Chapter 72 - Na Arena

"GULP" Haruki engasgou com o café.

Daisuke o ajudou a se limpar, antes que o líquido quente queimasse sua pele. O cantor agradeceu a gentileza, 'Daisuke deve estar arrependido de ter sido imoral comigo.' Haruki concluiu por ser a única resposta possível para a mudança de atitude do influenciador digital .

Daisuke retomou a conversa,

"E saiba que eu vou sofrer por ter aberto minha boca. Sim garoto, ele vai vir pra cima de mim ao descobrir que eu dei com a língua nos dentes."

O cantor balançou a cabeça assentindo que estava entendendo o conflito do homem à sua frente. Saber que ele conhecia Jun tão bem enchia Haruki de sentimentos baixos, como ciúmes e inveja dessa relação. O cantor não sabia o que fazer para parar essa enxurrada de sentimentos que o afligia desde que conheceu Jun.

"Eu e Jun crescemos na mesma rua, na periferia. Ele é uma ano mais novo que eu, fato que eu usava para trolá-lo."

"Sério? Você é mais velho?" Haruki não conseguia entender, Jun parecia pelo menos dois anos mais velho que Daisuke.

O Influenciador digital concordou com a cabeça, sorrindo como se tivesse recebido um elogio.

"Naquela época, ele era muito crédulo, e confiava em qualquer um. Nossos pais faziam manutenção. O meu pai era eletricista e o dele, encanador. Trabalharam juntos várias vezes até o morte do senhor Shinichi, atropelado por um carrão importado." Novamente Daisuke ficou ausente, com o pensamento longe.

"Muita gente da vizinhança ajudou a mãe de Jun depois da tragédia. Ela arrumava serviços de faxina e Jun passava o dia conosco, - elas eram muito amigas, e minha mãe não se importava. Até que a senhora Sayuri começou a sair com um cara endinheirado. Cada vez que ele aparecia na rua para buscá-la ou deixá-la, ele estava dirigindo um carro diferente. Todos importados. Ela se casou com esse homem, e levou Jun embora."

Daisuke parou a narrativa seu semblante estava taciturno.

O cantor percebeu a suave vibração na voz do influenciador digital e seus olhos mudando de cor, ficando vermelhos.

"Meu pai descobriu que a senhora Sayuri tinha entregado Jun para a adoção. Ele estava vivendo no orfanato da cidade. Quando bebia, meu pai lamentava não poder adotar o Jun - éramos muitos na casa, e éramos pobres. E sempre que nos repreendia, meu pai lembrava como ele dava duro para ficar com todos nós. Na verdade, usar a história do Jun para ameaçar as crianças para que se comportavam virou uma prática comum na vizinhança."

O influenciador digital terminou de contar engolindo seu café, fitando o vazio.

"Ela nunca mais voltou?" Haruki queria mais detalhes, queria uma nova mudança na história salvando Jun de abandono. Queria algo que justificasse esse ato tão frio da senhora Sayuri. Para ele, que recebeu tanto amor de sua mãe, era impossível pensar que a mãe de Jun não se importava com o filho.

"Não, Haruki. Minha mãe descobriu que ela tinha se casado com o homem que atropelou e matou o pai de Jun. Ela trocou o filho por esse homem, e o abandonou."

Ter revivido esses dias em sua mente tinha emocionado Daisuke, e sua voz embargada e olhos brilhantes denunciavam seus sentimentos.

Haruki ficou destruído por saber do sofrimento de Jun nas ruas no começo da noite. Agora, descobria que ele tinha perdido o pai de forma tão trágica. E em seguida foi abandonado pela mãe, que se casou com o assassino de seu pai, nada menos! Era muita coisa ruim ao mesmo tempo para uma criança.

Mas ainda havia partes importantes na história que Haruki desconhecia e ele perguntou, "Você sabe como Jun saiu do orfanato para viver nas ruas? E como ele se tornou o Lovebread?"

"Sim eu sei, mas já falei demais. Essa parte da vida dele você vai ter que perguntar ao Jun," Daisuke desculpou-se com voz arrastada, cansada. "Eu preciso de um descanso."

Daisuke por um momento pareceu querer contar algo a mais, mas desistiu e só se despediu, deixando Haruki na mesa.

******

O céu sobre a Arena Coliseum estava cheio de drones.

Eles sobrevoavam com spots de luzes e câmeras filmadoras que iluminavam o evento, enquanto produziam e enviavam as imagens aéreas para os telões.

A fantástica construção foi feita originalmente a quase 100 anos antes da era comum, para o entretenimento de até 80,000 há mais de 2000 anos atrás.

Segundo a opinião de Takashi, que tinha visitado o original em Roma, esta réplica do Coliseu tinha sido primorosa em cada detalhe da arquitetura original, indo além do que existia hoje. Apenas em proporções menores.

Dentro de Neona, tudo era possível. Nessa construção não havia rachaduras, nem partes destruídas. A réplica estava como deveria ter sido pensado o Coliseu original.

A luta de Jun tinha tomado proporções gigantes. Neste grande evento que tinha se tornado sua busca por diamantes, com direito a show de luzes, fotos publicitárias que podiam ser vistas nos outdoors da cidade e agora no Coliseu. Teve também, durante o dia, entrevistas com os lutadores e com membros das torcidas organizadas. Hinata tinha sido o tietê entrevistado, as perguntas do Influenciador digital foram feitas para demonstrar o caráter bom companheiro de Jun. Aumentando o número de apoio ao desafiado que era medido em tempo real, como se a audiência fosse real e estivesse votando ao vivo.

