A chuva deslizava pelas veias do guarda-chuva do lado de fora da loja, Ram conseguia ver pelas janelas as gotículas deslizando pela mesa de ferro branca enquanto uma música deslizava pelo alto falante, ela era diferente, um toque de delicadeza misturada com tristeza, ele não sabia qual era a língua mais se deixava levar pela canção enquanto deslizava o pano contra o vidro do copo.
Ram não estava nem ai para a chuva que cai do lado de fora, ele apenas apreciou a maravilhosa imagem que surgia na sua frente, as gotículas da chuva contra o vidro, o deslizar das mesmas, as luzes da cortina de pisca-pisca contra o vidro, a quem não consegue ver a beleza nos pequenos detalhes, mas Ram era o tipo de pessoa que gostava das coisas estranhas, ele era do tipo de pessoa que olharia para o céu e veria os pássaros deslizando pelo ar como fechas e sorriria como se estivesse vendo a coisa mais bela do mundo.
O jovem homem era aquele tipo de pessoa que aprecia o desconhecido com os braços abertos e com um sorriso nos lábios, ele tinha uma mania de sempre ser atraído por tudo que era misterioso e estranho, seus olhos ainda seguiam a caminhada das gotículas de agua enquanto a porta fora aberta, o sino tocou, mas ele não ligou.
—Com licença. —Uma voz feminina diz, fazendo com que Ram desvie os olhos das gotículas para a mulher na sua frente, seus cabelos negros deslizavam por sua pele como uma segunda pele, seus olhos negros como Granada piscavam como os olhos de uma criança recém-nascida, ela tremia e naquele momento ela se chacoalhou como um cachorro depois de um banho de chuva.
As gotículas de agua deslizaram pelo ar enquanto ela se chacoalhava, seus dedos longos e finos tinham anéis de macramê e em seu pulso uma pulseira de botão, o que chamou a atenção de Ram, ele não estava acostumado a ver pessoas com anéis de macramê e pulseira de botões.
—Sim? —Ele pergunta com seus olhos voltados para a jovem mulher parada na sua frente, ela se encolhe com frio que desliza por sua pele como lábios frios, ela morde o lábio tentando conter os dentes que batiam um no outro.
—Posso pedir um leite quente? —Ela pergunta enquanto se abraça, o ar-condicionado estava voltado para ela, fazendo com que seus pelos dos braços se arrepiassem com o frio da morte.
Ram então percebeu que a jovem tremia muito e desligou o ar-condicionado enquanto apenas acenava para a mesma dizendo que sim, iria pegar um copo de leite para ela.
Então ele se virou e foi em busca do leite quente para a jovem mulher que se encontrava a tremer ainda, ela desliza as mãos pelos braços tentando conter os tremores, suspira quando se dar conta de que sua roupa se encontrava encharcada.
Ram caminha em direção a cozinha onde Dog se encontrava com uma prancheta nas mãos contabilizando o que deveria comprar e o que deveria repor, seus olhos deslizam da prancheta e se cravam em Ram que naquele momento se encontrava parado na sua frente.
-Dog, por acaso tem leite quente? —Ram pergunta, seus olhos se encontravam brilhando como de uma criança que em sua curiosidade persegue uma borboleta no jardim.
—Sim, tem um pouco, eu estava planejando fazer um chocolate quente para nós. —Dog diz enquanto observa Ram deslizar pelo ambiente como uma mariposa desliza pelo ar, Dog podia ver que Ram se encontrava animado.
Com certeza, algo estranho apareceu, Dog pensa.
Ele conhece muito bem seu companheiro, Ram nunca fora um mistério para Dog, já que o jovem homem conseguia decifrar cada código que Ram jogava para ele, códigos esses que muitas pessoas nunca conseguiriam entender, porque Ram era do tipo que falava com os olhos e não com a boca, assim como Dog.
Dog era o mais calado dos dois, o que muitos chamariam de Observador, ele conseguia pegar coisas que os outros não conseguiam, por isso que os dois juntos pareciam um casal perfeito, porque não precisavam de palavras para saber o que o outro quer, um gesto ou um olhar era o que bastava.
