"West Trip", uma cafetaria onde a maior parte dos viajantes e trabalhadores param na tentativa de recarregar suas energias. Mesmo sendo muito reconhecida, como qualquer outro estabelecimento alimentar, haviam horas em que poucos eram os clientes que lá paravam.
- Estou ansiosa que chegue o verão! Eu amo este trabalho, mas prefiro quando existem pessoas para serem atendidas. – Refilou Maia chegando ao pé de sua amiga, Nicole.
- Ainda bem que avisaste! A próxima pessoa que entrar por aquela porta vai ser atendida por ti. – Agarrou num bloco de notas atirando para sua amiga. – Hoje estou sem paciência para aturar qualquer tipo de individuo.
Maia arruma o bloco no bolso de seu vestido estranhando atitude de Nicole. Notava-se, perfeitamente, que o olhar dela estava diferente, mais triste do que o normal, distante.
- O que aconteceu para estares assim, tão em baixo? – Sentou-se numa das cadeiras a frente do balcão tomando atenção.
- Nada... – Tentou disfarçar, arrumando algumas coisas no seu devido lugar, evitando olhar para Maia.
- Nicole, eu conheço-te… - A mesma manteve-se calada. - Vais contar ou vou ter que descobrir a minha maneira?
Nicole olhou para sua amiga dando um breve sorriso. Era impressionante a amizade de ambas, mesmo escondendo o seu sofrimento, Reficco acabava, sempre, por descobrir a verdade. Conexão? Talvez, mas para Torrez, apenas uma explicação era valida, Maia trabalhava para a CIA.
- Ok! Ok! Mas que fique claro que só vou contar porque tu, quando tentas descobrir alguma coisa, descobres tudo menos o que deves...
- Estas com medo é? Que eu descubra o nome do teu namorado? – Questionou levantando a sobrancelha.
- Não, tenho é medo que descubras o código da minha conta bancaria. – Explicou-se. – Discuti com a minha tia…
- De novo! – Maia arregalou os olhos. – Mas ela não descansa! – Nicole deu de ombros fazendo sua amiga continuar. – Não me digas que foi por causa do teu pai!?
- Como sempre. Ela insiste em dizer que ele é inocente, e que a minha mãe é a culpada de tudo. – Revirou os olhos. – Para além disso, esta sempre a falar-me sobre o tal segredo, mas não é capaz de o revelar.
- Talvez seja melhor assim, nunca se sabe o que poderás descobrir.
- Nada mudará a minha admiração pela minha mãe. Ela sempre esteve lá, sempre nos apoiou, mesmo quando estava no chão, ao contrário do meu pai, que vivia para arruinar a nossa vida. Quem matou a minha mãe, foi ele, quem colocou o meu irmão na cama de um hospital, foi ele… Ele é o culpado de tudo, independentemente do que tenha acontecido.
- Falando do teu irmão… Como é que ele está? Tem dado sinais? – Questionou preocupada percebendo, rapidamente, a resposta ao ver a expressão de Nicole. – Vai ficar tudo bem… - Pousou a sua mão na dela tentando-lhe transmitir conforto.
- Juro-te que queria acreditar nessas palavras, mas é impossível. Não conseguirei garantir a sua estadia durante muito mais tempo… O dinheiro anda escasso. Qualquer dia desligam-lhe as maquinas e ai sim, perco-o para sempre… - Engoliu seco tentando se manter forte.
- Já tentas-te pedir um aumento?
- Sim. Mas como é obvio não vai aceitar… Sou a empregada mais recente, para me dar um aumento, tinha que dar ao resto do pessoal… - Olhou para as suas mãos, sentindo-se triste. – De qualquer maneira, ando a procura de outro part-time, pode ser que assim consiga aguentar a despesa.
- Que vida complicada, amiga… - Deu um enorme suspiro. – Sabes que se precisares de alguma coisa, eu estou aqui e assim que conseguir resolver, os problemas da casa, tu vais para lá viver e deixas de uma vez a bruxa da tua tia…
- Muito obrigada Maia, acredita que irei aceitar essa oferta.
A porta do estabelecimento finalmente, é aberta, revelando um novo cliente para atender. Esse já era habitual na "West Trip", no entanto, era pouco desejado, não por ser má pessoa, mas por meter-se demasiado na vida dos outros.
