OS últimos raios de sol desaparecem no horizonte sendo ovacionados por um grupo animado de quatro surfistas que assistiam sentados na areia da praia com suas pranchas ao último pôr-do-sol do verão compartilhado entre eles:
— É isso aí galera, esse foi o melhor encerramento do resto da minha vida – disse um deles emocionado enquanto observa seus outros amigos.
— Calma lá , Gabriel – pede um deles rindo do drama de seu amigo. Ele se levanta ajeitando insistentemente o short por cima de sua barriga saliente, sem sucesso — Ainda tem esse ano, parceiro. Tem a formatura...
— Pois é – concorda o outro amigo de dread se levantando ao mesmo tempo em que limpa o calção — Hoje foi só o começo do fim.
— Eu sei, eu sei – afirma Gabriel também se levantando. — Porém, admitam, esse momento nunca mais vai se repetir... Cada um vai seguir seu rumo, O Lucas – aponta para o amigo que ainda luta contra sua barriga — Já está com a vaga garantida no Canadá. O Jonathan – aponta para o de Dread — Daqui uns meses pretende casar...
— Cara, você é muito dramático – resmunga o quarto que ainda encara o horizonte alaranjado. Ele se levanta em um pulo e pega sua prancha— Vamos viver o agora, tá bom? Esse drama você pode deixar para o discurso de encerramento da turma.
— E você Bruno – continua Gabriel apontando para o amigo — Você vai... Você vai... Sei lá, o que é que você quer?
— Pegar gatinhas – responde enquanto caminha
—É sério – insiste Gabriel praticamente correndo ao lado do amigo.
—Gabriel – começa Bruno abraçando o amigo em simultâneo — A única coisa que tenho na minha mente agora é que tem várias gatinhas andando pela orla em busca de companhia para admirar as estrelas... E eu sou essa companhia.
— Eu sei, Bruno. Porém, o que você quer no futuro? – pergunta Gabriel, curioso — Tipo, todos nós sabemos o que queremos para depois da faculdade, mas você... você nunca tocou no assunto.
— Isso é verdade – concorda Lucas sendo acompanhado Jonathan que encaram Bruno.
Os rapazes caminham em silêncio até chegar ao calçadão, onde se lavam na ducha. Assim que Bruno finaliza seu banho se depara com os amigos que ainda esperam uma resposta.
— Pessoal, vocês precisam relaxar com esse lance de futuro... Até por que ninguém sabe o que nos reserva lá na frente... – começa vestindo sua regata. Ele sorri enquanto passa pedalando uma menina de cabelos castanhos distraída escutando música — Por exemplo, eu posso me casar com essa menina daqui uns meses... ou ficar rico daqui há quatro anos, ou morrer aos 30... Ou até mesmo amanhã... Ninguém pode dizer como será o nosso futuro.
— Eu posso – afirma uma voz feminina atrás deles.
Os quatro se viram assustados encontrando uma mulher de longos cabelos pretos, um lenço vermelho de moedas cobrindo toda a cabeça. Seu corpo era quase todo enfeitado por jóias que tampavam as blusa vermelha que combinava com sua longa saia cheia de camadas do mesmo tom. Em suas orelhas grandes argolas. Seus olhos pareciam duas grandes jabuticabas que encaravam Bruno sem piscar.
— Eu posso dizer a vocês como será o futuro – afirma a mulher que sorri mostrando seus dentes de ouro — Permitam -me mostrar o futuro de vocês , por apenas quinze reais… cada um.
— Obrigado – agradece Bruno – Mas nós não acreditamos nessas coisas.
—Nós? – questiona a mulher encarando o rapaz — Até mesmo você?
— Eu sou o que menos acredita – reforça Bruno rindo.
— Então não vai se importar de eu ler sua mão – afirma a mulher erguendo a mão em direção ao jovem.
— Realmente não estou interessado – responde Bruno revirando os olhos para os amigos que riem.
— Será que tem medo? – provoca a cigana.
—Do que eu teria medo? – questiona Bruno se virando.
— Do seu futuro. – responde a morena.
— Você quis dizer medo de amontoado de palavras genéricas que levam a frases genéricas, sobre fatos que podem acontecer com qualquer um a respeito de uma coisa óbvia... – retruca Bruno.
— Coloque sua mão sobre a minha e veremos…
— Não muito obrigado. Talvez você consiga algo com eles. - Rebate Bruno.
