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Chapter 8 - Lembranças...

As páginas de livro debaixo de si eram confortáveis, apesar de estranho, o ambiente em que estavam era aconchegante. O céu iluminado ao seu redor não tinha um sol, nem a noite mostrava uma lua, apesar de ser possível de se enxergarem, a única coisa diferente que podiam ver nele eram as estrelas quando se estava escuro. Ela sempre quis ver as estrelas, mas só havia admitido isso pra uma pessoa...

Deitadas no chão com as cabeças apoiadas em suas almofadas, tanto Cacau quanto Goldie caíram num breve sono, que para Goldie, veio recheado de memórias importantes.

— Vamos ao O'Neil hoje a noite? — O pai perguntou com uma expressão um pouco triste no rosto.

Ele havia acabado de a abraçar após chegar em casa, uma residência pequena e bastante antiga, que precisava de muitas reformas, mas era o suficiente para aquelas duas pessoas humildes viverem seus dias mais felizes! A casa, era pintada de um verde azulado — agora desbotado — bem sutil e delicado, que havia sido escolhido pela esposa e mãe da menina antes dela nascer. O pai havia tentado fazer a manutenção da casa e deixá-la como a esposa, Maria, havia escolhido. Mas cuidar de uma criança com um salário de professor hoje em dia era difícil, na verdade, nunca foi.

— Vamos! Eu adoro as batatas fritas deles! — respondeu a menina tentando consolar o homem.  — Posso ter um especial Cheddar também?

O pai sorriu para a criança compreensiva e respondeu:

— É claro que pode, coração! — falou ele acariciando sua cabeça. — Vá buscar seu casaco!

Nenhum dos dois citou o fato de que aquele dia era importante para a criança, o que criou um aperto no peito da menininha, que estava tentando seu melhor para ser forte ao lado do pai. A menina andou em direção ao seu quartinho, pegou um sobretudo vermelho em seu pequeno closet e o vestiu. Olhou sua cama e a mesinha de trabalho que tinha, localizou seu Huawei ZPie ao lado do tablet da escola e andou até ele para pegar. Lágrimas começaram a aparecer em seus olhos sem notar e se obrigou a respirar fundo para controlar a vontade de chorar. 

Sua família era pobre, dentro da linha mais baixa das classes econômicas dos Estados Unidos da América, então seu pai tinha que trabalhar o dia todo para lhes sustentar e manter sua educação particular. Ele se negava a colocar a filha em uma escola pública, queria que ela desenvolvesse seus "talentos" o máximo que pudesse, por isso ela frequentava uma escola tecnológica desde os 10 anos. Naquele dia, ela queria visitar o Centro tecnológico da Google, que abria 24 horas e permitia ver um museu do avanço da tecnologia e projetos futuros aprovados pela empresa. O Centro tinha entrada gratuita, mas o projeto que ela queria ver de perto tinha um ingresso pago, hoje era o ultimo dia da amostra e eles não podiam pagar o ingresso!

— Tudo certo, Sarah? — perguntou o pai chamando da sala.

— Sim, estou indo! — respondeu saindo do quarto e andando depressa até o pai, que estava em pé ao lado do sofá antigo. — Pronto!

O homem notou os olhos levemente avermelhados da menina e desejou desesperadamente que sua tentativa de animá-la funcionasse. Pegou a mão da criança e os dois deixaram a sala, que era equipada apenas com um sofá grande, tapete e a televisão. 

— Luz, apagar! — Ele chamou o comando de voz das lâmpadas, que se desligaram e deixaram a casa no escuro completo. — Você pode trancar? — perguntou à criança tentando um sorriso animador.

— Sim — respondeu e direcionou seu pulso onde estava o ZPie à fechadura da porta. — Porta, trancar!

Ao ouvir o click das trancas sendo acionadas, os dois caminharam pelas ruas de (escreva o nome da cidade aqui) em silêncio. Já era noite, outdoors mostravam propagandas incessantes em todos os lados que se podia olhar, deixando livre apenas parte das áreas localizadas nos primeiros andares. Telas menores faziam merchandising das lojas e todo tipo de comércio que se encontrava ao longo das ruas, sendo menos iluminado apenas nos bairros de comércios mais pobres. 