Por isso que quando Ram atravessou a porta em direção a entrada da cafeteria, Dog só pode respirar fundo tentando conter os tremores de seu próprio coração que batia forte contra o peito, porque ele sabia que Ram o arrastaria para o meio do desconhecido, por assim como Dog, Ram precisava dos dedos calejados de seu companheiro entre os seus para saber que poderia seguir em frente.
—Dog, Dog... —A voz de Ram deslizou pelo ar, Dog apenas pode olhar para a porta aberta por onde Ram corria em sua direção. —Você viu aquela manta vermelha?
Dog inclina a cabeça para o lado.
Não era necessário mais nada, nem uma palavra foi dita assim com aceno de Ram enquanto corria para uma porta semi aberta que ficava do lado, os olhos negros de Dog seguiam seu companheiro.
A jovem mulher apenas ficara lá parada olhando ao redor, seus olhos viajaram da vitrola antiga no canto para as Jiboias penduradas no tento num canto, os fios com folhas deslizavam em direção ao chão como pequenas cordas enquanto pequenos fios de fada se enroscavam ao redor dos ganhos como pequenas teias de aranha douradas, a jovem pode perceber que não havia luz forte na cafeteria, eram apenas fios de fadas ou cortinas de luzes que decoravam o ambiente deixando com que a luz de fora deslizassem pelo ambiente pincelando aqui e ali pequenos raios pálidos deixando o ambiente com uma aura deliciosa o bastante para se sentar e ler um bom livro enquanto ouvia a doce melodia que deslizava pelo ambiente em uma voz feminina forte o bastante para fazer com que você olhasse para o nada pensando no que ela cantava.
Franzindo as sobrancelhas a jovem mulher tentava descobrir qual era a música, era meio que difícil para ela descobrir porque era uma língua da qual ela não estava acostumada, mesmo assim ela se deixou ser coberta pela música como uma manta quentinha.
—Aqui. —Um leite quente fora colocado na sua frente, seus olhos negros se cravaram no copo, assim como na manta vermelha que se encontrava do lado. —Vejo que você gostou da música.
—Sim, ela é bem diferente.
—É tailandesa.
—Oh.
Ram apenas dá um pequeno riso enquanto observa a jovem na sua frente, agora que ele pode parar e observar, ele ver que a uma tatuagem em seu pescoço, assim como em seu pulso e dedos que eram decorados por anéis de macramê, seus cabelos negros eram brilhantes e ondulados, ela usava óculos de grau e suas unhas eram bem longas.
Era como ver a mistura de inúmeras técnicas de pintura em um só quadro, ela tinha um rosto jovem, não dava mais do que 18 anos, ela era pequena e fofa.
—Ram.
O jovem homem apenas pisca enquanto olha para o lado, Dog se encontrava parado do lado do mesmo, seus braços cruzados deixando suas tatuagens tribais a mostra e em baixo do olho direito sua tatuagem de cruz se destacava contra as luzes dos fios de fadas.
—Oh, sinto muito, acredito que vocês estejam fechando a loja. —A jovem mulher diz enquanto olha para os dois, seus olhos negros como granada brilham como pequenas joias no escuro atraindo a atenção de Dog para si. —Eu sinto muito mesmo, não tive muita escolha já que as lojas estavam fechadas, era entrar aqui ou ficar em baixo da tempestade.
Ele olha para ela, seus olhos negros pareciam olhos de um filhote de cachorro perdido na chuva, Dog não consegue desviar os olhos.
Talvez seja porque a mulher na sua frente mais parece uma adolescente com aquele macaquinho branco e preto, talvez seja as tatuagens que decoram seu pulso assim como seus dedos, há uma tatuagem de cruz em um dos dedos assim como pequenos símbolos Betas e Alfas, quem sabe seja apenas o fato dela parecer precisar de proteção.
—Tudo bem. —Dog diz enquanto observa a jovem levar o copo de leite aos lábios, há um bigode de espuma de leite encima dos seus lábios, sem saber o porquê ele se inclina na mesa e desliza a ponta do dedo na espuma de leite fazendo com que a jovem mulher arregale os olhos.
Ram apenas fica do lado olhando para os dois, ele pode ver que Dog tinha os olhos azuis faiscantes voltados para a jovem parada na sua frente, ela olha para os lados, seu rosto vermelho, ela tenta fugir dos olhares daqueles dois homens que se encontravam na sua frente.