— Bom, por mim tudo bem. - Fala Jonathan enquanto estende a mão em direção da cigana que agarra firmemente. — Ei…
— Jonathan… - Começa a Cigana analisando a mão do rapaz — Você tem dois caminhos em sua vida… um caminho que se iniciará em breve, mas se encerrará tão rápido quanto começou… um outro caminho mais longo… duradouro. Bom, é isso, quinze reais, senhor. - Finaliza recebendo os quinze reais do rapaz.
— E o meu futuro? - Pergunta Lucas estendendo a mão para cigana.
— Lucas… Encontrará no frio… o calor necessário para aquecer o seu coração. - Profetiza a cigana antes de soltar a mão de Lucas que a encara, surpreso. Ele praticamente arranca as notas do bolso e entrega a mulher.
— E quanto a mim? - Pergunta Gabriel, nervoso. — Por favor, seja boazinha.
— Gabriel… hummm… vejo seu destino se entrelaçar com de outras pessoas após uma tragédia… Tenha sabedoria para lidar quando o momento chegar.
— Obrigado, muito obrigado. - Agradece Gabriel também pagando o valor para a cigana.
—E quanto a você, meu rapaz? - Questiona a cigana encarando Bruno.
— Olha só, eu realmente não estou afim e nem tenho grana – responde Bruno se virando...
— Para você eu faço questão de não cobrar nada. – insiste a vidente.
— Vai , Bruno – pede Gabriel, curioso.
—É cara, acaba logo com isso - fala Jonathan.
— É, brother. Faz logo a parada pra irmos pegar as gatinhas – incentiva Lucas.
— Tá bom – aceita Bruno erguendo sua mão em direção a cigana.
A vidente segura a mão do rapaz com força enquanto percorre as linhas da palma com todo cuidado...
— Hummm... interessante – comenta admirando.
— E começou a sessão do óbvio... – resmunga Bruno.
— Você se casará...
— Viram, óbvio! – debocha Bruno tirando risada dos amigos.
—Jovem– completa a cigana apertando uma das linhas com a unha.
— Terá filhos... – ela vasculha as outras linhas — Morrerá mais jovem do que seu pai... Porém, antes se tornará um homem muito rico! – finaliza a cigana sendo observada pelos rapazes que estavam em silêncio. Até que Bruno ri encarando a vidente com ar de desprezo:
— Você tem certeza que isso tudo estava na minha mão? – questiona Bruno olhando para sua mão.
— Sim, tenho certeza absoluta – responde a cigana.
— Okay, agora quero os números do jogo – debocha Bruno.
—Você pode não acreditar no que digo – continua a mulher — Porém, o destino nunca se engana.
— Tudo bem – responde Bruno balançando a cabeça — O problema é que o "destino" não me disse quando é que ficarei rico, nem quando eu vou morrer. Quero dizer, vou morrer mais cedo que o meu pai... Mas se o meu pai viver até os 100 anos... Tipo, é óbvio que irei morrer antes.
—Ah, entendi... Você quer números mais precisos... – compreende a cigana. — Tudo bem. Dê-me a sua mão...
— Não mesmo – recusa Bruno — Você já ficou com ela tempo demais e aposto que já até decorou as minhas linhas. Aliás, se é tão boa assim , teria adivinhado sem olhar...
—Você está certo, Bruno – afirma a mulher, séria. Ela encara o rapaz , dizendo — Você se casará até os 24 anos, terá quatro filhos. Ficará rico, mas não fazendo o que ama e muito menos através de jogos de azar. Seu pai falecerá aos 60 anos e você morrerá dois anos mais jovem do que ele. E Então, melhorou?
Bruno a encara sério, seu pai já tinha cinquenta anos e aquela mulher tinha a ousadia de dizer que só tinha mais dez anos de vida?
— Sim... – sussurra o rapaz. Ele pigarreia e então continua — Posso te fazer uma pergunta?
— Evite morenas – responde a cigana como se estivesse dentro da mente do rapaz. — O seu destino está atrelado a uma jovem de cabelos castanhos... Sua maior alegria e seu fim – finaliza se afastando dos rapazes.
— Tá legal. Só loiras – debocha o rapaz , sem dar bola para a profecia.
— Ainda bem que você não acredita nessas coisas. – fala Lucas.
— É como dizem: O futuro a Deus pertence. – afirma Bruno.
— É, mas só por garantia… Eu nunca mais olharia para nenhuma morena. - Comenta Jonathan.
— Por mim, está tranquilo, pois sempre gostei mais de loiras. - brinca Bruno com os amigos. — Nenhuma morena jamais vai entrar no meu coração.