Capítulo 01 - Vida ou Morte na Pós-vida
A escuridão era a única coisa a ser vista e não importa por qual lado se olhava, a escuridão estava em toda parte.
John tentou levantar as mãos, mas para a sua surpresa, ele não as tinha. Se isso não fosse o suficiente para entrar em pânico, ele descobriu que nem sequer possuía um corpo. Ele tentou gritar em desespero, no entanto, sem um corpo não havia uma boca para que o som pudesse ecoar, só os pensamentos surgiriam ocasionalmente.
Depois de muito tempo — e não se sabe ao certo o quanto — as suas memórias voltaram e a memória mais vivida em sua mente caótica, era a de uma jovem mulher muito bonita, com olhos negros brilhantes como a noite estrelada.
Ela parecia uma modelo, com a sua figura graciosa e impressionante. John, no entanto, estava apavorado, por isso não prestou atenção na sua linda aparência. Ele concentrou-se nos sentimentos que as memórias da mulher despertavam, eram sentimentos calorosos de irmandade.
Nas suas memórias, era a única sensação de paz na vasta escuridão.
Parecia ser a única família que restou na sua vida, isso se John ainda estiver vivo.
Sua situação era desconhecida até por ele mesmo.
-
Castelo Venhorst
Em um castelo antigo, que lembrava os castelos da Europa no período medieval, matrizes e círculos mágicos ocultos estavam por todo o castelo, demonstrando a ostentação da riqueza abundante de um nobre. Embora o castelo mostrasse um semblante majestoso, um ar sombrio abateu-se sobre ele, isso porque a senhora Van Horst deparou-se com um infortúnio nunca antes visto.
Já fazia meses que a senhora Van Horst contraiu uma doença desconhecida. O peculiar era que sua base do poder de um mago respeitável nada podia fazer, os feitiços de alto nível eram totalmente inúteis.
No quarto mais bem protegido uma mulher estava deitada sobre a cama, envelhecendo. O ritmo da sua decadência celular era como se cada hora fosse um ou mais anos para ela. Mal podia-se ver vitalidade no seu corpo ressecado, se alguém dissesse que a mulher deitada na cama teria apenas 28 anos de idade, ninguém acreditaria nas suas palavras, ainda zombariam dele, isso porque ela parecia ter mais de 100 anos de idade.
Um homem estava sentado ao seu lado, aparentemente preocupado. Com apenas um olhar, qualquer um diria que havia sentimentos muito fortes pela mulher deitada na cama. Isso era evidente apenas olhando nos seus olhos, amor e preocupação, uma cena raramente vista, tendo em conta sua reputação, posição e prestígio.
Desamparado, o homem tentara de tudo ao seu alcance, mas a única coisa que podia fazer era mantê-la entre a vida e a morte.
Uma matriz mágica de grau superior cobria todo o quarto, a matriz girava imbuindo vitalidade no corpo ressecado da mulher. A energia vital gerada pela matriz era rapidamente consumida pelo feto no corpo da mulher, a outra metade era absorvida por um ovo cristalino na alma da mulher. Embora o ovo drenasse a vitalidade, era a única ligação entre a alma e o corpo. Só a alma de um ser superior poderia suportar tanto desgaste de energia da alma, só a energia vital poderia suprimir o desgaste na sua alma que era reflectido em seu corpo. Os cinco núcleos dourados e um núcleo Paragon estavam alimentando a matriz. Com apenas dois núcleos dourados seria o suficiente para alguém viver toda a vida sem preocupação pelo resto da sua vida, e aqui estava um homem desperdiçando cinco deles e ainda um núcleo Paragon. Se alguém soubesse, ele sem dúvidas faria de tudo para os roubar, mesmo ao custo da sua própria vida.
No quarto, lençóis e cortinas de tecido branco davam um ar sagrado ao quarto, as flores recém-colhidas davam um cheiro agradável de primavera. No quarto estavam com o homem duas empregadas, elas eram adeptas de algumas magias de cura visando a força vital, e claro o mordomo guerreiro médio também estava atrás do seu senhor, para atender qualquer necessidade.
— Meu senhor, você poderia ir descansar um pouco. Já faz três dias que o senhor não dorme e não come nada — o mordomo disse com um ar preocupado.
O homem desviou o olhar da mulher e com uma tez pálida perguntou.
— Eu estou bem. Quando chega o enviado da capital?
O mordomo não se demorou em responder.
— Meu senhor, o enviado chegará em três dias, quatro no máximo.
— Fico aliviado em ouvir isso — o homem falou com suspiro pesado no rosto. Ele havia gastado quase toda a sua fortuna, bem como os favores que havia acumulado, para poder comprar a matriz da vida na família real. Uma luz de esperança brilhou nos olhos.
— Vocês podem sair por agora — o homem falou para o mordomo e as empregadas, que estavam no quarto com ele.
