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Chapter 3 - Ele quer minha companhia?

Era só dizer "Obrigada", mas nada saiu dos meus lábios. Qual o meu problema? Porque estou agindo como uma adolescente perto desse cara? E será que ele de fato me achou  bonita, mesmo com essas enormes olheiras e sem ? Ou será que ele só estava retribuindo a gentileza? De qualquer forma, hoje vou caprixar na produção para que ele veja que posso ser ainda mais bonita. Caminho confiante até o salão da emissora, onde a equipe já me aguarda. North, minha leal maquiadora me olha com reprovação.

- Eu sei, estou atrasada, mil desculpas! Mas será que você pode fazer algo diferente hoje? Uma mais pesada, algo que destaque meu olhar?

North me olha com curiosidade.

- Qual a ocasião? 

A ocasião? A ocasião é que quero impressionar um músico casado que esta aqui no estúdio para fazer uma entrevista no meu programa. Só de formular essa frase na minha cabeça me fez parecer ridícula. Eu penso rápido em uma desculpa.

- Depois daqui eu vou em um lugar.

- Vai conhecer alguém? Finalmente, amiga! Deixa comigo!

O fato de North ficar tão empolgada com a possibilidade de eu desencalhar acendeu uma lâmpada no meu interior. De fato fazia muito tempo que eu não aparecia com alguém nas festas da empresa, nas datas comemorativas, nos afters depois do trabalho. Nunca achei que as pessoas reparassem nisso, será que eles falam de mim pelas costas? Tipo "Nathaly a solteirona"?

- Na verdade estou saindo com uma pessoa a um tempo…

Não havia necessidade de mentir, mas foi o que saiu na hora. 

- Jura? Finalmente você vai levar alguém nas festas da empresa? 

North pode ser bem desnecessária quando quer. Eu abro minha boca para responder, mas antes disso ela me corta.

- Já estavamos te chamando de "Nathaly solteirona" nos bastidores! 

Todas as minhas suspeitas se confirmando instantaneamente, chega a ser hilário. Ela começa a gargalhar e olha para mim esperando que eu ria com ela. Eu forço uma risada para não deixar a situação mais constrangedora do que já está e passo o restante da produção em silêncio. 

Finalmente estou pronta e vou para meu estúdio onde os três meninos já estão a postos. Ponho meu melhor sorriso no rosto e caminho em direção a minha mesa que se situa em frente ao sofá onde os músicos estão sentados. 

- Quanto tempo, meninos! 

Digo enquanto me arrumo na cadeira giratória. Nesse momento eu percebo o olhar de admiração dos três que pousava sobre mim. Parece que a e o cabelo realmente fizeram o efeito que eu estava esperando e isso me deixa extremamente satisfeita. Um curto silêncio se segue até que Dave resolve falar algo.

- Parece que foi ontem que tomamos café juntos…

Ele diz de forma pausada sem tirar os olhos de mim. Eu direciono meu olhar para o motivo da minha produção exagerada por um minuto e ele desvia o olhar ao perceber que percebi sua cara de bobo. 

- Estão prontos para entrevista?

- Sempre pronto.

Responde Tony instantaneamente como se já estivesse esperando uma deixa para disfarçar sua reação. As câmaras ligam e focam na gente. A entrevista corre bem, eu faço as perguntas padrões sobre início de carreira, o que esperar do futuro, seus sentimentos a respeito do público e me divirto com algumas histórias de bastidores que eles contam, mas isso não me é o suficiente. Eu não sei se terei outra oportunidade de entrevistalos e nem sei quando os verei novamente, talvez essa seja a única oportunidade de arrancar algo de valor do Tony. Eu resolvo sair um pouco do roteiro padrão e improvisar algumas perguntas pessoais. 

- A galera de casa quer saber, como anda o coração de vocês?

- Estamos todos casados. 

Responde Dave prontamente. 

- Como suas respectivas esposas se sentem com vocês passando tanto tempo longe de casa e com tantas mulheres desejando vocês?

Eu faço questão de infatizar a última parte da pergunta olhando nos olhos de Tony. Ele percebe e logo começa a falar.

- Acho que falo por todos quando digo que a vida pessoal e profissional precisa andar juntas e não separada como todos dizem. O que quero dizer é que nossas esposas compreendem que nossa profissão exige muita confiança e infelizmente um pouco de saudades, mas conseguimos manter nossas relações apesar de tudo.

Essa resposta toca em um ponto sensível em mim. Eu nunca consigo fazer meus relacionamentos durarem exatamente por causa do meu ritmo de trabalho, e eu nem sou uma estrela de rock como eles, será que o problema é comigo? E será que o casamento deles é mesmo esse mar de flores que ele diz? Não sei, mas esse comentário foi o suficiente para me desanimar de tentar fazer alguma pergunta mais provocativa. Eu decido terminar a entrevista do modo convencional, quero ir para casa e descansar tudo que não dormi no dia anterior, depois de tirar esses quilos de maquiagem da minha cara.

