Prólogo
27 de Agosto de 1996, 19:07 pm.
(Varsóvia, Polônia)
"Os possuídos ressurgem neste mundo, e com sua chegada, os rios secam e as plantas morrem. Um profundo buraco se abre sobre estas terras, a paz está se esvaindo neste prelúdio do caos.
Lentamente observo os desesperados se dispersarem, correm feito formigas acuadas. Em uma era agora dominada pela dor e selvageria. Saudaram o renascer de um novo império, os tempos de guerra estão prestes a começar, através das multidões de desesperados, eles abrem o caminho, determinados e embebidos pela ânsia de poder que os domina por completo.
No restante do mundo, nestas terras preenchidas com agonia, todos presenciam o sofrimento..."
"Interessante, o sol já se foi, porque ainda está acordado?"
"Eu não sei Lucy, eu só... Estou escrevendo"
"Não demore pra deitar"
02 de Março de 1998,17:20 pm.
(Reino de Hórus, Egito oculto)
Se isso fosse a um ano atrás, eu provavelmente iria rir.
Eu jamais acreditaria em algo tão... tão surreal? Sempre achei que eram apenas histórias, eu pensava que... que existissem apenas em livros.
Mas... mas agora, agora que vi com meus próprios olhos, eu sei que não são apenas histórias. O mundo em que eu vivia, se tornou um lugar de guerra, onde nada voltará a ser o que era.
E eu? Eu me tornei aquilo que jamais pensei que pudesse realmente existir, eu era um deles.
Eu era um deles, mas, não exatamente como eles, pois me negava a acreditar, mesmo que eu sinta, mesmo que isso faça parte de mim, mesmo que os veja, ainda me nego a acreditar....
-Eu não sou um deus!
12 de Março de 1978, 21:30 pm.
(Regina, Canadá)
"Este lugar tem um belo aroma"
Me deito no chão gélido, uma sensação gostosa percorre meu corpo. É como se eu estivesse deitado em minha cama, depois de um tempo começo a sentir um cheiro de nicotina, me levantei e sorri ao ver quem estava ali, é engraçado como ela consegue ser bela até fumando.
Quando questionada, dizia que era sua medicina. Abracei-a enquanto ela tragava seu cigarro, sentindo meu rosto, me beijou e exalou toda a fumaça. E assim comecei a tossir enquanto nós achávamos graça, após isso ela me disse que estava grávida. Fiquei tão feliz, que a levei pra um jantar, em seguida fomos ao motel 'Anqut'.
Um quarto com cama d'água, luzes fluorescentes, ao entrarmos no quarto um barulho conhecido soou ao lado de fora do lugar. Havia começado a chover, uma chuva forte, mesmo com a chuva forte o céu ainda estava lindo, com muitas estrelas.
A meia-noite acordei com um barulho estrondoso, fui até a janela e algo chamou-me atenção, a lua, ela parecia uma grande fogueira, e as estrelas, pareciam brincar ao redor dela, procurei ignorar aquilo.
17 de Maio de 1984, 13:20 pm
(Montreal, Canadá)
Depois de um dia cansativo, e de uma semana desgastante. Finalmente chegou o tempo de descansar.
"Hora de relaxar, se acalmar..."
"Tá falando com quem?"
"Doida... ."
"Por que não mexe no celular? Pegue ele, se divirta mais um pouco, você merece."
Após horas sem eu perceber havia chegado o momento de dormir. Naquele maravilhoso final de semana, uma bela noite de sono ajudará, mas antes uma última olhada no celular.
"São exatamente oito e cinquenta e nove... vou ver o Bae."
Cheguei ao quarto e girei a maçaneta mas a porta não abriu, me assustei com um barulho forte vindo do outro lado da porta. O menino começou a chorar, um choro leve, baixo. Mas uma vez forcei a porta e a mesma abriu-se, o menino estava dormindo serenamente, senti um vento e olhei a janela aberta, a tranquei e cobri o garoto, ignorando por completo aquilo.
