Zander estava atrás de Faolán, enquanto este falava ao microfone no hall da Pack House.
"Preciso viajar para o Colorado para termos um novo território, com boas terras para plantar e viver. Quero fazer com que essa terra seja nossa, mas há um obstáculo no momento." disse Faolán.
"E por que não podemos simplesmente nos mudar para lá?" perguntou alguém da plateia.
"Porque precisamos ser donos da terra. Hoje em dia não é mais como antigamente, quando a gente só tinha que se instalar. Os humanos estão tomando conta de tudo, e infelizmente essas terras já são de alguém. O risco é alto que um bando de humanos apareça na nossa porta, nos expulsando e, pior ainda, nos expondo ao mundo pelo que somos."
"Nós podemos simplesmente matar o invasor!" Um homem gritou do fundo da sala. Alguns deles concordaram, furiosos. Afinal, Faolán foi feito Alfa, porque era seu direito de nascença; no entanto, ele já havia passado os últimos dez anos longe da matilha, mas, ainda assim, agora ele optou por sair novamente.
"Eles têm telefones celulares, com câmeras e conexões para diversos sites, onde podem expor o que somos. Você prefere correr esse risco? Porque, fique tranquilo, se os humanos nos descobrirem, eles não virão falar conosco pacificamente, mas com armas pesadas e poder de fogo para nos subjugar!" Um coro de concordância se ergueu. "Gostaria de não ter que sair daqui. Acabei de voltar, só para ter que enterrar o meu próprio pai. Prefiro curar meu coração com vocês, mas tenho que me levantar e ir para outro estado, para preservar a nossa matilha."
"É melhor ficarmos atentos e seguirmos nosso líder! Ele viveu entre os humanos e sabe melhor do que nós do que eles são capazes!"
"Sim, os humanos são perigosos quando se reúnem, especialmente com essas armas deles."
"Então está decidido. Estou partindo amanhã de manhã e devo estar de volta em um ou dois dias." Faolán declarou, e o público aplaudiu, dizendo coisas como 'esse é meu Alpha', 'ele é incrível' e também 'ele é tão gostoso!' por algumas vozes femininas. Fáolan franziu a testa para o último. Ele fez uma reverência e saiu do palco.
"Cara, isso foi ótimo!" disse Zander. "Você realmente sabe como controlar esses lobos. Mesmo estando fora há anos!"
"Eu só mostrei a verdade. Não gosto da ideia de deixar o bando de novo, mas infelizmente não tenho escolha, pois aquela vadia decidiu atrapalhar nosso caminho!"
"Uma vadia muito deliciosa. Você vai ver. Tentei colocar meus encantos para funcionar, mas ela nem me deu atenção." Zander reclamou, irritado.
"Ela pode gostar de mulheres. Você já pensou nessa possibilidade?" Faolán retrucou, e então Zander parou no meio do caminho, boquiaberto. Então sorriu e correu para o lado de Faolán, que não tinha parado de andar.
"A três? Você acha que ela concordaria com isso?"
"Você é um pervertido, Zander. Você não tem vergonha?" Faolán perguntou, rindo. Como se ele mesmo já não tivesse aprontado na vida.
"Eu tento o meu melhor. Eu quero encontrar a minha companheira. E se ela não estiver aqui, eu preciso andar por aí em minha busca." Zander deu de ombros.
Os dois caíram na risada. Faolán parou na entrada de seu quarto e se despediu de Zander. Ele estava cansado, e só Zander ainda conseguia arrancar um sorriso dele em um momento tão triste. Quando sua mãe morreu, seis anos atrás em um ataque de rogues, Faolán teria perdido o terreno, se não fosse por seu pai e Zander, seu melhor amigo e agora Beta. O pai de Zander, Gareth, era o Beta do bando quando Emyr ainda era o Alfa. Agora, Gareth estava se recuperando dos danos causados pelo incêndio e estava de alguma forma feliz em ver seu filho assumindo suas responsabilidades.