Era para um desse tipo de comércio que estavam indo. A lanchonete O'Neil se localizava (introduza a localização ex.: a oeste de...) de (nome da cidade), e era parecida com um antigo McDonald's. Não muito tempo depois do início da caminhada, chegaram à lanchonete antiga —porém conservada e limpa — e foram recebidos pelo casal O'Neil:

— Michael! — disse o senhor apertando a mão do pai da criança. — Você demorou tanto que estava quase imaginando que algo tivesse acontecido!

— Peço desculpas, Paul, eu fiquei preso em uma reunião com o corpo docente da escola sobre o caso de algumas crianças em situação de risco social — Michael respondeu suspirando alto —, também não pude cumprir minha promessa com a Sarah. — confessou se virando para a filha. — Sinto muito por isso, coração!

A menina balançou uma negativa com a cabeça e respondeu tristonha:

— Está tudo bem! Podemos ir outra hora...

— Sim, podem ir outra hora e comer nosso bolo especial agora! — disse a esposa de Paul.

— Isso mesmo, Lucy! — concordou o velhinho. — Ou será que não gosta mais do nosso bolo especial de chocolate? — disse Paul fazendo cara triste para menina e suspirando.

Sarah sorriu de orelha a orelha, ela adorava os bolos deles!

— Eu gosto, é claro que eu gosto! Como não gostaria?! — disse a criança repetindo a palavra gostar com um sorriso bem grande.

Finalmente o pai conseguiu relaxar um pouco e os quatro entraram na lanchonete, sendo servidos pelo atendente da O'Neil com um belo bolo de chocolate, com bastante chantilly, confetes e outros mimos visuais comestíveis em suas mãos.  

— Hum... que delicioso! — disse a criança olhando o bolo vindo em sua direção.

Os adultos não conseguiram deixar de sorrir. O atendente deixou o bolo em uma mesa para eles e saiu para recepcionar clientes que haviam acabado de chegar. 

— Como estão suas notas na escola? —  perguntou Lucy cortando uma fatia de bolo.

— Sou a primeira da turma! — respondeu a criança colocando um pedaço de bolo na boca com o garfo.

— É claro que é! — gabou-se o pai orgulhoso. — Minha filha é muito inteligente.

— Todos sabemos disso, seu papai babão! — Paul riu e apertou o ombro de Michael. — Não precisa ficar se gabando toda vez...

—  Oh, deixe-o Michael! — interrompeu Lucy — Ele tem todo o direito de se gabar, ele está criando Sarah muito bem!

Michael ficou sem graça com o elogio, já a menina, não estava nem mesmo prestando atenção à conversa ao redor do bolo. 

— E você, Sarah, aceita um refrigerante? — Paul ignorou a esposa.

— Sim! — Sarah respondeu animada e foi com ele até o balcão.

— Não precisa se sentir triste, Michael — Lucy disse baixinho —, sua menina é inteligente o suficiente para entender. Tenho certeza que ela fará projetos ainda mais incríveis no futuro!

Michael sorriu para a afirmação de Lucy.

—  Obrigado, mas eu nem sei qual era a exposição que ela queria ver...

— A amostra especial da semana era sobre imersão em realidade virtual. Área relacionada à jogos...

— Papai, você não vai querer? — Sarah interrompeu a conversa dos dois com um copo de refrigerante estendido em direção ao pai.  

— Claro que quero! Você não vai comer minha parte, né? — brincou o pai.

Sarah desviou o olhar e bebeu um pouco do seu refrigerante. Quando ela não queria mentir, sempre desviava o olhar e disfarçava.

— Não acredito nisso! — disse seu pai fazendo careta. — Você realmente comeria a minha parte?

Sarah sorriu envergonhada e respondeu:

— Talvez...

Todos riram alto com essa declaração e, para tristeza de Sarah, retiraram uma fatia do bolo para eles. Sim, ela realmente queria — e poderia — comer aquele bolo sozinha! "Fase de crescimento?" pensou o pai, divertido.

(continua daqui)

Sarah continuou a comer o bolo e logo esqueceu completamente suas decepções relacionadas à amostra tecnológica. Sarah, agora adulta, sentiu um forte apero no peito pelo que viria a acontecer a seguir. Ela estava completamente consciente de seu passado e, junto com essas, diversas outras memórias haviam retornado!

— Papai? — chamou Sarah saindo do transe criado pelo bolo.  