As câmaras desligam eu agradeço os meninos pela transparência na entrevista.

- Foi um prazer.

Bruce responde apertando minha mão. Me despeço e caminho em direção a porta de modo apressado que consigo mas sou interrompida por Tony. 

- Ei! Espere um pouco!

Eu olho para trás com curiosidade e vejo o mais alto se aproximando com pressa. 

- Você conhece essa cidade melhor que eu, queria te perguntar se você sabe de um lugar legal pra comer por aqui, estou morrendo de fome!

Eu penso por um instante. 

- Tem uma lanchonete bem aqui do lado mas se quiser comer bem, tem um restaurante que é 20 minutos de carro.

- Certo! Obrigado! 

- Por nada.

Eu já estou me virando para sair novamente mas antes disso ouço a voz dele novamente.

- Bom… Você tá com fome?

Eu me espanto com a pergunta. A entrevista durou algumas horas entre um corte e outro, já havia passado do horário do almoço quando terminamos tudo. 

- Um pouco… Vocês querem uma carona até lá? 

- Vocês? Não! Eu tô sozinho nessa. Quer dizer, Dave e Bruce estão hospedados em um hotel aqui perto com suas esposas, vão passar a tarde aqui com elas antes do show e eu não quero ficar sobrando. 

Eu paro para pensar por um minuto no que está acontecendo aqui e tento manter meus pés no chão. Ele quer companhia para comer e como não conhece ninguém aqui além de seus amigos comprometidos, ele falou comigo! Nada demais! Pelo menos é o que eu estou tentando me convencer. 

- Quer minha companhia?

- Isso! Se não for te incomodar, eu gostaria sim. 

- No meu carro ou no seu?

- No seu, você sabe o endereço melhor do que eu.

- Então tá bom, vamos!

- Ok, vou só me despedir do Bruce e do Dave. 

Eu observo ele se afastar e todo o esforço para manter meus pés no chão está sendo inútil. No final da entrevista eu realmente estava determinada a encerrar isso e tentar não pensar mais nesse homem lindo mas ele está aqui agora me chamando para almoçar! Eu não consigo mais conter a esperança de beijar aquela boca…

Ao menos a maquiagem e o cabelo vai servir para algo.

Vejo ele voltando e nos dirigirmos ao estacionamento juntos. Quando estou saindo com o carro eu olho para o lado e vejo North saindo com o seu. Ela não diz nada, apenas olha para nos dois e sorri radiante. Meu ego está alimentado agora, North me viu sair com Tony logo após eu inventar que estava saindo com um cara, agora não é mais mentira. 

-Eu não quero ser intrometida nem nada, mas… Por que sua esposa não veio junto?

Eu pergunto dando partida com o carro. 

- Ah, ela não quis vir.

Ele parece um pouco desconfortável ao responder.

- Entendo, não é sempre que estou disposta também.

Eu tento amenizar a situação e ele desvia o olhar. 

- A verdade é que eu e minha esposa não estamos bem a algum tempo, mas não quero te encher com isso.

Sinto que ele está reprimindo algo ao dizer estas palavras e tento descontrair um pouco. 

- Sabe de uma coisa? Eu estava quase pedindo conselhos amorosos pra você depois daquela resposta que você me deu sobre relacionamento porque honestamente, eu nunca consigo manter os meus.

Ele da uma risadinha abafada.

- Eu estou comprometido desde o meu ensino médio, nunca tive muitas experiências com relacionamentos, só tive um a minha vida inteira e como eu disse, a uns anos ele não anda bem, então acredite, sou a pior pessoa para dar conselhos amorosos.

Eu paro no sinal, o que me dá tempo para olhar nos olhos dele e ver que ele parece estar sofrendo com isso. Eu deveria apenas mudar de assunto mas sinto que ele precisa conversar. 

- Você merece todos os meritos por manter um relacionamento por tantos anos, mesmo que estejam passando por uma fase difícil agora.

Só recebo o silêncio como resposta. Eu encosto o carro e ele me olha com curiosidade. 

- Tive uma ideia, quer ir ao meu apartamento? É mais reservado, não seremos clicados e não correremos o risco de sair numa capa de revista com rumores de um possível romance.

Ele da um sorriso tímido, o mais lindo que eu já vi, mas fica em silêncio pensando.

- Eu faço uma comidinha caseira pra gente, podemos nos assistir na TV como dois narcisistas e conversar sobre coisas aleatórias. 

Tony olha para mim pela primeira vez em muito tempo.

- Faz tanto tempo que não sei o que é uma comida caseira… 

Eu dou um grande sorriso.

- Eu cozinho muito bem, te juro! 

Ele abre um sorriso e confirma com a cabeça.

- Não tem como dizer não pra você. 

Eu suspiro satisfeita e dou partida com o carro novamente.

