Uma densa nuvem fazia sombra no local. A visão não era das melhores, havia muito sangue por ali. A estrada que conectava dois reinos, estava vazia, apenas tinha duas pessoas.
"Foi isso que aconteceu?"
"Sim. Nossos informantes disseram que viram Aros Silverstein no reino das Elfas, assim que soubemos, mandamos uma equipe para dar suporte... Porém era tarde demais."
A pessoa que se continha séria, informando, chegou talvez a encher seus olhos de lágrimas, mas segurou. Os dois na verdade, era uma informante, ela tinha cabelos curtos e brancos, junto com orelhas de raposas. Ao seu lado, havia um homem bem maior que ela, ele tinha músculos que pareciam querer saltar de seu braço. Ele na verdade não era bem um humano, ele era uma fera que podia se manter de pé.
"Eles não iam conseguir nem se chegassem... Ele foi muito rápido."
O homem disse essas palavras, também prestes a chorar. Sua voz tremula não condizia com seu tom mais grave, mas demonstrava que ele sentia uma grande dor no coração. Afinal, onde ele estava, havia três jovens mortos brutalmente. O que mais doía, era em sua consciência, já que fora este homem fera, que deu as ordens para o grupo.
"Aros Silverstein... É tão forte assim?"
"Nem eu... posso derrotá-lo, poucas pessoas podem."
O tom do homem fera não era nada reconfortante, na verdade, ele estava desesperado.
"Deve ter algum jeito de pará-lo, impossível que ele seja imortal."
"Claro, ele não é imortal... Porém a única pessoa que podia se quer ter uma vantagem sobre ele, foi derrotada."
"Quem era?"
"Urahan Zerbst... Ela se tornou secretária de Kisirel, o rei de Carius."
"Uma secretária podia derrotá-lo?"
"Ela não era apenas isso, na verdade ela é uma grande maga. Ela tinha a magia da escuridão, o único elemento que pode derrotar a magia de luz."
Os dois franziram a testa. A situação era muito mais crítica do que eles pensaram. O homem fera, pensou que tendo um reino como aliado, poderiam derrubar e conquistar o maior reino de humanos, Lálario. Eles sabiam do perigo que foi colocado como governante daquele reino, o portador da magia de luz, Aros Silverstein. Mas depois de muito calcular, pensou que com forças do reino Carius e a magia de Zerbst, Aros Silverstein podia ser derrotado. Mas ele é muito mais forte do que qualquer um.
"O que vamos fazer então..."
"Eu tive uma conferência com o Grande Rei... Existem seres que podem pelo menos selar ele. Não é o bastante para derrotá-lo, porém o suficiente para pará-lo... Se não, Aros Silverstein pode acabar com todos os reinos do continente."
"Espera... Magia de selamento? Os únicos que podem usar são os rei demônios."
O homem fera não respondeu. E pelo seu silêncio, a mulher informante, percebeu que esse era um tipo de resposta para: "São eles mesmo."
"Não, você está falando sério? Os reis demônios vão selar Aros Silverstein?"
"Não temos outra opção..."
"Se eles forem soltos... Eles podem dominar o continente de novo..."
Não só ela, como ele também pensava assim.
A muito tempo atrás, os humanos temiam as forças dos demônios, ou melhor, dos rei demônios. A história dos deles, não era das melhores, muito menos na época em que governavam quase o continente inteiro. Por isso, os dois podiam sentir o arrepio de libertá-los de novo, mesmo que fosse uma situação de urgência.
O homem fera, olhou para cima e avistou o céu sendo coberto por uma nuvem densa e escura. Tudo que passava em sua mente, era a sua tristeza e também se remoendo por ser culpado da morte de três jovens aventureiros.
"Vocês quase conseguiram..."
No mesmo instante em que ele disse essas palavras, ele fechou os olhos. E parecendo com uma cena dramática de algum filme, começaram a cair gotas, até que finalmente, começou as rajadas de chuvas fortes. As lagrimas do homem fera, se misturaram nas gotas que escorriam pelo seu rosto.
...
"Hmmm..."
Era um gemido gentil, de alguém que acabara de acordar. A dona desse murmúrio, abria seus olhos lentamente. Ela se sentia um pouco imóvel, pequenas dores em seu corpo, começaram a incomodá-la.
"Que bom que acordou."
Uma voz doce, a recebeu carinhosamente. Mesmo que estivesse acordando, ela tenta identificar a dona da voz, no mesmo instante que avista, se sente confusa. Ao seu lado esquerdo, havia uma pessoa de frente a janela, ela tinha lindos cabelos claros e seu rosto era pálido e belo. Usava um lindo vestido branco, e seu corpo parecia de uma musa.
