Chereads / O LIVRO DE LAYKOS - A OUTRA HISTÓRIA DO LOBISOMEM / Chapter 2 - LOBISOMENS - A ORIGEM

Chapter 2 - LOBISOMENS - A ORIGEM

Antes que o Filho do Criador se tornasse carnal igual a nós, com exceção do pecado e caminhasse sobre a Terra, apesar de toda a sede de poder que emanava do coração dos xás e conquistadores, os seres místicos, sob as asas da Criação, viviam em harmonia com o resto da humanidade. Porém, algumas criaturas, por terem sido iludidas pelos filhos caídos de Deus, se rebelaram contra O mesmo, dando origem a vários cultos pagãos, se auto proclamando de deuses. Cultos a esses novos deuses místicos eram feitos de várias maneiras, por serem cultos mais fáceis de serem executados e, por terem retorno mais rápido daquilo que os humanos pediam, muitos desses cultos envolviam sacrifícios humanos.

Toda essa corrupção começou quando Adão conheceu Eva, sua mulher, não mais como apenas uma parceira, vindo ela a engravidar e dar à luz a um menino, a quem fora chamado de Caim, dizendo:

- Alcancei do Criador um homem.

E após um ano amamentando Caim, Eva deu à luz mais uma vez. E desse nascimento veio ao mundo outro menino, irmão de Caim chamado Abel. Os meninos cresceram, aprenderam ofícios com os pais e após não terem mais os pais, se tornaram homens trabalhadores, sendo que Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.

E aconteceu que ao final de sete meses de trabalho pesado, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Criador. Abel também trouxe uma oferta, que era o primogênito das suas ovelhas; e voltou-se o Criador para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não despertou no Criador tanta atenção. E irou-se Caim fortemente, descaindo-lhe o semblante sereno, revelando ao mundo, o primeiro sentimento de inveja e raiva, da humanidade.

E o Criador disse a Caim:

- Por que te iraste? E por que encolerizou o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado baterá à tua porta, e sobre ti será pesado o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.

E tendo uma oportunidade de estar a sós, falou Caim com o seu irmão Abel. E sucedeu que, estando eles no campo sem a presença do Criador, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e com um golpe de foice o matou, acertando-lhe o pescoço e cortando a jugular. Caim lambeu a foice, provando o sangue do irmão e após isso foi para longe de Abel, que agonizou até a morte, clamando pelo Criador.

E disse o Criador a Caim:

- Onde está Abel, teu irmão?

E ele disse:

- Não sei. Por acaso eu agora sou guardador do meu irmão?

E disse o Criador:

- Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.

E por causa dessa atitude cruel, o Criador amaldiçoou Caim:

- E agora maldito és tu, sobre a terra, que abriu a sua boca para receber o sangue de teu irmão derramado por tua mão. De agora em diante, quando lavrares a terra, ela não te dará mais sua força e serás fugitivo e errante para sempre.

E do mesmo modo em que a terra recebeu o sangue de Abel, Caim também recebeu o sangue em sua boca. Desse dia em diante, os frutos, que foram retirados da terra, aqueles mesmos que Caim ofereceu ao Criador, não mais o alimentariam, pois sua fome seria insaciável: somente bebendo sangue, seja de animais ou dos próprios homens é que a partir daquela condenação é que ele poderia sobreviver, até o fim dos dias, pois até mesmo a morte lhe fora negada. Então disse Caim ao Criador:

- Eis que hoje me lanças condenado sobre a terra, também devo esconder-me de tua presença?

O Criador calou-se, mas desse dia em diante, Caim foi perseguido em todos os quatro cantos do mundo, e herdou como sina eterna, se esconder para não ser morto. Mas como a compaixão do Criador era muito maior do que sua cólera, Caim foi marcado, para afastar seus inimigos: seus dentes caninos se alongaram e os seus olhos ganharam uma nova cor, ficaram amarelos e assustadores. E estas características, antes dele, nunca foram vistas em nenhum mortal.

A marca do criador fez com que Caim se tornasse errante na Terra, fazendo-o vagar pelo mundo até chegar a Node, terra de Enoque, onde conheceu Lilith, a "não idônea": uma mulher misteriosa que ao saber quem era aquele homem recém-chegado, lhe ensinou as poderosas artes do sangue e dominando esse poder, Caim transformou Node em uma próspera cidade. Nesse tempo, ele casou-se com uma mortal e teve filhos. Mas seus descendentes não carregavam a maldição de seu pai, porque Caim só se alimentava do sangue de seus animais.