Deus, porque eles estão me olhando assim?
Ela se pergunta enquanto tenta fugir dos olhares voltados para si, se ela pudesse teria cavado um buraco no chão e ido para a China, mas a única coisa que ela poderia fazer era abaixar a cabeça deixando com que seus longos e grossos cabelos negros cobrissem sua face avermelhada.
Mas os mesmos estavam pesados e encharcados pela agua da chuva, ela desliza a ponta dos dedos entre os fios.
—Tome. —Dog lhe estende uma toalha branca fofa, seus dedos longos se encontravam cravados na toalha, ela pode ver as tatuagens que deslizam para os seus dedos como uma segunda pele, ela se encontra fascinada pelas mesmas.
—Obrigada. —Ela diz enquanto pega a toalha.
Então ela ergue a cabeça e sorri para os dois, os olhos negros faiscantes brilham com as luzes de fadas deixando ainda mais fascinante para aqueles dois homens parados na sua frente.
Dois dias tinham se passado desde da tempestade que literalmente desabou em cima das cabeças das pessoas, algumas foram pegas desprevenidas, como a jovem moça, que naquele momento se encontrava com um jornal nas mãos.
Ela precisa urgentemente de um emprego, a mensalidade do seu apartamento está quase chegando assim como as prestações de conta de condomínio, ela odeia ter que morar em um prédio onde tem que pagar tanto o aluguel como o condomínio, mas ela é como tantos outros jovens que precisam de dois empregos para conseguir pagar as contas.
A conta de telefone já tinha sido paga, assim como a conta da Netflix que caiam direto em seu cartão, a jovem apenas choraminga por saber que seu cartão a qualquer momento estará no vermelho.
Se vermelho significa amor, ela deve ser muito amada já que seu cartão todo mês fica no vermelho.
—Preciso encontrar um emprego, urgente. —Ela diz para si mesma, seus olhos deslizam pelas palavras negras na sua frente, procurar algo, recepcionista.... Não.
Deus, ela ainda se lembra de quando tentou ser recepcionista numa clínica, ela acredita que se seu ex-chefe a ver na rua irá para a outra calçada.
Humm...Caixa de mercado?
Não?
Farmácia?
Não.
Necrotério?
Ela não quer ver defunto tão cedo.
Então seus olhos se encontraram com pequenas letras negras quase ocultas em meio a tantos empregos, era de trabalhar num café...Hum, café.
Ela ama café, então ela poderia trabalhar num café, então seus pensamentos se voltam para aqueles dois homens que ela conheceu a dois dias atrás, ela se lembra dos olhos que a seguiam, das tatuagens do homem estranho assim como também se lembrava do sorriso do outro homem, ela sente suas bochechas esquentarem quando se lembra dos olhares penetrantes que literalmente deslizavam por seu corpo...
Engole em seco.
Aqui está calor?
Ela olha para o ar-condicionado e ver que o mesmo está ligando, vivendo numa cidade quente como está ela sabe que sua conta de luz vai em breve estar na faixa vermelha...Então rápido, consiga um emprego!
—Preciso desse emprego. —A jovem diz enquanto ergue ambos os braços, ela precisa urgentemente desse emprego, não porque, talvez, ela consiga café de graça pelo resto do ano, mas sim porque o dinheiro está deslizando para o chão e ela está com os dias contados.
Suspirando ela joga cabeça contra a mesa enquanto com a ponta da caneta vermelha circula as palavras negras pequenas, ela tem certeza que o destino não é uma pessoa sem senso de humor, porque aqui estava ela sentada na mesa de ferro do lado de fora do café com um livro cobrindo seu rosto enquanto procura um lugar para se esconder.
Veja bem, o café em que ela se encontra não é nada mais do que o qual ela esteve há dois dias, em meio a uma tempestade, com dois homens que a encarravam e que naquele momento os mesmos estavam não muito longes dela, atrás de um balcão.
Ela ergueu a cabeça e colocou o queixo encima do livro, seus olhos observavam os dois homens circulando um em volta do outro numa harmonia, ela conseguia ver que eles não precisavam de palavras para dizer o que queriam dizer um para o outro, ela inclinou a cabeça para o lado e olhou para eles.
