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Chapter 15 - Conto 15: Possua-me

No dia seguinte, ao acordar, ouvi sutilmente:

- Te amo...

"Como posso saber se encontrei Zarú durante o sono? De qualquer forma estou sentindo-me melhor: não estou mais de luto, como antes, e sinto-me mais segura, pois com ele, outros espíritos não me perturbam. " – reflito.

Depois do almoço de domingo, meu marido se aproxima e me beija.

- Você vai namorar com seu marido. Não quero ver isso! Vou embora!

Ele se foi. Mais tarde resolvi ir para academia. Ao atravessar uma rua, surgiu um carro, e ele disse:

- Cuidado amor!

"Gostei de ser chamada de amor. Como posso gostar de um espírito? Parece loucura! " – penso.

No dia seguinte, ao acordar, imagens são projetadas na minha mente, como um filme. Estávamos nos abraçando, sentados no chão do quarto e as nossas mãos se entrelaçam. Será verdade? Como posso saber se não é uma imagem fabricada?

Faz três dias que ele chegou, mas por que não namora comigo?

- Queria ficar com você. – peço.

- Você não sabe o que está me pedindo! Isso é só com o seu marido! Não quero me ligar com você daquela forma pra fazer isso. – justifica.

- Como assim? Você não me ama?

- Amo, por isso não posso fazer isso! Isso equivale, deste lado, a um estupro.

Comecei a chorar, ele continua:

- Pode abraçar, beijar, segurar na mão, como um amigo.

Depois de alguns momentos ele diz:

- Como um namorado... Só isso...

- Mas você não me ama?

- Amo, por isso eu voltei! Se eu fizesse isso agora, mesmo com seu consentimento, nós dois seríamos condenados!

- Você fez isso no passado!

- Não tinha noção de que estava errado e me arrependo! – e continua. – Espíritos do bem não fazem isso!

- Você não sente vontade?

- Sinto porque é com você. Porque já fiz com você. Não me tente!

- Sua comunicação é muito ruim! Quando seu colega falou, não fiquei com dúvida.

- Nham, desculpe, tô aprendendo...

- Tô de mal, não quero conversar mais com você.

No dia seguinte, na academia, ele se aproxima e me beija no pescoço:

- Não fica brava... Eu te amo, sua boba!

- Não quero falar com você! Estou muito chateada.

- Você tem que fazer isso com seu marido.

- Você gosta de me dizer isso, não é?

- Não gosto, mas preciso...

Chego em casa e deito na cama. Eu o chamo, e ele vem... Começo a fantasiar: estou com uma lingerie preta, botas pretas e uma tiara, sexy. Ele está sentado de frente para mim, não há nada ao redor, só um escuro.

Coloco as mãos nos seus ombros e sento no seu colo, olho bem nos seus olhos, abraço-o com força, beijo-o, na boca, no pescoço... Ele começa a me acariciar...coloca as mãos na minha cintura. Vou descendo, beijo-o no peito, ouço sua respiração ofegante, vou descendo... Repentinamente ele se levanta, com a mão na minha cabeça e eu caio de joelhos, em frente dele. A cena gira num ângulo de 180 graus e me vejo: era uma cena de horror!

Eu tinha caninos, unhas e cabelos longos, e uma pintura nas bochechas. Estava linda, porém, maligna! Ele empurra minha cabeça e me joga para o lado, caio no chão.

- Falei para não me tentar! – fala firmemente.

Eu me assusto e abro os olhos. Penso assombrada: "Como pude perder o controle da minha fantasia? Até onde esses espíritos podem controlar os nossos pensamentos? Foi uma experiência terrível, ele inverteu os papéis, de repente... o demônio era eu! "

- Parecia um sonho! – digo a ele.

- Pode parecer um sonho, mas o sentimento é real!

À noite, choro aos pés de Deus, peço perdão pela minha fraqueza. Percebi que tenho muito que aprender. Oro e tiro a palavra, na Bíblia, em Filemon:

[...] Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio coração.

[...] Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão.

Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta.

"Entendi, tenho que recebê-lo. Vou voltar a falar com ele, assim que minha chateação passar. Ainda me sinto rejeitada. " – penso.

No dia seguinte, minha mãe liga:

- Ele está te enganando! – grita desesperada.

- Como? Como você sabe? – pergunto aflita.

- Não é ele! Deus falou que não é ele! Esse é outro! As panelas de casa voaram da pia e caíram no chão, nunca vi isso! Ele está furioso! Pede pra Deus proteção!

- Não pode ser, mãe! Tem certeza?

- Tenho! Esse é outro! É pior do que o primeiro!

- Não pode ser...

- Você não acredita em mim? Chama ele e pergunta!

- Não duvido da palavra de Deus.

Desliguei o telefone e comecei a chorar. Chamo-o, ele vem e pergunto:

- Você é Zarú?

Alguns segundos de suspense...

- Não. – responde com voz rouca de demônio.

Ele me dá uma visão...

Aparece Zarú, mas a imagem dele é arrancada, como se fosse um fantoche. Atrás aparece a verdadeira forma do espírito, uma nuvem cinza e preta, etéreo.

- Zarú pode voltar?

Mais segundos de suspense...

- Não.

- Você veio da ordem de quem?

Aparece a mesma caveira ensanguentada, era outro exú.

- Mas... e a palavra da Bíblia? – indago, ainda chocada.

- Também sei fazer isso!

Agora começo a chorar, só que de raiva, limpava os olhos com as mãos.

- Você não fez nada! – bravejo.

- Mas eu ia fazer! Estava me divertindo! – responde zombando.

- Você me enganou! Você não deveria brincar com o amor! Espírito do limbo! Por que você não vai pra Deus?

Eu me senti tola! Como pude acreditar numa história dessas?

- Você vai embora agora! Em nome de Jesus! Deus me envia anjos, me protege, me livra de todo o mal!

Assim que me acalmo, ligo para minha mãe.

- Mãe, você tinha razão, esse é outro, ele estava me engando. Estou muito triste... Chamei ele e perguntei.

- Eles vieram do mesmo lugar. O outro não era de todo mau, se fosse você perceberia e não o aceitaria; ele foi escolhido a dedo pra você. Agora este, está no grau máximo de malignidade.

- Percebi algo estranho porque não se aproximava muito de mim. Agora entendo: se ele se aproximasse eu iria perceber a diferença. Mas, e a palavra? Parecia certa!

- O inimigo também conhece a Bíblia. – responde calmamente.

- Como ele fez isso? A palavra parecia ter lógica!

- É porque você não está em comunhão com Deus! – avisa-me.

- Mas eu oro tanto! Como posso não estar em comunhão com Deus? – pergunto estarrecida.

- Você não está! Por isso aconteceu! O inimigo também sabe dar a palavra!

Começo a lacrimejar.

- Ora por mim, mãe, e obrigada por tudo!

- Deus abençoe você.

Desligo o telefone arrasada.

"Como fui boba! Como é difícil aprender as coisas do mundo espiritual! Como poderia saber que existem espíritos impostores? " – reflito.