Um bocejo me escapa os lábios, não consigo conter a vontade de me espreguiçar e me estico toda escutando os estalos pelo corpo. Estudar de forma integral era um saco, e o pior era ficar com aula vaga naquele caos de escola.
A escola ficava na cidade, mas nossas casas era em um lugar consideravelmente pobre, restando a mim e a minha amiga, Miryam, a ir pelos becos; como moramos próximas uma da outra, sempre vamos juntas para casa.
Nossa trajeto é... Bem, não importa. Só passávamos por um lugar meio perigoso e lamacento.
— Você estudou para prova de matemática? - Myriam pergunta, me fazendo lembrar de qual prova teríamos amanhã. Que inferno.
— Não... Minha cabeça já dói só de pensar e olha que eu nem comecei a estudar ainda. - digo, fazendo ela rir em concordância — Mas sei lá, acho que vou ir na fé mesmo...
— Se prepare que o zero vem.
Gargalhamos com nossa própria desgraça, ansiosas em antecedência para os fins das provas, não, para o fim da escola. Após disso, ficamos apenas papeando um pouco mais sobre trivialidades enquanto percorríamos o trajeto de casa. Em uma fração de segundos eu olho para o lado e vejo um cão preto de olhos vermelhos me encarando.
— Ai meu deus!
Myriam me olha alarmada, perguntando o que tinha acontecido para a minha súbita exclamação.
— T-tinha um cachorro estranho me encarando...
— Cachorro? - ela pergunta, franzido o cenho — Garota, você tá' muito assustadinha ultimamente. - fala risonha. Riu de nervoso, e encaro o beco onde vi o cachorro e ele não estava mais lá. Por um algum motivo isso me deixa um pouco aliviada.
Acabo por não contar a minha amiga o pequeno fato de que o cachorro tinha olhos vermelhos, afinal, pode apenas ter sido uma ilusão causada pela luz ou eu vi errado. De qualquer forma, não tinha mais importância.
Myriam começa a tagarelar que ela poderia fazer um plot sobre um homem cão híbrido que assusta uma garotinha que estava fazendo o caminho de casa após a escola. Só escuto tudo aquilo com um sorriso de escárnio no rosto, afinal, eu sabia que ela nunca escreveria realmente aquilo, por causa do mal habito de minha colega de nunca terminar uma de suas fanfics.
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A lua já se fazia presente naquela noite fria, trazendo consigo um vento suave e gélido, que me fez automaticamente me aconchegar mais no coberto. Minha irmã já ressonava baixinho, em um sono profundo. Apenas vagueava pela internet, olhando o twitter e vendo notícias dos meu idols.
Quando meus olhos já estavam pesados demais para eu conseguir sustentá-los eu enfim deixei meu celular em minha cômoda, fechando os olhos para descansar.
Pelo que parece eu não teria mais descanso naquela noite, pois escuto barulhos altos vindo da cozinha, o som das panelas sendo mexidas. Não liguei muito, afinal, poderia ser minha mãe indo fazer um lanchinho da noite. Quem sabe até meu pai. Então pus me a fechar os olhos de novo, mas novamente fiquei em estado de alerta de novo quando alguém abriu a porta do quarto.
O lugar antes tendo um refrescante frio por ele inteiro, ficou subitamente quente, muito quente.
E um cheiro fétido subiu de baixo para cima, penetrando minhas narinas, me fazendo tampar em frenesis o nariz para evitar que vomitasse por todos os lados com o mal cheiro. Olhei em pânico para minha irmã, que permanecia dormindo.
O passos soavam cada vez mais alto. Um homem alto, de cabelos preto e despojado, com um sorriso bizarro no rosto; mas o que chamava mais a atenção era seus terríveis olhos carmins, de um vermelho vivo pulsante, como se tivesse lava dentro.
Ele se aproxima da cama, de forma lenta, como se o tempo tivesse parado. Minha ansiedade só aumentava cada vez mais. Ela senta-se na ponta da cama e coloca os lábios bem perto do rosto.
Ele sussurra:
— Olá querida, pelo jeito temos alguns contratos para firmar essa noite.