Haruki viu Daisuke entrevistando Jun, que deu respostas curtas sem revelar se tinha uma estratégia pronta para enfrentar seu adversário e sendo modesto. 'Ele não está certo que vencerá,' o cantor tinha concluído. Ele viu Daisuke contando sobre as apostas para Jun e que ele mesmo tinha apostado tudo em Jun. Este fato o fez baixar o rosto, constrangido. Jun deu um sorriso de Monalisa, se comprometendo com o amigo de dar o seu melhor na luta.

Haruki queria muito estar ao lado dele nesse momento, apoiando.

'Tomara que Daisuke tenha conseguido fazê-lo comprar o kit.'

Já a entrevista com Rocky Lamotta foi mais engraçada do que o cantor poderia ter imaginado. O andróide falava como se não quisesse que as palavras saíssem de sua boca, o famoso, falava pra dentro de si. E ele era falastrão, fazendo bazófia sobre como não existia nenhum adversário que ele não vencesse. Com isso ele aumentou o número de seus fãs.

E havia as apostas com ganho estratosférico que Daisuke contou para Jun. A cotação estava em 30 para 1.

Takashi tinha explicado que se Jun ganhasse, quem apostasse nele teria um lucro surreal. Esta era uma oportunidade de ganhar diamantes!

E Haruki tinha pego todas as oportunidades que teve para trabalhar e conseguir alguns, para apostar em Jun. Nesta ânsia de fazer um pé de meia ele descobriu que o sistema só permitia executar uma mesma atividade até três vezes por dia.

Mas por sorte ter feito o desastroso show, lhe abriu as oportunidades de fazer outras apresentações, e dar aula de canto que pagavam melhor que as aulas de zumba.

Haruki conseguiu com suas atividades o suficiente para comprar seu lugar na ala VIP, onde Takashi e Hinata já tinham comprado seus assentos.

E as surpresas não paravam por aí. O trio viu ao chegarem nos portões de entrada da arena, os banners de parede inteira. Um de Jun, apenas de shorts, luvas e sapatilhas numa pose que deixou Haruki com o pau duro ao ver a pele dourada luminosa e os gominhos de seu abdômen! O cantor sentia o latejar dolorido, fisgando de vontade por Jun. Haruki engoliu em seco,

'Filho da P*t4, tem que ser tão sexy?'

Do lado oposto havia o banner do pugilista veterano ostentando seus cinturões, e no centro dos portões estavam lindas ring girls recepcionando os visitantes, e distribuindo pulseiras fosforescentes na cor do seu competidor.

Haruki conseguiu pegar duas pulseiras vermelhas ao colocar a sua no pescoço de Mimi que também fazia parte da torcida organizada de Jun.

Na verdade, Haruki não queria deixar o gato sozinho de novo, e o levava para todos os lugares, por isso o tinha trazido. Mesmo sabendo que gatos, no geral, não gostavam de lugares barulhentos assim.

Lá dentro, devido ao cenário temático, hologramas de felinos imensos surgiam e andavam aleatoriamente. Até mesmo Haruki se assustou ao ver um tigre ao seu lado!

E sem muitas surpresas, assim que Mimi viu o grande gato, chiou e se arrepiou, sumindo embaixo dos assentos.

O cantor correu atrás do filhote, tentando resgatá-lo antes que se perdesse. Haruki parou de correr ao ficar de frente com Jun vestido para a luta, ou seja sem camisa exibindo ao vivo seu lindo tórax.

O padeiro estava com Mimi nos braços, e pendurado em sua mochila estavam as luvas equipáveis.

Haruki precisou apertar os lábios para não sorrir de alegria, tudo tinha valido a pena. Ele usaria o kit.

"Hum meu fã quer me desejar boa sorte?" Jun perguntou a Mimi. Haruki ficou olhando incrédulo.

"Autógrafos só depois do show, pessoal." Jun se aproximou do cantor e estendeu Mimi para ele.

Haruki balbuciou um agradecimento.

Jun pegou a gola do abrigo do cantor que se projetou para frente achando que ele o iria beijar.

Em antecipação, Haruki abriu os lábios.

Jun arqueou uma sobrancelha pegando o cordão que estava aparente na gola do abrigo do cantor.

Decepcionado e morto de vergonha, Haruki fechou a boca e ficou olhando Jun puxar o cordão, entendendo o que ele iria fazer. O padeiro amarrou uma ponta do cordão na coleira de Mimi, e encarando Haruki pediu,

"Me dê o seu pulso," sua voz foi fria com o cantor que obedeceu. O padeiro amarrou a ponta solta no pulso de Haruki.

"Você precisa aprender a cuidar melhor de quem você diz que vai cuidar." Jun agora estava com a voz grave, e Haruki achou que ele também estava excitado por tê-lo tocado ao amarrar o cordão, e estarem muito próximos.

O cantor olhou para o calção de Jun para ter certeza, mas não dava para ver por causa da proteção.

"Boa sorte Jun." Haruki queria dizer muitas coisas, mas só isso saiu sob o intenso olhar do homem à sua frente.

Um andróide veio buscar o lutador da noite.

A contagem regressiva para a luta tinha começado e Jun teve que correr para o ringue no centro da arena.

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