Naquela mesma noite, o jovem de olhar apático veio até o seu dormitório com um pote com sopa e resto de pão. Ele parou no corredor, perto do jardim, e colocou a tigela com a comida embaixo de uma árvore. Não demorou muito para um pequeno gato preto aparecer sobre o telhado da casa.
A princípio, o animal olhou para baixo com um olhar arisco, mas desceu rápido dali e se aproximou da comida, bem devagar.
Zyon se afastou e ficou agachado, observando o animal dar as primeiras mordidas no pão.
— O que você quer? — Sua voz soou de repente.
— Então você sabia sobre mim? — disse a princesa. Embora estivesse impressionada por ter sido descoberta tão rápido, ela foi direta ao assunto: — Mas já que perguntou, eu serei direta com você. Eu estou aqui para achar alguém…
— O que isso tem a ver comigo? — interrompeu o jovem de olhar apático.
— Deixa eu terminar… quem eu estou procurando é… o cavaleiro prateado.
Ele não esboçou nenhuma reação, apenas se levantou e acenou para ela, enquanto se dirigia para o seu dormitório.
— Boa sorte na sua busca.
A princesa ficou assistindo o jovem se afastar, com um olhar sóbrio. Então o pequeno animal se aproximou dela e miou, ela se abaixou e acariciou o gato, com ternura, antes de retornar para o seu quarto.
…
Esse era o terceiro dia desde que a princípio ingressou no pelotão Besouro. A princípio, eles não esperavam que ela fosse suportar a rotina deles. Pela manhã, faziam a limpeza e a manutenção das oficinas e das armas. Pela tarde, cuidavam da manutenção dos veículos e os deixava preparados caso fossem solicitados para a guerra.
No quarto dia, eles estavam limpando as armas que os soldados usavam para treinar. A princesa fazia o seu trabalho calada e com paciência, como se já tivesse uma grande experiência com esse trabalho.
Eric pegou um dos rifles e mirou, apontando o cano da arma em direção a um posto na parede, então apertou o gatilho. Nada aconteceu, pois a arma não tinha nenhuma munição.
— Ah, quando eu vou deixar de ser um empregado do tenente queixudo e atirar com um desses no campo de batalha? — Ele se queixou.
— Você quer tanto assim tirar a vida de uma pessoa? — indagou a princesa.
Eric colocou o rifle de volta à mesa. Claro que a ideia de matar uma pessoa não passava pela sua cabeça. Mas pensando bem, era isso o que os soldados faziam num campo de batalha. Cedo ou tarde, ele teria que tomar a decisão de apertar um gatilho e matar alguém. Então seria melhor se ele já tivesse se preparado para esse momento, ponderou Eric.
— Essa guerra já dura dez anos… graças às novas armas automáticas, não temos tantas baixas assim, mas… soldados como nós continua morrendo nos campos de batalhas. — Eric olhou para a princesa: — Ei, porque você decidiu se tornar um soldado?
Ela continuou limpando a arma. O silêncio fez Eric se sentir constrangido, mas depois de um tempo, ele ouviu a voz dela:
— Meu objetivo é acabar com essa guerra sem sentido. Apenas isso .
Eric não levou a resposta dela a sério, e sorriu.
— Se isso fosse fácil, essa guerra não teria durado tanto tempo, você não acha? — indagou ele, em tom de descontração.
A princesa olhou para o jovem de olhar apático fazendo o seu trabalho lentamente, conforme murmurava:
— Talvez haja uma forma...
— O que você quer dizer? — indagou Eric, enquanto encarava a princesa com um olhar confuso.