"Você realmente uma garota resistente, agora eu sei como conseguiu roubar o coração de Aros-sama."
A garota na qual se referia, era ela que estava acordando. A garota tinha cabelos brancos, e estava deitada em uma cama de luxo, que talvez nem meses com o dinheiro que ganhava, podia comprar algo tão confortável como aquilo. Ela olhou em volta, e percebeu que não estava em sua moradia de costume.
"Onde... eu estou?"
"Você está no castelo de Lálario, ou melhor, a residência de Aros Silverstein."
A pessoa que estava na janela, respondeu suas perguntas.
"Aros..."
Essa foi a única palavra que a garota conseguiu captar da frase. Este nome era muito familiar a ela, talvez era uma nome que nunca queria esquecer, desde aquele dia. O dia em que esse garoto, entrou em seu restaurante e ainda a protegeu. A garota não conseguiu evitar de dar um sorriso ao se lembrar dele.
"Meu nome é Cássiria, eu sou a nova secretária de Aros-sama. É um prazer finalmente conseguir conversar com você."
Depois que a pessoa saiu da janela, a garota viu algo realmente diferente. Ela tinha longas orelhas, eram definitivamente de elfos. Ainda mais, seus cabelos era tão loiros que até mesmo a garota que tinha cabelos brancos, estranhou de primeira.
"Nova secretária...?"
Cássiria, chegou mais perto, andou alguns passos já que o quarto era enorme. E enfim, se sentou ao lado da garota.
"Sim, eu fui contratada recentemente. Fico um pouco triste por começar meu trabalho em uma situação tão conturbada."
A garota ainda estava confusa, não se lembrava do que havia acontecido anteriormente. Mesmo assim, ela queria ouvir tudo que Cássiria tinha para dizer, assim ela poderia se lembrar do que havia acontecido.
"Mas consegui operar tudo, na ausência de Aros-sama."
"Na ausência?"
"Sim... Quando ele viu todo o centro comercial destruído, e pessoas machucada... Eu queria me esquecer da expressão que ele estava."
Assim, a garota finalmente se lembrou. Lembrou-se que momentos antes, o reino havia sido invadido e estavam destruindo tudo onde ela trabalhava. Ela se perguntava o que tinha acontecido após isso, afinal, um ataque podia acabar com todo o reino, ela poderia acordar e ver uma cidade devastada de sangue e destruição.
"Talvez você esteja se perguntando..." Cássiria continua "O que aconteceu? Bom... Não sei se você consegue se lembrar de tudo, mas parece que houve um ataque aqui, quando chegamos o centro comercial estava em chamas e destruído. Foi confirmado que um exército de 30.000 soldados atacaram tudo, sem piedade. Obviamente, Aros-sama ficou furioso e foi atrás do tal exército, sozinho... quer dizer, foi uma garota com ele, dos cabelos rosados."
A garota ouviu muito bem. Tinha dois pontos na frase, que a fez ficar surpresa. Por conta disso, ela se levantou as pressas, mas não conseguiu. O máximo que tinha conseguido era ficar sentada na cama.
"Ele foi atrás de um exército... sozinho?"
"Sim, felizmente ele derrotou todos com sucesso, só que..."
Cássiria desviou o olhar, tentando esconder seu rosto triste.
"O que aconteceu!?"
A garota se exaltou, ela ficou com os olhos arregalados, com medo de algo ter ocorrido com Aros.
"Eu não imaginava que ele... Que Aros-sama podia ser tão brutal, é quase com se não sentisse piedade nenhuma."
"Como assim...?" Indagou a garota.
"É melhor te mostrar."
Cássiria se levantou, percorreu até o outro lado do quarto. Depois de olhar uma cômoda que ficava ali, ela pegou uma esfera azulada. Sentou-se novamente ao lado da garota, e colocou a esfera na cama. Assim, estendeu suas mãos e refletiu uma magia nela.
Aquilo se chamava "Transmissão do Tempo". Poucas pessoas utilizavam, isso porque em uma batalha esse feitiço não era muito eficaz. Quem realmente usava, eram governantes, ou até mesmo espiões de alto calibre. E tudo que esse feitiço fazia, era retransmitir a imagem que era gravada em algum lugar. Não importa a quantos dias foi, a que horas aconteceu, se o feitiço ficou ativado por todo tempo, ele iria transmitir a imagem gravada.
A garota forçou seus olhos, para tentar ver o que Cássiria estava fazendo. Nos primeiros momentos, ela não conseguiu ver nada, porém pouco a pouco, na esfera azul, começou a aparecer uma imagem, ela estava se movendo. Não demorou muito para a garota perceber que era tal feitiço.