Bom já é hora de descansar, voltei ao meu quarto e coloquei o celular no cômodo ao meu lado.
"Mesmo estando de férias, vai ter que ir pra agência?"
"Uma mulher que atendi há um tempo, ela era estranha."
"Porque?"
"Não sei, acho que... Esquece, hora de descansar."
"Qual será seu último pensamento ?"
"O que disse?"
Virei-me e a mulher já estava em profundo sono, ignorei tudo e dormi também.
25 de Agosto de 1989, 16:32 pm.
(Montreal, Canadá)
"Minha esposa toma três remédios do coração todos os dias, ela é teimosa, não pode ficar esquecendo porque seu coração corre risco de crescer e acontecer algo de pior, esses remédios são pra vida toda."
"Eu sei senhor, mas infelizmente não posso fazer nada, apenas sigo ordens...."
"Por favor meu jovem, nem que seja pouco."
"Eu... vou ver o que posso fazer."
"Obrigado rapaz.. Tenha um 'Bom' dia."
"O..brigado!?"
Ir aquele lugar foi um erro, sabia que eles negariam, o que custa diminuírem um pouco a dívida. Minha mulher está morrendo, a casa está para ser tomada pelo hipoteca, perdi meu emprego e tenho um filho pra criar.
Mesmo dia, 21:37 pm.
Sem muitas opções resolvi fazer o que estará a minha altura, será fácil, será rápido. As luzes eram fortes, o som das hélices eram barulhentas, muitas vozes ao mesmo tempo, uma voz destacava-se entre as outras.
"Deixe o refém!" - "Solte a arma!"
Um tiro na cabeça, o rapaz caiu morto, um tiro em minha direção, uma dor imensa, meu ombro sangrando. Lembro de acordar numa cela, havia outros comigo, meu ferimento estava sendo cuidado na hora, não fui tão rápido assim.
04 de Novembro de 1992, 15:45.
(lha de Sehel, Sul do Egito Oculto)
Amon-Rá: "A cada estação do ano víamos você lutando por amor, não fazemos idéia do porque decidiu viver como uma humana. Mas você deveria ter desistido bem antes de tudo começar, Sátis ainda continuará de pé, mantendo seu legado."
Hórus: "Em círculos entre as multidões de Anúbis vejo você, a maneira que te deixei da última vez em que te vi. Sozinha em círculos, como se tivesse presa em algo que não solta, ninguém vai entender você da maneira como eu entendi."
Khnum: "Quando me disse que havia se apaixonado por um humano, eu ri, mas compreendi sua decisão. Deixei com que partisse, eu sempre fui melhor em dizer que tudo vai ficar bem, ninguém vai entender o que você realmente sentia, não, ninguém realmente vai entender. Até por que nada era suficiente pra você, eu sangrei diante de tudo, só, pra te ver bem. Feridas por cima de feridas, suor e dor era o limite que meu coração podia ir."
Sekhmet: "Anukis minha amiga, a resposta que nem mesmo Toth consegue responder é, e agora? tudo isso, me levou a sacrifícios e perdas, sabia?"
14 de Janeiro de 1993, 19:07 pm.
(Reino de Rá, Leste do Egito Oculto)
Amon-Rá: "Ninguém vai entender o que ela realmente sentia." Dizia o líder.
Maat: "Ela só tinha uma chance, uma única chance que nem ela mesma tinha noção." A Deusa fala olhando diretamente ao líder.
Bastet: "Ninguém vai saber o significado do que ela deixou pra trás." Diz olhando para todos a mesa.
Hator: "Não, por que nem eu mesma senti o que ela sentiu." Disse de cabeça baixa devido a vergonha.
Khnum: "Tenho que matá-lo!"
Osíris: "Você acha mesmo que vai matá-lo, acha mesmo que vou permitir que tire a vida de um inocente? só pode estar brincando." Diz se levantando com tamanha afronta, o que acabara de ouvir é como se tivesse declarado guerra ao deus da vida.
Khnum: "Não tínhamos ideia do nascimento da criança, Bastet e Hator não sentiram nada."