As fêmeas do bando não conseguiam parar de sussurrar o quão bonito o Alfa era. Ele sempre foi um sucesso com as mulheres; mas quando saiu para estudar, tinha dezoito anos e ainda não era tão forte quanto agora. Como ele era o Alfa, todas aquelas fêmeas que ainda eram solteiras e não acasaladas esperavam que ele pudesse ser seu companheiro. Ele já havia andado por todo o território deles, havia conversado com muitos deles – todos estavam presentes naquele mesmo salão, inclusive os Ômegas –, mas até agora nada havia acontecido. Se alguma delas fosse a companheira escolhido pela própria Deusa da Lua, ele já a teria farejado e, a essa altura, a nova Luna já seria mais do que conhecida por todos os membros do bando.
Quando entrou no quarto e se viu sozinho, Faolán deitou-se na cama, com o quarto às escuras, e tentou dormir. Ele sentiu as lágrimas rolarem pelo seu rosto, lembrando de seu pai e como ele nunca mais o abraçaria.
Emyr tinha viajado para visitá-lo apenas uma vez, durante os estudos de seu filho, não podendo deixar a matilha sem um bom motivo. Infelizmente, esse motivo foi a morte da Luna, mãe de Faolán, Libena.
Faolán tinha agora vinte e oito anos e sofria por ter ficado tanto tempo longe de sua família. Mas ele tentou confortar sua alma, dizendo a si mesmo que era tudo no melhor interesse do bando. Ele chorou até dormir e sonhou com um castelo, gritos de soldados mortos a seus pés e, o mais aterrorizante de tudo, uma mulher segurando seu coração. Mas sua visão estava turva quando ele caiu no chão, incapaz de distinguir mais do que os olhos negros da noite de seu assassino.
Ele acordou com um sobressalto, sua camisa grudada em seu corpo com suor. Sua cabeça latejava. Ele nem teve tempo de pegar o telefone para ver a hora, porque o despertador que estava programado para tocar às cinco da manhã já o estava fazendo. Ele desligou o alarme e se arrastou para fora da cama, indo para o banheiro tomar um banho. Mas aquele pesadelo não saiu de sua mente. Ele ainda podia sentir o terror e o desespero ao seu redor, enquanto pessoas com pescoços rasgados se arrastavam pelo chão. E os olhos daquela mulher eram a pior parte. Ele poderia dizer que era uma mulher, pela aparência de suas vestes brancas, salpicadas de vermelho, provavelmente sangue de homens mortos. Ela não podia ser humana ou lobisomem. Ela era um monstro.
Após o banho, Faolán dirigiu-se ao campo de treinamento. Apesar do quão destruídos eles estavam, ainda eram utilizáveis. E ele precisava gastar toda a energia ruim daquele pesadelo horrível que acabara de ter.
Ele estava fazendo algumas flexões quando ouviu algumas risadinhas. Ele olhou ao redor e viu algumas garotas o observando. Era comum as fêmeas disponíveis – e às vezes as indisponíveis também – o perseguirem, porque ele era o líder e, por natureza, uma figura que tinha o que elas mais desejavam. Era tudo uma questão de poder. Ele iria ignorá-las o melhor que pudesse. Apesar de olharem para ele, nenhuma jamais seria tão ousada a ponto de se aproximar dele, muito menos iniciar uma conversa com ele, quando ele emanava uma aura que dizia 'afaste-se!' Apenas a sua companheira poderia fazer isso, mas como nenhuma delas o era, ele poderia ficar tranquilo.
Cerca de uma hora depois, Zander já o esperava no carro, para levá-lo ao aeroporto. O bando não estava exatamente perto de um, então eles teriam que dirigir por pelo menos uma hora e meia.
"Você tem todos os seus documentos com você?" Zander perguntou.
"Sim, eu tenho todos eles aqui. Se eu precisar de você, eu vou deixar você saber. Mantenha uma mala pronta, apenas no caso de qualquer emergência. Se eu ligar para você, pedindo que você me encontre, é porque é o caso." Faolán disse, colocando a mão no ombro do Beta e melhor amigo.
As mulheres que passavam não conseguiam tirar os olhos deles. Zander não perdeu a oportunidade de sorrir de lado e até piscar para algumas delas. Faolán o observou e balançou a cabeça.
"Entendi, mano. Tenha uma boa viagem! E me avise quando chegar lá."