"Hmm..."
Ela olhou mais fundo, e conseguiu ver a imagem nitidamente.
A garota conseguiu ver um garoto, aproximadamente próximo de sua idade, ele usava roupas nobres e uma capa azulada. Ao lado dele, havia uma menina, dos cabelos rosados, que apenas usava uma espada. O garoto estava flutuando baixo, a frente de soldados.
Quase no mesmo instante que ela percebeu quem era, o garoto entrou em uma batalha com um dos líderes do soldados. E sem piedade nenhuma, ele explodiu a cabeça do líder, a garota até soltou um grito baixo e tampou sua boca com as mãos. A imagem continuou. O garoto ergueu sua mão ao céu, e nele apareceram vários círculos mágicos, e deles, saíram espadas feitas de luz.
As espadas começaram a cair sobre os soldados, criando um banho de sangue na floresta onde estavam. Era uma imagem terrível de se ver, quem não estivesse acostumado com guerras e conflitos, com certeza vomitaria ali mesmo. Mas a menina resistiu a sua ânsia.
"Foi... Aros-sama?"
"S-Sim."
Até Cássiria virou seu rosto, lembrando que as imagens eram muito chocantes.
A garota percebeu o que estava ocorrendo. O garoto, chamado Aros Silverstein, fez toda essa brutalidade, por conta de ver seu reino massacrado. Tendo um pouco de empatia com ele, a garoto talvez entendeu com ele se sentiu. Uma raiva impossível de controlar, aquele seu senso de dever, que precisava fazer alguma coisa. Talvez ele sentiu que deveria se vingar, criando uma responsabilidade a ele, que se não cumprisse, não conseguiria dormir mais, pelo peso da consciência.
Cássiria parou o feitiço, e assim, a esfera que antes transmitia uma imagem, ficou azul novamente. A garota abaixou a cabeça, ela sabia que não poderia fazer nada que pudesse acalmá-lo.
"Você está aqui, no quarto de Aros-sama, por que ele te marcou como prioridade..."
Cássiria nem terminou a frase, mas a garota olhou para seus olhos, lacrimejando. Talvez ainda não estava totalmente consciente da situação, até deixou escapar um "Hã?" acidentalmente.
"Você é Asura, não é?"
"S-Sim..."
"Eu não gostaria de te preocupar, mas... Aros-sama só ficou transtornado desse jeito, quando a viu ferida entre os outros cidadãos. Eu lembro... Que ele não disse nenhuma palavra, apenas sua aura furiosa falou por ele."
Asura arregalou os olhos. Agora ela sentia que uma responsabilidade foi posta sobre seus ombros. Se Aros Silverstein ficou daquele jeito apenas de ver ela ferida, a mesma se sentia no dever de fazer alguma coisa, de acalmá-lo talvez. Asura não aguentava ver tantas mortes, Cássiria quase se derramando em lágrimas, e também o mais importante: Não aguentava ver Aros, o garoto gentil, de um jeito tão raivoso.
"Eu preciso fazer algo..." Murmurou Asura.
"Hã?"
"Talvez eu seja a causa de Aros-sama estar assim, eu preciso fazer alguma coisa, caso ao contrário, ele vai fazer muito mal a outros."
Asura tira os cobertores que a esquentavam, e quase dá um salto da cama. Ela anda até a janela, e avista o reino de Lálario, que ainda estava bem acabado. Já que ainda estavam em guerra, não tinha como restaurar aquilo ainda. Cássiria se assusta com sua movimentação rápida e disposição, mesmo estando ferida.
"Asura-chan... Como pretende fazer isso? Aros-sama já está muito distante."
"Tem cavaleiros indo para fora das muralhas não tem?"
"Hmm... Tinha sim, alguns dos cavaleiros foram para a floresta, analisar o ocorrido... Mas porque a pergunta?"
"Eles estão indo de carroça, certo?"
"S-Sim..."
"Eu vou também. Vou ir pelos lugares que Aros-sama passou, e achá-lo, para trazer o antigo de volta."
Cássiria se levanta, exaltada.
"Você vai também? Os cavaleiros estão correndo o risco de morrerem, pois, alguns países aliados do reino Carius declararam guerra com a gente, e você quer ir?"
"Isso!"
Asura diz com uma voz alegre. Mas Cássiria não achava a situação tão feliz para se mostrar um sorriso.
"Eu não posso deixar você ir! Se você morrer... O que vai acontecer a mais? Além de perder você, nós temos o risco de Aros-sama talvez enlouquecer. Por favor, eu te peço, pense direito."
