Wilfried mantinha contato com Eule que na escuridão da noite voava até para ver Bertha e sua filha.
E naquela noite, ela que sabia de todos os pensamentos e ações de Bertha, sabia que ela chegara ao portão e vira que tudo estava devastado.
Não era do interesse do ser demoníaco que seu plano fosse descoberto por sua amante.
Afinal ela nunca soubera de sua verdadeira identidade. E nesse instante decisivo, ter Bertha possivelmente contra ela não era o que Eule desejava.
Foi então até onde Bertha dormia com sua filha.
Em sua pré-adolescência Chimäre deveria estar com dez anos de idade humana.
Eule então deitou se ao lado das duas e afagou os cabelos de Bertha que acordou assustada.
Lembrou se dos acontecimentos daquela tarde. Da devastação que sabia ter acontecido.
Lágrimas escorreram em sua face ao lembrar se de seus pais e de seu noivo.
Sabia que nunca mais os veria. Que nunca mais veria ninguém, pois não havia mais ninguém além de quem estava ali.
E sentiu se muito humana. Não desejou a imortalidade. Para que serviria a imortalidade, para ser sozinha.
Lembrou se de seus pais, de sua mãe rezando e lembrou se de Deus.
E caiu de joelhos no solo, em súplicas, pedindo que Deus olhasse por ela.
Ao chamar por Deus, Bertha despertou a fúria de Cérbero, guardião das almas perdidas e que tinha a responsabilidade de não deixar que elas encontrassem o caminho da Luz.
E rugindo ferozmente ele lançou-se em direção a Bertha.
Eule de um salto abraçou-se a ela tentando protege-la com seu corpo, porém nada controlava a fúria do cão negro. Suas três cabeças destroçaram as gargantas das duas mulheres.
A brancura dos Alpes Bávaros tornou-se de súbito, alaranjada.
E do céu escuro da Bavária à Saxônia caíram milhares de estrelas de fogo que devastaram toda a região.
Por dias e noites casas e plantações queimaram, restando apenas uma enorme vastidão de cinzas em redor dos Alpes.
E se houvesse ficado um único ser humano para testemunhar tal fato, talvez tivesse avistado uma menina de dez anos, com flocos de neve a enfeitar seus longos cabelos louros, que com seu cão negro caminhava pelas noites alpinas e dali se afastava para buscar seu novo destino.