A viagem foi rápida, o que não deu tempo nem para Faolán tirar um cochilo. Uma criança pequena parecia estar estressada, pois chorou a viagem inteira.
'Provavelmente as orelhas dela estão doendo', pensou ele, sentindo pena do bebê. A mãe estava sozinha, então ele se ofereceu para ajudá-la com a bagagem, depois que eles desceram do avião. Ela agradeceu e desejou-lhe sorte na vida.
Em outras condições, ele teria preferido viajar de carro, para não ter que alugar um ou mesmo pegar um táxi, mais tarde. No entanto, isso seria uma viagem de seis horas, e ele não podia perder tanto tempo apenas no caminho até lá, enquanto o bando estava sem seu Alfa. Por isso, dirigiu-se ao balcão de alugueu de automóveis e escolheu um que se adequasse ao seu gosto e necessidade.
Quando Faolán chegou ao hotel, deixou sua mala ao lado da cama e foi tomar outro banho. Julho era um mês muito quente para usar roupas tão 'engomadas'. Ele comeria alguma coisa e iria ao local de encontro com aquela CEO. Ele nem se lembrava do nome dela, mas verificaria com Zander antes de se dirigir à mulher. Já que ela não era muito amigável, ela poderia tomar seu deslize como uma ofensa pessoal.
Uma vez pronto, Faolán verificou se estava tudo em ordem. Ele já estava acostumado com humanos, mas sempre se certificava de não ter esquecido seus documentos. Afinal, um erro o faria parecer suspeito. Rafe estava ansioso, pedindo a Faolán que partisse logo.
— Não vai fazer muita diferença, não é? Temos um compromisso. Minha chegada cedo não a fará fazer o mesmo. - Ele conversou com o lobo, mentalmente.
— Eu sei, mas sinto que algo está vindo. Algo grande! - Rafe disse nervosamente.
Faolán se olhou no espelho uma última vez. Ele estava bem vestido, mas não muito formal. A ideia era parecer amigável, não intimidante. Pelo menos não no início. Se ela não aceitasse de bom grado, ele usaria a aura Alpha para dominá-la.
Ele então se lembrou das palavras de Zander sobre a aparência da mulher. Faolán já tinha andado com humanas, é claro. Ele não se manteve puro e casto para sua fêmea. Então, ele também se lembrou da necessidade de cada matilha ter uma Luna, para que um novo Alfa pudesse nascer. Ele afastou o pensamento. 'Um problema de cada vez'. *
Zander combinara com a secretária da mulher que Faolán e a CEO se encontrariam em um café no centro da cidade. Era um lugar privado, mas ainda público. Enquanto Faolán estava sentado em uma mesa, esperando a mulher, ele recebeu uma mensagem de texto de Zander, contendo o nome dela. Ele olhou para o celular e abriu a mensagem de Zander: Alanna Doyle. Ele repetiu o nome em voz alta, como se pudesse sentir cada letra em sua língua. O nome soava sexy para ele. Rafe concordou.
E então, um cheiro o atingiu com força. Menta, com chocolate e uma pitada de pimenta. E outra coisa, porém, ele não conseguia discernir o quê. Rafe começou a 'saltar para cima e para baixo', e Faolán sabia que a sua companheira estava em algum lugar próximo.
'Vá procurá-la!' Rafe o incitou, em agonia.
— Mas e a reunião?
'Dane-se! Você pode dizer que teve uma emergência! Vá, agora!'
No entanto, toda a urgência de Rafe não era realmente necessária, já que o cheiro estava se aproximando, em vez de ir embora. Faolán, que já estava de pé, pronto para procurar sua companheira, ficou parado, esperando que ela se mostrasse. A porta da cafeteria se abriu e uma mulher em um vestido preto clássico, salto agulha, com cabelos ruivos na altura dos ombros, entrou. Ela ergueu as mãos surrealmente brancas e tirou os óculos escuros, revelando olhos que eram de um azul semelhante à pedra de Larimar. Cintura fina, quadris ligeiramente largos, alinhados aos ombros. Mesmo com um vestido como aquele, Faolán podia ver seus lindos seios. 'Perfeita', ele e Rafe pensaram juntos.
'Ela está se aproximando!' Rafe disse, animado. Faolán o silenciou.
"Senhor Quinn? Eu sou Alanna Doyle, prazer em conhecê-lo." A mulher falou, e sua voz era como música para seus ouvidos. Ela tinha a mão estendida para ele apertar.
'O prazer é todo nosso! Marque ela!' Rafe disse, e Faolán não tinha certeza do que fazer, afinal. Ela era aquela CEO ruim, mas também sua companheira. Mas ela parecia não perceber isso, pois não correspondia aos sentimentos dele. Ele olhou para a mão dela como um idiota, mas não conseguiu se mexer. Ela ergueu as sobrancelhas e recuou a mão. Ela torceu os lábios e sentou-se à mesa dele, descontente.
'Ela está triste. Ela está chateada conosco. FAÇA ALGUMA COISA!'