Apesar da nova vida Caim não era feliz, pois tudo era passageiro e tanto suas esposas que tanto amava, quanto seus filhos morriam logo, pois eles não eram imortais como o pai. E foi por não mais suportar essa solidão que ele resolveu transformar o povo que lá vivia, em seres como ele, surgindo assim os primeiros vampiros. E apesar dessa nova vida rodeada de seres como ele, ela não era muito sossegada: sempre enfrentava e derrotava os que queriam sua morte. Muitos viajantes que chegavam a Node, devido às características e hábitos peculiares de Caim, consideravam-no uma aberração. O que não deixava de ser verdade. Um dos líderes de Node, em uma assembleia feita às escondidas, tomou a palavra nestes termos:

- Aquele homem, o tal Caim, sempre aparenta satisfeito, mesmo que não tenha comido. Ele nunca demonstra passar por privações. Por isso deve ser expulso de Node o quanto antes! Se não cuidarmos nós mesmos de expulsá-lo ou matá-lo, caso se recuse a ir embora, a existência daquele homem pode interferir diretamente em nossas vidas, fazendo nosso próprio juízo, tomando providências rápidas, enérgicas e sem solução. Por isso ele deve ser banido da nossa presença!

Desse dia em diante todos os esforços dos moradores de Node, foram para tentar destruir Caim a todo custo. Em uma dessas investidas contra Caim, o mesmo, para se defender, acabou mordendo um de seus algozes estrangeiros. Na luta desesperada por sua vida, já não tendo mais opções de como se defender, Caim mordeu o braço de seu opositor para que ele largasse a espada que empunhava e que no mesmo instante o enforcava com bastante força, estava lhe tirando o fôlego, quase fazendo o mesmo perder os sentidos. Seus grandes dentes caninos entraram com força, na carne do infeliz, fazendo que por um instante Caim parasse o ataque, vindo a perceber que o sangue humano é muito mais apreciável do que o sangue animal. Esse momento de apreciação deu a chance para o inimigo fugir de sua presença.

Caim, ao sentir o sabor do precioso líquido rubro, logo se lembrou do sangue de seu irmão derramado na terra e o prazer que sentira ao ver Abel agonizando: o mesmo prazer que sentiu ao morder aquele homem. Porém, isso não trouxe nenhuma alegria em seu coração, muito pelo contrário: Caim prometeu para si mesmo nunca mais colocar o sangue humano em sua boca e assim vive, pois até os dias de hoje ele espera conhecer a morte. A sina de Caim em Node é, dia após dia, preparar-se para a morte, refletindo o tempo todo se ela ocorrerá aqui ou ali, imaginando a maneira mais honrosa de morrer, e focando a mente na morte com todas as forças, sempre lutando contra seus instintos vampirescos.

Durante os anos em que viveu em Node, três teriam sidos os transformados por Caim e esses transformaram muitos outros, criando uma grande linhagem de vampiros. Depois que os primeiros habitantes de Node se tornaram iguais a Caim, sua sede por sangue não os conteve e eles começaram a atacar os seres humanos, não fazendo como Caim, que se alimentava do sangue animal como forma de conter seus instintos. O Criador, vendo a ferocidade daquele povo, deu imunidade aos animais mordidos, não permitindo serem tocados pela maldição, fazendo do sangue deles amargo, na boca dos vampiros. Já algumas vítimas humanas morriam por causa do ataque, dependendo do sangue retirado de seus corpos, enquanto outros se transformavam em vampiros.

- Devemos tentar superar os grandes vampiros do passado nesse curral humano e, dia e noite derrotar um poderoso puro de sangue por dia. Só assim nosso corpo se fortalecerá e nos tornaremos incansáveis e corajosos, diante do pai dos pais!

Ao contrário de Caim, esses novos vampiros eram mortos vivos, pois tiveram que morrer para que pudessem se transformar em vampiros. O anjo da morte não os achou mais, pois o coração deles não batia em seu peito. Alguns, com o tempo, adquiriram o controle da transformação, podendo muito bem se misturar a multidão de humanos durante a noite, sempre quando achava necessário, escondendo os grandes caninos e a cor de seus olhos. Eles então se tornavam como eram antes da transformação, com exceção de que não podiam mais admirar o sol, se tornando pessoas de vida noturna, fugindo para covas, cavernas e caixões, assim que os primeiros raios de sol tocavam a terra, porque os raios de sol lhes eram a pior de todas as mortes: a morte por cremação total.