- Acho que já tens trabalho para as próximas cinco horas. – Nicole conteve o riso, ao ver a expressão desapontada de Maia.
- Tem mesmo que ser? – Fez beicinho tentando convencer sua amiga a mudar de ideias.
Nicole, não disse nada, apenas acenou positivamente acabando com todas as esperanças de Maia Reficco. A segunda, levantou-se, caminhando em direção de senhor Gomez, com o maior sorriso na cara. A vontade de atende-lo não era muita, mas como qualquer funcionário, tinha o dever de tratar os clientes todos por igual, independentemente, de tudo.
Enquanto Maia tratava de efetuar o seu pedido, a porta volta a ser aberta, mas desta vez, por alguém que nunca tinha frequentado aquele lugar, pelo menos não durante o horário de Nicole.
Torrez, olha para sua amiga, esperando que a mesma, já tivesse terminado o pedido, algo que estava longe de acontecer. Naquele momento, Maia ainda se encontrava com Gomez, agora, sentada a sua frente a ouvir mais um de seus mexericos. Estava decidido teria que ser Nicole atender o novo cliente, mesmo sem vontade nenhuma, o profissionalismo está sempre em primeiro lugar.
Nicole pousou o pano que tinha na mão e respirou fundo caminhando em direção do novo cliente. Os seus lábios tinham um pequeno sorriso a ocupa-los, com o objetivo de ser o mais agradável possível, para que no futuro, o mesmo cliente se sinta confortável em voltar aquele estabelecimento.
- Bom dia senhor, posso ajuda-lo? – Questionou agarrando no bloco e na caneta, pronta para anotar o pedido.
- Eu por acaso chamei-a? – Respondeu de forma fria e rude, sem tirar os olhos do seu telemóvel.
- Não, mas é o procedimento que temos de efetuar, com todos os clientes. – Explicou de forma direta.
- Pois, mas comigo vai ser diferente. - Continuou a tomar atenção ao telemóvel. – Pode ir embora. Quando precisar, eu chamo. – Ordenou olhando pela primeira vez para Nicole, observando-a atentamente.
- Claro... - Nicole arregalou os olhos afastando-se do homem e indo em direção ao balcão.
Aquela atitude tinha-a chateado. Notava-se pelo estilo do homem que era alguém muito bem-sucedido na vida, no entanto, o facto de ter dinheiro não justificava a falta de educação e de respeito que teve para com a funcionaria. Felizmente, faltavam apenas alguns minutos para Nicole terminar o seu turno e seguir rumo a entrevista de emprego.
Mal o relógio marcou 12 horas, Maia despediu-se do cliente e caminhou até sua amiga, pronta para ocupar o seu lugar.
- Estava ansiosa de me livrar dele...– Suspirou de alívio chegando ao pé de Nicole.
- Acredita, entre o teu cliente e o meu, acho que preferia mil vezes o teu. – Revirou os olhos espreguiçando-se. – Bem eu vou andando, ainda tenho muita coisa para fazer, hoje a minha tia quer uma especialidade para o jantar – Desabafou.
- Boa sorte, qualquer coisa, sabes onde vivo! – Deu um abraço a amiga, despedindo-se dela.
Após o abraço ser quebrado, Torrez caminhou em direção da saída. A rapariga encontrava-se nervosa, não pelo o que tinha acontecido, anteriormente, mas porque daqui a menos de uma hora, estaria a lutar pelo seu futuro. Para Nicole ser aceite, e conseguir ficar com o emprego, precisava de se destacar, mas como é que ela poderá fazer isso?
Os seus pensamentos são afastados, assim que ouve alguém a chama-la. O seu olhar, desviou-se para a pessoa fazendo-a ficar em choque. Mas aquele homem não descansa! Afinal de contas, o que ele queria?
- A senhora já pode vir fazer o pedido. – Pediu olhando, atentamente, para Nicole a espera de uma reação da mesma.
- Já chegou a minha hora de sair, mas não se preocupe, a minha colega já vai aí... - Justificou-se continuando o seu caminho, para a saída.
- Mas eu quero ser atendido por si, por isso, adie a sua hora de saída e venha-me atender. – Manteve-se sério.
Nicole voltou a olhar para o cliente arregalando os olhos ao ouvir tal resposta. Como era possível alguém ser tão rude, tão cruel! Ele pensava o que? Que podia mandar em tudo ali! Nem era o dono!
