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Chapter 6 - ERAS 1, 2, 3 e 4

I

Eons se passaram até que Tupã se viu intranquilo e seu ânimo diminuiu. Foi essa intranquilidade experimentada que marcou o fim da primeira era, que foi chamada de "a era da Consciência", ou "a era do Despertar" ou, simplesmente, "a era do começo das eras", que durou 6,3 eons.

II

Intranquilo, Tupã parou de construir sóis e planetas e de enchê-los de vida. Sentia, por todo seu espírito, que faltava algo a tudo o que criara, como sentia que poderia continuar a criar sem descanso que sua amargura crescente não teria fim. Sentia necessidade de algo mais, de algo que pudesse evitar que sua consciência resvalasse perigosamente para a não consciência, para o terrível esquecer, adormecer e trazer de volta tudo o que externara na criação, e reiniciar.

Tupã, tomado de paz aspergiu o multiverso criado com partículas suas, que detinham a capacidade de também se subdividirem indefinidamente. Só que estas não eram partículas de simples vida, mas de vida que tinha consciência de si mesma e das outras vidas, que chamou de indivíduos. E com ela criou então anjos, dando-lhes como forma sua forma Dahen, com cabeça, braços e pernas e troncos, que era a forma que mais utilizava para andar por suas criações, forma essa que, bem mais tarde, seria chamada de forma humana ou humanoide, quando a era dos homens se fez. Olhando sua nova criação se viu feliz, por isso não se importando que esses anjos e os próprios indivíduos, suas consciências, experimentassem um distanciamento maior de si, criando assim a escuridão e alguns que, se afundando nela, se chamassem de demônios, porque ele acreditava que assim haveria equilíbrio. Por um tempo ficou satisfeito, até que viu que havia disputas entre as suas criações. Foi nessa era, em seus meados, decorrido 1,369 eon, o planeta Aden é criado, sendo quase que imediatamente cuidado pelos anjos. As primeiras levas escuras chegam ao sistema Satânia em 1,453 eon já sendo, de imediato, envolvido na "primeira guerra demoníaca". Com tristeza Trovão viu que não havia equilíbrio porque era ele que não estava equilibrado. Observando-os aguardou, esperançoso de que seus receios fossem infundados. Os anos se foram, que se foram em séculos e milênios e eons, até que seus temores foram confirmados: uma guerra brutal e extremamente cruel entre os anjos e os demônios explodiu.

Desejoso de entender o que acontecia experimentou sua criação, em anjo e demônio se fazendo. Como criatura sentiu a individualidade, e com ela o amor e o ódio, a inconstância imensa e a terrível agonia do abandono, a criação e a destruição. Então chorou, como só um deus sabe chorar. Pensativo recuou, percebendo que era próprio da energia criadora construir, experimentar, refazer, buscar novas formas, testar caminhos e trilhos, adorar o novo, apesar de ser doloroso demais em muitos momentos, porque a inovação, o novo, sempre cria e se alimenta da dúvida, medo e resistência.

Sorriu compadecido de seus filhos.

Em silêncio, então, ficou aguardando que a consciência que submetera aos anjos e aos demônios lhes cobrasse o que faziam, colocando-os longe da destruição.

Assim, a cada novo dia criado sondava suas criaturas, esperançoso de que acordassem e vissem suas ações, e delas se envergonhassem. Pacientemente aguardava, mantendo um doloroso silêncio.

Então a guerra, que já durava bilhões de anos, finalmente terminou quando os dois maiores e mais poderosos demônios, Trevas e Escuridão, foram aprisionados num grande lago com o formato de um jaguar, no alto de uma gigantesca cadeia de montanhas do Aden recém-criado pelos Elohins, que posteriormente seria conhecido por Urântia, fazendo com que, mesmo que toda as terras se movimentassem e se alterassem, tal não iria acontecer em profundidade com esse lago e com as terras circundantes, para que as prisões onde estavam encerrados Trevas e Escuridão não fossem abertas ou destruídas.

Dizem os antigos que Tupã se cansara de esperar e interviera, ou mesmo que enviara seus anjos mais poderosos para pôr um fim na terrível guerra, o que não se mostrou verdade, tampouco mentira. A única certeza era da dor que a guerra causava no deus Trovão, porque ele amava todas as suas criaturas, tanto que até mesmo aceitava de bom grado a dor para que evoluíssem, respeitando suas vontades.

Foi nessa era que o Trovão promulgou uma lei que colocava Urântia sob quarentena, o que impedia os demônios de saírem dela, ou nela entrarem por seus meios, limitando também em muito o acesso de anjos ao novo mundo, que só poderiam se aproximar quando comandados por arcanjos ou anjos de ordens superiores. Foi essa lei que fez com que os portais instalados no planeta se revestissem de enorme importância, tanto para demônios ou anjos.

Mas o deus Trovão estava tão chocado com a destruição e com as coisas terríveis que vira suas criações serem capazes de fazer que se retirou do multiverso, o que marcou o fim da segunda era, que foi chamada de "a era dos caídos", ou "a era da primeira guerra demoníaca", que durou 3,2 eons.

III

Assustado e chocado tudo ficou em silêncio, esperando, procurando pelo deus Trovão, clamando por ele, até que, num distante momento ele retornou, se deixando perceber novamente. Foi tão forte sua ausência que, apesar de relativamente calma, que como uma era foi identificada. Assim, com seu retorno, "a era da escuridão e da incerteza", a terceira era, havia passado, com duração de 1,9 eon.

