Aqui estou eu, saindo de um vagão de metro, vazio e acolhedor, fora dele, vejo crianças rindo e se divertindo, em um frio de menos de 10 graus negativos, em uma cidade no meio de uma longa linha de metro, saindo dele, me assusto com o quanto a cidade era pequena, basicamente o tamanho do bairro onde vivia antes disso tudo acontecer.
Vejo a alguns metros de distancia, uma barraquinha de cachorro quente distante de tudo e sem ninguém por perto, decido ir para ela.
Ela estava no meio da neve, provável que era de alguma praia costeira, mas o mar que estava a frente da barraca, totalmente congelado por conta do frio extremo
chegando nela, o dono da barraca vem e me pergunta -Vai pedir alguma coisa? Com um tom sonolento na voz
Respondo educadamente - Um pancho normal, por favor
Enquanto ele faz o pancho, dou uma olhada nos arredores, o mar de gelo, as cidades ao norte, alguns posts de energia e poucas pessoas nas ruas, cenários que, mesmo vazios e sem vida, faz me sentir bem.
Alguns minutos depois recebo o cachorro quente, estava saboroso, provavelmente a melhor coisa que havia comido em tempos(principalmente compara a barraquinhas de comida abandonadas em cantos de rodovias)a salsicha feita na hora com um molho na temperatura certa, bem vermelha e uma batata palha nas bordas que me faz ter saudades dos velhos tempos, infelizmente, não consegui saborear muito, por conta do frio extremo, rapidamente ele ia gelando, com isso, acabei comendo rápido demais.
Dou o prato para o dono e ele pergunta se quero mais algo, digo que não
Ele responde -15 reais, por favor
-Você claramente faz isso a muito tempo, certo? deu pra perceber o profissionalismo no preparo do cachorro quente(ou pancho tanto faz) se é tão talentoso, porque os vende aqui?
Ele responde (novamente) -15 reais, por favor
- Gostei de você, mesmo com tantos elogios, permanece convicto e tentando ser o mais profissional possível, mesmo trabalhando em uma barraquinha de cachorros quente abandonada de tudo e todos, ela é ativa nos dias de verão?
Ele responde-Não
- Como imaginava, se é assim, porque continua por aqui?
- Gosto do clima daqui, é calmo e o vento no verão me lembra de quando eu era mais novo.
Digo a ele- Consegui quebrar seu semblante serio, mas enfim, você realizou algum desses sonhos que almejava?
-Não
-Porque não?
Ele responde-15 reais, por favor
Olhando para o céu digo-Você não quer conversar mesmo né? aparentemente não iremos criar um belo vinculo de amizade como em historias de comedia ou como pessoas bem sucedidas
-Você esta assumindo que não sou bem sucedido?
-Ninguém bem sucedido estaria vendendo cachorros quentes a essa hora, e do mesmo jeito, ninguém bem sucedido estaria comendo cachorros quentes a essa hora nesse frio.
- Você é um fugitivo não é?
Confuso respondo- De certa forma sim, tento fugir, mas de não é de alguma autoridade ou algo do tipo.
-Você Foge de quem então? Da sua esposa? de algum velho estranho?
-Do trabalho, ficar 12 horas por dia em um escritório me enlouqueceu aos poucos, faz alguns meses que sai do trabalho e só fico pegando metros e viajo no interior desse instável país
-Você é um viajante experiente então?
-Não diria isso, se fosse já teria boas historias pra contar, a coisa mais interessante nessas viagens que aconteceu comigo foi encontrar um cachorro anão chamado Sopy, nem uma foto dele consegui salvar.
Após alguns segundos de silencio, o vendedor aparentemente mau sucedido olha diretamente para meus olhos e pergunta:
-Não tem dinheiro não é?
-Demorou tanto assim pra chegar nessa conclusão?
-Não, apenas demorei pra falar ela.
-Certo certo... como eu esperava você é inteligente, Já apareceram muitas pessoas sem dinheiro em sua barraquinha?
-Sempre aparecem, mas normalmente fogem, e eu acabo ignorando, nunca vou atrás.
-Você desistiu até de tentar conter pessoas com más intenções, vejo que desistiu de tudo tambem.
-Eu tenho meus motivos para isso.
-Poderia me contar eles?
-Já tentei muita coisa nessa vida, já trabalhei em grandes multinacionais, até mesmo fundei minha propina empresa de manutenção de jukebox, que faliu em pouco tempo.
-Essa barraquinha deu certo?
-Comparado a minha empresa anterior sim, ao menos no começo, o custo de manter ela é tão baixo que basicamente eu só lucro mesmo que venham poucas pessoas pra cá, não acho que isso seja uma vitória, até um relógio desligado acerta 2 vezes no dia.
-Tem razão, mudando de assunto, o senhor tem uma cerveja?.
-Bebendo essa hora da tarde? nem escurecei direito ainda.
Ele abaixa e pega 2 latas do balcão, de uma cerveja estranhamente suspeita.
Ele levanta, me da uma das latas e diz:
-Irei te acompanhar.
Bebendo aquela cerveja quente que venceu a 6 meses, foi algo reconfortante, mesmo que nada saudável ou saboroso, rindo olho para o vendedor e digo:
-Não sei como você lucra com uma cerveja ruim dessas hahaha.
-Dificilmente pedem cerveja aqui, então elas acabam vencendo, essa devo ter comprado a alguns anos já.
-Se acontecer alguma coisa comigo a culpa é sua eim hahaha.
-Não fui eu quem foi a uma barraca de cachorro quente esquisita essa hora da tarde.
Com o rosto levemente corado e com um sorriso no rosto, olho para o céu, azul escuro e digo:
-São momentos idiotas como esse que não me fazem desistir de tudo.
Deixo a lata no balcão da barraca, e vou em direção ao trem, pra dormir e esperar até a próxima manhã para ir em direção a o horizonte de neve