- Desculpe dizer, mas todos os funcionários têm horários, horários esses que por obrigação do chefe devem ser compridos, por isso, respeite quem trabalha e apenas faça o seu pedido a minha colega... – Continuou andar.
- Se não me atender vou fazer queixa ao chefe e garantir que é despedida... - Levantou-se olhando-a de costas. – Agora você é que sabe, quer permanecer neste trabalho?
A raiva apoderou-se do corpo de Nicole, ela já estava a atingir o seu limite, mas tinha que ser forte, tinha que aguentar.
Suspirou fundo e apenas decidiu obedecer para não criar problemas. Depois falaria com seu chefe sobre o ocorrido e resolveria tudo mais civilizadamente.
Torrez caminhou em direção de Reficco pedindo-lhe o bloco de notas, indo ter com o homem, pronta para finalmente, anotar aquele pedido e então livrar-se daquele rico, mimado.
- O que vai desejar?
- Pode ser um sumo de laranja natural. – Pediu fazendo Nicole anotar no papel. – Ou melhor, uma fanta de laranja.... – A rapariga riscou o pedido anterior e voltou a escrever um novo. – Mas essa tem muito gás, já sei, quero um Compal de ananas e coco...
- Tem a certeza? Não quer voltar a mudar? – Questionou ironicamente fazendo com que o homem apenas ignorasse tal comentário. – Mais alguma coisa?
- E um croissant de creme de ovo. – Finalizou o pedido.
Nicole, acelerou o passo em direção de Maia e com ajuda da mesma, começou a preparar tudo o que precisava. O tempo não parava, e se ela não se apresasse, chegaria tarde a sua entrevista de emprego, acabando por perder, completamente, as suas hipóteses.
- Mas afinal quem é ele? E porque raio, esta a tratar-te tão mal? – Maia questionou confusa agarrando no croissant e partindo-o ao meio, colocando-o de seguida na bandeja em cima de um prato.
- Não sei! Mas de certeza que é mais um desses ricos mimados, que pensam que podem fazer tudo! Odeio essas pessoas... - Agarrou no compal colocando-o na bandeja. – Deseja-me sorte.
Nicole, agarrou na bandeja e foi ter com o cliente. Assim que lá chegou, colocou as coisas em cima da mesa recebendo, rapidamente, um comentário, cruel da parte do homem.
- Não seria mais competente de sua parte, se colocasse o sumo, logo, no copo? – Questionou olhando para o copo vazio e de seguida para a empregada.
A rapariga já estava a ficar vermelha de raiva, mas manteve-se forte e apenas obedeceu ao pedido do homem, no entanto, o que supostamente, seria uma ação, fácil e rápida, tornou-se num autêntico pesadelo. Assim que Nicole estava para colocar o copo na mesa, uma criança passa por lá a correr, indo contra ela, fazendo-a entornar todo o líquido em cima do cliente.
- Mas está maluca! Não tem olhos na cara! – Levantou-se agarrando em alguns guardanapos começando a limpar o seu fato.
- Desculpe! Foi sem querer! – Tentou desculpar-se, mas foi em vão, o homem tinha ficado, realmente, enervado.
- Sem querer! Sem querer! – Riu ironicamente mandando os guardanapos para o chão e apontando o dedo para a rapariga. – Você é demasiado incompetente para trabalhar num lugar como este, não tem capacidades, nem jeito para isto, é um monte de…
- Mas o senhor pensa o que! – Nicole interrompeu sabendo perfeitamente, onde aquilo ia parar. – Que pode chegar aqui e julgar qualquer um? Foi um erro, verdade, mas caso não tenha notado, eu pedi desculpa. Vai me dizer que nunca errou, que é perfeito, que nunca teve um acidente! – Fez expressão de quem se tinha lembrado de algo. – Pois claro, tinha-me esquecido, quem tem dinheiro, pode fazer o que quiser com ele, incluindo, maltratar os outros. – Ironizou.
- Ainda bem que sabe, porque a primeira coisa que vou fazer, é garantir a sua demissão.
- Acha mesmo, que depois disto, irei ser despedida! Assim que contar a verdade ao meu chefe, o mais provável é o senhor ser proibido de cá vir. - Revirou os olhos. – Por isso aconselho-o a acalmar-se e começar a respeitar todos os clientes e empregados, que aqui estão.