IV

Porém, o deus Trovão continuava sem equilíbrio, incomodado pela certeza indefinível de que algo faltava, de que algo estava incompleto em sua criação. Já decorrido quase 1,29 eon dessa era, um dia o Trovão se pegou olhando cada uma das outras criações, que não os anjos e os demônios, e percebeu que elas precisavam se sentir vivas e responsáveis, o que o fez se decidir a dar à vida nova parte de sua consciência. Decidido, de seu coração tirou novos seres, e a alguns deu maior e a outros menor parcela de consciência, e ficou feliz ao ver que a luz dos olhos das criaturas se enchiam. Alguns fez vagar na terra, outros no mar e outros no ar; e os fez pequenos e grandes, humildes e orgulhosos. Observando atentamente viu que aquele era o caminho correto, porque sua amargura diminuíra, mesmo sabendo que não estava finalizada sua criação. No ato seguinte, agora mais confiante, tomou vários deles e criou os entes mágicos, que chamou de entes ou pessoas[1], com poderes e faculdades mais limitadas que as dos anjos e demônios para que não tivesse que intervir e justiçar.

Por tempos longos tudo ficou em paz e seu coração se acalmou, apesar de uma dor pequenina ainda insistir em continuar a latejar, vinda de uma falta não nominada a qual procurava insistentemente ignorar.

No ano 1,328 eon dessa era, em um dia em que o aperto no peito estava maior, que viu onze cabeças de uma estranha criatura amorfa num canto de seus lugares criados, cabeças de bonecos sem qualquer poder e toscamente animados. As cabeças não tinham enchimento como carnes, sendo apenas linhas de barro endurecido a modos de ossos. Elas tinham linhas mais suaves e esguias que as que criara até então, e eram bem maiores do que as que pusera nas pessoas. Mas o que mais chamou sua atenção foram os rostos, que eram muito diferentes das pessoas, pois tinham uma suavidade tocante, um quê de inteligência indômita, de curiosidade infantil e majestade tocante, e de uma humildade verdadeira e inocente que o tocou profundamente. Depressa as tomou e viu o que eram, e as soltou novamente: os entes estavam criando bonecos de barro, que toscamente animavam.

Procurando os entes viu que era a consciência que dera a eles que fizera aquilo, porque os entes haviam ficado enfastiados, apesar da enorme variedade de raças de entes que criara. Ao verem Tupã em sua presença as pessoas correram e se esconderam sob o chão e sob as pedras e nas profundezas das cavernas mais esquecidas. Mas Tupã achava a todos, e a todos tranquilizava, dizendo que o que haviam feito não merecia castigo. Encorajadas as pessoas levantaram os bonecos sobre as cabeças e pediram que Tupã lhes desse vida. Tupã os avaliou, e falou com sua voz que ribombava nos céus: "A vida que darei a eles pode ser a que irão exigir de vocês". Mas os entes não quiseram ouvir e insistiram para que os animasse. Tupã, movido pela curiosidade e pelo amor que havia nascido pelas novas criaturas, acabou atendendo seus pedidos.

As cabeças de barro que suas criaturas haviam criado cristalizou em pedras de variadas cores e lhes deu poderes e personalidades, tornando-as rainhas de destinos. E mais duas ele fez, de poderes ainda maiores, para que sobre as onze se sobrepusessem. Tupã então tomou os treze bonecos e fez réplicas, porque não queria que desaparecessem as criações de suas criaturas e nem as suas. Com cuidado colocou essas caveiras originais num canto e as chamou de mutas[2] e de rainhas, e ficou satisfeito com isso. Às réplicas que criara, em número de treze, modificou. Com carinho de um pai o deus Trovão também lhes deu sua forma Dahen. Membros longos e esguios lhes deu, bem como corpos que os tornavam mais altos que a maioria das pessoas, e a alguns fez machos e a outros fêmeas, machos e fêmeas os fez, como fizera com as pessoas, e os chamou de símios. Vendo-as, viu que seu coração se alegrava. Satisfeito com as modificações tomou fôlego e soprou em suas narinas, sussurrando um de seus nomes. Enchendo seus peitos eles logo começaram a respirar, e abriram os olhos. Com cuidado os examinou, e viu que as amava, porque os olhos tinham uma bela luz que muito o comoveu. Com um toque suave em suas testas fez de seus olhos janelas, por onde reluziam suas almas, e ficou muito satisfeito com isso. Tupã sorriu e chamou as novas criaturas de símios. Porém, um dia, observando essas novas criaturas, que em diversos tamanhos e formas fizera, tomou alguns deles e, tocando em suas testas, lhes deu compreensão sobre algumas coisas, e os chamou de homens, pensando neles como ponto de equilíbrio para as pessoas, porque elas eram ainda seres muito poderosos e suas guerras muito terríveis.

Olhando o que criara viu que ficara feliz.

Mas, então, eclodiu uma rebelião angélica em 1,329 eon, causada pelo ciúme dos anjos contra os homens, que não conseguiu pacificar, apesar de todo o carinho que dispendeu em sua solução. Com o coração dolorido Tupã puniu com a queda a parte da coorte angélica que se rebelara contra a sua vontade, originando a primeira queda[3].

Assim terminava a quarta era, que foi chamada de "a era dos entes e dos bonecos de barro", talvez uma das eras mais pacíficas que o multiverso criado tenha experimentado, apesar da rebelião de alguns anjos. Essa era durou 1,33 eon.

[1] (*)

[2] (*)

[3] (*)