— Lixos? — o homem de cabelos pretos e barba por fazer sibilou descrente antes de começar a sorrir. "Isso não é uma ótima oportunidade de conseguir o que eu quero?", pensou melhor antes de ficar zangado e xingar. "Ela é só uma pirralha com uma espada na cintura." Se divertiu.
— Eu, Eliseu Dranify, aceito o seu pedido de duelo. E como em todo duelo, peço que escute meu desejo — destilou um leve tom de malícia, encarando-a de cima como se a jovem diante dele mal fosse uma formiga.
O olhar de Tânia estava focado.
— Sinta-se à vontade — ela foi direta, sem se deixar irritar pelo sorrisinho torpe que o homem exibia.
— Se eu ganhar, você desiste do seu cargo e eu me torno o guarda-costas da princesa, que tal? — disparou.
— Aceito — Tânia foi a frente e se colocou em posição de batalha, sem hesitar. — Se eu vencer — disse —, você desiste dessa escolta e retorna para o buraco de onde saiu — vociferou.
— De onde tirou tanta confiança, fazendeira? — Eliseu se colocou a frente. — É por causa desse pedaço de metal, aí? — ele zombou.
Na cintura da jovem guarda-costas havia uma enorme espada embainhada. Era um pedaço de metal que, considerando a altura da mulher, claramente deveria estar em suas costas, pois era maior que suas próprias pernas. Tão grande que Tânia tinha que apoiar uma de suas mãos sobre o cabo da arma no intuito de impedir que a ponta da mesma arraste no chão enquanto ela anda.
Depois que se tornou a guarda-costas de Develine, ficou ainda mais estranho observar a maneira desengonçada com a qual ela lidava com o equipamento, e isso gerou fofocas. Muitos estavam duvidando das habilidades de Tânia, duvidando da sua capacidade de proteger a sétima princesa.
"Eu também achei estranho na primeira vez em que eu vi" Develine se recordou do dia em que foi treinar com Tânia e a mesma lhe apresentou a arma que usava.
— Eu sei que deve admirar guerreiros fortes como eu — Eliseu se gabou, presunçoso —, mas uma pessoa que mal sabe escolher uma arma adequada para si mesma deveria apenas desistir de seguir esse caminho — completou com desdém.
Observando silenciosamente o disparate do homem, Develine ficou feliz: "Apesar de parecer estranho, é um ótimo elemento surpresa." Ela estava satisfeita com o quão descuidado Eliseu se mostrava.
— Está pronto para começar ou eu devo esperar você zumbir mais? — Tânia ignorou todos os traços de provocação que o dito cavaleiro tentou usar para desestabilizá-la e logo se colocou em posição de batalha.
O rosto de Eliseu amargou, irritado com a seriedade da jovem diante dele, porém, assim que ela formou sua base inicial, se preparando para o ataque, o mesmo quase desabou em gargalhada.
"Essa jovem é maluca!" Ficou impressionado, segurando o riso com todas as suas forças.
A posição na qual a guerreira de cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo se colocou, fez todos os cavaleiros ficarem boquiabertos. Com uma perna esquerda a frente e a outra recuada, servindo como base, ela colocou sua mão direita sobre o cabo da espada que se encontrava embainhada no lado esquerdo da sua cintura e agachou levemente. Uma posição clássica de saque.
— Essa é uma base usada para espadas curvadas, focadas no corte — Curoni levou a mão até o rosto, descrente no que estava vendo —, e não para montantes — sentiu vontade de chorar.
— Tudo bem! — Eliseu respondeu com tranquilidade. — Garotinha, vou te dar a honra de ver uma verdadeira base sólida de ataque — disse. — Vê se observa atentamente — se gabou.
Segurando o cabo da sua espada media com às duas mãos, colocou-a horizontalmente ao lado da sua cabeça, apontando-a em direção a jovem que estava a apenas dez passos de distância. Organizando sua respiração, flexionou suas pernas, deixando a direita a frente e a esquerda logo atrás servindo como apoio.
Era a base clássica da esgrima imperial.
