?

—Mais ou menos, na sua idade eu também fui muito irresponsável e acabei despertando o Chester, mas ao longo dos anos acabei conhecendo outros usuários e acabei conhecendo mais sobre os Fable.

—Então o Hatter pode ter outras habilidades?

—Sim, é impossível prever todo o potencial de um Fable, mas tenho certeza que o Mad Hatter é especial...

Seus olhos se encheram de culpa, era nítido a dor que ela sentia:

—Me desculpe eu nunca ter te contado, mas a verdade é que os Fables não são uma dádiva, eles são uma punição para aqueles que não tem responsabilidade, por isso eu queria que você trabalhasse, pra que se tornasse um adulto responsável e nunca entrasse nesse meio, mas agora mais do que nunca você deve aprender mais, você deve se fortalecer, de agora em diante você pode ser atacado por um usuário de Fable a todo momento, e mesmo que seja forte, não a garantia que sobreviva a um Fable muito poderoso.

Ela se levantou e tocou minha bochecha, fazendo um carinho com o polegar, tentando me tranquilizar como uma mãe deveria fazer.

—Mas não se preocupe, eu vou sempre estar aqui por você, filho.—Não consigo evitar o sentimento de tranquilidade, mesmo estando incerto sobre o futuro.—Você deve estar faminto, eu ia fazer o jantar mas... você viu, né!

Ela falava daquela Fable que nos atacou, provavelmente a encontrou antes, ela se retirou para preparar alguma coisa para nós dois, e eu não consigo evitar de pensar naquela Fable, ela tinha uma grande semelhança com a Alice de Alice no País das Maravilhas, isso antes de se transformar naquela coisa, quem quer que seja a usuária, deve ser alguém com uma infância traumática pra seu Fable, que deveria ser uma representação da sua infância, se tornar aquela coisa deformada.

Mas seja o que for, eu penso mais sobre isso amanhã.

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Já era um novo dia e eu já havia feito meu caminho até o trabalho, assim como ontem, fui recepcionado por uma certa ruiva, que me recebeu com aquele belo sorriso, um sorriso que eu não pude retribuir.

—Bom dia, Luke!

—Bom dia, Karol...—Mad Hatter apareceu na minha frente antes que ela pudesse pensar e apontou sua arma pra cabeça dela, que arregalou os olhos de surpresa.

—Ou devo dizer Alice?