— Sim? — respondeu o pai se virando para ela junto com o casal. 

— Posso ter um especial de chocolate com marshmallow  também?

— Que traição! — disse o velho colocando a mão sobre o peito como gesto de surpresa. — Você vai comprar na concorrência conosco aqui ao seu lado?!

Sarah arregalou os olhos assustada. Ao lado da lanchonete O'Neil, havia uma doceria que vendia diversos menus com chocolate. Lá tudo tinha chocolate na lista de ingredientes! Mas Sarah nunca tinha ouvido falar do dono da doceria e o senhor Paul com problemas de relacionamento!

— Ele está brincando — riu Lucy esclarecendo para ela.

— É claro que pode, coração — disse o pai se levantando para comprar o copo de chocolate quente que a menina pediu. — Podem cuidar dela pra mim um minuto? — Ele perguntou aos dois. 

— Paul e Sarah podem ficar aqui conversando, eu também quero provar o novo menu com flores que eles fizeram — disse a senhora O'Neil andando para o lado de Thomas. 

—  Estou sendo traído até pela minha própria esposa agora! — Paul continuou a encenação, que no fundo tinha um pouquinho de ciúmes verdadeiro.

Thomas riu da exclamação de Paul e perguntou enquanto caminhava ao lado de Lucy:

— Como assim com flores? 

— Eu ouvi que eles usam pétalas de flores de verdade, mergulham elas em chocolate e colocam outros ingrediente para quebrar o doce... — explicou durante a caminhada dos dois até a loja de doces perto da esquina.

— E dá para sentir o gosto das pétalas? — Thomas perguntou curioso.  

— Eu acho que não! — respondeu Lucy caindo na gargalhada. — Mas é algo diferente, sabe? As pessoas gostam de tentar coisas diferentes!

— Isso é verdade! — Ele concordou. 

Um barulho alto e assustador de algo colidindo contra a parede foi ouvido e, todos levantaram a cabeça para olhar na direção em que ele se originava. Um carro voador se chocou contra o prédio ao lado do que eles estavam prestes a entrar e caiu em sua direção. Thomas jogou a senhora Lucy para o lado, mas isso não a impediu de ser atingida na perna por um pedaço de concreto que tinha sido lançado para baixo na rua junto com o automóvel e, bater a cabeça com força no chão. Ao mesmo tempo, Thomas recebeu em cheio o veículo desgovernado e foi esmagado contra a parede da loja de doces.

Paul e Sarah, junto com todos que estavam dentro da loja, saíram para ver o que estava acontecendo.  Ao se deparar com a cena do prédio semi destruído, procurou imediatamente a localização do pai, que para seu desespero, estava pressionado na parede da doceria por causa do carro danificado. 

— Papai! — gritou a criança correndo em sua direção. 

Paul conseguiu agarrá-la poucos antes dela chegar até o pai — agora moribundo — e não sabia o que fazer, pois sua esposa estava desmaiada bem ao lado e com uma perna quebrada. 

— Chamem uma ambulância! — Gritou ele para os funcionários, quase perdendo a voz ao terminar a frase desesperado.   

— Papai! — Sarah continuou gritando.

Lágrimas desciam de seus olhos e ela mal conseguia ver o estado real em que o pai estava graças a isso. 

— Sarah — tossiu Thomas sorrindo fracamente —, me desculpe!

— Papai! — A garota chorou ainda mais desesperada.

Thomas sabia que não tinha muito tempo, precisava dizer alguma coisa antes de perder a consciência.

— Sarah — falou tossindo sangue — me escute. 

A menina parou de se debater e ficou congelada ao ouvir seu pai falando com um tom sério naquela situação. Sarah não era ingênua, ela sabia o que estava acontecendo. 

—  Não desista dos seus sonhos — disse ele com dificuldade — Não importa o quão difícil for. — Ele tossiu um pouco de sangue e terminou com palavras quase inaudíveis. — Eu te amo, coração...

Tudo aconteceu muito rápido: a ambulância levando a Sra. Lucy, os bombeiros afastando eles da área afetada, o Sr. Paul entrando na ambulância e deixando ela com uma funcionária da lanchonete... O que se passou depois disso foi lembrado e como chegou até ali também, mas isso não a ajudou a entender porquê o lugar estava assim e a razão de ter perdido suas memórias.    

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