Ao chegar em casa eu abro a porta para ele e o convido a entrar. Ele olha para todos os lados como se tivesse entrando em um palácio. 

- Sua casa é bem bonita!

Ele diz enquanto pega na mão um porta retrato com uma foto da minha infância. 

- Obrigada, eu não era uma gracinha? 

Ele confirma com a cabeça e pega outra foto, dessa vez da minha adolescência.

- Você devia ser bem popular na escola.

Eu levaria como um elogio se não fosse a foto mais feia do mundo! Eu estou com o cabelo bagunçado, espinhas pelo rosto todo, um óculos fundo de garrafa e um sorriso gigante e metálico! 

- Eu odeio quando a minha mãe vem aqui e começa a espalhar fotos do meu passado doloroso pela casa… 

Ele da risada. Estou feliz que o clima mudou. 

- Eu to falando sério, você até que tinha seu charme.

Diz ele ainda rindo.

- Tá brincando? O Tony do ensino médio chamaria a Nathaly do ensino médio para o baile? 

Eu lanço um olhar ameaçador a ele. 

- O Tony do ensino médio só fazia merda e foi expulso por fumar maconha no pátio da escola, então não da para confiar nas decisões daquele moleque. 

- O que? Eu não vi isso nas minhas pesquisas!

Eu digo entre risadas. 

- Um furo para você, senhorita jornalista. Quer mais um? Eu fui rei do baile na próxima escola que eu frequentei, seria a primeira foto que minha mãe te mostraria caso você aparecesse na casa dele. 

- Você? Rei do baile? 

- Eu tive a mesma reação. Eu se quer me escrevi pra isso!

Eu solto uma gargalhada. 

- De expulso por fumar maconha a rei do baile, que reviravolta! 

Caminho até a cozinha e ele vem logo atrás. Ele me observa atentamente enquanto eu separo os ingredientes para preparar uma carne de panela.

- O que você vai fazer para a gente? 

- Vai ser surpresa, mas nem tanto assim, já que você está olhando tudo. 

Ele ri e se aproxima mais.

- Quer ajuda para cortar os legumes? Sou uma negação na cozinha, mas isso eu sei fazer.

- Aceito, só não vá cortar os dedos de tocar guitarra! 

Eu passo uma faca afiada a ele e uma tábua. Ele logo começa a descascar e cortar os legumes com agilidade. Eu observo impressionada. 

- Minha mãe sempre me punha para ajudar na cozinha, e ai de mim se não fizesse certo! 

Ele diz com um ar de saudades.

- E você não aprendeu a cozinhar nadinha? 

- Bom, eu sei fazer o melhor bolo de chocolate do meu bairro. 

Eu dou risada.

- Teve uma competição no seu bairro de melhor bolo? 

Ele confirma com a cabeça sem tirar os olhos dos legumes.

- Sim, e eu venci. Sou uma caixinha de surpresa, não? 

- Sem dúvidas! E coincidentemente minha sobremesa favorita é bolo de chocolate! 

- Sério? Deixa eu te perguntar uma coisa, você tem algum compromisso hoje? Porque se não, depois do almoço posso fazer o melhor bolo que você já comeu na vida como forma de agradecimento por esse almoço. 

É oficial, eu estou muito feliz! Feliz por ele não ter planos de ir embora cedo e por ele querer passar o dia comigo, mesmo que seja na amizade. 

- Hoje é seu dia de sorte, não tenho nenhum compromisso numa véspera de feriado, ou seja, sou toda sua. 

- Toda minha? 

Ele me olha com um ar de malícia e meus braços perdem as forças na hora fazendo com que eu quase me queime no fogão. Ele se aproxima preocupado. 

- Você está bem? 

Ele segura meu pulso para olhar minha mão. 

- Não foi nada…

Eu digo tentando o tranquilizar ao mesmo tempo que estou amando sua atenção. 

- Parece que não sou eu que tenho que tomar cuidado com os dedos. 

Ele aproxima minha mão de sua boca e da um beijinho no meu dedo. Eu o observo imóvel. Ele poderia fazer o que quiser comigo agora que eu nem vou reagir, mas eu o vejo se afastar e voltar para o posto dos legumes. Eu tento retomar de onde parei e o agradeço.

- Por nada, minha mãe sempre fazia isso quando eu me atrapalhava com os legumes. 

Eu estou um pouco sem graça agora, acho que ele percebeu como fiquei quando ele mandou aquele "toda minha?" Vou tentar falar menos e ser mais discreta à partir de agora, focarei na comida, apenas. Logo as pelas estão no fogo e é só esperar ficar pronto. Eu estou com medo do silêncio que pode se seguir agora mas Tony começa a falar.

- O que quer fazer agora? 

Se ele soubesse o que eu quero fazer agora. Tento afastar os pensamentos impuros, mas logo me surge outro. 

- Você ainda fuma maconha? 

Pergunto sem rodeio. 

- Você têm?