"Você mal obteve o nível nove de cultivação" Eliseu sentiu vontade de rir enquanto encarava a base desengonçada da sua adversária. "Eu sou um cavaleiro do império, eu alcancei o nível oito e estou em seu ápice, pirralha", zombou internamente.
— Ao meu sinal — Develine se posicionou entre os dois combatentes.
— Princesa! — Curoni disparou em pânico ao perceber que aquele show de horrores continuaria. — A senhorita deve impedir isso — disse. — Sei que confia em sua guarda-costas, mas ao ver isso, sinto muito em lhe informar, apesar de sua personalidade ruim, Eliseu continua sendo um cavaleiro condecorado do império — continuou. — É impossível que sua amiga ganhe essa luta — afirmou com seriedade e convicção.
— Esqueça, minha guarda já se decidiu — Develine se manteve firme, observando o olhar afiado e focado de Tânia.
— E-eu sei que não tenho o direito de intervir, mal sabia da situação da senhorita e me coloquei de forma arrogante diante dos seus olhos. Com sinceridade, peço perdão — Curoni se ajoelhou. — Juro que reportarei o pecado dos meus homens e os punirei adequadamente...
— Quê?! — Eliseu disparou. — Você realmente se acha demais, garoto. — Ele ficou nervoso.
Curoni ignorou seu companheiro e continuou: — Então peço que não deixe a raiva lhe cegar ao ponto de deixar sua nobre guarda-costas jogar sua vida fora — completou, com pesar em seus olhos, se mantendo firme enquanto pedia com sinceridade, ainda ajoelhado.
Essa era uma das principais características dos duelos oficiais no império, morte era uma possibilidade plausível e descabida de pena. Se alguém matava seu adversário em um duelo oficial, nenhuma restrição seria aplicada.
— Ela já aceitou o desafio — Eliseu disparou. — Segundo as leis do império, se ela voltar atrás, ela perde — explicou.
— A senhorita Develine é uma descendente imperial — Curoni afirmou enquanto encarava Eliseu com um olhar de desprezo. — Então, também segundo as leis do império, ela possui poder para decidir se o embate é ou não valido. Podendo cancelá-lo sem penalidades caso julgue ser necessário — explicou o que todos já deveriam saber.
Eliseu suspirou com desgosto.
— Existe algo desconfortável no que eu disse, senhor Eliseu? — Curoni perguntou com um olhar mortal recaindo sobre o homem de meia-idade.
— Nenhum — afirmou com desgosto.
— Agradeço sua prestatividade, senhor Curoni, mesmo que tardia; contudo, devo avisá-lo que não conseguirá nada ao delatar seus companheiros — se voltou para o homem. — Os abusos que sofri são de conhecimento do meu pai...
O homem alto e careca, de pele escura e bigode bem feito, engoliu em seco, tão boquiaberto quanto horrorizado.
— Exatamente! — Eliseu se agarrou aquela oportunidade. — Só você não sabia dessa merda — zombou da situação. — Se quiser delatar, vai em frente, no máximo conseguira ser afastado da guarda por ser irritante demais — gargalhou.
Ao ouvir aquelas palavras, buscou o rosto dos homens ao redor. Os semblantes azedos lhe disseram tudo o que ele precisava saber.
— Não se preocupe com isso. — Develine interveio. — Pelo menos agora você sabe o motivo pelo qual desejo ser adota e eu espero do fundo do meu coração que não interfira mais na minha vida — sorriu.
— S-sim, senhorita — desistiu, abaixando o olhar e se afastando da garotinha, se sentindo impotente.
— Além de que a Tânia com certeza vai ganhar — Develine disparou confiante, capturando a atenção de Curoni.
— Como pode ter tanta confiança, senhorita? — o cavaleiro disparou desanimado, consumido pelo pesar daquela situação.
— A Tânia é uma caixinha de surpresas, senhor Curoni — sorriu, se voltando para os desafiantes ainda parados em suas respectivas posições de batalha. Vendo o quão confiante e focada Tânia estava, Develine espantou as dúvidas que lhe restou e deu a largada: — Comecem! — Sua mão cortou o ar e os competidores se encararam, ansiosos pelo embate.