Limpando os olhos para ter certeza que não era outro sonho dentro de um sonho, Haruki prestou atenção aos detalhes além do corpo de Jun. Tarefa árdua para o cantor, que se excitava só de olhar para a imagem, hipnotizado.
O desgraçado era sexy em todos os sentidos, e em um grande telão encarando como um animal predador, fazia o coração de Haruki palpitar indecentemente, assim como outras partes de seu corpo. Mas o cantor detestou-se por se sentir assim.
Respirando fundo Haruki foi pesquisar quem era o homem antes do X, o adversário de Jun.
A outra pessoa na imagem era um homem de olhos caídos e tristes. Lembrava uma mistura de boxeadores italianos de filmes antigos, numa mistura de Touro Indomável com Rocky Balboa.
ROCKY LAMOTTA VS. SASAKI JUN
22h - amanhã, não perca! ARENA COLISEUM
Ele estava inscrito para uma luta que aconteceria na noite seguinte, e seu adversário era um andróide!
'Jun está louco varrido?' O cantor se perguntava em pensamento. 'Como ele poderia achar que iria vencer uma máquina?' O pensamento grudou na cabeça de Haruki e ficava se repetindo como um vinil riscado que jogava a agulha na mesma faixa. O cantor queria encontrar com o Takashi agora, para lhe mostrar quem era o neandertal não extinto. Sim, Haruki tinha se chateado com o comentário do irmão.
Haruki procurou um totem de informações no cassino, para descobrir quem era o Rocky LaMotta através do informativo de eventos.
Não foi necessário pesquisar muito, e logo a ficha técnica do andróide estava disponível na tela. Haruki descobriu logo que Rocky LaMotta era o campeão invicto do Boxing Androids Championship. E tinha em seu histórico 30 lutas no campeonato Mundial de Boxing Robots Prototypes em sua categoria de peso apenas este ano. Haruki não tinha ideia do que isso significava, apenas lhe soava perigoso... e doloroso.
Sasaki Jun era o desafiante humano, com ZERO lutas na categoria.
As apostas eram de 1 para 30.
"Jun não tem chance alguma de vencer. O andróide é um gladiador moderno," o cantor falou sozinho, mordendo os lábios em aflição.
"Eu sou um nada mesmo para você, não é?" Jun estava atrás de Haruki, e aproveitando-se do choque de Haruki, estendeu a mão rapidamente e pegou o furador de gelo do bolso de seu sobretudo.
"O que você pensa em fazer com ISSO?" Jun perguntou cerrando os dentes e os punhos, com o objeto na altura do peito para Haruki ver.
"E...eh...eu vou fazer uma escultura de gelo," ele mentiu descaradamente.
Jun o agarrou pelo colarinho da jaqueta o arrastando para fora do cassino, o tangeu para um beco escuro de um corredor de serviço.
"Jun pense melhor! Ele é uma máquina de metal e silicone." Haruki voltou para o assunto da luta. Ele não esperava que Jung realmente tivesse acreditado na história furada da escultura.
"Pra cima de mim, moleque?! Eu cresci nas ruas. Subjuguei inimigos maiores que eu. Venci brigas nas ruas com as costelas quebradas. E aguentei o reformatório sem me ajoelhar. Nunca pedi a benção de nenhum bruxo." Jun cuspia as palavras, contando sua história. Se abrindo enfim para Haruki, que o olhava com os olhos úmidos de lágrimas.
O cantor ia criando em sua mente as imagens do que foi a infância de Jun. Começando a compreender o motivo de sua desconfiança com as pessoas. O porquê ele se recusava a falar sobre si.
Mas Jun não falou da forma direta que lhe era peculiar a última parte, o reformatório. E isso deixou o cantor confuso sobre o que realmente ele queria dizer. Já sabendo que era tão horrível que até para Jun era difícil contar. Ainda assim Haruki precisava da verdade ou ficaria imaginando os monstros, sem ter paz.
"Do que você está falando, o que é um bruxo?"
"Que eu não virei mulherzinha. Nem me deixei ser feito de cão de rinha para ninguém. Pensa que eu sou assim na vida real, Garoto de Ouro?" Jun apontou a mão livre para si. "Não. Meu corpo é mais costurado que rede de pesca. Eu só tenho uma coisa para te dizer, Haruki, deixe Dicek em paz. Se a gente terminou foi porque você foi lamber as bolas do escroto." Jun soltou a gola da jaqueta do cantor que dobrou os joelhos.
"Ou você ainda pensa em estragar o carro de Daisuke?" Jun mostrou o furador de gelo para o cantor e Haruki balançou a cabeça que não.
Mimi miou e correu para junto de Haruki.
Jun olhou por alguns segundos o filhote, antes de uma última encarada em Haruki. Dando as costas em seguida, para voltar ao cassino.
"Jun, porque você jogou o Mimi na lixeira?" Haruki se levantou. Ele queria esclarecer todas dúvidas.
"O quê?" Jun se virou para encarar o cantor, seu rosto contraído numa máscara de raiva.
"Não se faça de inocente, se foi você que jogou o Mimi com seus pertences pela lixeira da suíte para ele morrer! Eu exijo que me diga."
"Não. Eu não joguei. Mas desconfio quem é covarde o bastante para ter feito isso." Jun se aproximou de Haruki novamente, nariz contra nariz, olhos nos olhos.
Haruki não piscou nem retrocedeu. Ele não tinha medo de Jun - nem bom senso, aparentemente.
"Foi o seu amante rico," Jun falou cada palavra muito baixo e devagar.
"Eu não tenho amante nenhum! O único idiota que me tocou é você," Haruki falou colando sua testa na testa de Jun e o empurrando para trás.
Jun o envolveu num abraço colando o Atleta a parede de tijolos à vista. O beijo foi inevitável. Rude, feroz.
Haruki sentiu as pernas amolecerem enquanto seu pau ficava duro. Levou as mãos ao rosto de Jun para aprofundar o beijo, numa urgência lastimável.
Jun o interrompeu, se afastando, "É mentira. Eu sei que vocês se beijaram na frente da torre. Você morreu pra mim. Seu jogo de garoto inocente não me compra mais, eu não confio mais em você."
"Espera, quem te falou? Foi o Daisuke?"
"Não. Foi Saito que veio me mandar ralar porque você e ele são namorados. E que foi você que tomou a iniciativa de beijá-lo na frente da Torre Eiffel. Ele mentiu, Haruki?"