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Chapter 4 - Conto IV - O Homem da Encruzilhada.

Era uma noite qualquer por volta das 20h, Felipe sempre fazia o mesmo caminho ao voltar do trabalho e estava acostumado a atravessar a encruzilhada de uma via férrea. Embora fosse cercada por matos e arvores e sempre estivesse sem iluminação ali, Felipe morava naquela região havia 20 anos e nada de mal acontecera até então, pois sua casa dava de frente a via onde o trem passava.

Mas noite, ao cruzar a encruzilhada, Felipe se deparou com um homem fumando e sentado em cima de um dos trilhos. O homem era ainda novo, por volta de seus 30 ou 35 anos, estava vestido casualmente: Calça Jeans, blusa branca e tênis. Tinha uma barba bem cuidada e não aparentava ser um delinquente ou até mesmo um morador de rua. Ao se cruzarem um cumprimentou o outro e o homem disse:

- Boa noite! Por acaso você tem um isqueiro?

Felipe negou, e demonstrou pressa para sair dali.

- Amigo, não precisa ficar com medo, sou apenas um homem desempregado afogando as magoas em cigarros... Não quero lhe fazer mal algum. – Disse o homem com certa angústia.

Felipe o fitou por um instante, e disse que iria buscar uma caixa de fósforo ao rapaz. Então seguiu seu caminho e quando voltou pode ouvir as buzinas do trem que se aproximava, e não viu mais o homem.

Passado dois dias, no mesmo horário e dessa com vez com lua cheia, ao passar novamente pela encruzilhada o homem estava lá novamente, sentado, cabisbaixo e com a mesma roupa de antes. Mas desta vez Felipe o viu de longe e mudou sua rota, preferiu caminhar duas quadras para frente onde havia uma outra passagem para atravessar a via ferra. Mas ao chegar lá, para sua surpresa o homem estava lá, sentado, cabisbaixo, com a mesma roupa e dessa vez o cigarro apagado em sua mão. Aquilo o arrepiou e lhe trouxe um certo medo, estava pensando que estava sendo seguido e para evitar ainda mais perigo, decidiu atravessar ali mesmo. Quando cruzou novamente com o homem, disse:

- Boa noite!

- Boa noite amigo! Por acaso você tem um isqueiro? – Perguntou o homem.

- Hmmm, tenho fósforo – Retirou a caixa da bolsa – Pode ficar com esse para você, eu não fumo mesmo.

O homem acendeu seu cigarro, deu uma tragada muito forte e soltou... Aquilo intoxicou Felipe que não pode conter a tosse. O cheiro erra horrível, jamais havia inalado algo daquele tipo. Pode observar que enquanto fumava suas escleras iam escurecendo... e sangravam.

Felipe deu três passos para trás, o homem ergueu a cabeça e sua face estava cada vez mais podre, as veias saltavam em sua face e era possível notar alguns vasos saltados e estourados também, sua voz já não era a mesma. O homem levantou lentamente e em passos lentos tentou se aproximar de Felipe, que correu em direção a encruzilhada inicial, mesmo com tudo escuro, e muito mato ao redor. Mas o homem estava lá também! "o que está acontecendo? Estou delirando? Há mais de um? Porque ele está me seguindo?" – pensou Felipe.

Um carro passou por ele, era seu amigo Pedro, que parou o carro e perguntou se estava tudo bem, ele entrou as pressas no carro e explicou (inutilmente) o que aconteceu, mas Pedro não pareceu acreditar muito.

Alguns dias se passaram desde então, nesse meio tempo Felipe evitou passar por aquele lugar, fez algumas pesquisas sobre o homem, mas nada achou.

Estava sentado em seu computador quando ouviu a buzina do trem soar, sem pausas, contínua e desesperadora como se estivesse gritando para alguém sair do caminho... e realmente "estava". O trem parou em frente a casa de Felipe, que estranhou todo o barulho saiu para olhar, desceu até a encruzilhada e viu sangue banhando a via férrea, pedaços do corpo mutilado e espalhado debaixo das rodas de aço do trem e nas entranhas dos vagões, Felipe jamais havia visto algo assim, aquilo lhe deu náuseas e ali mesmo regurgitou. Ainda curioso, olhou por debaixo dos vagões e observou que havia um tronco humano, com um lado da face amaçada, mas o outro lado que restou pode observar aqueles olhos com escleras escuras daquele homem...

Dias após o acontecido, Felipe foi encontrado morto na mesma via férrea, porém, há 3km de sua casa. Em um dos bolsos da calça de Felipe foi encontrado um cigarro ainda aceso.

Até hoje, neste local existe a lenda de que não se deve falar com este homem (ou que for), que esteja sentado na via férrea a noite (e/ou em noite de lua cheia). Há quem diga que este "homem" está ali apenas para recolher almas e se alimentar de energias de pessoas que passam por ali.