"Não tem nada para pensar, só eu posso para Aros-sama nesse momento... Cássiria-san, muito obrigada, por me contar o que aconteceu, vou achar Aros-sama, e trazê-lo de volta!"
Cássiria ainda cerrava os punhos, se controlando para não disparar um feitiço de adormecimento. Mas pouco a pouco, ela foi relaxando sua mão, Em certo ponto, Asura dizia a verdade, com certeza ela seria a única que podia parar Aros Silverstein. Porém por outro lado, ela podia acabar morrendo, e isso com certeza afetaria a cabeça dele. Cássiria estava em um empasse em sua mente, não sabia se autorizava ou recusava.
Asura saiu da janela, e foi em direção a Cássiria.
"Por favor Cássiria-san... Me deixe salvar Aros-sama!"
Os olhos de Asura estavam brilhando, as cores carmesins ofuscavam a visão de Cássiria. A mulher elfa realmente queria impedi-la, porém, ela reconhecia que Asura era a única que podia trazer de volta Aros Silverstein.
"Tudo bem... Eu vou preparar uma carroça com cavaleiros para você."
Asura deixou seu rosto ainda mais alegre e confiante.
"Eu vou pedir para fazerem a rota que Aros-sama fez, porém..." Cássiria ergueu seu dedo indicador "Você não poderá sair de perto dos cavaleiros, também levara uma espada, para se proteger quando for atacada. Se me prometer que fará tudo isso, eu te deixo ir, Entendeu?"
"Eu prometo Cássiria-san!"
...
Aros e Lola estavam novamente na floresta, ambos sentados em uma fogueira acendida a mão. O som da lenha queimando, estralando, podia-se ouvir ao longe. O Silêncio dominava o local, isso porque Lola não conseguia dizer uma frase, depois da cena horrível que ela testemunhou de perto.
Aros ainda folheava suas anotações de magia, e surpreendia cada vez, a ponto de se perguntar constantemente o quão forte ele conseguia ser.
"Lola."
O tom firme de Aros, fez Lola dar um pulinho de onde estava sentanda.
"Sim Aros-sama."
"O que você sabe sobre os reis demônios?"
Essa era uma pergunta bem aleatória, vinda do completo nada. Se o rosto de Aros, nem o clima tivesse sérios, ela com certeza daria uma risada de uma pergunta tão repentina.
"Por que a pergunta?"
"Eu li em algumas dessas folhas, e vi que talvez seriam oponentes difíceis caso encontrássemos, por isso gostaria de ter mais informações, como a histórias deles por exemplo."
Em nenhum do momento, Aros olhou para o rosto da garota, o que fez Lola sentir mais medo ainda.
"C-Certo... Os demônios existiram há tempo atrás, eles eram donos da maior parte do continente. Em reinos humanos como o nosso, eles colocavam terror em suas ordens severas. Entretanto, antes eles eram uma civilização pequena, e eram discriminados pelas outras raças—"
Aros apenas ouviu com muita atenção, mas não olhou nos olhos de Lola em nenhum momento.
"— Porém um ser demônio era o mais poderoso entre eles. Depois de se cansar da discriminação que sofriam, este demônio decidiu que iria derrotar reino por reino, e foi isso que aconteceu. Após ele ter uma idade elevada e conhecimento absurdos, o demônio liderou sua civilização em combate com todos os reinos do continente. Foram um por um, ele destruiu todos impiedosamente."
Era realmente uma história trágica, pensou Aros. Os demônios não tiveram culpa de nada, eles apenas queriam acabar com a discriminação que sofriam sem sentido. E esse ser, foi quem acabou com tudo.
"Quando ele dominou todos os cinco reinos que existem no continente, esse ser demônio se auto proclamou 'O Rei Demônio'. Mas ele não podia governar cinco reinos simultaneamente, por isso precisava de demônios capacitados que nem ele. Porém, não encontrou ninguém que fosse leal e forte que nem ele. Então ele decidiu engravidar sua própria mãe, para nascer todos com o mesmo sangue e poder do que o dele. Assim nasceram os outros cinco demônios, que posteriormente se tornaram os reis demônios."
"Que história horrível..." Ele murmurou.
"Mas eles novamente caíram, assim que surgiu um mago, portador da magia de luz. Este mago derrotou todos os cinco reis demônios e matou o ser que havia conquistado tudo. Os cinco não morreram, eles apenas estão presos na grande capital, onde fica o Grande Rei."
Uma história que não era alegre, pelo contrário, era uma história tenebrosa e cheia de tragédia. Mas fora interessante para Aros, ouvir toda aquela história, agora ele sabia um pouco mais daquele mundo, e também, o terror que eram os reis demônios.