Eles são bonitos, com o avental de couro e djeans ela pode perceber o quanto eles chamam a atenção, como a camisa de mangas longas brancas parece deixar os músculos deles em evidencia assim como as pulseiras japamalas, Deus ela ama pulseira japamala.
Com seus olhos ainda voltados para eles, ela pega o copo de café gelado e leve o canudo aos lábios, mas quando um dos dois volta os olhos para ela, ela engasga enquanto abaixa a cabeça e se esconde atrás do livro erguido...
Suspirando ela tenta voltar ao normal, engole em seco e ergue a cabeça, seu nariz é a única coisa que se encontra em cima do livro, seus olhos vagam pelo ambiente em busca deles.
—Está nós procurando? —Uma voz masculina pergunta do seu lado, há um ar frio em sua orelha. Ela olha para o lado e encontra olhos azuis frios como as geleiras da Antártica, ela engole em seco.
Dá um sorrisinho envergonha e coloca a cabeça outra vez entre as páginas amareladas do livro.
—Acho que ela não te ouviu. —Outra voz masculina fala, há um braço liso e masculino do seu lado esquerdo, ela vira o rosto para o lado e ver a pulseira japamala de contas negras perto de sua face, seus olhos se ergue e ela consegue ver olhos negros brincalhões voltados para ela.
Oh, Deus, o que está acontecendo aqui?
Ela se pergunta enquanto vira o rosto para o outro lado e ver um braço masculino tatuado, engole em seco enquanto vira outra vez a cabeça para o lado e ver o outro braço.
Quando ela se dá conta, há dois homens ao seu redor, um de cada lado a cercando impedindo de sair da armadilha que ambos acabaram de jogar, ela engole em seco enquanto tenta pensar no que ela poderia fazer, mas tudo fica em branco em sua cabeça quando ela ver ambos os homens se agacharem e ficarem perto de seu rosto.
Ela vira o rosto e dá de cara com olhos negros que brilham.
Oh, Deus, ela não quer ver os olhos de nenhum dos dois.
Então ela se volta para as páginas amareladas que se encontram na sua frente, ela quer fazer de conta que eles não se encontram um de cada lado a cercando, engolindo em seco ela tenta ler as letras negras que se encontram na sua frente.
Talvez se ela se concentrar ela pode ler sem sentir os olhares de todos voltados para eles, ela sabe que as mulheres e homens também, estão olhando para eles com os olhos curiosos tentando entender porque aqueles dois homens se encontravam ao redor da jovem mulher que literalmente estava preste a dar uma de Alice e abrir um portal...
Bem, cadê o buraco e o coelho?
—Acho que ela está nos ignorando. — A voz masculina diz enquanto ela pode ouvir bem lá no fundo uma pitada de sarcasmo, ela acha interessante as palavras porque era isso mesmo que ela estava tentando fazer.
—Tenho certeza disso. —O outro homem responde, ela não sabe qual dos dois, porque ela está tentando fugir antes que aquelas mulheres e homens tentem lhe arrancar a pele.
Engolindo em seco, ela abaixa o livro e olho ao redor, os olhos de todos ainda se encontram nos três, há um silencio no ambiente enquanto uma música animada desliza pelo alto-falante.
Ela não sabe o que fazer, então sorri envergonhada.
—É...Olá estranhos! —Ela diz com um pequeno sorriso nos lábios, sua cabeça vira de um lado para o outro, cumprimentando cada um daqueles homens que se encontravam um de cada lado. —Vim, saber se vocês ainda têm vaga. —Ela diz apontando para o jornal, o círculo avermelhado já se encontrava quase encima das letras negras.
—Então...Prazer em revê-la, estranha. —Os dois dizem ao mesmo tempo, o homem tatuado ainda tem os olhos frios como o inverno e o homem de olhos bonitos parece brilhar em baixo do sol...
E ela acha ambos bonitos, agora que ela pode ver de perto.
Eles a ouviram sussurrar que os acha bonitos.
Ela abaixa a cabeça envergonha...Alguém, por favor, a atire da Ponte Velha.