Maat: "Eu sei onde vai chegar Khnum e ele tem razão. Mesmo que tenha se tornado humana, ela ainda de alguma forma possuía seus poderes. A criança é filho de uma deusa." Maat fala se posicionando à frente do deus mais jovem.
Bastet: "Mesmo agora sabendo sobre a criança, eu não consigo sentir nada sobre ela, não sei se herdou os poderes."
Anúbis: "Se Anuket morreu como humana, porque não posso vê-la dentre as multidões no Reino do Mortos?"
Amon-Rá: "O que!? Como assim não consegue vê-la?" Diz se levantando ferozmente.
"Pessoal.."
Anúbis: "Eu simplesmente NÃO CONSIGO!!"
"Ann, pessoal..."
"É o seu Reino, você tem a obrigação de saber." O deus líder já estava perdendo a calma.
"É meu Reino mas eu não estou sentindo ela lá."
"CHEGA" Um eco se formou atraindo a atenção de todos para a jovem deusa "Me desculpem más, Khnum e Hórus, sumiram!"
Até aquele momento nenhum dos deuses havia sentido a falta dos dois, todos estavam perdidos, dispersos entre a discussão dos líderes. Nenhum dos presentes sentiam a presença deles em lugar algum.
"Temos que proteger a criança, todos sabem que Khnum nunca aceitou ser trocado por um humano de verdade. Ele irá atrás da criança, e irá matá-lo."
Amon-Rá: "Bastet tem razão, Anúbis vá para seu Reino e procure pessoalmente por Anuket, leve Seth e Sobek junto, Bastet continue tentando achar algo de especial na criança, Maat e Isis me ajudem a manter a ordem no mundo, Hator procure por uma resposta junto a Thot.... Sekhmet.... você irá cuidar da criança, se algo acontecer a ela será sua responsabilidade. agora vão."
27 de Agosto de 1996, 19:07 pm.
(Varsóvia, Polônia)
"Só mais um sofredor sobre este condenado mundo, se arrastando sobre esta terra cheia de tristeza, só mais um abandonado para o açoite da solidão, só mais um coitado perdido nesta terra de regresso, até ser engolido por este mundo dominado pelo caos."
11 de Junho de 1997, 19:07 pm.
(Varsóvia, Polônia)
"Me diga o quão rápido eles trocam a própria alma?"
"O que?"
"Me diga o quão rápido você os engana? E o quão rápido o veneno corre em suas veias?"
"Desculpe, não sei do que está falando"
"Mas garoto, eu não sou assim, você acha que pode enganar uma Deusa?"
"Eu acho que não... eles não existem, né?"
"Você, é filho de Anuket não é? Por favor diga que sim, não quero levar uma bronca do meu líder por ter errado a criança!"
"Anu quem?"
"Você já tem vinte anos, deveria saber, isso é estranho."
"Eu tenho dezenove."
"Você até pode tentar me enganar, mas você não pode tentar me dominar."
"Moça, você tá bem?"
"Você acha mesmo que pode contra as forças de uma Deusa?"
"What Fucking! Devo ligar pra polícia? Chamar uma ambulância? "
"Pode tentar, mas seu sangue pertence a Anuket, igual tua alma um dia pertencerá a Anúbis!"
"Moça, sério você está bem? tô começando a ficar preocupado."
"Nós dois sabemos de onde você é, não negue, sabe do que estou falando."
"E o que exatamente seria?"
"Você! Myerix descendente das águas, é filho de Anuket. ... A Deusa do Nilo!"
"Alô é da polícia?"
"O que está fazendo garoto?"
"Ligando pra polícia."
"NÃO! Myerix me escute... Sua mãe era uma Deusa mas...."
"Porquê tá me chamando de Myerix?"
"É o seu nome!"
"Nome do quê? "
"Seu nome de deus!"
"EU NÃO SOU UM DEUS!"
"É sim."
"Oh caralho! Você é surda ou fez mestrado?"
"Garoto venha comigo.... "
"Para onde exatamente?"
"Para o Egito Oculto!"