- Desconfio que isso aconteça. – Cruzou os braços. – Deixe me apresentar, sou o Edward Mendes, empresário de uma empresa, mundialmente, famosa, e vim cá, a pedido do dono da "West Trip" para tratar de negócios... - Assim que tais palavras foram ditas o mundo de Nicole caiu, ela tinha acabado de fazer uma grande asneira. – Por isso desculpa desaponta-la, mas eu vou ficar, ao contrário de si.... Aproveite bem os seus últimos momentos cá... - Deu um sorriso sínico. – Pelos vistos ter dinheiro ajuda muito, não acha?
- Não, não acho... - Negou olhando-o desapontada. – Prefiro não ter dinheiro e ser a pessoa que sou, do que ter dinheiro e ser alguém como o senhor, alguém sem caracter, mal-educado, sem respeito por ninguém... Eu teria vergonha se estivesse na sua pele, vergonha de ser quem você é.
Nicole deu meia volta pronta, para finalmente, abandonar o estabelecimento, mas mais uma vez, é impedida. Ela sente alguém a empurra-la fazendo-a bater com as costas na parede. O seu olhar levantou-se revelando a pessoa em questão, como obvio, era Edward. Mas afinal o que é que queria? Já tinha ganho a luta, do que é que precisava mais?
- Não voltes a falar do que não sabes... Tu não me conheces... – Os olhos de Edward transmitiam raiva.
- Depois do que vi, nem vontade de conhecer tenho.
Ao ouvir aquelas palavras, Mendes sente uma enorme dor apoderar-se do seu coração. Afinal o que ele estava a fazer? A tratar mal pessoas que se esforçam! A julgar as suas atitudes! Então e as dele, também as julgava?
- Edward! Nicole! O que está a acontecer? – O dono da "West Trip", que tinha acabado de chegar, parou a uns metros de distância dos dois, estranhando tal visão.
A rapariga desviou o seu olhar de Mendes, aproveitando-se da situação para escapar por entre os seus braços. Ela tinha responsabilidades a cumprir, aquele homem já a tinha feito perder demasiado tempo.
- Pergunte a ele... – Saiu, finalmente, do estabelecimento.
Todos os clientes e funcionários, encontravam-se espantados com o desenvolvimento de todo aquele drama. De uma coisa eles tinha certeza, ir ao cinema já não era tão interessante, como frequentar a "West Trip".
- Filho? – O dono olhou para Edward que apenas revirou os olhos, voltando a sentar-se no seu lugar sendo acompanhado por Sr. Mendes.
- Espero bem que amanhã ela já não trabalhe cá! – Agarrou no seu croissant comendo um pouco dele, observando os olhares que o fitavam. – Não sei como é que escolhes os teus funcionários, mas sinceramente, tens de começar a mudar o método.
- E tu tens de começar a levar a vida mais calmamente! Com esse stress todo, vais durar menos anos que eu! – Informou fazendo sinal a Maia para trazer o seu pedido habitual.
- Ela é que começou! Não me quis atender até ao fim porque já estava na hora de ir embora... - Riu ironicamente. – Agora vai ter o que merece.
O Senhor Mendes ignorou tal comentário agradecendo a gentileza de Maia, assim que ela trouxe o pedido. O mais velho já não sabia o que fazer com seu filho. Edward, assim que ficou responsável pela empresa mudou completamente o seu comportamento, como se o trabalho fosse tudo o que precisasse e o resto, não importasse.
- Sabes, não devias desejar o mal a ninguém... - Bebeu o café dando um breve sorriso. – Mas vou concluir que esse estresse todo seja pela ausência da Senhora Gomez. – O rapaz manteve-se em silêncio continuando a comer. – Não te preocupes que eu tenho a solução para ti.
- Sério! Tens alguém em mente? – Questionou ficando curioso.
- Na realidade sim! Há situações que vêm mesmo a calhar. Por isso, arranja espaço na tua agenda, que amanhã de manhã, eu estou lá. – Informou ele. – Mas falando sobre o que interessa, ainda vou ter de pagar as novas fardas?
- Meu velho, podes ser meu pai, mas negócios são negócios. – Tirou a papelada de sua mala pronto para apresentar a sua proposta e assim, acabar, um longo dia de trabalho.