"Cale a boca e deixe-me pensar!" Faolán disse, em voz alta. As pessoas ao seu redor ficaram em silêncio e olharam para ele. Os olhos de Alanna se arregalaram para ele, e então semicerraram.
"O que você disse?" ela perguntou, incrédula, lentamente se levantando.
"Não, não! Eu estava pensando em outra coisa, me desculpe. Não era com você!" Ele tropeçou em suas palavras, e ela apenas olhou para ele, com uma cara de descrença entediada.
"Então, você tem uma condição mental? Sim, pois, por que não estou vendo ninguém além de mim interagindo com você." Ela disse, tentando não cruzar os braços e parecer muito hostil. O homem era bonito, alto, pele bronzeada, olhos verdes matadores e cabelo escuro sedoso que estava implorando para ser acariciado. Mas ela manteve o olhar frio, afinal, ele não merecia nada de bom dela.
"Eu só... pensei em voz alta sobre algo que me lembrei. Esses últimos dias foram difíceis para mim, me desculpe. Meu pai faleceu e-"
"Isso não vai me comover." Ela o cortou. Ele, que estava com os olhos fechados, abriu-os e olhou para ela com o cenho franzido. Ela era sem coração, de fato!
"Não tenho a intenção de comover você. Na verdade, ele faleceu há alguns dias." Ele disse, sério. Apesar de estar chocado com o comportamento dela, ele ainda queria abraçá-la e beijá-la, e torná-la sua.
"Minhas condolências. Agora", disse ela, voltando ao seu lugar, ao que ele fez o mesmo, "você pediu uma reunião comigo, a fim de discutir um pedaço de terra que sua empresa parece estar interessada. O problema é que a minha também está, e nós temos a preferência pela compra."
"Obrigado. Bem, meu pai e eu ajudamos algumas pessoas e como as terras deles foram queimadas, essas pessoas ficaram desabrigadas. Aquela terra não é mais boa, mesmo que construíssemos casas para eles, eles não poderiam mais plantar nada. ."
"Eles são nativos?" ela questionou.
"Ah, quase. São pessoas que vivem principalmente na natureza, então precisam de terras cultiváveis." Ele tentou explicar. Claro, ele não podia simplesmente dizer, ali mesmo, no meio de um bando de humanos, que aquelas pessoas eram uma matilha de lobos.
"Eu entendo. Mas existem outras terras disponíveis." A maneira como ela falou o fez, mais uma vez, pensar que ela tinha um problema com ele. Sua frieza não era como a de uma pessoa que não se interessa pelos problemas dos outros, mas a de alguém que guarda algum tipo de rancor.
"Mas esta terra que eu quero é perto da deles. Há várias pessoas, incluindo idosos e crianças. Mudar para outro lugar seria problemático."
"O senhor não é pobre, senhor Quinn. Se está disposto a comprar um terreno tão caro, um dos mais caros do mercado, aliás, por que não pagar um transporte adequado para essas pessoas? Os idosos e/ou deficientes pode usar um avião, ou ônibus mais confortável. Eles se melhoraram muito. Você mal percebe que eles estão se movendo." Ela disse, sua voz ainda fria e apática.
Faolán olhou para baixo, ponderando. Na verdade, ele não era pobre. E sua solução era viável. Mas a questão era a terra, que, mais do que tudo, oferecia o isolamento de que tanto precisavam.
"Essas pessoas não gostam de se expor, de estar em contato com a sociedade. Então essa terra é o que eles precisam." Ele insistiu. Ela sorriu.
"Vou pensar nisso, porque minha empresa precisa daquele terreno que se adequa perfeitamente ao nosso novo projeto, Sr. Quinn. Mas prometo que vou falar com a diretoria e lhe dar uma resposta o mais rápido possível." Ela se levantou, endireitando o vestido, e estendeu a mão. "Foi um prazer conhece-lo." Ele engoliu em seco, olhando para a mão dela. Ele seguiu o movimento dela, e quando suas duas mãos se tocaram, ambos sentiram a eletricidade percorrendo seus corpos. Ela arregalou os olhos e ele sorriu. Ele sabia que ela havia sentido o mesmo. Mas logo sua expressão mudou, agora mostrando algo que fez seu coração doer: desprezo.
Ela soltou a mão dele com uma brutalidade sutil, colocou a bolsa no braço e se virou para sair. Ela nem tocou no café que ele deixou na mesa para ela como cortesia. Ela nem percebeu.
'Vá atrás dela!' gritou Rafe. Faolán queria, mas ela o rejeitou, de certa forma, quando sentiu a conexão e ficou infeliz.
— Ela não nos quer. - Ele respondeu ao lobo, mentalmente.
'Sim, ela nos quer! Eu sinto o cheiro dela e você também. Agora pare de ser idiota e vá!' Faolán pensou em ir, mas decidiu voltar para o hotel, por enquanto, deixando Rafe irado. Ele não queria assustá-la por dois motivos: o primeiro era que ela era humana e ele precisava que ela estivesse aberta para aceitá-lo como um lobo; segundo, se ela ficasse com raiva, ela poderia se recusar a desistir das terras, e a matilha sofreria as consequências de sua falta de tato.