— Obrigado pelo seu trabalho duro. Vamos descansar por agora.
Uns atrás do outro curvaram-se e se retiraram do quarto, até que apenas restava a mulher e o homem. O homem beijou a testa da sua mulher e disse baixinho.
— Querida, vou salvar você e nosso filho, ou eu não me chamo Fernando Van Horst.
Depois de ficar mais algumas horas com sua mulher, Fernando Van Horst saiu do quarto e foi tomar um banho e atender seus deveres de lord castelão da fronteira Norte.
Três dias depois
Após três dias, uma arca voadora chegou ao castelo Venhorst. Um homem saiu da arca voadora, acompanhado de outros dois e uma mulher. Os três pareciam bastante respeitosos, isso porque, os homens eram todos seres médios pra quem evoluído até este nível de ter seu próprio orgulho.
Eles foram escoltados pelo mordomo e, sem impedimentos, caminharam em direcção ao castelo. O próprio Fernando saiu para os receber pessoalmente, isso demonstrou a importância dos representantes da família real.
— Saudações Sr. Jeremia sejam bem-vindo às terras do norte — Fernando saudou demonstrando as cortesias de um nobre, nem arrogante nem servil, apenas o apropriado. Fernando sorriu levemente.
— Sr. Fernando, cortês como sempre. Fico feliz em vê-lo novamente — o Sr. Jeremia também cumprimentou Fernando com a mesma cortesia. Então, o sonar do Sr. Jeremia percorreu o corpo do Fernando, embora isso fosse rude, era sem dúvidas um costume de velhos amigos, sondar o progresso um do outro, e claro, Fernando fez o mesmo, obtendo os resultados esperados. No entanto, o mesmo não podia ser dito do Sr. Jeremia. Após sondar Fernando, o rosto do Sr. Jeremia ficou vermelho e as suas mandíbulas caíram.
— Co... co... Como? Isso é possível? — Sr. Jeremia gaguejou.
— Esta evolução custou um preço muito alto — Fernando falou com um sorriso amargo no rosto. Ele escondeu sua tristeza e convidou Sr. Jeremia para dentro, junto com seus subordinados, e assim eles entraram para o castelo um ao lado do outro, enquanto conversavam depois de actualizar um ao outro, Fernando levou Sr. Jeremia e seus homens para dentro do quarto onde estava a sua mulher.
Quando Sr. Jeremia e seus homens viram a figura na cama, eles não podiam acreditar nos seus olhos, isso porque a mulher nos seus olhos era apenas pele e osso, parecia até que era um cadáver na sua frente.
— Como isso é possível? Ela não estava apenas grávida? Como está assim? — Sr. Jeremia bombardeou uma série de perguntas.
— O que diabos vocês encontraram, na tumba do pecado primordial? Como alguém do seu calibre deixou isso acontecer? — Sr. Jeremia ficou chocado.
— É uma longa história, contarei mais tarde. Melhor começarmos a implantar a matriz o quanto antes melhor — Fernando falou impaciente. Claramente, esse era um tópico que Fernando não queria abordar no momento.
— Haim. Sim, claro — Sr. Jeremia não podia acreditar que a mulher que um dia cobiçara sua beleza se transformou em um cadáver ressecado. Quando ele espalhou seu sonar percorrendo o corpo da mulher, o que ele descobriu o deixou ainda mais chocado. Toda a vitalidade está correndo em direcção do feto, Sr. Jeremia se perguntou se era um monstro, não uma criança se formando aí dentro, era um caso raro.
Quando Sr. Jeremia tentou sondar a alma, uma barreira impediu seu sonar de prosseguir mais.
— Apenas por esta grávida que é incomum. Sr. Jeremia saiu dos seus pensamentos e ordenou aos seus homens.
— Carlos prepare os materiais. Sandro e Felícia preparem seus poderes espirituais e não podemos cometer nenhum erro. Fernando, conto com você para sacar os núcleos Paragon.
Depois das palavras serem ditas, Sr. Jeremia começou seu trabalho, afinal, ele era um mestre em matriz e círculos mágicos. Após Fernando fornecer os núcleos, eles se dirigiram para o porão do castelo.
Não demorou para que todos chegassem ao porão do castelo.
— Fernando, você é o que tem a base de evolução mais forte, portanto será você a equilibrar os núcleos, com o seu próprio. Por sorte, você tem um núcleo dourado, isso será muito útil — Sr. Jeremia falou, demonstrando sua experiência. Ele desenhou um complexo diagrama com pedra mulata de grau superior. Rapidamente, a matriz foi tomando forma, com a ajuda dos seus subordinados e de Fernando. A matriz englobou todos os elementos fundamentais, e rapidamente todos foram para sua posição, cada um representando um elemento diferente no diagrama. Fernando tomou o centro, sobre as indicações do Sr. Jeremia.
— Água, terra, vento, fogo, madeira, metal.
— A vida vem da deusa, elementos criados pela deusa, a morte teme a deusa.
Todos seguiram os passos indicados pelo Sr. Jeremia, ao mesmo tempo que um encantamento na língua baboana ecoava pelo porão.
— Fernando, agora! — Sr. Jeremia gritou, com suor percorrendo seu rosto. Fernando não se demorou, em sua mão os núcleos voaram em direcção aos extremos da matriz, cada núcleo representando um elemento correspondente à matriz. E o seu núcleo dourado na sua região dantina girou rapidamente produzindo os elementos correspondentes. Depois de algumas horas de muito trabalho duro, uma planta nasceu no meio da matriz, bem na frente de Fernando transbordando de poder vital. Após mais meia hora, uma flor margarida floresceu da planta e cinco suspiros ecoaram ao mesmo tempo.
— Fernando, nosso trabalho aqui está feito. Por agora, o resto depende da deusa, bem como dos seus esforços — Sr. Jeremia falou.
Depois disso, Fernando moveu sua esposa para dentro da flor margarida, que transbordava de vitalidade. Em um ritmo visível aos olhos, a mulher que antes parecia um cadáver começou a rejuvenescer, demonstrando uma linda e jovem mulher. Depois de estabilizar a matriz, Sr. Jeremia explicou a Fernando como gerir a matriz da vida.
O tempo voou, e vários dias se passaram em que os enviados da capital foram bem acompanhados no castelo e o ar sombrio no castelo aos poucos foi desaparecendo.
No mês seguinte, os enviados da capital se despediram e regressaram à sua arca voadora, de volta à capital.
---
Na Escuridão Sem Limites
Após John ter vivido na escuridão por um tempo desconhecido, ele gradualmente foi se a aclamando. Então, John começou a fazer suposições da sua actual situação. Ele não podia ver ou sentir nada ao seu redor. Primeiro, ele pensou ter morrido e portanto estar em algum tipo de inferno ou algo parecido.
John nunca ouvira relato da sua situação ao longo da sua vida. Um dia, John sentiu algo que ele não podia explicar, porque o que sentiu não era provido dos seus sentidos, mas sim da sua alma. Era como ficar pelado em público, e de repente você acha alguma coisa para vestir, é um grande alívio depois de algum tempo.
Mudanças foram ocorrendo, uma após o outro, até que, um dia, ele podia sentir um corpo. Embora os sentidos não estivessem desenvolvidos, John de alguma forma podia sentir isso. Uma grande corrente de vitalidade percorreu em direcção ao corpo recém-formado, como se visse água após caminhar pelo deserto por muito tempo. O corpo de John absorveu freneticamente a corrente de vitalidade.
De repente, um milagre realmente aconteceu. John já não podia ver a escuridão circundante; pelo contrário, ele estava em um sítio completamente diferente. Agora, ele estava em um mar sem limites. Havia água cristalina reflectindo o azul do céu, as águas eram calmas, sem nenhuma ondulação. O mar estava calmo, não havia terra nem sentido de orientação, um mar sem sul, norte, leste ou oeste.
John ficou feliz porque já não estava na escuridão sem limites. Então, ele tentou olhar para o seu próprio corpo. Para sua surpresa, John agora era um bebé fantasma, é a palavra que ele achou mais apropriada para descrever seu próprio corpo actual.
John era um bebé adorável de poucos centímetros. Cabelos pretos, olhos negros, pele lisa clara. O mais impressionante era o pequeno rabo saindo da parte traseira da sua cintura. John ficou surpreso, ao parecer um pequeno diabinho, mas isso levou pouco tempo. Ele começou a analisar os seus arredores. Um mar sem limites, sem terra à vista, sem direcção alguma, mesmo olhando para baixo da água cristalina, não havia vestígios de haver terra, o que contrastava com o conhecimento dele sobre o mar.
Quando John olhou mais de perto aos seus arredores, ele descobriu algo chocante. Havia um ovo sim translúcido, com cerca de 1,75 centímetros de altura. Dentro do ovo havia outro bebé fantasma, o bebé parecia ainda mais fantasma que o próprio John, parecia que o bebé no ovo desapareceria a qualquer momento.
John tentou se comunicar com o bebé no ovo, mas não havia forma de comunicação disponível no momento. É a primeira vez que ele estava em estado de alma pura; ele de alguma forma sabia que era uma batalha entre vida ou morte na pós-vida.
---
No Porão do Castelo
Já faziam 6 meses desde que os enviados da capital partiram, mais 3 meses desde que a esposa de Fernando concebera. Fazia praticamente 9 meses de gravidez, e o dia do parto se aproximava dia após dia. A matriz cumpriu bem o seu papel. No quarto mês após implantar a matriz, a mulher finalmente recuperou os sentidos.
-